Jogos Vorazes - Reerguendo das Cinzas escrita por Herdeira de Sonserina


Capítulo 31
Capitulo 28


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)
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Sonhos sem pesadelos. Dormir como um bebe ontem anoite. As lembranças da noite passada limparam minha alma literalmente. Sonhei com seus lábios recitando a palavra “Apolo” dentre minha mente, estávamos felizes e relembrando as constelações que já havíamos visto. Mas Nicolas me acordou nesta manhã e me trouxe ao mundo real. Ao mundo em que eu vou ser oferecida a morte. Ao mundo em que acreditar não é como sonhar.

Hoje é a segunda colheita da minha vida e eu sei que irei me oferecer por eles. Não só por que amo, mas por todos do Distrito. Meus irmãos insistiam em ficar o maior tempo possível ao meu lado. Nicolas era mais manhoso, mas Anna era mais sensível. Dan preparou um café especial. Tão especial que chegava a ser doloroso.

Chamaram todos os refugiados pela TV. Usei minhas calças negras de couro e uma blusa branca como meu nome. As despedidas foram em casa, pois não teríamos tal privacidade no edifício da Justiça.

– Lembre-se estaremos sempre com você! – Diz Anna em um abraço ofegante. – Eu te amo mais que tudo nesta vida...

– Minha pequena... Não pude ter filhos, mas você sempre será minha pequenina! – Digo soltando algumas lágrimas entre seu ombro. – Cuide de seu irmão por mim!

Ao soltar Anna, Nicolas desaba encima do meu corpo com um abraço apertado.

– Você pode voltar mana... Eu acredito em você! – Diz ele soluçando.

– É... Eu posso! Mas serão possibilidades mínimas... – Falo em seu ouvido. – Não chores meu irmão, você é um White! Não quero ver vocês chorando...

– Eu vou enfrentar eles! Posso derrubar qualquer um que esteja a minha frente, eu irei te buscar é só... – Acalmo Nicolas com meus dedos ente seus lábios. Suas lagrimas são tão rígidas e frias que chega dar dó de ver.

– Não Nicolas! Este rolo é comigo... Não piore as coisas...

Ele não desgruda do meu corpo ate Dan estender uma de suas mãos entre seu ombro. Ele se afasta e enxuga as lagrimas na velha manga amarelada de sua camisa.

– Obrigada! – Digo friamente para o rosto de Dan. – Cuide deles!

Dan poderia só ser o irmão mais velho de Phil. Mas para mim ele tinha uma ligação com meu marido e poderia cuidar de meus irmãos. Dan era o garoto de maior porte ali naquela casa e era o único que poderia consertar tudo em minutos.

– Irei cuidar não se preocupe! – Diz ele com a mesma voz.

Dei-lhe um abraço apertado e fiquei nas pontinhas dos pés. Obrigada, Dan. Por nos acolher e nos proteger neste momento.

Olho para trás e vejo Phil. Calças debotadas de trabalho. Camisa azulada. E rosto franzido. Primeiramente ajeito a gola de sua roupa que estava bagunçada. Passo meu dedos entre seu cabelo negro e vislumbro seus olhos penetrantes.

– Adeus! – Digo como num soluço entre seus ouvidos.

– Eu diria um ate logo! – Completa ele. Mesmo naquele momento tenso ele dar seu ultimo sorriso. Não aquele sorriso sarcástico como o de Clove ou um sorriso falso como o de Snow. Mas um sorriso com a cara do povo, um sorriso simpatizante e tranquilizador. O meu sorriso.

– Foi bom se casar com você... – Digo para todos na sala escutarem.

– Você ainda é casada! – Ele da um beijinho na testa e um abraço como aquele da primeira colheita. Meu marido preferido. Contador de estrelas. Arqueiro. Brincalhão. Como eu poderia me despedir dele. Não poderia. Afinal, o anel esta indo junto a mim.

Diante de meus olhos ele deu pequenos passos para trás com seus sapatos engraxados. Adeus Phil, tome conta deles! Não sei oque irei encontrar, mas não irá ser um mar de rosas.

Caesar deu seus últimos pronunciamentos pela TV e Dan desligou de raiva. O som estridente soou e tivermos que ir ao Dromo ver os tributos deste ano. Em um de meus bolsos a carta de Snow. No outro o medo de não voltar.

Ano passado tivemos mais pessoas. Ainda bem, não queria fazer muitos escândalos. Não fiquei na frente por sinal, me juntei a outras garotas que iriam presenciar este momento em minha vida.

Mirla como sempre contente. Como se aquilo fosse divertido e alegre. “festividade” era isso que a Capital queria transformar os jogos. Seus sapatos desajeitados e roxos me davam náuseas e seu vestido cor de mel era tenebroso. A maquiagem em seu rosto era amedrontadora. Quando o hino tocou novamente os tributos vivos saíram do edifício da Justiça.

De um lado as mulheres. Lindsey com cara de cansaço e maus tratos e uma mulher que já tinha visto. Cecelia estava agarrada aos seus três filhos. Do lado masculino só um velho barbudo se apresentou. Cadê o Derick? Muito provável que essas “férias” sejam eternas!

Fico vislumbrando o senhor que seria meu único conhecido na arena. Não o conheço e nunca o vi, como James. – Quem é ele? – Sussurro para Anna.

– Woof Hill! Vencedor da 17 edição... – Sussurra ela de volta. Nossa, ele ainda estava vivo? Não por muito tempo, afinal nos iriamos para a arena. Woof tinha uma cara enfadada de velhinho moído. Seus cabelos eram totalmente grisalhos e seu corpo estava envelhecido. Se conseguir chegar a tempo a cornucópia será um milagre. 17 edição. Acho que não existe tributo mais velho que ele!

Mirla continua a recitar palavras enjoativas e sem sentido algum. Aperto a carta de Snow com força e espero o momento certo de me rebelar. Será mesmo que é bom eu fazer isso? Eu poderia deixar Cecelia ou Lindsey ir em meu lugar e fugir hoje mesmo para qualquer lugar longe daqui! Não, eu não posso. Não posso ariscar a vida de meus entes queridos por besteira. Eu fiz esse rolo eu vou ter que pagar.

Minhas mãos começaram a suar. Minha blusa branca estava encharcada de suor frio. E meus olhos azulados estavam com um tom mais envelhecido. Ao pronunciar as palavras “Vamos começar!” meu extinto deu uma pontada na têmpora e me fez acordar novamente para o momento.

– Vamos ver quem será vitoriosa do 8 ! – Diz ela com um sorriso resplandecente. Anna olha dentro dos meus olhos e em seu olhar eu a vejo afirmar. “se quiser, não precisa se sacrificar por mim!”. Mas eu necessito então grito no silencio.

– ESPEREM! – A palavra ecoa dentre a multidão e todos os olhos fissurado estão em meu rosto. – Eu fui convocada para participar!

Vejo um riso surgir na boca de Mirla e ela sussurra algo para o prefeito. Imediatamente dois pacificadores me pegam pelo braço para me retirar do recinto.

– Esperem! – Berro. – Eu tenho uma carta! A carta do Snow! – Grito com toda minha voz.

– Me desculpe queridinha, mas não estamos para brincadeiras hoje... – Diz ela calmamente no microfone. Minha raiva chega à mente e explodo literalmente neste momento.

– SNOW ME CONVOCOU! AQUI ESTÁ A CARTA SEUS LUNATICOS! – Digo histericamente. Meus olhos ficaram avermelhados e minha cabeça começou a latejar. – ME SOLTEM!

Largo meus braços das mãos quentes dos dois pacificadores. Caminho com uma expressão de fúria ate o palco montado e vejo as pessoas de boca aberta ao meu redor. Não dou à mínima, em menos de um mês estarei morta mesmo. Não preciso da consideração de ninguém. Com tanta raiva joguei a carta na cara de Mirla que apanhou o papel pacientemente no chão e leio silenciosamente.

Arrumei meu cabelo que havia se agitado e tentei me acalmar de algum modo. Mirla mudou sua expressão e cochichou mais um pouco com o prefeito Wilson, que também fez questão de ler a carta. Ela voltou ao microfone e como se nada houve ocorrido ela fala pacientemente.

– Bom... Em nome do Presidente Snow o tributo feminino da septuagésima quinta edição dos jogos vorazes é... – Ela respira fundo e me encara furiosamente. – Elizabeth White!

As pessoas começam a murmurar entre elas. Dou um leve riso e fico ao lado da enfezada Mirla. Todas as pessoas estão surpresas. Algumas com as mãos entre a boca. Outras falando umas com as outras. Só aquele pequeno grupo de pessoas esta em silencio. A família White e a família Matias.

– Vamos prosseguir! Agora o vitorioso masculino! - Ela rodeia a bola de vidro com dois papeis, mas só um tributo estava presente.

– Espere! – Uma voz rouca sai em meio à multidão. Todos olham uns aos outros e procuram pelo indivíduo. Ao lado do telão as câmeras frisam um pacificador entre a esquadrilha. Estatura mediana e corpo robusto. – Eu também tenho uma convocação!

Como assim? Um pacificador? Quem é ele? E por que ele também foi convocado? A noticia me pega de surpresa como todos os cidadãos do Distrito 8. Minha expressão muda completamente. Não estava esperando por isso. Será que ele sabia do plano de Plutarch? Para começar, quem é ele?

Ele anda olhando para o chão. Suas botas brancas caminham lentamente para o palco. Com seu capacete branco não dá para identifica-lo. Olho para Mirla e vejo que ela esta abismada com a ocorrência de duas pessoas sendo convocadas para o massacre. Ela engole o seco e deixa o homem seguir ate ela silenciosamente.

Ele chega ao palco e fica ao meu lado. Parei de respirar para alguns minutos de ansiedade. Quem é o tributo misterioso? Quem será ele? Seu capacete ainda estava sobre sua cabeça e sua identidade restrita.

Ele entrega uma carta igual a minhas nas mãos de Mirla, e espera ser pronunciado. Enquanto Mirla falava com o prefeito novamente, eu fiquei lhe observando de relance. Seu capacete não deixava ver suas feições nem a armadura de seu uniforme. Mas ele tinha um jeitinho meio desengonçado, não gostava de esperar e ficava nervoso facilmente.

– Também temos outro tributo escolhido por Snow! – Diz ela agarrando o papelzinho e encarando meu rosto. Eu só não sabia por que. – E o tributo masculino da septuagésima quinta edição dos jogos vorazes é...

Ele retira seu capacete e em um milésimo de segundo Mirla solta o nome do convocado. – Marcus White! – Meus olhos começam a encara-lo como se toda a raiva destes anos caísse sobre mim. Meus lábios ficaram serrados e a angustia e a raiva estava em meu corpo.

Quando vejo seu rosto bronzeado e com uma barba loira começo a cegar de tanta raiva. Meus dedos encostam-se em meu colar, e arrancam-no de meu pescoço. Duas lagrimas saíram de meus olhos e eu corri para dentro do edifício da Justiça, deixando a população do 8 ao vento.

Ele não poderia estar vivo! Meus olhos estavam negros de raiva. Uma raiva que não queria me deixar de jeito nenhum. Seguia desorientada pelos corredores largos do edifício da Justiça, procurando alguma sala para me enfurnar e chorar em paz.

Escuto a voz de Mirla ecoar pelas paredes do prédio e me agarro a uma coluna para me esconder. – Esses foram os tributos do Distrito 8! – Diz ela com a voz irritante e estridente. Como as pessoas podem suportar esta mulher?

Quando começo a pensa que Marcus esta realmente vivo, e esta caminhando para morte junto a mim, um pacificador pega entre meus braços e me carrega para junto a minha equipe de desordeiros. Mirla esta com uma expressão fechada e enigmática. Ainda escuto ela soltar algumas coisas da boca.

– Não acredito que irei ficar com esses dois de novo! – Diz ela como se nós fossemos algum fardo em seu ombro. Não consigo olha para Marcus, e nem sei se é realmente ele.

– Você acha que eu estou pulando de alegria ao te ver de novo? – Digo ao seu lado. Qualquer representante seria melhor do que Mirla neste momento.

– Não vamos nos despedir? – Digo baixo entre os corredores.

– Gente como você não precisam de despedidas! – Diz ela com uma voz nua e crua. Eu já estava com ódio antes e agora meus nervos começaram a se chocarem.

– Você não pode nos tratar assim, está legal! – Minha raiva é descontada num grito em que todos conseguem ouvir. – Nos iremos morrer daqui a alguns dias e queremos um pouco de respeito, por favor!

O pacificador me segura com mais firmeza e me deixa junto a Marcus para esperarmos o carro que iria nos dirigir para o trem. Ele tenta pegar em minhas mãos e começar a se comunicar comigo após a colheita. – Lisa, eu...

– Não quero conversa com você! – Retruco para seu lado e lhe deixo de graça. Ele me deixa numa verdadeira miséria e depois de anos quer amparo? Não sou destas que cai em conversa fiada! Fui eu que cuidei das duas crianças órfã todos estes anos, não ele. Fui eu que vi as cenas chocantes e as mortes de perto, não ele. Fui eu que tive que me controlar para não acabar com vidas, não ele.

O carro negro entra e eu sou a primeira a me sentar no banco de trás. Fico em silencio e oculto o resto das pessoas que estão naquele local de minha mente. O carro começa a andar pelas ruas do Distrito 8 e mostrando a desgraça que eu nunca mais verei novamente. Quando passamos por uma das ruas vejo Phil com um ar de cansaço e uma placa entre as mãos. “Sempre te amarei”. Ele deu seu ultimo sorriso e acenou para o carro que logo lhe deixou para trás.

– Eu também, Phil! Eu também! – Sussurro com um sorriso entre a cara. Só ele para me fazer rir neste momento. Mirla também viu a cena pela janela.

– Quem era ele? – Pergunta ela olhando pela janela.

– Meu marido! – Digo sem papas na língua. Não precisaria mais esconder nosso casamento de ninguém. – Esse foi... Foi o ultimo sorriso dele!

O clima dentro daquele carro preto e abafado estava ficando sufocante. Meu irmão com o olhar mais desafiador possível, Mirla querendo me interrogar e as mínimas chances de voltar novamente para o Distrito 8.

Fique calma! Penso. O plano irá lhe salvar de algum modo! Digo a mim mesma. Mas será que salvará a Phil e meus irmãos? Será que salvará o povo do Distrito 8? Será que me salvará completamente?

Fingimento será à base da minha aparição nesses jogos. Tento ser firme e continuar sendo eu mesma.

Chegamos ao trem sem nenhuma palavra a respeito da minha fuga na colheita e na ultima aparição de Phil. O trem era incrivelmente o mesmo do ano passado, por isso já sabia aonde deveria ir e andar. Meu quarto. Eu sempre me trancafiava no quarto.

Imediatamente me sentei na cama e tranquei a porta. Pousei minhas mãos sobre o rosto e pensei: Marcus sempre esteve vivo, e não veio te ajudar quando você mais precisava dele! Isso era oque me dava mais raiva. Por onde ele andou? Por que não sentiu nossa falta? Por que não voltou?

Até tive coragem de ir procura-lo para esclarecer as coisas, mas uma dor de cabeça me deixou em uma dormência instantânea.

Doce! Quero um doce agora, mesmo que ele me faça mal! Abro a porta e corro dentre os corredores procurando por algo açucarado. Esbarro com um homem velho e robusto que já havia visto hoje de manhã. Era o velho e rabujado Woof. Seus olhos me encarravam e seus lábios estavam secos como ferrugens.

– Quem é você!? – Ele me pergunta friamente.

– Sou o tributo feminino, o senhor não viu hoje mas cedo? – Digo desafiando-o. Não conhecia Woof, mas pelo nosso primeiro encontro iriamos nos dar muito mal. Ele era o tipo de cara que queria me desafiar de algum modo, e eu odeio ser desafiada.

– Prazer, seu novo mentor! – Ele estende sua mão para mim. Olho dentro de seus olhos e faço a cara mais estupidamente meiga do mundo.

– Prazer, seu novo tributo! – São as únicas palavras que pude dizer. Ele entrou novamente para seu vagão reservado e me deixou sozinha no corredor. Não vi mais ninguém depois dali. Peguei algumas balas e enfiei em meu bolso. Voltei desolada para meu quarto e tentei esquecer que Marcus estaria mesmo vivo e estaria comigo naquela jaula novamente.

Mirla não me incomodou para comer. Olhei de relance para a janela e vi tudo indo embora há segundos. Adeus mundo, adeus pessoas que amo, estou indo por vocês! Tiro roupa a suada do corpo e me deito com as vestimentas de baixo. Ninguém poderia me incomodar agora.

Deitada sobre minha cama, com um caramelo entre os dentes. Encaro o teto do vagão como se ele fosse todo estrelado. Como seria bom estar com Phil neste momento, falando sobre qualquer coisa que não seja massacre quaternário. Sobre musicas, livros ou ate mesmo estrelas. Quando estava hipnotizada pelo doce a porta é socada por fora.

– Se tiver interessada assista com cuidado! – Diz uma voz fanha que certamente deveria ser de Marcus. Ele jogou por embaixo da porta uma espécie de fita que contia todas as edições dos oponentes que iriamos enfrentar.

Deixei a fita de lado e decidi sair um pouco do meu quarto. Para não morrer de fome e também para ver quais seriam meus verdadeiros oponentes. Sai do quarto neste momento era doentio demais, mas eu tinha que aguentar ficar olhando para a cara do meu irmão enfadado e para a cara dos ridículos que iriam ficar ao meu redor por enquanto.

Vesti um vestido branco padronizado pela Capital e me sentei junto a todos a mesa. Os sorrisos foram extintos e as esperanças tinha ficado para trás. Todos estavam basicamente comendo, de um lado Mirla e Marcus, as duas pessoas que me deixavam enfurecidas naquele vagão. Sentei junto a Woof e a Cecelia, que agora seriam nossos mentores oficiais. Para onde foi o gentil Derick e a sensível Lindsey? Só trouxeram o arrogante Woof e a deprimida Cecelia para nos auxiliar!

Tomei uma tigela de caldo quente e tentei ficar quieta durante o maior tempo possível. Muitas vezes Mirla começava conversas avulsas sobre roupas e maquiagens, mas elas eram cortadas pelo terrível silencio do vagão restaurante.

Marcus insistia em me observa. Acho que a saudade de seus abraços era tão forte que me levavam a loucura. Mas eu não poderia me render a ele, era uma questão de princípios. E logo ele que me ensinou meus princípios. Eu não posso ser fraca e sensível para alguém que me fez mal e me deixou no caos. Agora ele ira ter que aprender com a mesma moeda.

– Vamos ver as reprises? – Solta Cecelia com um ar de desanimo na voz. Dizem que ela sofre de depressão desde que seu marido morreu e ela teve que cuidar de seus filhos sozinha. Mas acho ela uma mulher tão forte e confiante. Ainda tenho muito a conhecer com Cecelia.

– É a única coisa boa que temos para fazer! – Diz Marcus. Seu corpo rasteja ate a sala de vídeo aonde eu observo seu caminhar. O mesmo jeito desleixado de sempre. Marcus, Marcus. Você poderia ressuscitar 1 milhão de vezes mas sempre teria este jeito meio largado de ser.

Sentamos no sofá acolchoado e esperamos a Capital anunciar as oferendas deste ano. Primeiramente os carreiristas profissionais de verdade. Não eram garotos treinados e meninas atiradoras de facas, mas sim homens fortes o suficientes para me partir ao meio e mulheres sanguinárias capazes de qualquer coisa para conseguir sair daquela arena viva. Cashmere e Gloss era o casal de irmãos favoritos da Capital. Poderiam esquecer o casal de irmãos sobrevivente aqui! A segunda dupla de assassinos mortíferos era Brutus e Enobaria, duas pessoas alucinadas pelo visto. Brutus é um homem de 40 anos extremamente forte e Enobaria é tão maluca a ponto de afiar seus próprios dentes como uma arma única.

Depois vinheram os mais velhos e enfadados tributos. O Distrito 3 ofereceu dois tributos mediamente perigosos, Beetee era um gênio e poderia bolar armadilhas em segundos, Wiress era sua velha companheira e era estranhamente esquisita.

Incrivelmente o Distrito 4 entregou seu Deus para a Capital. Finnick Odair estava oficialmente no massacre quaternário, e ao seu lado uma senhora de 80 anos que se ofereceu no lugar de uma mulher histérica. Mags era seu nome e ela parecia adorável.

Os outros distritos não foram assim tão deploráveis, o 6 ofereceu duas pessoas viciadas em morfinaceos (remédios tranquilizantes). Woof nos alerta sobre eles, que são engenhosos e conseguem se camuflar muito bem. Distrito 7 traz a tributo mais sarcástica e malvada em que eu posso contar. Johanna Mason é seu nome e sua historia nunca saiu de nossas cabeças. Eu me lembro dela por que foi nesta mesma edição em que meu irmão desapareceu. Fazia-se de coitada e fraca, ate pousar sua mão em um machado. Os carreiristas só deram conta dela quando o machado estava cravado em seus crânios. Junto a ela vejo Blight, um homem da idade do meu pai quando morto. Um rosto cansado e um ar de tristeza.

Depois disto viemos nós. Mirla ficando louca por causa de nossas aparições. Vejo minha entrada e meu nome sendo pronunciado, pessoas entrando em pânico com olhos arregalados. Com Marcus não foi diferente, pessoas ate gritavam loucuras dentre a multidão. Minha cara não é diferente eu lhe encaro, jogo meu colar ao chão e corro para dentro do edifício da Justiça. Meu colar! Onde será que ele estar? Não quero saber... Não quero nada de um desprezador! Acho ate melhor que ele tenha sido cobrindo por poeira naquele lugar.

– Que vergonha! Oque eles vão falar de mim... – Diz Mirla ao meu lado.

– Nada por sinal! Vocês se preocupam muito com oque os outros vão dizer! – Digo. Isso era tanta ignorância que chega a lhe deixar com ódio. Só fico no recinto por mais alguns minutos para ver os tributos restantes.

Distrito 11 traz tributos envelhecidos. Seeder é uma mulher de mais ou menos uns 60 anos, mas esta em boa forma. Chaff é um dos tributos mais sofridos, um de seus braços é deformado e ele tem a fama de ser um lutador experiente.

O resto eu conheço muito bem por sinal. Katniss é a única mulher do distrito 12 ainda viva. Por isso devemos protegê-la dentro da arena ate Plutarch disser o contrario. Peeta não é escolhido, mas sim um tal de Haymitch que deveria ser o único mentor do casal de desafortunados. Mas para proteger sua amada, Peeta se ofereceu como tributo para ficar ao seu lado. Acho que a consciência pesou e ele pensou nos momentos de solidão em que ele poderia viver sem ela. Achei ate gentil de sua parte.

Sem olhar para os lados me levantei e fui direto ao meu quarto. Não havia mais nada a ser dito ou visto.

– Boa noite a todos, iremos precisar! – É a única coisa que digo antes de fugir da minha equipe. Fecho a porta do quarto sem trancar, pois ninguém se atreveria de abrir aquelas portas por sinal.

Entro no banheiro olhando para meus pés. Lavo minha mão na pia e percebo o meu anel de casamento. Casada. E nem ao menos eu morei com meu marido. Não tivemos filhos. Nem uma vida decente. Nosso amor existiu sim, mas não houve tempo de florescer. A única coisa que restou foi esta aliança. “Para sempre”. Nosso “Para sempre” não seria tão longo assim. Ele estava cravado neste anel em meu dedo e o resto que se dane. Poderia morrer, mas o amor de Phil sempre estaria comigo.

Tomei um banho para descansar os miolos antes do dia estressante de amanhã. Lavei meus cabelos e molhei meu corpo com a agua fria mesmo. Deitei em minha cama para refletir sobre tudo que me estava acontecendo neste momento.

Inesperadamente, escuto passos silenciosos ecoando pela parede. Quando percebo ele está estirado sobre minha porta.

– Você não tem permissão de entrar aqui! – Digo num tom razoavelmente baixo.

–Eu sou como você! Gosto de infringir regras! – Diz ele com um ar irônico. Marcus chegava a ser pior que eu, ele era persistente e teimoso.

Sinto seu cheiro ao meu lado. Cheiro de alecrim como sempre. Sua mão tenta pousar em meus dedos, mas não o deixo encostar em mim.

– Me desculpe por tudo... – Suas palavras saem ásperas de sua boca.

– Você não me deve só desculpas! – Seu olhar azulado me enfrenta e firmo minha visão em seus pequenos e finos pelos debaixo de seu queixo. – Você não sabe o quanto sofremos depois de sua morte! Para mim... Você ainda está morto!

– Deixa eu te explicar...

– Isso não tem explicação! – Completo com um tom alto.

– Me escuta! Por favor, eu ainda sou aquele Marcus que...

– Não! Aquele Marcus não me deixaria na solidão com duas crianças para criar, aquele Marcus teria mudado tudo, aquele Marcus teria feito o impossível para nos proteger! – Digo enfurecida. Tudo que eu queria no momento é que ele ainda estivesse “morto” e Woof fosse comigo ao massacre. Seria menos doloroso para mim.

– Eu fiz o impossível! – Diz ele num tom baixo e indiscreto.

– E porque não voltou? – Pergunto.

– Por causa disto! – Em seu pulso um chip foi instalado junto a suas veias. – Eu vivi aprisionado no 4, pois se voltasse ele mataria vocês!

Lagrimas começa a escorrer de seus olhos. Agora eu havia percebido. Seus belíssimos olhos que antes eram como gotas de chuvas azuladas e iluminadas pela lua, agora eram duas pupilas desconhecidas, de cores rígidas e sintonizadas de cinza.

Ele continuou falando sobre a prisão doentia da Capital. Onde homens como ele eram obrigados a raspar seus cabelos, viverem em isolamento, junto a um micro chip que iria lhe infernizar o resto da vida.

Primeiramente não acreditei na historia da prisão. Até ele me mostrar seus braços literalmente queimados e mutilados. Em uma de suas mãos o dedo mindinho havia sumido. Ele disse que foi no dia que ele tentou fugir.

– Isso é mesmo verdade? – Lhe pergunto com a maior sinceridade do mundo.

– Eu não teria a coragem de arrancar meu mindinho para lhe enganar! – Ele cobre rapidamente a mão com uma luva negra.

– Conta esta historia direito! – Pedi duas xícaras de café e dediquei esta noite para as explicações de Marcus.

Sentamos em minha cama e passamos a noite nos conhecendo novamente. Após sair da arena os pacificadores encontraram-no e o levaram ate Snow. Que lhe obrigou a se passar por morto, morar nesta “organização” e se voluntariar no massacre Quaternário.

Ele também o obrigou a se exilar da família. Como um verdadeiro morto. Ele até tentou fugir e teve seu dedo decepado.

Depois do acontecimento do dedo, Snow o mandou usar o chip ou nós seriamos mortos. Durante todos estes anos ele vivia na verdadeira desgraça. Seria ate melhor a morte mesmo do que suportar oque ele sofreu.

Acho que ele sofreu até mais que nós. Não. Claro que não. Eu vi pessoas morrerem em meus braços, e não pude fazer nada. Passei fome. Passei frio. E ainda tive que ver os rostos tristes e esqueléticos das pessoas que amo. E isto me doeu muito, é como se sentir impotente e inútil.

– Então é isso? – Digo dando os últimos goles em meu café.

– É... É isso! Desculpe se eu não estava ao teu lado nos momentos difíceis! – Ele pousa a xícara na cabeceira do meu quarto.

– Eu estava furiosa... Pelo fato de seu abandono e desprezo, mas estou mais calma por saber que você sempre se preocupou com nós! – Digo soltando um sorriso.

– Estava com medo de nunca mais ver este sorriso novamente! – Seus dedos ásperos acariciam calmamente minhas bochechas. Agora eu sabia, que ele estava do meu lado. Sabia que teria com quem contar na arena. Sabia que Marcus não havia me abandonado por sua causa.

Quando nos demos conta do tempo o sol fino da manhã já está dentro do meu quarto procurando espaço. Nossos olhos não estão cansados e negros de sono, mas estão vivos e cheios de esperança.

Meu quarto ficou totalmente iluminado pela luz do sol. Ele simplesmente levantou de minha cama pegou as xícaras de café vazias e caminhou ate a porta.

– Vou indo! O dia irá ser cheio! – Diz ele.

– Foi bom... Esclarecer as coisas! –Lhe dou um pequeno sorriso.

– É foi bom... – E ele me responde de volta com um sorriso mais limpo ainda. – Vá dormir, pelo menos alguns minutos!

– Vou tentar pregar os olhos! – Digo cobrindo a janela com a cortina fosca e impedindo os raios solares de entrar.

Ele se despede do meu olhar e some dentre o corredor, agora a sua presença me fazia se sentir bem e segura.

Tento juntar as pálpebras, mas não consigo para de pensar na fúria que meus irmãos devem estar sentindo agora. Por Marcus está vivo e sendo encaminhado para a morte.

Fecho meus olhos e avisto uma campina verde. Céu levemente alaranjado. Olho para meu lado e vejo Phil com barbas negras no queixo e um garoto mais ou menos de nossa idade, sentado ao lado dele. Nós três estávamos avistando as nuvens. O garoto era incrivelmente parecido com Phil, à diferença era que seus olhos eram azuis como os meus.

Quando me dirijo ao garoto desconhecido acordo com Mirla infernizando meu juízo.

– Oque é! – Rosno para seu rosto pintado.

Temos horários a cumprir! E não me trate como um bicho... – Diz ela com um sotaque da Capital irritante. Ela corre para o corredor sobre os saltos. Essa era a única coisa que Mirla havia de especial. O magnifico poder de correr de saltos extremamente altos.

– Bicho seria pouco para pessoas do seu nível! – Sussurro baixinho para mim mesmo.

– Oque? – Berra ela do corredor.

– Nada! Eu já estou me encaminhando para o vagão restaurante! – Digo com uma voz irônica.

Olho-me no espelho e penso em como o dia irá ser estressante. Chegada a Capital. Rostos enjoativos novamente. Roupas nada normais. E olhar para a cara do homem que me pôs aqui. Snow por sinal.

Molho meu corpo rapidamente e me dirijo ao vagão restaurante, antes que Mirla venha aqui novamente puxar meus cabelos. Quando chego vejo as únicas pessoas que estão acordadas no momento. Mirla como sempre e Cecelia que esta com uma cara fechada e centrada numa maçã a sua frente.

– Bom dia! – Digo com uma voz desanimada e cansada.

– Só se for para você não é meu bem, estamos a menos de duas horas da Capital e metade da equipe ainda esta dormindo! – Diz Mirla histericamente. Ela pega uma faca e passa geleia numa torrada quase cortando os próprios dedos de raiva.

– Você precisa se acalmar... – Digo com uma voz tranquilizadora enquanto sento a mesa. – Temos tão pouco tempo na vida para os problemas!

– Tudo bem! Tudo bem! – Diz ela dando um sorriso. – Respire bem fundo! 1... 2... e 3!

Mirla era uma mulher tão depressivamente maluca que não se dava conta dos problemas que ela causava. O dia chega a ser entediante ao seu lado.

Olho para meu lado e vejo que Cecelia não deu uma palavra ate agora. Seus olhos cor de cereja esbanjavam curiosidade. Comi um pãozinho de nozes e dispensei o café da manhã.

Ao chegar à Capital nada mudou aparentemente. Sou entregue na mão dos três “bichinhos” que ira me transformar em algo decente de se ver. A única coisa que estou ansiosa para ver é Gary. A mais ou menos um ano não nos se vemos e eu adoro o jeito dele me incentivar.

Uma pergunta me atormentava. Onde está Derick? Que não compareceu a colheita. E Lindsey? Por que Cecelia veio em seu lugar? A Capital tem alguma coisa haver com isso. E eu irei descobrir! Minha equipe de preparação não me esfola novamente como no ano passado. Eles me dão um leve banho com sais de banho perfumados e arrancam os cabelos de minha perna. A dor é causticante, mas tenho que aguentar sem pestanejar. Marcus não deu a cara desde a noite passada e a manhã ainda nem começou direito.

Ao acabarem com a sessão de esfoliação as três criaturas medonhas estão com lagrimas nos olhos.

– Oque foi? – Pergunto.

– Você é tão... Tão jovem para ir novamente! – Diz Ginger soluçando.

– Não se preocupem! Esse sempre foi meu destino! – Digo tentando reconforta-los.

– Você deveria esta em casa junto a sua família e...

– Gente, Snow me obrigou estar aqui, então eu estou aqui! Tá legal, não quero ouvir resmungos ou choros! Tudo bem? – Digo.

Ok! Ok! – Fala Gunter com o sotaque Capitalesco. Mesmo eles sendo estranhos e mesquinhos, eu tinha um sentimento por eles. Eles estavam sofrendo por mim e no fundo eu também sofria por eles. – Ele mandou te entregar isto?

Ele me entrega um saco negro e fosco com um bilhete esverdeado grampeado ao saco.

Desculpe-me pela ausência, tive que resolver alguns problemas!

Você está dentro deste saco! Aprecie e divirta-se!

Gary Taylor

Era tudo que havia escrito no bilhete. Não acredito que ele não esta! Eu só estava contando com ele! A raiva começa a me corroer e tento não perder a cabeça. Abro o saco e as únicas peças de roupa que acho são dois braceletes e duas tornozeleiras douradas.

– Só isso? Isto é meu traje da cerimonia? – Digo indignada.

– O Gary me falou que vamos colocar alguns tapa sexos em você...

– OQUE? EU? NUA? – Berro quem quisesse ouvir. – Gary deve estar louco!

– Você não irá estar nua! Iremos tampar as coisas que não deve mostrar! – Diz Ginger me mostrando duas placas de plástico.

– Gary sabia que a única coisa que tenho pavor no mundo é o nudismo! – Digo jogando o saco ao chão. – Eu não vou vestir isto!

– Ah você vai! Temos ordens a cumprir e estas ordens incluem você vestir este traje! – Diz Tania pegando o saco do chão.

– Vestir? Ai não tem nada para vestir! – Digo. Respiro fundo e solto. – Façam o possível para esconder algo indesejado!

Ginger da um risinho e cochicha para Gunter. Olho para os três com uma olhar amedrontador e eles começam a me produzir. Fico despida só para eles, mas não tenho vergonha deles. Tudo que tenho, eles já conhecem. Já são praticamente de casa.

Tania coloca o tapa sexo nos meus seios nus e Ginger começa a colori-los com tons amarelados e dourados. Meu busto é rapidamente iluminado pelas aquarelas de Ginger.

Gunter diz que ela pintava quadros para esquecer-se das modinhas da Capital. Mas aceitou o emprego de preparador só para mostrar sua arte. E que arte, ela sabe mesmo oque faz.

Agora eles começam a parte debaixo. Minhas pernas são tingidas de dourado puro e Ginger pinta raios solares em torno de minha barriga. Tania coloca delicadamente as tornozeleiras e as pulseiras em meus membros. Uma espécie de emblema é posto em minha barriga.

Sem sapatos e chapéus malucos. Meu traje é o mais simples possível. Míseras tornozeleiras e pulseiras. Para acabar Gunter faz alguma loucura em meu cabelo. O jogando para trás e fazendo-o ficar arrepiado. Minha maquiagem é a mais iluminada possível. Cílios de cor branca e enormes são implantados em meus olhos. Tania usa sombras de tom branco e dourado fazendo meu rosto ficar iluminado. Meus lábios ficam brancos por causa de um batom estranho.

Olá! Eu sou a filha do sol! Prazer em conhecê-lo! Digo a mim mesma.

Deixo as três aberrações para traz e me encaminho para junto a meus cavalos. São mais brancos do que os do ano passado. Olho de relance e vejo que os tributos estão olhando fixamente para mim. Acho que este traje não agradou ninguém, afinal nudez nunca foi muito a praia das pessoas da Capital. A vergonha começa a borbulhar em meu corpo e procuro abrigo para me esconder. Marcus ainda está se preparando e não está aqui para me ajudar.

Acaricio a crista do cavalo mais próximo e tento relaxar antes de ter um de meus surtos. Pessoas que nunca vi. Ao meu redor e me encarando. Começo a entrar em pânico.


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Notas finais do capítulo

Será que a Lisa terá coragem de se expor para toda Panem?
E Marcus? Será que ele também entrará ao seu lado praticamente "nú"?
Será que eles dois iram fazer amizades entre os vitoriosos?
No proximo Capitulo...



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