Após a ajuda de Potter com o meu dever, eu não falei muito com ele. Pelo menos até a aula de poções. Enquanto eu e Alice preparávamos uma poção, percebi que não tinha uma faca para preparar tal. Então pedi a Remo, que estava ao meu lado.

– Oi Remo. Será que poderia me emprestar sua faca?

– Claro – disse entregando-me sua faca

– Ei – alguém zangado falou detrás de mim – Por que você chama Aluado pelo nome, mas não me chama?

– Porque ele não é um completo idiota.

– Isso não é justo Lily, você mesma disse que ele parecia ter crescido.

– Você disse isso? – sorriu James

– Isso não é da sua conta, mas tudo bem eu me corrijo. Eu chamo Remo pelo nome porque ele não é um idiota.

E antes que alguém pudesse falar, virei e voltei a preparar a poção. Após o fim da aula o professor Slughorn pediu para que eu, Potter e um menino da soncerina ficassem.

– Ahn, desculpe professor, mas temos que ir para a aula de herbologia.

– Bem, então não vou interrompê-los por muito tempo. Nesse fim de semana farei uma reuniãozinha e gostaria que vocês fossem sim?

Concordamos e ele nos despachou. Os dias passaram-se depressa. E por causa da semana exaustiva de sétimo ano, não sentia a mínima vontade de ir.

– Oras, todos estão exaustos. E você que tem o privilégio de participar do Clube do Slug, não quer ir por preguiça? – perguntou Marlene

– Não é preguiça, é cansaço – indignei-me

– Pare de arranjar desculpa, Lily. Vá logo para a festa – disse Alice

– Você tem um vestido? – perguntou Dorcas

– Sim

– Então você não tem mais nenhuma desculpa. Você vai.

– E vocês porque não vão?

– Não fomos convidadas – disse Marlene

– Mas eu posso levar outra pessoa.

– Bem, eu vou ficar com Franco.

– E eu com Sirius.

– E você dorcas – meus olhos se estreitaram. Ela não tinha nenhum namorado.

– Eu não sou muito de festas. Da última vez que fui a alguma, derramei bebida no menino que eu gostava.

– Ah qual é?

– Você vai e ponto final, com ou sem alguma de nós – encerrou Alice.

Então, com a insistência delas, eu fui tomar banho. Sequei-me e coloquei meu vestido. Não tinha alças e era azul escuro liso e acochado em cima até a cintura e caia solto até os joelhos com pequenos pontinhos brilhantes. Dorcas fez uma trança embutida em mim, passei uma leve maquiagem, pus brincos e um delicado cordão e sapatos cor de prata.

– Você está linda Lily! – exclamou Alice

– É hoje que Potter te agarra – brincou Marlene

Revirei os olhos e sai. Enquanto andava até a sala da festa, recebi olhares de encanto pelos meninos e inveja pelas meninas, mas nem liguei. Passei direto por eles. Quando entrei na sala, vi que já estava cheia. Casais se agarravam em cantos, alguns dançavam, outros conversavam... Ai, ai, não falava muito com ninguém dali e não tinha a mínima vontade de falar. Queria estar no quarto conversando com minhas amigas. Achei uma mesa vazia no fundo e sentei-me. Fiquei olhando para as pessoas durante um longo tempo até perceber que alguém estava se aproximando de mim.

– Olá Lílian – disse Severo.

– Olá – respondi friamente

– Está gostando da festa? – perguntou tentando puxar assunto, mas eu não iria ceder.

– Não

– Ora, vamos Lílian. Não podemos voltar a sermos amigos?

– Não e já lhe expliquei o porquê.

– Tudo bem, para você eu ando com pessoas ruins, mas você também anda com aquele Potter.

– Para mim? Para mim Severo? Será que apenas eu que acho que o seu grupo está mergulhado dos pés às cabeças em magia das trevas? E ao menos Potter não é mau!

– Não é mau? Se esqueceu do que ele me ataca só por diversão?

– E você nem revida não é? – respondi sarcasticamente.

– Faço isso para dar o troco.

– Ah, por favor, Severo. Até parece que você não faz isso por que gosta. Tirando o gosto pela magia das trevas, você e Potter são iguais.

– Não me compare àquele sujeitinho miserável e arrogante – disse ele elevando sua voz

– Então faça por onde! Me mostre que você é diferente de seus amigos. Que não vai se juntar a aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Que é uma boa pessoa – disse começando a perder o controle também.

Eu e Severo ficamos nos encarando durante um bom tempo até alguém vir.

– Olá, quer dançar Evans? – perguntou Potter fuzilando Severo com os olhos. O desprezo estampado nos olhos.

– Adoraria – respondi segurando a mão estendida de Potter

Estava tão furiosa com Severo que nem percebi que estava tocando uma música lenta. Quando percebi isso tentei me desvencilhar de Potter

– Qual é Lily, vamos, uma dança. Por favor?

– É Evans. E não, não confio em você.

– Eu estava te salvado do seboso. Isso não é uma prova de confiança. E aliás, não bebi, nem tenho segundas intenções. Só uma dança, por favor?

– Não sei não Potter. Não gosto dessa história.

– Veja isso como uma dança entre amigos.

– Não somos amigos.

– Então vamos começar a ser. Qual é, estamos no último. Estou apenas tentando ser seu amigo. Sem truques e prometo que não irei te chamar para sair.

– Promete?

– Pelo menos por enquanto.

Ao dizer isso, levantei uma sobrancelha.

– Mas hoje serei um amigo perfeito.

Ele nem esperou uma resposta e me levou para onde as pessoas estavam dançando. Convencida pelo seu gesto de amizade, resolvi dar uma chance para sermos amigos e começamos a dançar. Pus minhas mãos nos seus ombros, e ele segurou minha cintura. Sem manter contato visual com ele, dancei olhando além de seu ombro. Mesmo que tivesse aceitado dançar com ele, não me considerava sua amiga e me sentia envergonhada por dançar com o garoto que sempre rejeitei. O mais engraçado é que ele sabia dançar. Provavelmente porque ele treinava muito com meninas que caiam sobre seus pés.

Quando a música acelerou, nós nos olhamos. Ele deu um sorriso travesso e quando vi, ele já havia pegado minha mão e estava me rodando.

– Potter! Potter, pare, vou ficar enjoada.

No mesmo instante ele parou e com uma mão em minhas costas, me fez ficar junta a ele. O olhei meio zonza, mas ainda conseguia perceber o mesmo sorriso maroto. Depois começamos a dançar feitos bobos. Cada um dançando com um sorriso estampado no rosto. Estranhamente, me sentia bem. Alegre. Idiota. Boba. Mas feliz. Infelizmente, chega uma hora em que você se cansa.

– Chega. Eu vou me sentar – disse a ele pegando uma bebida da mesa. Ele me seguiu.

Me sentei em uma mesa no fundo e fiquei observando as outras pessoas enquanto minha respiração voltava ao normal.

– Para alguém que só liga para os estudos, até que você sabe dançar – disse Potter sorrindo cansado.

– Cala a boca – retruquei com um leve sorriso.

– Ora, ora, parece que vocês estão aproveitando – disse uma voz ao nosso lado. Era o professor Slughorn.

– Oh, olá professor. Sim estou aproveitando.

– Eu vi vocês dançando lá – sorriu o professor, com uma mão em sua barriga – Então se acertaram não?

– Como assim? – dissemos eu e Potter ao mesmo tempo.

– Ora, vocês viviam brigando.

– Ah, isso. É, nós meio que nos acertamos.

– E parece que foi um bom acerto – disse o professor com uma piscadela e esse gesto fez meu rosto esquentar – bem, vou ver como estão os outros alunos.

Dizendo isso, foi-se embora me deixando extremamente envergonhada ao lado de Potter.

– Você está vermelha – constatou o idiota do Potter.

– Não estou não.

– Sabia que negar uma coisa duas vezes é afirmar.

– Eu não neguei duas vezes.

– Negou sim.

– Não, não neguei.

– Acabou de fazer a mesma coisa.

– Arghh. Me deixa em paz Potter.

Ele riu. Sério, ele estava me irritando profundamente.

– Desculpa, desculpa. Não fique brava. Amigos não implicam um com outro?

– Mas nós não somos amigos.

– Se é esse o problema. – Ele se levantou e pôs um braço atrás e o outro para frente dobrado – Caríssima Lílian Evans, estudante do último ano de Hogwarts, aceita ser minha amiga?

Refleti por alguns minutos, tendo uma briga comigo mesma.

‘ Ele parece estar realmente disposto a me ter como amiga’

‘ Ele disse que por enquanto’

‘ Mas ele até ficou menos arrogante’

‘ E nos outros anos? Era um idiota’

‘ Mas o que vale é o presente’

‘ E nesse presente, ele pode ser tão idiota como era antes’

‘ Mas você só vê o lado ruim das coisas?’

Depois disso finalmente cedi.

– Tudo bem, eu aceito ser sua amiga – disse. Potter abriu o maior sorriso que já vi.

– Se é assim eu posso te chamar de Lily?

– Espera. Vamos nos conhecer melhor. Depois resolvemos isso – disse e ele pareceu meio desapontado, mas não largou o sorriso.

– Não importa. Sermos amigos já é um começo.

– Começo para quê Potter?

– Nada.

E assim se passou a noite. Ficamos sentados e conversando até irmos para nossos quartos.