Como assim um bebê?! escrita por MariGuedes


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Eu estive sumida. Fui uma péssima autora e muito cruel com vocês. Mas devo dizer que tive de reescrever tudo três vezes. Da primeira vez que escrevi, faltava só editar, mas minha rimã fechou tudo. Dai escrevi tudo de novo, e meu computador quebrou e tudo foi apagado. Dá desanimo ter que escrever tudo mil vezes. Espero que gostem.



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A dor da queimadura é lancinante. É pior do que a morte. Quando eu acordo, estou toda remendada. Enxertos de pele rosa me marcam e me lembram o tempo todo do que aconteceu. Sonhei com Prim e quando vejo novamente na minha mente a cena na praça, choro das as minhas dores. A dor que me toma é a maior que já senti. Como se junto dela, tivesse indo uma parte de mim. Tudo que fiz até aqui foi por ela. Para protegê-la e tudo foi em vão. Eu a perdi para sempre. Eu a olhei nos olhos e ela me viu. Mas se foi. Minha patinha, minha irmãzinha.

Aquela que protegi minha vida toda. Se não fosse por ela, eu não teria ido para os jogos e essa rebelião não teria acontecido. Panem não seria livre sem ela. Quando recebo alta, vou para um quarto na mansão para dividir com minha mãe. Mas ela está sempre trabalhando, ocupada para esquecer a dor. Esquecer-se de mim. Não me surpreendo nem esperava outra coisa vindo dela.

Procuro Cressida em busca de informações de minha filha e ela diz que Rue está com Johanna no 13 e que elas já estão vindo. Indago-a sem dizer uma única palavra. Meu coração fica apertado de saudade da minha menininha. Desde que acordei, não disse uma única palavra e os médicos não entendem o por quê. Não há motivo físico que cause isso. O dr. Aurelius diz que é em decorrência do trauma mental de perder minha irmã.

Enquanto aguardo minha filha, vago pela mansão sem autorização. Um dia chego em uma área que nunca tinha visto antes. Calma e silenciosa até que sinto o cheiro de rosas, fico trêmula e me escondo, antevendo bestantes, mas quando percebo que não há nenhum, sigo meu caminho até encontrar uma porta guardada por rebeldes. Eles dizem que não posso entrar, então fico olhando para eles, em silêncio, esperando que entendam que quero entrar na estufa para pegar uma flor. Quero que Snow tenha uma flor na lapela quando eu o matar.

Paylor aparece e diz que posso entrar, retiram-se da minha frente e entro. O cheiro e forte e o ar, úmido. As rosas são imponentes. Vejo de várias cores, mas prefiro a branca. Puxo a manga da blusa para proteger minhas mãos dos espinhos e quando estou prestes a cortar, ouço a voz de Snow.

–Essa é linda – ele diz e eu corto a flor – nenhuma é tão perfeita como a branca.

Eu o observo, sentado. Parece quase exatamente como era antes. Não fosse as algemas e dispositivos de rastreamento e o tom esverdeado de sua pele.

–Esperava que fosse me encontrar – ele continua – tenho muitas coisas a dizer, mas sinto que sua estadia será breve, então também o serei. Sinto muito pela sua irmã.

Mesmo amortecida pelos remédios que me dão e meu estado semi catatônico, sua fala me causa uma dor que percorre toda a minha extensão. Prego meus olhos nele da mesma forma que faz comigo.

–Realmente desnecessário. Eu já estava quase assinando minha rendição oficial quando soltaram os paraquedas – soltaram? O que ele diz não faz qualquer sentido e só consigo olhar para ele de volta – Não acha que fui eu que dei aquela ordem, achou? Certamente se eu tivesse um aero a minha disposição, eu fugiria. Sabemos que não vejo problema algum em matar crianças. Mas não tolero desperdício. E foram mortes totalmente desnecessárias. Por que eu mataria sem motivo crianças da Capital? Foi uma jogada brilhante de Coin. A ideia de que eu estava bombardeando nossas crianças indefesas aniquilou toda resistência dos residentes da capital. Foi até transmitido ao vivo. Foi típico de uma Idealizador – lembro do dia em que vi Beetee e Gale projetanto essa tática e meu coração gela – Devia ter acompanhado os movimentos da Coin, mas acompanhei os seus, Tordo. Acredito que ambos fomos feitos de bobos. Respiro profundamente tentando absorver tudo que foi dito. Me recuso a aceitar o que me diz.

–Não acredito em você – minha voz soa estranha e rouca. Minhas primeiras palavras desde que perdi Prim.

–Ah, senhorita Everdeen, achei que tivéssemos concordado em não mentir um para o outro.

Quando chego em meu quarto, tento assimilar tudo que foi dito. Quero acreditar que foi a Capital que mandou o aero, ciente de que os médicos rebeldes viriam. Eles nunca tiveram receios em usar crianças como arma ou isca. Mas o que Snow fala faz sentido. Muito mais do que gosto de admitir. Prim tinha só catorze anos. Não poderia estar ali, na linha de frente, sem autorização expressa da presidente. Tenho certeza de que ela realmente quis estar ali. Ela sempre amou ajudar. Será que achou que a perda de minha irmã iria me desestruturar e a sede de vingaça me colocaria a seu lado?

Meus pensamentos são interrompidos quando alguém bate na porta e entra. Johanna, que traz consigo minha filha. Rue se contorce e choraminga por mim. Me levanto rápido e a aninho em meus braços. Beijo todo o seu rosto e aspiro seu cheirinho de bebê. A única capaz de me fazer sentir viva de novo. Ela brinca com uma mecha do meu cabelo.

–Obrigada- eu digo.

–Cuido dela desde sempre – ela diz – nunca foi por você. Foi por ela. Tão pequena e inocente. Não merecia sofrer por causa da guerra.

–Mesmo assim, obrigada. Ela ascente e sai. Fico só sentindo a presença do meu pequeno milagre. Sem ela, nunca acreditaria que Peeta me amou. Ela me olha com seus lindos olhos azuis quando derramo algumas lágrimas.

–Amo você, bebê – eu beijo sua testa – mais do que qualquer coisa no mundo – ela olha em volta – Não, meu amor, sua tia não está mais aqui – mais lágrimas são derramadas. A dor é pungente e atinge todo o meu corpo. Abraço Rue e a nino até que durma e velo seu sono. Foi muito tempo longe dela. Acomodo Rue na cama, cerco-a de travesseiros e vou tomar banho.

A banheira é funda mas não fico muito tempo. A qualquer momento Rue pode acordar e precisar de mim. Já vestida, me deito e acomodo meu bebê junto a mim, de forma que posso sentir seu peito se expandir quando respira.

No dia seguinte, não saio do quarto, Haymitch aparece com café da manhã para mim e Rue. Dispenso o meu e alimento minha filha. Haymitch até fica um pouco mais e mima um pouco minha bebê. Passo o dia me concentrando em viver e ser uma boa mãe. Sei que Rue precisa de mim e me esforço pra ser a melhor que consigo.

No dia seguinte Effie aparece. Mais magra, com um olhar triste e sofrido e novamente, mais discreta. Ela nos cumprimenta e leva Rue para Johanna. Pelo que sei, hoje é o dia da execução. Minha equipe de preparação cai no choro ao ver o que o fogo fez no meu corpo. Dizem que Haymitch teve de impedir que executassem Effie. Dizem também que ela esteve na Capital e me pergunto por que não a resgataram.

Eles disfarçam as cicatrizes como podem. Flavius conseguiu disfarçar as áreas onde o fogo havia destruído meu cabelo. Com o traje do tordo, só eram visíveis as cicatrizes do pescoço, mãos e ante braço.

–Posso falar com você um minuto? – Gale surge pela porta. Minha equipe de preparação fica meio perdida, mas por fim entra no banheiro. -Trouxe isso pra você – ele diz me entregando meu arco e a aljava com uma única flecha – para ser algo simbólico.

–E se eu errar?

–Você não vai errar.

–Não me visitou no hospital – apenas afirmo. Um longo momento de silêncio, na dúvida entre perguntar ou não, mas minha vontade de saber vence – era sua bomba?

–Não sei. Beetee também não. Mas isso faz diferença? Nunca vai deixar de pensar nisso. Não nego, pois é verdade. Nunca serei capaz de dissociar aquele momento de Gale. -Minha única responsabilidade era cuidar da sua família – ele diz com pesar – vê se atira direito – e sai.

Effie surge e me leva para uma reunião em cima da hora, pego a rosa no banheiro. Na sala todos os vitoriosos que restaram. Olho para Johanna, em busca de Rue, mas ela move os lábios dizendo “sua mãe”. Ascinto e tomo meu lugar. Coin começa a explicar que os residentes dos distritos não estão satisfeitos com a execução de Snow e seus aliados. Alguns pedem a aniquilação de todos os residentes da Capital, e como forma de saciar a sede de vingança, ela propõe uma nova edição dos Jogos Vorazes, mas com residentes da Capital e nós, os vencedores, votaremos. Annie, Peeta e Beetee votam não. Eu, Johanna, Enobaria e Haymitch votamos sim, o que aprova a edição final e simbólica dos Jogos e tomamos nossos lugares para a execução.

Quando assumo meu lugar, vejo Snow amarrado e posiciono a flecha, tensionando a corda. Penso em tudo que aconteceu até agora e no que o próprio havia me dito, e sem pensar duas vezes, disparo. E a presidente Coin cai morta.

O que acontece depois me é vago. A multidão entra em polvorosa e guardas me seguram enquanto eu debato. Perco várias partes de minha nova pele rosada, mas só consigo pensar na minha filha. Minha mãe está imersa na tristeza, perdi minha irmã e Peeta está instável. Grito pelo nome de Johanna, e quando ela me olha, faço um pedido mudo para que cuide dela e ela ascente.

Sou levada ao Centro de Treinamento, ainda com o traje do tordo. O quarto antes luxuoso agora está vazio. Vou até a cama e me encolho. Arranco o traje e meu sangue mancha o colchão. Minha pele sensível foi arrebentada durante minha resistência. Fecho os olhos e penso no futuro de Rue. Filha da assassina da presidente. Por fim decido por um banho e recapitulo tudo.

Meu nome é Katniss Everdeen, tenho 17 anos e uma filha. Rue é tudo que eu tenho e eu a deixei só no mundo. Perdi minha irmã e o amor da minha vida me odeia. Provavelmente serei executada publicamente por matar Coin.


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Notas finais do capítulo

É gente, falta só mais um capítulo e o epílogo. Vocês gostariam de uma segunda temporada? Deixem a opinião nos comentários.
BeijoBeijo