Mrs. G escrita por HelloNaive


Capítulo 2
Clareira




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Acordo na mesma clareira da floresta que dormi na noite anterior. Percebo que era um sonho. Fico feliz, pois, do jeito que caíra, com certeza absoluta teria torcido o tornozelo. Encaro a fogueira que antes crepitava. Só restam cinzas. Pela cor do céu, ou eu havia dormido demais, ou muito pouco. Diferente do sonho, eu não sentia fome alguma. Levantei-me. Juntei as minhas roupas que estavam espalhadas pelo varal improvisado e acabei com quaisquer resquícios que pudessem provar a minha passagem por ali. Não que alguém estivesse atrás de mim. O fato era que eu estava, definitivamente, perseguindo alguém, e, diferente da colina, eu sabia muito bem que a minha vida dependia daquilo.
Gostava da ideia de sair na ausência do sol, dessa forma eu evitava queimaduras na minha pele, que é tão clara. Meu pai sempre disse que eu tinha muitíssima sorte, pois a minha mãe era uma crioula. Meu pai admitia com pesar o que fizera antes de casar-se. Pouco me dissera sobre ela, somente que ela era uma mulher admirável e trabalhadora. Sempre soube que eu nunca precisaria fugir para esconder as minhas origens. Minha semelhança com minha madrasta era atordoante. Pat sempre foi muito boa com todos e ela amava o meu pai desde o mais longo fio de cabelo até a ponta dos dedos dos pés. Amava a mim também. Pode-se dizer que eu a amava igualmente. Ela me tratava como filha e eu a tratava como mãe. Mas jamais a chamei assim.
Sempre apreciei a ideia de pensar enquanto caminhava. Distraía-me, de modo que o tempo passasse mais rápido. Meu cabelo preto e encaracolado e olhos igualmente escuros não podiam distanciar minha aparência da de Pat, com seus cabelos lisíssimos e ruivos e seus lindos olhos azuis. Estatura equivalente, mesma cintura e ombros delicados, mesmo que os meus fossem mais largos. Atitude delicada e digamos que nosso tipo corporal era o mesmo. Éramos magricelas. Ela deve continuar, onde quer que esteja. Com as caminhadas diárias e uma prática maior de caçadas, adquiri mais músculos.
Quando se aproximava da hora do café da manhã, começava a despertar em mim a sensação de fome. Dei uma parada. Olhei para trás. Estava em uma colina de verde estonteante. Havia uma macieira vinte metros abaixo. Corri até ela e coletei as sete maças mais bonitas que vi e coloquei na sacola. Peguei então mais duas para ter como refeição e coloquei-as nos bolsos. Ao sair dali, avistei uma raposa, idêntica à do sonho, mas nenhum coelho. Pela quietude, devia ter tido sua última refeição recentemente. Fui até ela. Estava dormindo. Cravei-lhe o punhal e pressionei até ouvir seu último respiro. A levei nos ombros e segui o caminho.
No horário do almoço, já havia percorrido grande parte do caminho. Aproveitei o avanço para remover a pele da raposa. Era de um tom vermelho amarronzado. Era bonita. Com olhos pretos. A fuça branca a fazia parecer inocente. Era como eu. Mais aparentava do que era realmente. Poderia me passar de santa para qualquer um, mas, com uma adaga, vencia o mais exímio espadachim.


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