Como assim um bebê?! escrita por MariGuedes


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

O último capítulo, meus amores. É triste dizer adeus. Amo a Rue como uma filha. E vou sentir muita falta de escrever essa fic. Enfim, vamos ao que interessa. Espero que gostem.



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Com do tempo, o silencio começou a me incomodar e eu comecei a cantar todas as músicas que eu conhecia. Principalmente as que meu pai cantava pra mim e eu cantava para Rue. Talvez eu estivesse ficando louca, mas o vazio era imensurável. Eu só queria morrer logo. Johanna seria melhor mãe que eu. Peeta não me ama mais. Minha mãe fechada na própria dor. Minha irmã, morta.

Já perdi a noção de tempo. Estou encolhida na cama. Decidida a morrer, lutei contra a abstinência dos morfinácios e parei de comer e beber, só esperando a morte. Mais magra do que jamais estive, só aguardo a morte. Se houver algo do outro lado, quero poder encontrar a minha Patinha. Quando algo inesperado acontece.

Haymitch abre a porta.

–Seu julgamento acabou. Vamos pra casa.

Pessoas estranhas entram no quarto, me alimentam, me banham e me vestem. Quando entro no aero, Rue está numa cadeirinha própria para bebês, quando me vê, larga seus brinquedos e estica os bracinhos, manhosa, me pedindo colo. Meus dedos trêmulos e finos a soltam e eu a abraço e aspiro seu cheirinho de bebê.

–Má – ela diz, balbuciando.

–Quer dizer mamãe, meu bebê? – beijo sua testa.

–Foi um sacrifício tirá-la de Johanna. Tive que prometer que ia garantir que você ia cuidar bem dela. A garota realmente gosta da sua filha.

Não digo nada, só aninho meu bebê em meus braços e aproveito sua companhia. A mais perfeita lembrança de que houveram tempos em que eu e Peeta nos amávamos, em que Prim ainda vivia. Ela brinca com uma mecha do meu cabelo ressecado, vez ou outra me encara com os olhos azuis como o do pai. Quando ela adormece em meus braços, eu sou colocada a par dos acontecimentos.

Quando tudo se aquietou, encontraram Snow ainda amarrado e morto. Não sabem se morto pela multidão ou engasgado com o próprio sangue de tanto rir. Mas ninguém se importa de fato. Paylor foi eleita presidente. Plutarch como secretário de comunicações. Informam-me que minha soltura foi em grande parte devido ao Dr. Aurelius. Ele disse algo sobre estresse pós traumático. Mencionou que eu sou mãe. Quem não se lembra da cena na arena onde dou a luz a Rue prematura e ela é tirada dos meus braços? Eu involuntariamente eu abraço mais forte minha menina e ela resmunga, mas permanece adormecida. Minha mãe está no 4, ajudando na construção de um hospital. Nem mesmo sua neta a faz voltar ao 12 e não me surpreendo.

Deixamos Plutarch no Distrito 3 e seguimos para o 12. Meu Distrito de origem e que foi bombardeado por minha causa. Em consequência da minha rebeldia. Haymitch segue junto a nós ao 12. Imagino que ele se sinta tão confortável na Capital quanto eu. Quando aterrissamos no 12, meu ex mentor me informa que levaram as coisas de Rue para a minha casa.

Seu berço está instalado, assim como as malas com as suas roupas. O cheiro me enche de nostalgia e de repente posso ver Prim descer correndo as escadas quando me ouve chegar da caçada. Ou quando ela percebeu minha gravidez. Como vou seguir sem ela? Minha vida não é a mesma sem ela.

Rue resmunga em meus braços. Como se para me lembrar que ela estava ali, sempre, e que agora ela me manteria viva. Ela pede para descer e cambaleia apoiando nos móveis. Com onze meses e um passado sombrio, minha menina cresce a olhos vistos.

–Essa é a sua casa, meu anjo.

Os dias se tornaram semanas, que se tornaram meses. Rue tem um ano e meio. Anda e diz mamãe. Tem os cabelos escuros como os meus e os olhos do pai. Haymitch continua o bêbado de sempre, mas sabe que eu não permito que ele entre alcoolizado na minha casa, então quando ele quer mimar minha filha, ele vem sóbrio. Greasy Sae vem me ajudar com a casa desde o começo. Faz a comida e fica com Rue quando quero ir a floresta caçar ou só espairecer.

Os pesadelos ainda vem, mas aprendi a não gritas para não acordar Rue. Eu só me debato e convulciono, presa na dor até acordar esgotada e tomada por lágrimas. Sinto falta de Peeta como nunca antes. Sinto falta de amá-lo e ser retribuída. De como ele me acalmava quando os pesadelos pareciam arrasar minha saúde mental.

Buttercup voltou do 13 não sei como. Lembro da crise de choro de madrugada quando ele chegou e minha filha já dormia. Não o enxotei definitivamente pois era uma lembrança de Prim e Rue gostava dele.

De manhã acordo com o barulho continuo de escavação. Pondero, mas por fim decido por vestir meu roupão e averiguar. Leva um susto quando vejo Peeta cavando e plantando rosas ao redor da minha casa. Abro a boca para xingá-lo de todas as formas possíveis quando reparo que são prímulas noturnas. As plantas que inspiraram o nome de minha irmã. Toco uma com cuidado.

–Você voltou – digo por fim, depois de minutos infinitos de silêncio.

–Dr. Aurelius só confiou o bastante em mim para voltar essa semana. Como está nossa filha?

“Nossa filha”. Essa palavra ecoa na minha mente um milhão de vezes e me deixa zonza.

–Bem – digo por fim e entro em casa.

Rue resmunga de fome e pede o café. Pego-a no colo e começo a falar com ela.

–Papai está aqui – eu digo.

–Papai? – ela me olha com sua curiosidade.

–É, papai, meu anjo.

Depois de toda a lambança do café da manhã e do almoço, eu dou banho nela e a levo para brincar no quintal aos fundos da casa. O cheiro das prímulas é aconchegante e agradável. Sento-me na grama e observo quando ela parece dançar uma música própria enquanto caminha. É simplesmente perfeita.

–Ela está enorme – levo um susto com a voz de Peeta.

Levanto-me instantaneamente e me posiciono protetora entre ele e Rue. Sua instabilidade me apavora e tenho medo que machuque Rue.

–Eu estou mais estável. Foi por isso que Dr, Aurelius demorou tanto. Ele quis garantir que eu estaria apto a conviver com a minha filha.

–Tem certeza? – pergunto, incerta.

–Tenho. Se eu sentir qualquer coisa, me tranco em um cômodo.

Decido por fim dar um voto de confiança a ele e pego Rue no colo e a aproximo dele. Ela olha atentamente seu rosto. Talvez reconhecendo em seu rosto alguns de seus próprios traços.

–É o papai, filha – digo.

–Papai? – ela me olha.

–É – respondo – não quer entrar e ficar pro lanche.

Ele afirma e entramos. Não desgrudo de Rue por um segundo e eu uso um daqueles tecidos que enrola o bebê a mãe. Geralmente eu a deixo brincando na sala, ou em seu cercadinho na sala. Mas detecto Peeta como uma possível ameaça e não consigo deixa-la um segundo.

Preparo chá, alguns biscoitos e torada e ponho na mesa de centro e deixo que Rue se entretenha com seus brinquedos, mas sempre colada em mim.

–Senti falta dela – ele diz por fim – Ela é a sua cara.

–Mas tem seus olhos – rebato.

–Mas tem a sua personalidade. É tímida, mas ainda sim encantadora.

Não esperava essa dele, então permaneço em silêncio.

–Quero fazer parte da vida ela – ele diz, no final do lanche – Não espero que confie 100% em mim, mas peço que tente.

–Vou tentar. Ela é sua também.

Acabamos por conversar amenidades enquanto observamos nossa filha. Talvez quem olhasse de fora pensasse que somos uma família como todas as outras. Quem dera fossemos.

Conforme as semanas foram passando, Peeta passou a frequentar mais minha casa. Chegava cedo com os pães para o café, ajudava Greasy com o almoço e fazia o jantar. Ia embora pouco depois de por Rue em seu berço. Hoje ele permaneceu comigo, sentado no sofá conversando amenidades.

–Quero morar com a Rue – meu coração gela. Ele não pode me tirar a minha filha.

–Peeta, eu... – começo a enrolar freneticamente uma mecha de cabelo entre os dedos.

–Estou falando de morar aqui – ele diz e me acalmo – estou meio que me convidando. Quero ser o tipo de pai que mora com a filha, não do que visita.

–Claro que pode – respondo – essa casa é imensa. Vou arrumar o quarto de hospedes agora mesmo pra você.

Há tempos havia tornado o quarto de minha mãe, um quarto de hospedes. O de Prim permanecia intocado, quase um santuário, onde eu ia quando queria mergulhar em suas lembranças.

De noite, os pesadelos vem com força total. Sonho com a guerra. Com os paraquedas. Com o bombardeio do 12. Com os paraquedas caindo. Acordo ensopada de lágrimas e suar, ofegante e assustada. Peeta abre a porta e sem dizer uma palavra, deita ao meu lado e me acalma. Faz carinho em meus cabelos até que minha respiração se acalme. Então eu choro pela época em que ele me amava. Que gestos de carinho e solidariedade já foram gestos de amor. Ergo a cabeça e encaro seus lindos olhos azuis a meia luz da madrugada. Uma atração tangível. Mas nenhuma novidade. Ele sentia atração por mim no 13.

Só que quando nos beijamos, não há só atração. Há carinho e arrisco dizer, que algo parecido com o que foi muito tempo atrás.

–Katniss – ele me chama – eu te amo.

Fico sem reação. Só consigo encará-lo com a expressão mais incrédula que conheço. Sem dizer uma palavra, eu o beijo. Um beijo que demonstra todo o amor que vive em mim. E também todo o desejo que sinto por ele. Ele está sobre mim. Minhas pernas envolvem sua cintura e ele beija meu pescoço. Estou de olhos fechados quando ele diz:

–Você me ama. Verdadeiro ou falso?

Sinto toda a segurança do mundo quando digo “verdadeiro” e o beijo de novo.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos no epílogo. Me digam nos comentário o que acharam.
Um grande beijo pra vocês.