Connected Spirits escrita por MidnightDreamer
Nós voltamos lentamente para a casa de Anna. Na verdade, Elliot me guiava enquanto eu ficava olhando fixamente para a caixa. Ela está velha, empoeirada, mas ainda assim me chama a atenção. Assim que entramos na casa, vemos Anna andando pela casa, limpando todos os móveis e... Sem o aparelho de respiração.
— Anna! - Exclamo. - Onde estão todas as suas...
— Máquinas? - Ela sorri. - Não sinto necessidade delas. A única que infelizmente não posso me livrar é o marcapasso no diafragma, mas estou me sentindo tão disposta...
Ela se senta no sofá, sorrindo como nunca. O que houve com ela?
— Acho que a gente precisa conversar. - Sento-me ao lado dela e Elliot também.
— Aham. - Ela sorri. - Por que vocês não me contaram nada? Deviam ter... Desde que descobri que estava com câncer eu me converti no espiritismo. Nunca acharam estranho eu não rezar antes das refeições?
— Na verdade, eu não sou religiosa. Nunca fui, pra ser sincera.
— Que pena. Bem, acho que perdi um pouco da fé naquele deus perfeito que todos falavam para mim, mas ainda acredito nele; mas isso não importa, eu realmente estou maravilhada com isso... Matthew está aqui, presente!
Não sei bem por que, mas acho que Jaden está sorrindo.
— Sempre está. - Sussurro. - Desde quando era criança ele está ao meu lado. Acredite, ele consegue ser irritante e chato.
Ei!
— Mas ele era o irritante e chato. Não existia outro como ele... - A princípio noto a alegria nas palavras dela, mas logo seus olhos se enchem de lágrimas. - A culpa é toda minha... Ele morreu por minha causa...
— Não é, Anna. - Ponho minha mão sobre seu ombro. - A culpa foi de quem matou ele.
— Mas aconteceram tantas outras tragédias por causa da morte dele... Alice morreu. Harold, o irmão dela, quando soube que ela havia falecido voltou correndo de Leeds para cá, de carro. - Ela olha pra cima, tentando fazer com que as lágrimas não desçam. - Acidente fatal para ele.
Elliot engole em seco.
— E ainda dizem que o assassino dele se matou depois do homicídio. Quatro mortes, Vanessa. Quatro mortes que podiam ter sido evitadas.
— Ou talvez não, Anna. Não dava pra saber se o assassino ia ou não cometer o crime se ele tivesse continuado com Alice. Foi uma fatal coincidência.
— Infelizmente. - Ela enxuga as lágrimas. - Mas você me fez alegre, Vanessa. Matthew ainda vive.
— Anna, precisamos contar tudo pra você. - Elliot se pronuncia. - Ao que parece, todos nós tivemos vidas passadas. Estamos a procura da próxima vida de Alice.
— E temos quase certeza de que Elliot foi Harold no passado. - Murmuro, e ela arregala os olhos. Também decido não falar nada sobre a possibilidade de Suzanne ter sido o assassino. - Sim, as visões.
— Visões... Vocês têm muitas visões? - Ela pergunta.
— Ela mais que eu, só tive uma. - Elliot explica. - Jaden disse que o "Harry", o nome pelo qual Alice me chamou na visão, era irmão de Alice.
— Jaden?
— Matthew se identificou pra mim pela primeira vez como Jaden, apesar de eu saber que esse não era o nome dele. - Explico.
Ela suspira e se levanta do sofá, nos convidando para almoçar. Sentamos na mesa e ela serve o peito de peru. Ela continua olhando para mim, o que me intimida um pouco, mas fico feliz também. Eu não sabia que ela poderia ficar tão alegre só por que Jaden sussurrou um "eu te perdoo" no ouvido dela.
— E o que é essa caixa que você não larga? - Ela pergunta.
— São as cartas que Jaden escreveu para Alice. Pedindo perdão.
Ela abaixa os olhos. Deus, eu não queria estar na pele dessa mulher.
— Você pode lê-las pra mim? - Ela pergunta. - Pelo menos uma.
Suspiro.
— Claro.
Assim que terminamos o jantar, voltamos para a sala de estar. Sento-me no sofá, junto com Elliot. Ele segura minha mão, provavelmente está temendo que eu tenha outra visão. Sorrio para ele, que retribui. Anna se senta na poltrona e olha firmemente para mim.
Abro a caixa. Deus, só olhando para aquele monte de papel posso dizer que há pelo menos umas cem cartas ali. Ora, estou sendo é mesquinha, pelo menos umas duzentas. Não sei bem, mas sinto uma vontade enorme de ler todas de uma só vez. Pego a última da pilha, pois talvez haja uma ordem cronológica. Pigarreio.
— Minha querida, - Começo a ler. - você não sabe o quanto eu estou arrasado. Sei que não adiantará eu falar que a culpa não é minha e que tudo isso é um engano, apesar de ser mesmo. A única coisa que eu quero dizer é que eu sinto muito. Sinto muito pelo que você viu, e também sinto muito por não ter sido o homem que você devia ter tido. Creio que se eu tivesse te tratado da maneira que você merece, não teria duvidado da minha palavra, quando dizia que não era o que parecia. Eu te amo, Alice, e tenho ódio de mim mesmo por ter te perdido. O que eu te peço, meu amor, não é para voltar para ti; apesar de ser o que eu mais quero. O que eu te peço é o seu perdão. Mesmo que seu amor por mim não volte, é o que eu te peço. Desculpe-me por tudo o que eu te fiz sofrer, e espero que você não guarde rancor de mim. Eu mesmo já guardo o suficiente.
Minhas mãos estão trêmulas. Os olhos de Elliot estão inchados, e os de Anna estão se dissolvendo em lágrimas. Eu... Ele só queria o perdão dela. O que mais importava para ele é que ela não se amargurasse. Que ela fosse feliz, mesmo que isso significasse ficar longe dele pro resto da vida. Ele a amava. E eu não sei bem como lidar com esse sentimento que inunda meu peito.
— Em nenhum momento ele me citou. Pôs a culpa em mim. - Anna sorri. - Ele não me culpava...
— Culpava sim. - Não minto. - Ele mesmo falou para mim. Acho que ele só não mencionou você por que estava mais voltado à ela. Sinto muito, Anna.
Ela assente rapidamente com a cabeça.
— Sim. Deve ser isso mesmo. - Ela murmura. - Vou me deitar.
Ela se levanta calmamente e sobe as escadas. Olho para Elliot, que deixa escapar uma lágrima pelo canto do olho. Ele me beija na bochecha.
— Quer se deitar também? - Ele pergunta quando deito minha cabeça em seu ombro.
— Sim. - Sussurro e ele me ajuda a levantar.
Então vamos até o nosso quarto. Jogo-me na cama e choro por um tempo absurdo, e Elliot se deita ao meu lado. Ele beija minha têmpora a me abraça, tentando me consolar de qualquer forma.
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