Pedras Preciosas escrita por Melanie


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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– O que ela pensa que está fazendo? Ela enlouqueceu?– Jade perguntou olhando para a porta.

Ninguém respondeu, ninguém conseguia acreditar que Sam tinha entrado. Lily se preparou para entrar também, mas Vick a segurou.

– Não. Nem pense nisso Lily, é muito perigoso.

– Eu sei, e é por isso que não podemos deixar ela sozinha lá dentro.– Lily respondeu apontando para o prédio quando ouviram o barulho de uma explosão.

– Talvez devêssemos avisar aos bombeiros que ela entrou, assim eles podem tira-la de lá.– Bella sugeriu ficando a cada momento mais preocupada.

– Todas vocês estão se esquecendo do que Sam é capaz de fazer.– Tory falou.

– Ela não sabe se consegue controlar. Ao invés de ajudar ela pode acabar piorando o incêndio e não conseguir mais sair.– Vick tinha um ponto lá.

– Vamos esperar um pouco e se ela não sair logo, nós avisamos aos bombeiros.– Jade disse e Lily se viu obrigada a concordar.

Ela tentou ver algo do lado de dentro, mas tudo o que conseguia ver era a fumaça. O ar estava ficando mais pesado ali, do lado de fora, a cada segundo que se passava. Lily não percebeu o momento em que começou a rezar para que Sam conseguisse sair, mas ela não foi a única. Todas estavam preocupadas. O incêndio aumentava a cada minuto, as sirenes podiam ser ouvidas dali onde estavam e a vontade de gritar por ajuda era muito grande, mas Lily sentia que no fundo devia um voto de confiança a Sam de que ela iria conseguir.

Pareceram horas, mas alguns minutos depois no meio de toda a fumaça, as meninas avistaram algo verde que se aproximava da saída. O alívio que Lily e as outras sentiram ao reconhecerem os olhos de Sam foi instantâneo, mas ela ainda não estava fora do prédio.

– Rápido, Sam!– Jade gritou.

Quando Sam apareceu, as meninas viram que ela trazia no colo uma garotinha, a filha daquela mulher que elas viram chorando sendo segurada pelos policiais. Devia ter uns quatro anos e estava agarrada ao pescoço de Sam. Sam se apressou em sair, mas ao atravessar a porta, uma parte da escada de incêndio que havia em cima de sua cabeça se soltou.

Não houve tempo para reações, nenhum grito de aviso. Antes que conseguisse pensar Lily estava com os olhos vermelhos e tinha estendido os dois braços com as mãos abertas em direção aos destroços que caiam e no mesmo momento eles pararam, no ar. As meninas estavam mudas, o choque em seus rostos era visível e tinham um único pensamento em suas mentes: essa tinha sido por muito pouco. Sam olhou para Lily antes de sair de baixo dos destroços e nesse momento a garotinha levantou a cabeça para olhar boquiaberta o que estava acima de si.

Quando Sam parou ao seu lado, Lily abaixou os braços a medida que também abaixava o metal da antiga escada. A garotinha agora olhava para ela, sem acreditar no que a estava vendo fazer e quando a garota que a segurava lhe pôs no chão, também não conseguiu acreditar em como seus olhos mudaram do verde brilhante para o verde comum. Desviou seus olhinhos assustados para a outra garota a tempo de ver que os olhos destas também mudavam, mas do vermelho para o azul. Sabia que deveria gritar, mas não conseguia, estava encantada.

– Você está bem?– A garota com o cabelo vermelho se abaixou para ficar na sua altura e lhe perguntar. Tudo o que conseguiu fazer foi balançar a cabeça afirmando que sim. A viu soltar um suspiro e sorrir ao se levantar, levando um tapa em seguida de uma garota loira.

– Você ficou louca, Sam? Como entra em um prédio em chamas assim? Do nada?– Jade perguntou, já recuperada do susto e furiosa com Sam.

– Por que você me bateu? Acho que foi você quem ficou louca, Jade.– Sam massageou o braço.

– Aah claro, EU! Eu...

– Já chega, Jade.– Tory a interrompeu. – Vamos assustar a garota desse jeito.– Apontou para a garotinha que as olhava muda.

– Olhem, eu sinto muito se assustei vocês, mas eu.. eu não consigo explicar.– Sam encostou no muro.

– Tente.– Jade falou ganhando um olhar atravessado de Tory. Sam soltou um suspiro cansada.

– Quando nós chegamos e eu vi o prédio e todo aquele fogo, eu não sei... Eu não fiquei assustada ou preocupada e então eu vi aquela mulher querendo salvar a filha dela e eu só sabia que conseguiria entrar e tirá-la de lá.– Apontou com a cabeça para a garotinha que parecia prestar atenção em tudo o que ela falava. – Daí eu entrei e não senti nada. Não senti o calor do fogo, não senti nenhuma dificuldade em respirar e eu conseguia enxergar tudo, eu conseguia enxergar através do fogo.– Sorriu se lembrando. – Não demorei muito para encontra-la escondida dentro do armário, mas eu tinha a conciência de que eu podia não me queimar com o fogo, mas ela sim, então eu fiz a mesma coisa que tinha feito na fábrica e consegui ir apagando o fogo a medida que saía com ela.– Terminou de explicar e observou o rosto de cada uma delas. – Eu não senti medo do fogo... eu me senti conectada com ele. Eu não sabia que seria assim.

– Acho que nenhuma de nós esperava que fosse ser assim.– Vick conseguiu falar, ainda surpresa com tudo o que Sam disse.

– Podemos conversar sobre isso depois.– Lily também estava voltando a si. – Agora precisamos entregar essa garota pra mãe dela.– Sam concordou com a cabeça.

– Mas antes disso..– Bella se abaixou. - Você não pode contar nada do que viu aqui, entendeu lindinha?– A garota a olhou sem entender.

– Por que não?– Perguntou e Vick também se abaixou para falar com ela, mas a garotinha voltou a falar. – Vocês não são como os super-heróis?– Perguntou animada. As meninas não conseguiram segurar o sorriso, mas Tory franziu o cenho ao ouvir isso.

– Não, nós não somos.– Vick respondeu. – Qual o seu nome?

– Bianca.

– Bianca, nós somos apenas garotas normais que gostariam muito, muito mesmo de continuar tendo as vidas que tinham, mas pra isso acontecer ninguém, ninguém, Bianca, pode saber o que podemos fazer, entendeu?– Vick voltou a perguntar e Bianca fez uma carinha pensativa.

– Eu entendi... Espera, isso quer dizer que todas vocês tem super-poderes?– Perguntou sorrindo de orelha a orelha. - Seria muito legal ver vocês com os outros super-heróis salvando o mundo.

– Eu aposto que seria, mas se descobrirem que foi a Sam quem te salvou não vai demorar muito pra descobrirem que podemos fazer coisas diferentes também.– Lily falou rindo das ideias daquela garotinha. – E então nós vamos ter alguns problemas pra terminar a escola também, sabe?

– Aah sim, eu sei como é.. as outras crianças ficam rindo de mim porque eu não tenho pai.– Respondeu meio triste mudando um pouco o foco da conversa.

– São crianças muito idiotas por fazerem isso.– Jade falou.

– Eu sei e eu tento não ligar, mas eu não quero que falem coisas sobre vocês por isso não vou contar nada, eu prometo.

– Eu acho que vai ficar muito na cara se ela não falar nada.– Bella comentou.

– É verdade, talvez.. talvez você devesse falar alguma coisa sim, Bianca.– Tory concordou.

– Mas o que? Uma garota ruiva com olhos verdes radioativos a salvou? Charlie vai ligar os pontos na hora quando ouvir isso.– Lily não podia deixar com que esquecessem que ainda estavam escondendo a verdade de Charlie.

– Eu posso falar que duas garotas bonitas me salvaram.– Bianca propôs com uma vozinha tímida e Lily a olhou.

– Duas?– Perguntou.

– É.– Bianca balançou a cabeça. – Porque você também me salvou quando fez aquilo parar no ar.– Apontou para o lugar onde Lily tinha abaixado os pedaços da escada.

– Ela tem razão. Você salvou nós duas.– Sam concordou.

– Mas você vai falar apenas isso?– Lily ignorou o comentário de Sam. – Vão perguntar mais.

– Ela é uma criança que podia ter morrido queimada. Ninguém vai ser tão desumano a ponto de força-la a se lembrar de um momento traumático.– Vick falou.

– Vick está certa. Se ela falar que só duas garotas a salvaram, a polícia vai se contentar com isso, ainda mais se ela completar que não conseguiu ver os rostos por causa da fumaça e porque as duas estavam de capuz.– Sam reparou que tanto ela quanto Lily estavam com uma blusa com capuz, não estariam totalmente mentindo sobre essa parte.

– Então você entendeu o que vai falar, lindinha?– Bella perguntou.

– Duas garotas me salvaram, mas eu não consegui ver quem eram por causa da fumaça e porque as duas estavam com capuz.– Bianca respondeu tentando lembrar exatamente o que as tinha ouvido falar.

– Você não pode comentar nada sobre a cor dos olhos delas e nem do que elas fizeram exatamente, está bem?– Tory reforçou e Bianca concordou com a cabeça.

– Ótimo. Então agora, nós vamos com você até aquela esquina, mas antes de você correr pra sua mãe você tem que esperar não nos ver mais, tudo bem?– Lily apontou para o caminho por onde vieram.

– Sim.– Bianca respondeu e então andaram até a esquina. – Obrigado por me salvarem.– Agradeceu.

– Não tem de que, lindinha.– Lily respondeu.

– Só, por favor, tente não ficar mais presa em nenhum prédio pegando fogo, ok?– Sam brincou e Bianca riu.

– Ok.

Então, Bianca as observou correr até que viraram a outra esquina e não as viu mais. Se virou para onde conseguia ver todas aquelas pessoas e correu naquela direção.

Quando viu sua mãe começou a gritar por ela. Sua mãe chorou ainda mais quando a viu e Bianca correu o mais rápido que suas pernas conseguiam até que pulou no colo dela e a abraçou. Sua mãe a apertou tão forte que ficou difícil respirar, mas ela não se importava, tinha ficado com tanto medo.. até que a porta se abriu e aquela garota, Sam, apareceu. Com os olhos brilhando naquele tom verde que num primeiro momento a tinha assustado, mas então vendo como ela estava calma e sem nenhum medo do fogo, Bianca também se acalmou e a abraçou se deixando levar para fora do prédio.

Quando a abraçou, aquele calor que queimava e machucava que estava sentindo passou. O fogo não a queimava mais.. Ela também não sentia mais dificuldade em respirar e teve muita vontade de contar isso para ela quando a viu explicando o que tinha acontecido, mas se segurou. Não sabia porque, só sabia que um dia Sam descobriria sozinha.

Enquanto era levada até uma ambulância por sua mãe, se lembrou da outra garota, Lily. O que ela fez.. Bianca nunca tinha ficado tão impressionada assim. Claro, tinha ficado impressionada quando viu Sam apagar o fogo com a mão, mas Lily... Tinha algo nela, Bianca não sabia explicar o que, mas quando olhou para os olhos vermelhos dela não sentiu medo, ao contrário, podia sentir que aquela garota era mais forte do que podia imaginar, mais incrível do que ela pensava a respeito de si mesma e com certeza, ainda faria grandes coisas.

Sabia que ela era filha do Homem de Ferro, a reconheceu de imediato e desde de sempre a admirou, mas não falou nada disso. Um dia, ela esperava poder contar pra quem quisesse ouvir que foi salva com a ajuda dela.

Estava tão perdida em seus próprios pensamentos que só foi perceber que um policial lhe fazia uma pergunta quando sua mãe a chamou. A pergunta que aquelas meninas sabiam que lhe seria feita. Bianca fez uma cara pensativa, como se estivesse tentando lembrar do que tinha acontecido e o policial a olhava calmamente, sem pressa por um resposta.

– Eu.. eu me lembro que uma garota me tirou de dentro do prédio, mas quando estávamos saindo pelo fundo, um pedaço da escada ia nos acertar e uma outra garota nos empurrou.– Respondeu se encolhendo dentro do abraço da mãe.

– Você se lembra de como elas eram?– O policial perguntou.

Bianca sabia o que deveria dizer, mas não queria. Ela queria que aquelas garotas vissem que salvar alguém era algo bom, algo do qual deveriam se orgulhar, algo que deveriam repetir, sem medo. Elas podiam fazer a diferença naquela cidade, no mundo, e Bianca queria dar um empurrãozinho. Só esperava que não ficassem chateadas com ela.

– Estavam usando capuz, as duas, e estava difícil ver por causa da fumaça..– Começou. Não sabia como o policial entenderia o que iria dizer, mas esperava que Sam entendesse. – Mas uma delas parecia ter o cabelo feito de fogo.

~*~

– Ai chega.. vamos parar.. aqui.. por favor.– Jade pediu tentando recuperar o fôlego.

– Já estamos longe.– Sam completou.

As meninas tinham corrido até o praça que sempre se encontravam. Lily concordou com os pedidos de Jade e Sam e se sentou em um banco sendo acompanhada por Bella e Tory. As outras ficaram no chão.

– Então...– Bella começou.

– Não tem nada pra ser falado.– Tory a cortou.

– Tirando o fato de que nós...– Vick foi interrompida por Jade.

– Já sabemos, Vick. Temos que praticar... Mas eu acho que agora seria melhor se fossemos pras nossas casas e fizéssemos isso lá.

– Eu não posso fazer nada disso na minha casa.– Lily descordou. – Vocês sabem.. com Jarvis e tudo o mais.

– Pode ficar na minha casa até anoitecer.– Tory sugeriu. – Depois, minha mãe te leva até a torre.– Queria conversar a sós com Lily.

– Certo, só deixe eu ligar pra lá e deixar um recado com Jarvis.– Acabou-se o tempo em que Lily tentava falar diretamente com seus pais, já tinha aprendido que eles nunca atenderiam os celulares.

Depois de ligar avisando que chegaria de noite, ela e Tory se despediram das meninas e foram andando até o prédio de Tory. Não tiveram que andar muito até chegarem e então subiram para a cobertura.

A mãe de Tory estava sentada na mesa lendo alguns papeis e quando as viu chegar se levantou para cumprimenta-las. Lily realmente gostava de Mabel Meade.. Graças a ela tinha aprendido a falar espanhol.

A mãe de Tory morava em Guadalajara quando conheceu o pai dela, Mark Meade. Quando era criança, adorava dormir na casa de Tory apenas para ouvir a mãe dela cantando as canções de ninar em outra língua. Agora, mais velha, gostava de ouvir as expressões em espanhol que desconhecia para mais tarde usá-las em alguma conversa com as duas.

Tory era realmente parecida com a mãe, tendo herdado do pai apenas os olhos claros e uma pele um pouco mais clara que a da mãe. Sra. Meade tinha os cabelos castanhos escuros, os olhos pretos e a pele morena. Era também uma escritora e vários de seus livros já tinham sido adaptados para o cinema, o mais recente tinha sido o romance Já era Hora.

– Mãe, tudo bem a Lily ficar um pouco aqui?– Tory perguntou depois que sua mãe soltou Lily do abraço.

– Claro que sim, se quiser dormir aqui também...– A mãe te Tory, mesmo depois de todos esses anos nos EUA, não havia perdido o sotaque. Já Tory, se Lily não a conhecesse e se já não a tivesse ouvido conversar com a mãe em espanhol, nunca pensaria que ela tivesse descendência mexicana.

– Obrigada, tia, mas eu tenho que voltar pra casa.– Lily a conhecia desde que conseguia se lembrar.

– Tudo bem, mas quando quiser dormir aqui já sabe.– Disse e Lily sorriu. Eram em momentos como esse que ela se perguntava se era certo se sentir mais em casa na casa dos outros do que na sua própria casa. – Mas me digam meninas, como foi o primeiro dia de aula?– Lily e Tory se entreolharam.

– Foi normal, mãe.

– E não aconteceu nada demais?– Tanto Lily quanto Tory estranharam essa pergunta. Será que Charlie tinha comentado alguma coisa com a cunhada?

– Não que eu me lembre.– Tory respondeu.

– Aah, que pena.– A mãe dela falou. – Você demorou pra chegar, por onde andaram, hein?

– Estávamos com as outras, mãe.

– E demoraram todo esse tempo fazendo nada?– Lily continuava quieta. Estava com vontade de rir do rumo que a conversa parecia tomar. A mãe de Tory gostava de irritá-la bancando a intrometida na frente de outras pessoas, mesmo que fosse na frente de Lily.

– Mãe...

– Toryane, Toryane...

– Ah não, mãe. Vem Lily.– Tory a puxou pelo braço e Lily não aguentou, começou a rir.

Enquanto subia as escadas viu a mãe dela voltar a se sentar sorrindo e Lily sabia que Mabel não pararia de provocar a filha tão cedo.

Tory simplesmente odiava seu nome. Para ela, Toryane não era nome de gente, e nunca, em hipótese alguma, se apresentava como tal a menos que fosse estritamente necessário, sem a menor chance de escapar disso. O que, graças a Deus, acontecia com muita pouca frequência. Tory contou um bom tempo atrás que seu nome era uma homenagem a sua avó, mãe do seu pai, que morreu quando ele ainda era criança, mas não fazia ideia de onde esse nome tinha sido tirado originalmente.

– Dá pra acreditar nela?– Tory perguntou enquanto entravam em seu quarto. Lily apenas riu em resposta.

O quarto de Tory tinha uma sacada com vista para a cidade, uma cama de casal branca com várias almofadas em cima, porta-retratos espalhados pelas paredes, uma estante com alguns livros e mais fotos, uma mesa onde estava seu notebook cheia de cadernos e folhas soltas, assim como uma penteadeira. As estantes que estavam presas às paredes continham alguns bichos de pelúcia e mais de seus livros. A parede na qual sua cama estava encostada era na cor verde clara e havia o desenho de uma árvore preta com as folhas caindo, enquanto as outras paredes eram brancas. Havia também outras duas portas em seu quarto, das quais uma delas dava acesso ao banheiro e a outra ao seu closet.

Lily sentou-se na cama ao lado de Tory que estava deitada, após deixar sua bolsa no chão e se pegou pensando sobre tudo o que tinha acontecido naquele dia. Tinha machucado alguém, mas em compensação salvou outra pessoa...

– Sabe, eu vim o caminho todo pensando naquilo que a Bianca falou.– Tory disse se sentando.

– No que exatamente?

– Naquilo sobre sermos como os super-heróis e salvarmos o mundo.

– Por quê?– Lily não estava entendendo onde Tory queria chegar com isso.

– Eu não sei, mas sei lá... Seria legal. Quero dizer, ajudar as pessoas.– Lily entendeu onde ela queria chegar e não conseguia acreditar que Tory tinha considerado essa ideia.

– Você não tá falando sério. Não, você não está sugerindo isso mesmo, está?

– Eu não estou sugerindo nada, Lily. Só que você tem que admitir que ficamos tão preocupadas em perder o controle, nos expormos ou machucarmos alguém que não pensamos na possibilidade de fazermos algo de bom com os poderes que ganhamos.– E Tory dizia que não estava sugerindo nada.

– Agora, você está se esquecendo de que há uma razão pra estarmos tão preocupadas. Tory, você lembra do que o diretor da TUR falou? Ele disse que tínhamos que ser eliminadas, disse que éramos perigosas e nós estamos enganando sua tia por isso.– Lily tentava trazer um pouco de juízo de volta a cabeça dela.

– Eu não me esqueci de nada disso, mas não iríamos estar andando na rua e então de repente quando víssemos um problema íamos usar nossos poderes. Ainda não poderíamos ser reconhecidas.– Tory não estava apenas sugerindo algo, agora ela estava tentando convencer Lily de uma ideia sem sentido.

– Então você quer que a gente vista uma fantasia?– Tory revirou os olhos ao ouvir isso.

– Lily, pensa um pouco. Nunca passou pela sua cabeça que possa ter uma razão pra termos ganhado esses poderes?– Lily riu em desdém.

– Claro, porque quase termos morrido com certeza é uma mensagem oculta pra fazermos algo mais.

– Mas nós não morremos e é a isso que eu estou me referindo.

– Tory, mesmo que eu chegasse a considerar toda essa besteira que você está falando, você não está pensando em algo bem importante.– Lily tentaria faze-la enxergar o quanto pensar nessa ideia era loucura.

– O quê?– Tory parecia que estaria ouvindo dessa vez.

– Imagine que a gente faça isso e dá próxima vez que houver um problema grande em N.Y, nós seis tentamos ajudar os super-heróis.. Na verdade nem precisa ser grande coisa, nós simplesmente ajudamos alguém em perigo. Seis garotas com super-poderes... Você não acha que qualquer um que nos conheça não vai conseguir nos reconhecer? Quantas garotas com o cabelo vermelho como a Sam tem cinco amigas, das quais duas tem o cabelo escuro, e as outras três são loiras?– Tory se endireitou, sabia que nesse ponto Lily estava certa. – E o que é pior, Charlie com certeza nos reconheceria porque ela sabe que estávamos naquele acidente. Tory, não iríamos conseguir nos esconder.

– É, você tem razão, Lily.– Tory se rendeu. – Foi besteira considerar algo assim, mas eu pensei em como seria a sensação de saber que ajudamos várias pessoas.– Lily se levantou da cama.– Onde você vai?

– Lugar nenhum.– Lily trancou a porta, mas antes de se sentar novamente, ela pegou o pequeno vaso de flor que estava no chão da sacada e então voltou. – Mas eu acho que nós devíamos fazer o que dissemos pras outras que faríamos.

– Praticar.– Tory concluiu e Lily acenou com a cabeça.

Tory pensou em voltar para a conversa que estavam tendo, mas logo escureceria e seu pai chegaria do trabalho, sendo assim ela e Lily teriam que descer para jantar e depois Lily teria que ir embora. Lily não tinha muito tempo pra fazer isso e não seria bom gastar o tempo que tinham em uma discussão.

Lily colocou o vaso na frente de Tory e então se levantou de novo para pegar algumas canetas que estavam em cima da mesa e as esparramou na cama. Tentaria colocá-las de volta no porta lápis e esperava que Tory descobrisse o que mais poderia fazer além de florescer as flores e fazer plantas crescerem.

~*~

– Cheguei!– Lily gritou ao entrar na torre. Não sabia se alguém a tinha ouvido e sinceramente não se importava, já tinha feito sua parte ao avisar que estava de volta.

Subiu para seu quarto e se jogou sobre sua cama. Estava exausta. Tinha conseguido guardar as canetas e tinha inclusive levitado o porta lápis de volta para a mesa, sem derruba-lo. Com a emoção do momento tentou fazer o mesmo com coisas mais pesadas e obteve sucesso em todas as tentativas.

Já Tory descobriu que podia controlar a planta que estava naquele vaso, literalmente. Ela conseguiu alongar o caule até a mão de Lily que estava apoiada na cama, ao alcança-la fez com que ele se enrolasse no pulso de Lily e a medida que levantava o caule também levantava o braço de Lily. Mas cometeu o erro de se empolgar demais o que fez com que quebrasse o vaso e sujasse a cama de terra.

Algum tempo mais tarde, depois que tinham jantado, a mãe de Tory a trouxe até a Torre e como não conseguiria dormir sem um banho, Lily levantou e caminhou para dentro de seu banheiro e ao terminar colocou seu pijama - uma calça azul marinha e uma blusa cinza fina com desenhos de borboletas também em azul marinho - então desceu para beber alguma coisa.

Quando terminou de descer as escada ouviu as vozes de seu pai e de seus irmãos e já que seu pai estava falando sobre algumas armas pra uma nova armadura e ouvindo algumas ideias tanto de Alex quanto de Jai, isso só podia significar que sua mãe estava tomando banho.

Parou onde estava. Sabia que não era certo ouvir conversas alheias, mas sentiu a súbita curiosidade, pela primeira vez em sua vida, de saber como eram as conversas entre os três sem Pepper por perto. Fazia um bom tempo desde a última vez que Lily participou de uma dessas conversas envolvendo a armadura do homem de ferro e sorriu nostálgica ao ouvir que seu pai ainda mais brincava do que parecia realmente preocupado com a possibilidade de algo dar errado.

Lily podia dizer para si mesma e para qualquer outra pessoa que não se importava com esses momentos, que não sentia falta de se sentir incluída nessas conversas, mas ela sabia a verdade. No fundo, ela sentia falta dessa época e várias vezes já havia considerado a possibilidade de tentar voltar, porém se lembrava que eles não queriam que ela fosse inclusa.

– Não contem para a mãe de vocês..– Ouviu seu pai começar a dizer e se concentrou em ouvir o resto. – Mas da próxima vez que ela tiver que viajar a trabalho, eu vou pegar outras duas armaduras e então nós três vamos dar uma voltinha por aí.

Sentiu seu coração se apertar. Nós três... Seu pai não tinha sequer pensado em levá-la junto. Lembrava-se de quando os três eram crianças e viviam o importunando para voar com ele e agora seu pai sugeria isso, muito além da ideia inicial e não lembrava dela. Suspeitava que ás vezes Tony Stark esquecia que tinha uma filha, mas parecia que estava tendo a confirmação naquele momento e isso estava machucando mais do que ela poderia imaginar.

– É sério?– Ouviu Alex perguntar animado com aquela ideia. Imaginou que seu pai concordou com a cabeça, porque então Jai falou.

Realmente, só se ela estiver bem longe da cidade pra isso acontecer caso o contrário ela vai te matar, pai.– Ouviu a risada de seu pai.

– Então que ela nem sonhe com o que vou dizer agora, mas eu gostaria que vocês dois vestissem as armaduras e me ajudassem nas lutas.

Aquilo foi o bastante para Lily.

Ela não esperou para ouvir o resto, virou e correu de volta para seu quarto. Se escorou na porta até sentar-se no chão e apoiou a testa nos joelhos. Sua mente estava uma bagunça de pensamentos, não sabia em qual se concentrar primeiro, mas uma coisa se destacou em sua cabeça: toda a conversa que teve com Tory mais cedo.

Sabia que a ideia dela era arriscada, sabia que seriam reconhecidas na hora por Charlie e sabe-se Deus por mais quem, mas também sabia que o sentimento de ajudarem as pessoas compensaria todo o perigo do resto. Não era ela mesma quem sempre quis se sentir útil? Não era esse o seu pensamente, a sua necessidade na hora que tentou desligar o gerador? Tory tinha razão quando disse que podiam ter morrido, mas não morreram. Lily não deveria ver todos esse poderes como uma nova chance? Uma nova e melhorada chance de fazer algo certo? Por que estava hesitando tanto em concordar?

As meninas perguntariam de onde ela tinha tirado tudo isso e Lily sabia que não poderia responder a verdade. Ela não poderia dizer que ouvir a esperança contida na voz de seu pai a fez pensar nisso, porque nenhuma das meninas poderia começar a entender o que Lily sentiu naquele momento.

Naquele momento, quando seu cérebro processou o que tinha escutado, Lily sentiu a necessidade tola de fazer aquilo tudo. Estar junto de seu pai, ajudá-lo em qualquer coisa que precisasse da ajuda do Homem de Ferro.. Mesmo que ele não soubesse que era ela quem estaria ao seu lado. Lily só queria, uma vez, alcançar as expectativas do pai nem que fosse para apenas ela saber disso.

Mas quando chegasse o momento de responder a enxurrada de perguntas que seria feita pelas outras ela se preocuparia em inventar alguma coisa, ou talvez até contasse algumas verdades. Não gostava de mentir para as meninas. Então, decidida a não pensar muito se não correria o risco de reconsiderar, levantou de onde estava e abriu sua bolsa a procura de seu celular. Ao achá-lo, escreveu uma mensagem e mandou para Tory.

Quando Tory acabasse de ler ela lhe ligaria, mas Lily iria falar com todas juntas amanhã, antes da aula, no mesmo lugar onde tinham se encontrado naquele dia e até que o momento chegasse, Tory teria que se contentar com a mensagem que recebeu: Eu concordo com você.


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom?
Eu não faço ideia de onde tirei o nome da Tory.. kkkkkk mas quem não conhece alguém que não gosta do nome que tem?
Eu espero não estar acelerando as coisas demais, mas se eu continuasse enrolando ia começar a ficar chato e eu quero logo escrever essas partes *-*
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