Connected Spirits escrita por MidnightDreamer


Capítulo 2
Como tudo começou




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Eu tinha cinco anos quando entendi quem, ou o que, estava me amedrontando desde sempre.

Era uma noite fria, chovia muito. Mamãe não estava em casa, muito menos papai. Catarine estava na cozinha preparando uma sopa de galinha para mim. Eu estava na sala, brincando com minha boneca favorita.

Quase todo dia era assim, eu e a empregada sozinhas em casa. Meus pais trabalhavam muito, se passassem três dias seguidos em casa juntos era um milagre - que, diga-se de passagem, nunca aconteceu ou pelo menos não lembro. Meu pai era empresário, e mamãe era modelo. Os avós dela eram de origem italiana, então era o que poderia se considerar uma mulher bonita.

— A sopa está pronta, senhorita Miller. Venha jantar.

— Não precisa me chamar de senhorita, Catarine. - Levanto do sofá e vou correndo para a mesa de jantar. - Me chama de Vanessa.

Ela dá um sorriso cândido pra mim.

— Tudo bem. - Catarine se senta ao meu lado, sorrindo. – Você está tão crescida, Vanessa... Eu lembro quando você nasceu. Era tão pequenina, mais parecia um filhote de gato! Agora está praticamente uma mocinha.

Tomo mais uma colherada de sopa e sorrio.

— Mas eu ainda sou criança, não sou?

— Claro; mas que pergunta... - Ela encara meus olhos. - Por que perguntou isso?

— Porque mesmo crescida ainda quero ganhar presente de Dia das Crianças.

Ela dá uma risada gostosa e quando termino minha sopa, ela retira minha tigela e lava-a. Catarine é engraçada, com seus enormes olhos castanhos e cabelos loiros acinzentados... Ela era como uma segunda mãe para mim.

— É melhor dormir, senhori... Quer dizer, Vanessa.

Olho para os lados, abraçando a mim mesma.

— E meus pais?

— Só voltam amanhã à tarde. - Ela fala, e sinto um tom de comiseração em sua voz. – Quem sabe eles voltam mais cedo?

Eu fui até meu quarto logo depois de dar boa noite à ela, já um pouco triste. Não que eu esperasse que eles voltassem, mas já era o quarto dia deles fora... Bem, troquei de roupa e coloquei meu pijama de bolinhas rosas e deito-me na cama fria.

Muitas vezes eu estava completamente só. Não o "só" como eu acabei de descrever, mas sim o de verdade, sem nem mesmo Catarine. Mas eu nunca me senti completamente sozinha. Era como se... Se algo, ou até mesmo alguém, estivesse perto de mim o tempo todo.

No começo eu achei que era Jesus Cristo, mas descobri que essa aura que eu sentia tinha outro nome.

Boa noite, Vany.

Ninguém nunca me chamava de Vany, só ele. Sentei-me bruscamente na cama, olhando para todos os cantos do meu quarto.

— Quem está aí?

Não obtenho nenhuma resposta. Levanto-me da cama, ligo a luz e olho novamente a minha volta. Tudo está como sempre esteve, minhas bonecas e meus livros de colorir - paixão que sempre tive - em seus devidos locais. A não ser...

Minha boneca. Ela estava sentada olhando para minha cama, na mesinha de centro. Agora ela está virada para mim, o oposto do que estava antes. Coloco-a na posição de origem novamente e sento-me na cadeira de plástico.

Estou nervosa. Não é a primeira vez que escuto esse desejo de boa noite para mim, mas nunca foi tão marcante como dessa vez. Nas outras era como um pensamento, uma energia vinda até mim, mas alguns segundos atrás foi como se houvesse um homem em meu quarto.

Grito por Catarine, mas ela não vêm.

Ela já foi dormir, Vany. Devia fazer o mesmo.

Pisco, e minha boneca está voltada para mim novamente. Aterrorizada, coloco a boneca debaixo da cama. Ligo a televisão e assisto alguns canais infantis na TV fechada, já que não se passa mais desenho animado às nove da noite. Nada que uma boa maratona do Bob Esponja não resolva.

Por alguns minutos até esqueço o que havia acabado de acontecer, mas assim que o sono bate em mim sinto um calafrio na espinha. Desligo a televisão e volto para minha cama, cobrindo-me dos pés a cabeça com o edredom. Sabe, aquela crença de que pode aparecer um Serial Killer no seu quarto, mas se você estiver totalmente coberto, nada vai lhe acontecer. Todo mundo crê nisso.

Pelo menos eu acreditava.

Boa noite mais uma vez, Vany.

Eu não mereço isso... Desenrolo-me das cobertas e me sento na beirada da cama.

— Responda logo, quem está aí? - Falo, totalmente sem fôlego.

Um silêncio enorme é prosseguido por uma resposta.

Jaden. Pode me chamar de Jaden.

Jaden. Esse nome me perseguiria por anos, mas eu nem desconfiava. A única coisa que eu queria naquele momento era acordar e perceber que tudo aquilo era um pesadelo que não não havia fantasmas no meu quarto.

— Jaden? - Repito. - Seu nome é Jaden?

Sim. Quer dizer, é o nome que eu gostaria ter tido.

Na hora eu não notei, mas aquela sentença queria dizer que ele já estava morto. Mas agora eu sei.

— O que você quer, Jaden? Não vê que eu preciso dormir?

Escuto uma leve risadinha.

Não estou lhe impedindo a nada. Aliás, o que eu mais quero é que você durma. Se ficar cansada, como me ajudará?

— Ajudar?...

A encontrar a carta. Eu sinto mais uma vez as pálpebras pesarem. Acho melhor você dormir.

— Mas...

Eu tinha tantas perguntas a fazer... Mas bem, se era um sonho, eu não devia me preocupar com nada daquilo que eu estava imaginando.

— Boa... Boa noite, Jaden.

Boa noite, Vanessa.

E foi nessa noite em que eu tive minha primeira conversa com ele.


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Notas finais do capítulo

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