Connected Spirits escrita por MidnightDreamer


Capítulo 3
Independência?




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Ainda bem que sou maior de idade agora.

Meu pai está sentado no sofá, fumando seu charuto importado e coçando sua cabeça calva. Acho que desde que se aposentou, ele está grudado nesse sofá e só se levanta para comer, dormir ou ir ao banheiro.

— Você ainda morre por causa dessa merda. - Pego violentamente aquela droga das mãos dele e jogo-a pela janela.

— Você fala como se você não fumasse também.

— Você sabe que não fumo mais. - Olho furiosa para ele. - Deveria saber, pelo menos. Mas você é idiota o suficiente para não saber o que acontece com sua filha.

Ele olha para mim, incrédulo.

— Você pensa que é quem, hein? - Ele se levanta, apontando aquele dedo imundo na minha cara. - Eu sou seu pai! Exijo respeito!

— Meu pai? - Olho para ele. - Você realmente se considera meu pai? Um homem que abandona sua única filha aos cuidados de terceiros não deve ser chamado de pai.

— Você ainda me culpa por isso? - Ele fala, com lágrimas nos cantos dos olhos. Estúpido. - Depois que sua mãe morreu eu cuidei de voc-

— Cala a boca, velho idiota! - Sussurro. Eu detesto quando ele entra no assunto "mãe". - Ela morreu quando eu tinha dezesseis, ou seja, por dezesseis anos eu me virei sem pais!

Ele se contém.

— Eu realmente não queria brigar com você hoje. - Tento apaziguar o clima que se formou.

— E eu não queria que você fosse embora. - Ele confessa, olhando para o chão.

Eu sinto muita, mas muita raiva daquele homem. Dele e da mulher que se dizia minha mãe, mas não gosto de entrar no assunto. Lembrar como ela morreu dói demais em mim, mesmo que não fosse apegada a ela.

— Você não precisa de mim. É rico, pode contratar milhões de empregadas pra fazerem o que você quiser. - Seguro a alça da minha mala. - Nunca precisou de mim mesmo... Até hoje me pergunto por que vocês decidiram ter uma criança, se não iriam cuidar.

Ele continua calado, e percebo que ele acendeu mais um charuto.

— Se você quiser morrer com isso, morra. - Ando em direção à porta. - Mas vai morrer sozinho. Adeus.

E, assim que a atravesso, fecho-a.

Você pode estar achando que fui cruel, mas não. Eu ainda tinha muito a me vingar com quele homem, que toda vez que trovoava, nunca me dava colo. Que toda vez que eu queria um abraço, me repudiava, dizendo que precisava de sossego, paz. Que nunca me dizia tchau quando ia viajar a negócios, umas trezentas vezes ao ano. E é por isso que faço questão em dizer adeus. Para que ele entenda que eu não vou voltar.

O táxi já me esperava em frente a mini mansão. É, isso mesmo. Desde criança vivi nessa casa, mas agora eu finalmente vou embora. Peço ao motorista me levar para o rústico porém moderno prédio Concept. Depois de uma viagem de quarenta minutos, e cinquenta dólares na mão do taxista, chego ao meu mais novo lar.

O prédio só tem três andares, então tenho que arrastar minha bagagem pelos estreitos degraus. Ao chegar no apartamento 10, abro a porta e vejo minha pequena choupana. Não, eu estou exagerando. Até que é meio chique.

Jogo minhas malas na cama e sento no sofá mofado. Olho para o teto, pensando em como minha vida vai ser daqui pra frente. Com meu novo emprego de professora de Artes na comunidade, consigo ganhar uma graninha boa. Talvez eu abra um ateliê quando conseguir juntar bastante dinheiro. Vender quadros para ricos excêntricos, quem sabe. Sei que por enquanto terei que me contentar com pouco mais que um salário mínimo.

Você deve estar se perguntando onde está aquele fantasma que conversava comigo. Bem, Jaden nunca mais apareceu, desde o dia em que minha mãe faleceu, cinco anos atrás. Quer saber, está melhor assim. Não que eu tenha acreditado que ele era fruto da minha imaginação, pelo contrário, mas minha vida está sendo bem melhor sem ele.

Pelo menos eu acho que sim.

Olho para o relógio. Seis e meia! Oh, Deus... Como eu pude esquecer do meu encontro com Elliot? Voo para o chuveiro e me visto para meu ficante. Ponho meu vestido vermelho decotado e salto alto, claro, sou uma nanica perto dele. Não sou de usar maquiagem (não que eu seja uma pessoa linda, sem defeitos) mas decido por um batom que combina com meu vestido. Meu telefone toca.

— Alô? - Pergunto, tentando desesperadamente desfazer um nó no meu cabelo.

— Vanessa? Você já está em seu apartamento novo?

Olho em volta.

— É, acho que sim... Apesar de nada além de mim ser novo dentro dele.

Ouço sua gargalhada. Apesar de ter visto ele há dois dias, sinto como se já tivessem se passado anos desde nossa última conversa.

— Eu vou passar aí daqui a cinco minutos, certo? - Ele afirma.

— Tudo bem. - Sorrio. - Até mais, então.

— Até logo.

Desligo o telefone. Eu gosto muito do Elliot, ele é muito gentil comigo, sempre querendo me agradar, mas sem ser muito grudento. Faz algumas semanas que ele me chama pra sair. Nós já nos beijamos, até umas coisinhas a mais, mas nada na próxima fase, se é que você me entende. Ah, vai ver que ele só é lento mesmo.

Quando consigo domar meus cachos negros, pego minha bolsinha e desço. Assim que chego no térreo, ele está lá, totalmente elegante. Não que ele esteja de terno ou coisa do tipo, é que pre mim ele sempre está chique.

— Boa noite. - Ele segura minha mão e a beija.

— Boa noite, cavalheiro. - Brinco e ele abre um sorriso.

— Reservei uma mesa pra gente no Château-Lucie. — Ele carrega o sotaque francês falso ao pronunciar o nome. - Vamos?

— Vamos. - Sorrio para ele.

Conheci Elliot no curso de pintura à óleo. Não sei bem por que ele estava lá (digamos que ele não é muito bom em artes) mas acabei me afeiçoando à ele. Toda vez que ele sorria para mim, mesmo cordialmente, eu me sentia única.

Ele abre a porta da sua Sedan para eu entrar e depois ele entra. Dá a partida, mas não antes de me beijar bem abaixo da orelha esquerda. Oh, céus... Por que ele tem que ser tão lento? Vinte minutos depois, chegamos ao "Castelo da Lucie". Bem, parece mais com um barzinho pelo lado de fora, mas por dentro é um verdadeiro restaurante de luxo.

A hostess nos leva até nossa mesa, ao lado da janela. Elliot puxa minha cadeira para eu sentar, e assim que o faço vejo a lua cheia no céu com poucas estrelas. Faz muito tempo que eu não paro para observá-las. Acho que a última vez foi...

— O que você vai pedir? - Elliot pergunta, entregando-me o cardápio que a hostess havia dado à ele. - Acho que vou de Ratatouille.

Então eu também. - Sorrio. — Nunca fui chegada a comida francesa.

 Sério? — Ele parecia um pouco chateado. — Puxa, se eu soubesse...

— Não se preocupe. — Dou um sorriso para ele. É, de uma mamenira estranha, bom ver que ele se importa com minha opinião. — Posso não gostar muito do estilo da comida, mas adoro o clima romântico.

Ele fica um pouco vermelho e chama um garçom e faz nossos pedidos. Presto mais atenção a mesa; duas velas brancas queimam com suas chamas sinuosas, enquanto um pequeno vaso com rosas vermelhas dá o toque final de charme. Será que ele preparou isso, ou foi por conta do restaurante? O que isso significa? Ele quer avançar?

Não, eu não estou desesperada por isso. Eu estou desesperada em fazer isso com ele.

Uma das velas se apaga.

— Deve ser a ventania. - Ele sorri. - Bem, como foi seu dia hoje?

— Estranho. Eu estou feliz por estar em minha nova casa, mas também estou com raiva do meu pai.

— Brigaram? - Ele pergunta, tentando proteger a outra chama com suas mãos.

— Sim. Mais eu do que ele que brigou, ele mais escutou. - Faço uma pausa. - Eu queria muito não sentir raiva dele, mas é impossível depois de tudo...

— Imagino. - Ele dá um sorriso em consideração. - Eu não quero que você fique com raiva de mim pelo que vou dizer, mas acho que você devia tentar entendê-lo.

Eu olho para ele um pouco contrariada. Todos que sabem da minha relação conturbada com meu pai dizem a mesma coisa. Por um lado, eu entendo que é uma boa intenção, mas não é como se as pessoas que falam isso tivessem passado por esse problema. Elliot parece ter percebido que eu fiquei um pouco chateada, pois ele muda de assunto rapidamente.

— Bom, que tal eu falar do meu dia não tão bom, também... – Ele sorri para mim. – O professor de Geometria Gráfica está me dando nos nervos com um projeto em grupo... É como se tudo de ruim que meus colegas fizessem fosse redirecionado por ele pra mim. Não tem como aturar.

Sorrio para ele, e coloco minha mão por cima da dele.

— Não se preocupe, eu sei que você vai se sair bem nessa cadeira. Em todas. – Digo, e um sorriso aparece no rosto dele. – Quem vai ser o melhor arquiteto do estado?

Ele ri, e meu coração se enche de alegria. Como ele consegue me deixar tão relaxada assim?

— De qualquer maneira, – Elliot aperta minha mão. – Minha noite está sendo bem melhor.

Rio. Essa é a cantada mais velha da história da humanidade, e eu sei que ele sabe disso.

— Como diria os franceses, um cliché. - Ele pisca um olho, e o garçom põe nossos pratos na mesa. Humm... Apesar de ter esse nome esdrúxulo, o Ratatouille tem um cheiro divino!

A outra vela se apaga, o que faz com que fique um pouco mais escuro entre nós.

— Que maravilha... Bem, as velas não importam muito, não é?

— Claro que não. - Afirmo, colocando uma generosa garfada na boca.

Ele sorri. Como esse homem pode ser tão... Gostoso? Ufa, finalmente admiti isso. Ele é gostoso. Bom, se ele não fosse acho que não sentiria essa atração toda para ir pra cama com ele. Poderia até gostar de Elliot, mas sentir isso, acho que não.

Passamos mais um tempo no restaurante, pedindo drinques - quer dizer, eu pedindo, já que ele está dirigindo - e jogando conversa fora. Logo depois, quando sinto que se beber mais não vou conseguir andar em linha reta, ele me leva até meu apartamento. Parados na porta, ele me segura pelo quadril e suga levemente meu pescoço. Minhas mãos já estão percorrendo suas costas e seus cabelos, enquanto mordo seu lóbulo cuidadosamente.

— Não quer entrar? - Pergunto pra ele, quando ele para para respirar.

Ele abre um sorriso tão grande quanto o meu. Abro a porta de casa e seguro-o pela mão, guiando-o até meu quarto.

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Ele já dormiu. Que raça mais fraca, essa dos homens... Pelo menos foi além das minhas expectativas, se é que você me entende mais uma vez. Levanto-me da cama e visto minha baby-doll branca e volto para a cama, agarrar-me à ele. O sono está quase vindo quando o que eu menos esperava acontece.

Vany. Boa noite, Vany.


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Notas finais do capítulo

Reviews?



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