— O quê? - Pergunto, muito confusa. - Você teve uma visão?

— Eu... Minha nossa! - Ele passa as mãos pelo rosto, suando frio. - Não entendo bem o que eu vi, mas com certeza não foi algo que vivi.

Pergunte para ele o que viu, Vany. Por favor.

— O que você viu? - Indago, segurando firmemente sua mão.

— Eu estava segurando um ramalhete de hortênsias, andando para não sei aonde. - Ele balança a cabeça, como se tentasse raciocinar melhor. - Eu não tinha controle do meu corpo, era como se ele agisse sozinho. Eu andei e cheguei até a casa de Jaden e Alice. Toquei a campainha e então Alice atendeu. Ela me deu um abraço forte e me chamou...

Fico confusa novamente.

— Te chamou de quê?

— De Harry. - Ele se lembra. - Ela me chamou de Harry.

Harry... Harry! E então as janelas se abrem de repente, fazendo um vento frio invadir o quarto e esfriar o ambiente. Harry? Será mesmo que ele...

— Jaden? O que houve?

Mas ele não me responde.

— Ei. - Elliot me encara. - Vamos almoçar, tudo bem? Eu já estou melhor.

— Certo. - Ajudo-o a se levantar e descemos até a sala de jantar.

Sentamos na mesa, mas infelizmente o macarrão já estava um pouco frio. Ainda sim está delicioso, e eu e Elliot não falamos muita coisa durante esse tempo. Quando terminamos, vamos até a pia e lavamos toda a nossa bagunça.

Vany.

— Jaden? - Chamo-o, e Elliot continua a lavar a louça.

Harry era irmão de Alice.

O prato que estava na minha mão escorrega, só não quebra por que é de plástico.

— Vanessa? - Elliot segura minhas mãos. - O que houve?

— Harry é irmão de Alice. - Ele me guia até uma cadeira, onde me sento. - O que... Mas por que você teve essa visão?

— Eu não faço a mínima ideia. - Ele se senta também. - A menos que...

A menos que... Oh, meu Deus!

— Vocês dois estão me deixando tão confusa!

— A menos que eu tenha sido esse Harry. - Ele por fim fala.

Elliot... Harry? Irmão de Alice? Será que isso é mesmo possível? Bem, se Suzanne pode ser ela, por que ele não pode ser esse tal de Harry? Minha nossa...

— Talvez seja por isso.

— Isso o quê? - Pergunto.

— Talvez seja por isso que tudo aconteceu. - Ele começa a explicar. - Talvez seja por isso que eu me apaixonei por você. Para vir e acabar desvendando meu passado também. Eu vim pra te ajudar...

Ele parece perplexo. Acaricio sua bochecha.

— A gente não sabe se isso é verdade. Talvez seja só o que Jaden falou lá na casa, que os objetos guardam lembranças que podem ser ativadas pelo toque. Isso aconteceu comigo, não foi?

— Mas ainda sim... Me pareceu tão vivo. Foi quase como se eu pudesse sentir o abraço dela.

— Talvez seja minha culpa. - Sorrio. - Foi difícil te arrastar do jardim até o quartinho de baixo.

Ele sorri calorosamente e eu acabo não resistindo. Levanto-me da cadeira, me sento em seu colo e o abraço forte, beijando seu pescoço.

— Tenta relaxar. - Acalmo-o. - Talvez tenha sido só uma coincidência, nada de mais. Certo?

— Certo. - Ele beija meu queixo e enfim meus lábios. Oh, eu estava com saudades disso. - Mas se for verdade, eu vou querer saber.

Eu o encaro.

— Como você vai saber? - Questiono-o.

— Do mesmo jeito que Suzanne saberá se é Alice ou não, eu quero saber também se sou Harry. Talvez Jaden saiba de alguma coisa que possa me fazer lembrar de algo mais consistente que um simples abraço.

Talvez. Diga a ele que pensarei em algo.

— Ele pensará em alguma coisa pra te ajudar. - Sorrio. - Agora é melhor a gente terminar de lavar a louça, antes que elas voltem.

— Mas ainda são duas e meia. Anna disse que só viria as cinco.

— Não creio que a quimioterapia e a viagem durem tantas hora assim. Talvez ela chegue mais cedo, e é melhor conseguirmos mostrar pra ela que não destruiremos a sua casa.

— Tem razão. - Ele ri e eu me levanto, pegando o prato que soltei e o lavando novamente.

E quase em um passe de mágica - como eu sabia? - vemos Anna e Suzanne entrando em casa. Anna parece cansada, e sua sobrinha está com uma cara de desânimo que parece ser contagiosa.

— Eu vou me deitar. - Anna avisa, sem mesmo nos desejar boa tarde.

— Tudo bem. - Suzanne responde. Logo depois ela se vira para nós. - Como foi o dia de vocês?

— Bom. - Eu e Elliot respondemos em uníssono.

— Ah. - Ela se aproxima de nós, puxando seu cabelo mais pra frente. - Comeram o quê?

— Macarronada. - Suspiro. - Se soubesse que chegariam cedo, teria feito um pouco mais.

— Imagine, almoçamos lá. De qualquer maneira, minha tia deve evitar essas comidas... - Ela sorri falsamente para mim. - Macarronada, é? Assim você não vai fazer com que seu estereótipo de italiana gorda saia da minha cabeça.

— Gorda? — Arqueio uma sobrancelha. - Você está realmente me chamando de gorda?

— Não negue que está com uns quilinhos a mais. - Ela fala, subindo as escadas depressa.

Olho para Elliot, extremamente chocada. Ele parece estar também.

— Você ouviu isso? - Sussurro. - Eu ainda mato essa vadia!

Ei! Não faça isso, ela pode ser a minha Alice.

— Você está defendendo ela? - Fico furiosa.

— Eu não falei nada! - Elliot se defende.

— Você não, o Jaden! - Esbravejo. - Olha aqui, não me importa se ela foi Alice ou não, o que me importa é o que ela é agora. E agora ela é uma vadia de merda!

Tá. Não precisa gritar comigo.

Nego com a cabeça. Meu Deus, eu não mereço isso tudo!

— Você não está nada gorda. - Elliot comenta, depois de um minuto de silêncio total.- Aliás, se você ganhasse uns dois quilinhos eu ia gostar muito.

Ele me abraça, e eu começo a rir.

— Você não existe. - Eu volto a beijá-lo quando algo nos interrompe.

Um grito, vindo lá de cima.