Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 20
Uma historia de princesas, sangue e morte


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Cá estou eu com um novo capitulo. Fico feliz em postar sem um longo intervalo de tempo. É muito legal isso. Estou muito feliz, sério.
Esse é o primeiro capitulo sobre o pov da nova personagem. Ficou bastante longo e até mesmo cansativo (me perdoem), porém tive que colocar muita informação ele.
Esse capitulo tem trilha sonora para ouvir junto com as cenas, vou colocar links nas notas finais, ok?
Bem, espero que gostem um dos ultimos capitulos de JdO,



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/437767/chapter/20

CALLIOPE

Se você nunca estivera em Isla de La Roya antes, talvez aquele lugar te causasse um pouco de estranhamento. Mas se você estivesse voltando depois de muito tempo, a sensação de voltar para sua caótica casa era boa.

Depois de passar pelo segundo portão da ponte, finalmente havíamos entrado na cidade. Um carro aberto nos esperava no acostamento, provavelmente algum motorista real havia deixado ali seguindo ordens. Era possível já ouvir o barulho da cidade.

— Acho que você deveria chegar no castelo em grande estilo. — Disse General Eva — Espero que no continuente tenham ensinado você a dirigir.

— É claro. — Desci do cavalo. Fazia tempo que não montava em um daqueles, desde quando minha Tia Rosa havia perdido o convenio com o clube de hipismo por falta de pagamento.

Em recompensa a carona, abracei sua crina, até mesmo o cavalo cheirava a casa.

Não gostava muito da General. Confesso que ela me assustava, apesar de ser prima da minha mãe e da Tia Rosa. Ela era uma das poucas parentes próximas que me restavam. Ela era General da Guarda Real, responsável por proteger a ilha e policiar a cidade.

Me virei para encarar meus novos amigos. Não sabia o que havia dado em mim para aceitar me meter nessa loucura, mas eles pareciam ser pessoas legais, apesar de serem filhos de deuses e tudo mais.

Mas, pensando bem, eu era a neta de um deus grego também, então não era muito diferente deles, não era?

Talvez pelo fato do meu parentesco não ser muito forte ou meus poderes não serem nada demais, eu nunca me importei tanto com esse fato.

Quando eles haviam contado sobre o que os trazia aqui e o que havia acontecido com minha irmã, meu coração se apertou. Eu e a minha família nunca havíamos tido um grande laço de amizade, mas saber o que tinha acontecido com minha irmã mais nova foi como receber um soco no estomago. 

 Há um tempo, havia prometido a Tia Rosa antes de ela morrer que perdoaria minha mãe e faria o possível para recuperar o tempo perdido quando reencontrasse minha meia irmã. Ela dizia que eu e Ronnie poderíamos ser diferentes quando mais novas, mas ainda partilhávamos o mesmo ramo da árvore – e partilharíamos pelo resto da eternidade, então, era melhor que nos mantivéssemos próximas.

 Apesar de nunca mais tê-la visto, eu não poderia simplesmente virar as costas e a deixar morrer? Por mais que meu coração e corpo doessem ao lembrar do passado, do que havia acontecido quando éramos crianças, eu deveria dar uma chance ao futuro, não é? Quando conseguisse fazer Ronnie acordar, eu cuidaria dela e nunca mais a deixaria entrar numa missão suicida novamente.

Como uma irmã mais velha faria

— Entrem no carro, garotos. — sorri, desliguei os pensamentos e apontei para o modelo conversível. Deveria ser um carro da garagem real.

Depois de estarem todos acomodados, dei a partida. As ruas estreitas e um carro esportivo eram estranhos para alguém que estava acostumado com Londres e uma van caída aos pedaços. O limite de velocidade era ideal para uma cidade não tão grande e o movimento no horário era baixo.

A arquitetura de Isla de La Roya era peculiar. Construções antigas disputavam lugar com outdoors e telões coloridos e os postes enferrujados característicos daquele lugar. Não era atoa que aquele lugar se chamava Ilha da Ferrugem, todas as construções de ferro antigas encontravam-se num tom forte de vermelho, contestando com a cor escura da pedra vulcânica que era usada para construir casas e edifícios. Quanto às formas? Parecia que haviam misturado à arquitetura da Era Vitoriana e da Índia num liquidificador.

Ao contrario do povo do continente, os royanos tinham hábitos noturnos. A razão disso? Era porque durante o dia a temperatura ambiente era muito alta e o Diablo Caliente parecia ficar mais ativo nesse horário, então durante a noite era a melhor hora para caminhar por ai ou trabalhar nas fabricas.

Os únicos que estavam na rua esse horário eram as crianças, pois eram a exceção que tinha atividades diurnas. Eles passavam o dia inteiro na escola e dormia a noite, quando os pais normalmente estavam trabalhando. Eles andavam em filinhas na calçada, colorindo a rua com suas roupas coloridas e bordadas com estampas infantis e variadas pelos seus pais.

Porém, bastava observar por alguns minutos para que eu ficasse mal e fosse tomada por pensamentos ruins.

Todos os habitantes dali tinham características comuns: pele em tons marrons um pouco bronzeados, altura media ou baixa e mãos pequenas e fortes — que eram extremamente uteis nas diversas áreas de montagem das fabricas. A família real também carregava essas características.

Exceto eu.

Ter nascido uma bastarda numa família onde há um trono a ser herdado e onde a taxa de nascimento é pequena, é visto como algo muito ruim, e se além disso você não ter a aparência padrão em um lugar em que isso era muito valorizado, pode-se considerar a ovelha negra da família. Quer dizer, ovelha “branca”.

Eu entendia o porque deles serem tão orgulhosos de sua etnia. Além das fronteiras da ilha, antigamente e até hoje, infelizmente, eles são mal vistos. Eles viam isso tudo como uma forma de se proteger e manter suas características puras, pois tinham medo de acabar como outros povos que foram explorados, subjugados, escravizados e constantemente machucados pelos homens brancos.

 E para compensar ainda mais, eu era a única pessoa 100% saudável entre meus parentes que constantemente morriam por doenças que tinham em seu sangue.

Mas mesmo assim ainda era doloroso ser rejeitada pela família.

Balancei a cabeça tentando espantar toda aquela energia ruim que aqueles pensamentos e lembranças traziam. Voltei meus olhos a estrada e minha atenção ao volante. Afinal, não seria muito legal causar um acidente logo na chegada.

Isla de La Roya não era muito grande, mas havia diversos bairros com diferentes funções:  Distrito Central – onde ficava a maior parte dos prédios comerciais e a área mais badalada, Distrito Industrial – da onde saiam protótipos de todo tipo de invenção que seriam vendidos para multinacionais poderosas lá fora –, Distrito Acadêmica – onde estavam as escolas e faculdades que formavam gente para trabalhar nas fabricas gigantes –, (Distrito) Fazendas ­– que na verdade eram grandes estufas onde eram plantados todo tipo de alimentos para abastecer a população – e por fim, entre todos esses locais estavam espalhadas as casas e o hospital local. A cidade era inteiramente cercada por cercas gigantes de ferro e entre o Distrito Central  e o Distrito acadêmico, ficava o castelo da família real.

Seguindo reto por uma das ruas principais do Distrito Central por alguns minutos, começo a sentir que estamos cada vez mais perto do maior castelo, onde se localiza o poder que reina todo esse lugar. Era possível ver a silhueta doObsidiana rodeado pela fumaça do vulcão, que se erguia atrás do mesmo.

— Ei, querem saber fatos interessantes sobre esse lugar? — pergunto para os dois garotos no banco de trás, quebrando o silencio. Pelo retrovisor era possível ver que a General Eva nos escoltava em seu garanhão malhado.

Eles balançaram a cabeça. Pareciam estar com um misto de curiosidade e admiração por esse lugar estranho. Eu ri.

— Bem, não existem classes sociais aqui. — continuo — Quer dizer, não existem pessoas mais ricas ou mais pobres. Todos vivem em igualdade por aqui. Pelo fato de ser uma ilha e de não termos muito contato com outros continentes, a toda comida aqui é produzida nas estufas na quantidade certa para que abasteça a todos.  Com exceção da família real, é claro.

— Quer dizer que os Vega são tiranos cruéis e egoístas que mantem comida de sobra pra si? Igual a todos os outros reis? — disse Leo, indignado. — Pensei que eles fossem diferentes!

— Esta enganando. Os castelos recebem mais comida porque é lá em que ela é armazenada para quando as estufas reduzam sua produção nas estações frias, por fim distribuída para o resto da população.

Aquilo me fez lembrar um dos dias frios em que os castelos havia abrindo para servir comida quente pra população por causa de uma queda de energia. As luzes de emergência haviam sido ativadas e o gerador trabalhava a toda sua força para manter pelo menos os castelos iluminados. Eu estava ajudando minha Tia Rosa e minha mãe a entregar tigelas com sopa em uma das varias mesinhas voluntarias espalhadas na rua.

Só tinha me dado conta que havíamos chegando quando os portões automáticos se abriram para o carro entrar.  Dei uma volta na fonte que ficava na frente da escadaria de entrada antes de estacionar.

Desci do carro e observei a entrada do castelo principal. As raposas enferrujadas ainda estavam presas nas pontas da escada, dando boas vindas aos visitantes com suas presas e expressões raivosas.

— O Governador acaba de avisar que não vai poder receber você aqui. Houve uma emergência em uma das fabricas e ele teve que ir, as filhas mais novas dele irão receber vocês.  — General Eva desceu do cavalo, subiu as escadas e abriu uma das pesadas portas de madeira cheias de desenhos em ouro e pedras preciosas.

— Esse lugar é incri..... — Os garotos começaram a dizer, encarando o majestoso castelo e suas torres altas.

— Lar doce lar — os interrompi. Peguei suas mãos e os puxei para entrar.

Assim que a porta se fechou atrás de mim, aspirei o ar ali dentro. Tinha cheio de incenso recém queimado e lugar fechado. Estávamos no gigantesco salão de entrada. Tapeçarias e cortinas na cor vermelha e detalhes de ouro cobriam as paredes frias. A pouca mobilha estava coberta por panos. Haviam plataformas erguidas a alguns metros do chão nos quatro lados da sala e três portas pequenas abriam debaixo delas.

Antigamente, aquele lugar era quente e iluminado. Agora estava vazio e cheio de poeira. Não tinha a mais aquela alegria que tinha na época em que morava ali.

De uma das portas, duas pessoas saíram e ligaram as luzes. Fiquei feliz em reconhecê-las.

Ambas eram duas típicas royanas, uma aparentando ser mais velha e outra tinha uma idade próxima a minha. Isabela e Joana, as filhas mais novas do velho Governador, o senhor que administrava o reino enquanto a rainha estava fora.

— Ah! Ainda bem que chegaram! Callie! Você voltou! Quanto tempo! — disse a mais nova, Joana, minha antiga companheira de brincadeiras. — Nos perdoe por não termos limpado tudo! É que não vemos nenhum membro da família real há muito tempo por aqui!

— É, parece que a família real esqueceu que mora aqui e deixou esse lugar as moscas — a mais velha fez uma expressão mal humorada. — O que houve com a Rainha e a pequena?

Estava pensando no que dizer. Não poderia contar que minha mãe havia morrido e que minha irmã estava em coma após participar de uma jornada mortal. Felizmente, Eva interrompeu.

— Eles acabaram de chegar! Olha para a aparência da Princesa e de seus amigos! Parecem que estavam lutando contra um demônio! Prepare um banho pra eles, separe roupas limpas, mandem o pessoal das cozinhas preparar algo e deixe as perguntas para depois!

As irmãs se assustaram com a ordem repentina.

— SIM SENHORA! — gritaram.

— Rapazes, vocês podem vir comigo para a torre dos hospedes — disse Isabela, apontado para a porta da esquerda.

Eles olharam por mim assustados. Dei um sorriso confiante e cantarolei um “tudo bem” que pareceu acalma-los. Logo depois desapareceram pela passagem.

— Isso é uniforme de atendente? — Perguntou Joana, olhando para mim assustada.

— Eu e a Tia Rosa passamos por tempos difíceis. — respondi, me sentindo desconfortável pelo olhar horrorizado da moça.

— Como podem ter deixado uma princesa como você trabalhar num lugar assim? Justo você? Que horror! Esse povo das terras frias não sabem com quem estão lidando!

— Ei, Jo, esta tudo bem, ok? Não a nada ruim em trabalhar. Eu precisava. O dinheiro do ex-marido da Tia Rosa tinha basicamente acabado... — comecei a explicar enquanto passávamos pela porta da direita e andávamos por diversos corredores, até começar a subir a escadaria. As luzes estavam demorando para acender, não conseguia enxergar muito.

— E dai? Vocês tem um reino e uma fortuna gigantesca! — esbravejou ela.

— Isso é dos Vega. Eu e ela somos bastardas

— Mesmo assim! Vocês ainda tem sua parte da herança! Um dos castelos é era da Rosalinda! — mesmo depois de anos, ela ainda não havia perdido sua habilidade de retrucar.

— Não queríamos nada que viesse daqui, entende? O dinheiro que ela havia ganhado do ex-marido não foi suficiente para manter nossa vida luxuosa, eu tive que trabalhar para conseguir pagar um funeral recente quando a Tia Rosa morreu... — tocar naquele assunto foi suficiente para me fazer começar a chorar. Aquilo era uma ferida recente. Não queria falar sobre aquilo.

Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. Meus olhos começaram a arder. Só agora havia percebido que eles estavam irritados pelo ar cheio de enxofre que aquele lugar tinha.

— Oh! Mil perdões Callie! Não quis fazer você chorar! Me perdoe! Eu acabo falando demais às vezes... Prometo ficar calada! — Joana se ajoelhando em um dos degraus e se curvou em minha direção.

— Ei, esta tudo bem. — a abracei. — Eu te perdoo.

Pelo visto, eu não havia perdido meu talento de perdoar as pessoas apesar de tudo.

(...)

Penteei meus cabelos cor avelã mais uma vez. Estava ajoelhada diante da minha antiga penteadeira. Antigamente, ela servia perfeitamente para mim, mas agora, como basicamente todo meu antigo quarto, eu tinha que me encolher para poder usar.

O cabelo claro e ondulado, olhos castanhos levemente esverdeados e uma pele clara meio bronzeada eram as únicas coisas que eu tinha do meu pai desconhecido.  Sem contar os poderes com a voz.

Não, eu não sabia nem seu nome.

O meu sobrenome vinha de alguma famosa que minha mãe deveria gostar na época.

É claro que eu tinha vontade de saber mais sobre o meu pai, mas durante minha infância dentro desse castelo, a ausência dele foi preenchida pelas pessoas que me rodeavam. Talvez saber que ele era filho e neto de um deus era o suficiente.

Depois que havia deixado o castelo para morar com minha Tia Rosa em Londres, eu fazia o possível para esquecer toda aquela coisa de poderes e deuses, tentando viver a vida mais normal possível.

Mas agora, tudo tinha voltado.

“Pelo menos algo novo na minha vida aconteceu”, pensei.

Coloquei o pente de volta a estante e guardei na gaveta junto com meu microfone mágico.

Minha arma contra monstros e afins era um microfone e meu poder especial era incrivelmente tosco. Comparada aos dois garotos que havia conhecido, eu me sentia uma zero-a-esquerda.

Eu odiava violência e ter que lutar, era algo que iria contra o meu pensamento de “tudo se resolve com uma boa conversa e musica”, tinha que admitir que usar uma espada e incendiar coisas com as mãos eram muito mais uteis em certas ocasiões.

Suspirei e sente na minha antiga cama. Havia acabado de tirar uma soneca ali e relembrei o quanto ela poderia ser confortável ­– apesar de ter que ficar com meus pés para fora –. Aquele era o único lugar que não tinha cheiro estranho. Eu provavelmente deveria ter derrubado uns três frascos de perfume para que cheirasse bem para sempre.

Uma musica suave tocava em todo o ambiente e provavelmente em todo o castelo. Aquele havia sido um pedido bobo de presente de aniversario: Depois que a orquestra local ter tocado para minha mãe uma vez no salão de baile, eu fiquei apaixonada e no meu aniversario pedi para que ela construísse algo que fizesse tocar musica no castelo inteiro. Ela havia concordado e realizado meu pedido.

No dia seguinte eu acordei ouvindo minha melodia favorita, então, ela pediu para que eu escolhesse outras musicas para tocar em todos os cantos do castelo. E eu o fiz.                            A maioria das musicas eram as que eu aprendia nas aulas de musica que eu e Ronnie tínhamos e agora elas tocavam em cada cômodo daquele lugar gigantesco, trazendo uma sensação boa.

Pedi para Joana ligar o sistema antes de pedir qualquer outra coisa.

Aquele havia sido o melhor presente do mundo.

Levantei em um pulo e abri meu guarda roupa, até encontrar uma caixa pesada e tirar de dentro um monte de novelos de lã. Enrolado neles, havia um suéter de lã inacabado. Era cor de rosa e tinha algo escrito nele: “PARA A MELHOR MAMÃE DO MUNDO”.

Tia Rosa estava me ensinando a tricotar algo para dar para minha mãe no natal, mas mal tive tempo de terminar antes... O abracei com força.

Quando Nico disse que minha mãe havia morrido quando ela tentava ajudar ele, foi como se tivesse levado um soco no estomago, justamente eu estava disposta a procura-la e dizer que depois de tanto tempo a havia perdoado.

No começo, nossa relação era tranquila. Mesmo eu sendo uma criança bastarda nascida antes dela se tornar rainha. Ainda sim, eu era muito bem tratada.

Ela fazia o máximo para me sentir bem, até mesmo me ajudava nas aulas de dança e musica, apesar de não ser a herdeira ideal que ela queria... Mas, a medida que eu crescia e mais diferente dela ficava, mais ela se afastava.

Até ela chegar.

Saber que você teria uma irmã mais nova era algo totalmente legal para uma menina de quatro anos. Já pensou o quanto incrível poder colocar roupas bonitinhas nela e brincar de casinha? Entretanto, não foi isso que aconteceu como Ronnie nasceu.

No começo foi “ok”, todo mundo só tinha olhos pra futura rainha: Ela era exatamente do jeito que eles queriam: uma bebe totalmente royana e incrivelmente forte para quem tinha acabado de nascer. Contudo, com o passar do tempo, mais ela mostrou ser melhor do que eles esperavam.

E é claro, minha mãe estava cada dia mais apaixonada pela sua cria.

E eu? Era cada vez deixada pra escanteio.

Aquilo não era apenas ciúme de irmã pela atenção da mãe. Era que realmente estava sendo esquecida, principalmente depois que os poderes de Ronnie começaram a aparecer, quando ela tinha dois anos. Antes, ela passava suas horas livres se divertindo comigo e depois mal passavam de 15 minutos diários.

Como minha Tia Rosa passava muito tempo comigo, ela havia percebido a ausência da minha mãe e chegou até mesmo brigar seriamente com ela. No final, não surtiu efeito nenhum e a minha boa e velha tinha passou a cuidar de mim o tempo todo.

E ela fez isso até o resto da sua curta vida.

Com raiva, soquei tudo de volta no lugar e sai de dentro do quarto. Toda aquela decoração em tons pastel estava me irritando.

Peguei a bandeja em que haviam mandado minha comida e sai rumo às cozinhas.

A encontrei depois de descer níveis e níveis de escadas, deixei a bandeja com uma moça que trabalhava lá e perguntei como iam as coisas. Ela havia dito que os dois hóspedes estavam dormindo e que a General havia pedido para o hospital mandar alguém para cuidar dos machucados que Éton havia causado em Leo.

Agradeci e sai.

Decidi que não estava cansada demais para dormir e que não tinha mais nada interessante para se fazer, então explorar por ai não seria má ideia.

O Obsidiana  havia sido construído para demostrar poder e não proteger ninguém, diferente de outros castelos, já que dificilmente alguém acharia a ilha e muito menos sobreviveria à segurança externa para passar por ai.

Os corredores eram cobertos por tapetes vermelhos e as paredes decoradas com quadros de fotos, pinturas e objetos de decoração ligados a historia dali e de quem morava ali.

Havia aprendido nas aulas particulares de historia sobre cada membro da família Vega. Desde a primeira rainha até mesmo crianças bastardas que tiveram importância. Era uma das poucas aulas em que eu não dormia. A historia de como a primeira Vega se vingou de seu dono matando ele com uma arma que havia feito e fugiu com todos os escravos do nobre rico para uma ilha afastada e cheia de riquezas, onde fundou um império que esteve por trás da criação das maquinas mais importantes por longo dos séculos era fascinante até mesmo para mim.

Depois de explorar basicamente tudo, decidi que tinha que dar uma passada pelo lugar que eu menos gostava em todo castelo.

Roubei uma rosa de um vaso recém-colocado e a guardei no bolso. Precisava fazer uma visita a alguém nas criptas.

 Penduro-me em um corrimão numa sala cheia de mapas e escorrego cada ver mais fundo na escadaria em direção à parte mais funda do castelo.  

Cai num salto perfeito, graças a aulas de balé. Tirei a sujeira que estava na minha roupa, composta por uma blusa azul pastel com mangas livres e longas feita de algodão, com uma faixa rosa grossa no meio, que transformava a barra da blusa numa saia. Também usava uma sapatilha simples preta.

A explicação para aquele tipo de roupa ser comum entre o pessoal era cientifica: ela ajudava a proteger a pele da exposição a partículas tóxicas expelidas pelo vulcão, além de manter o corpo em uma temperatura ideal e ser confortável.

Sigo por mais um corredor longo e mal iluminado. A música ali já não tocava de uma maneira tão boa, se tornando falha às vezes e tomada por um pouco de estática, fazendo o ar ficar ainda mais assustador.

A uma porta larga no final, cujas maçanetas possuem desenhos de caveiras, crânios de raposa e rosas entralhados em outro. Estou prestes a empurra-la quando ouço um barulho atrás de mim.

Dei um gritinho abafado e pulei para trás com o susto.

— O que tá fazendo aqui? — perguntei para Nico, que tinha uma cara assustada. Percebi que minha voz soou ríspida demais — Desculpa. Você me assustou!

— Sinto muito, não era minha intenção — disse ele, sem expressão.

Parte do seu cabelo estava preso e suas olheiras haviam diminuído, dando a ele uma aparência um pouco mais saudável. Quer dizer, só um pouco, pois ele ainda parecia um fantasma pálido.

Haviam arrumando roupas novas para ele, como mas minhas, só que pretas. A espada presa ao cinto fazia Nico parecer uma espécie de samurai gótico.

— Eva deixou você desfilar pelo castelo com uma arma? — pergunto surpresa.

— Eu tinha dito que estava sentido uma presença estranha nesse lugar e que eu iria procurar por algo. A General me mandou levar uma arma caso visse algo perigoso. — ele deu ombros. — Eu estava procurando a fonte dessa energia, ai vi você vindo pra cá e te segui. Ironicamente, ela vem dali. — Ele apontou para a porta atrás de mim.

— Nas criptas?

— Ali ficam as criptas?

— Sim, é onde estão as cinzas e qualquer coisa que sirva de resto mortal dos Vega. Talvez tenha um corpo ou dois. Vamos dar uma olhada.

Ele se posiciona ao meu lado e juntos abrimos a porta.

— Há muitas coisas além de cinzas ai. — disse ele, observando lá dentro.

— Tipo espíritos? — um arrepio que desceu pela minha espinha foi o suficiente para eu me fazer esconder atrás dele. — Eu odeio espíritos.

— Deixa de ser boba, não tem nada a temer. — ele disse, entrando e me deixando para fora.

Sem opção, entrei também.

No começo, não vi nada além das coisas que eram comuns na sala, que alias, era muito grande.

Em duas paredes, tinha dezenas de gavetinhas douradas e prata. Haviam pequenas mesinhas cobertas por caixas de vidro com objetos dentro. Aquele era outro cômodo onde tudo era cravejado de pedras preciosas.

Em todo palácio, não havia lugar que me assustava mais que as criptas. A sensação de estar presa e sufocada era acompanhada da de ser observada por dezenas de olhos. No teto, havia um circulo coberto de vidro transparente, por onde passava luz do sol. Ironicamente, a cripta é o único lugar onde entra luz do sol além dos quartos nas torres.

— Aparentemente não tem nada de errado aqui. São apenas fragmentos da energia dos seus parentes e até mesmo uma alma teimosa que resolveu dar um oi.  — disse Nico calmamente, como se estivesse falando sobre uma receita de bolo. — Alias tem uma bem ali! — ele apontou para uma poltrona ao meu lado.

— O QUE???? — gritei.

Ele cobriu minha boca antes que eu chamasse atenção da cidade inteira.

— Estou brincando, okay? Não tem nada. Fica calma. — eu vi ele rir pela primeira vez.

— Faça uma cara engraçada da próxima vez que estiver brigando com alguém. — dei um soquinho no seu braço. Mal deve ter feito cócegas.

— Já que tem medo dos mortos, o que queria fazer aqui? — perguntou ele, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha.

— Eu vim ver a caixa da Tia Rosa e deixar uma rosa pra ela. É a flor favorita dela. — tirei a flor de dentro do meu bolso, estava meio esmagada e umas pétalas haviam caído. Ela gostaria mesmo assim.

Fui em direção à parede onde tinham muitas gavetinhas feitas de prata. Na antepenúltima estava gravado o nome de Rosalinda Vega, aka Tia Rosa, e uma frase de uma musica dos Beatles, a banda favorita dela. Do jeito que eu mandei fazer.

Ela havia morrido de algum problema causado pelo seu vicio em álcool que havia adquirido após o divorcio com seu ex-marido há uns três anos atrás. Depois de ter gastado o que sobrou do dinheiro que ela havia ganhado no processo com uma cerimonia funerária, mandei cremar o corpo e enviei as cinzas para cá com uma carta pelo correio. A tampa da gaveta tinha desenhos de flores.

Depois de fazer uma oração silenciosa para qualquer deus que ela acreditasse para pedir que a colocassem em um lugar bom. Coloquei a rosa lá dentro e passei a mão na gavetinha ao lado.

O nome CALLIOPE CAMPBELL estava gravado e detalhado com pedrinhas que deviam ser diamantes. Assim que alguma criança dessa família nasce, automaticamente fazem uma gaveta com seu nome para quando ela morrer, caso isso aconteça uma semana depois, meses, anos e até mesmo daqui a umas décadas.

Mórbido, eu sei. Mas eles acreditavam que a data da morte era automaticamente decretada antes do nascimento.

Os Vega eram pessoas estranhos.

— Fascinante. — admirou Nico, ele parecia estar completamente hipnotizado pelo lugar. Havia se apresentado para mim como um semideus filho de Hades, deus dos mortos ou algo do tipo. Aparentemente, ele lidava com a morte e coisas relacionadas o tempo todo. Não era atoa que parecia um fantasma.

— Esse lugar parece uma obra de arte para você? — segui ele até a outra parede, onde haviam apenas gavetas de ouro. Algumas delas tinham coroa negra colada em cima do nome.

— Pode-se dizer que sim. — disse ele, passando as mãos pelos puxadores delicados. — Essa parte é dedicada para cinzas dos reis, rainhas e príncipes herdeiros?

Me segurei ao o impulso de corrigi-lo automaticamente. Desde a minha educação ali dentro, a primeira coisa fundamental que havia aprendido era ter cuidado ao se referir aos detentores de grande parte do poder. A família real havia estabelecido que até os finais dos tempos, Isla de La Roya seria uma sociedade matriarcal, onde a rainha era o poder absoluto e o rei tinha função de ajuda-la a produzir herdeiros, ao contrario do que acontecia nas famílias reais, logo quem herdaria o trono seria a filha mais velha ou a filha com maior vocação para assumir tal papel.

Então, dependendo da rainha vigente em questão, um pequeno erro ao se referir à majestade poderia significar até mesmo a morte por execução.

Na ultima fileira de onde haviam caixinhas com nomes, a penúltima tinha uma coroa preta por cima do nome da minha mãe e a outra possuía o nome de Ronnie gravado. Elas estavam vazias.

Pensar naquilo fez meu coração se tornar triste novamente.

— Sim, as coroas pretas são para aquelas que foram coroadas rainhas. E parede prata esta destinada ao resto da família real, como príncipes, princesas, primos, tios, pessoas que serviram à coroa a vida inteiro etc. Segundas Damas ou Segundos Lordes podem ser colocados ali também.

— O que são eles?

— Ah, é um titulo dado aos amantes oficiais da rainha. Pessoas com que ela geralmente mantem relações além do rei. — expliquei. — Poligamia é algo que é permitido aqui, desde que seja oficializado e tal. Até mesmo a família real costuma adotar esse tipo de comportamento.

— Então, quer dizer que é comum a rainha ter casos extraconjugais desde que todo mundo saiba? Até mesmo com alguém do mesmo sexo?

— Sim, alias, a maioria dos amantes das rainhas foram mulheres. Assim como em outros lugares, alguns casamentos foram forçados a acontecer sem mesmo ter amor, o que levou a pratica a ser bastante comum nos corredores desse castelo. Além do fato das Vega serem comumente bissexuais, se relacionar com mulheres também evitava a existência de crianças bastardas.

— Mas elas não podem se casar entre si sem ter um rei no meio?

— Infelizmente não. A família real precisava continuar e naquela época não havia avanço tecnológico suficiente para isso. Quer dizer, ainda não tem.

— Complicado, mas voltando a esse lugar: eu gostei da decoração e da forma que as coisas estão postas. Gostei das gravuras em outro representando coisas ligadas a morte e o teto de vidro. Sem nomear que a quantidade de joias e pedras precisas presentes aqui com certeza deve dar um pouco de orgulho para o meu pai. — disse ele empolgado. — Esses caras foram enterrados com estilo. Acredito que deve ter os feito ganhar ótimos lugares no mundo inferior sem contar com seus atos durante a vida. Hades valoriza muito ritos funerários com estilo.

Era engraçado ver ouvir ele falar de seu coroa com tanta tranquilidade , mesmo ele sendo um deus. Fiquei pensando se, ah, Apolo gostaria que eu o chama-se de vovô? E também acho que Afrodite não seria o tipo que gostaria de ser chamada de bisa, né?

— Acho que já vi esse cara no altar que fica no fundo das criptas. Vamos ver. — segurei sua mão e puxei para o fundo da sala. Passamos por quatro caixões de pedra, onde estavam os únicos corpos encontrados depois de um naufrágio que matou uma parte da família há uns dois séculos atrás e que não conseguiram ser cremados, antes de seguir para o fundo da sala.

Um altar cheio de velas estava erguido a alguns centímetros do chão. Um incenso queimava entre as pequenas estátuas de deuses, divindades e até mesmo santos. Diversos seres estavam representados ali.

— O que uma estatua de Hades faz aqui? — Nico indicou uma estatua de um deus grego com um cachorro de três cabeças sentado em seus pais.

— Não existe nenhuma religião dominante aqui. As pessoas estão livres para acreditarem e adorarem qualquer coisa que acreditarem contanto que não impunham suas crenças aos outros. Por exemplo, os Vega não uma crença definida, eles apenas fizeram esse altar para agradecer todos os deuses que de algum modo tivessem alguma ligação com sua historia.

— Então essa estatua do meu pai esta aqui é porque eles mantem uma forte ligação com a morte? — concluiu ele.

— Bem, acho que sim. — Olhei para as outras miniaturas, haviam outros deuses gregos. Esforcei-me para lembrar seus nomes e o motivo para qual era atribuído suas homenagens: Atena, para agradecer a sabedoria e pedir ajuda para evitar a guerra, Hera, para agradecer aos partos bem sucedidos e a continuidade da família, Hades e por fim Hefesto, em gratidão pelos conhecimentos em engenharia e mecânica que levaram a construção desse lugar e para evitar que o vulcão entrassem em uma erupção violenta.  Nenhuma estatua para os deuses responsáveis pelo meu legado. Nenhuma novidade.

— E como ninguém lá fora sabe desse lugar? — perguntou ele por fim, quando já estávamos saindo.

— Eles não querem que o resto dos países fiquei de olho. Há um acordo com a ONU que permite que aqui seja uma nação independente desde que o povo tenha qualidade de vida e não aconteça nada que possa atrapalhar o resto do mundo aqui.

Depois disso, subimos o caminho de volta em silencio. Sua companhia fazia com que aqueles corredores e degraus mal iluminados fossem menos solitários e sombrios.

— Callie, lembra o motivo de termos ter vindo até aqui, não é? Precisamos pegar a outra parte para poder acorda-las antes que seja tarde. — paramos em uma passagem plana, no encarando.

Estava tão inebriada pelo ar e pelas lembranças que havia esquecido o objetivo principal que os levara até aqui. Era necessário o fio de cabelo de algum parente próximo a Ronnie para completar o feitiço para tira-la do coma junto com sua amiga antes que desligassem os aparelhos.

Apesar de tudo.

Eu precisava salvar minha irmãzinha.

  — Acho que sei onde podemos encontrar o que você quer! — Novamente, agarro seu braço e o arrasto até a sala do trono.

Para variar, estava complemente vazio. O majestoso trono da rainha estava coberto por um pano rendado enquanto o do rei estava coberto e escondido em um canto. Do outro lado da sala, há uma porta com uma grade na frente.

Com a ajuda de Nico, empurro a grade pesada para frente e aperto um botão escondido embaixo de um quadro. Ouço as trancas abrirem e engrenagens mecânicas começarem a trabalhar. Um minuto depois, um clique anuncia que o elevador esta pronto para subir.

 — Entra logo, ele sai rápido. — empurro Nico para dentro e me espremo dentro do espaço pequeno antes que uma grade menor feche a cabine e o elevador começa a subir lentamente, fazendo o máximo de barulho possível.

— Por que a gente não foi pelas escadas? — perguntou ele tentando arrumar um jeito de não ser prensado pelo meu corpo.

— O quarto da rainha fica na torre mais alta do Obsidiana e definitivamente você não gostaria de usar as escadas nesse caso. — sussurro.

O elevador que levava a aquela parte do castelo era feito apenas para suportar uma pessoa, então sua velocidade estava reduzida por conta do peso extra. Demoraria um pouquinho para chegarmos.

Estar em espaços pequenos e ter que ficar colada nas pessoas para caber melhor eram ótimas formas de fazer amigos. Nos minutos em que estávamos comprimidos ali, Nico havia me contado todo o tipo de coisa sobre sua vida, desde as guerras que lutou ao lado dos deuses e até mesmo sobre o garoto pelo qual ele estava apaixonado. Eu havia contado minhas melhores piadas também.

Apesar do seu semblante sempre demonstrar ser uma pessoa seria, suas risadas soltas após ouvir qual era a diferença entre a lagoa e a padaria.

  — Sabe, eu sempre quis cantar, sabe? Mas tipo, cantar para uma multidão inteira. Esse era meio que meu sonho. — começo a contar.

— E por que “era”? — quis saber ele.

— Eu não sei... Passar anos naquele café me desmotivou e além do mais, como faria para lançar minha carreira sem um empresário nem gravadora?

— Não seja assim. Eu ouvi você cantando no carro e sua voz é incrível, quer dizer, quando não esta usando nenhum poder magico nela ou algo do tipo... E quanto a gravadora, talvez eu possa ajudar. — ele sorriu.

— Como você faria isso? — estava sem o mínimo de empolgação.

— Ah, meu “amigo”... — Nico corou — Tecnicamente, um dos seus tios por parte divina, é bem próximo de outro tio seu por parte divina que saiu recentemente do acampamento para abrir uma gravadora e trabalhar no ramo musical. Ouvi dizer que ele esta procurando novas estrelas, e tem certa preferencia por gente com DNA divino no sangue... Então eu poderia pedir para meu amigo para ele falar com esse irmão dele e...

Automaticamente, aquilo ascendeu uma chama a muito tempo apagada no meu coração.

— VOCÊ FARIA ISSO??? — dei um gritinho de excitação.  Um fio de esperança acendeu em mim. Talvez eu conseguisse realizar meu sonho, afinal, talvez meu outro lado da família poderia me ajudar! Não pude me conter em abraçar Nico com força em agradecimento.  Soltei-o ao perceber que o pobre garoto estava sendo sufocado. — Quer dizer, eu ficaria muito agradecida se você fizesse isso.

Não iria criar todas as expectativas do mundo, mas eu sentia em sua voz que ele faria o possível para me ajudar. Poderia dar certo, não é?

Na verdade, criei todas as expectativas do mundo com aquilo.

Nossa conversa levou tempo o suficiente para o elevador chegar ao andar final. Com outro clique, a porta abriu atrás de mim.

— Vamos. — me espreguicei antes de seguir por outro corredor longo. As paredes estavam cheias de fotos da minha mãe.

— É impressão minha ou sua mãe talvez fosse um pouco obcecada por sua aparência?

— Minha mãe morreu para te salvar e você sequer percebeu a obsessão dela por si mesma?

Eu estava lado a lado com o garoto que a minha mãe havia se sacrificado para salvar a uns anos atrás durante uma missão – o que fazia o mundo ser um lugar muito pequeno – e agora éramos amigos.

Ele tinha ficado surpreso ao ver minha reação ao saber o que ocorreu quando ele era bem novo. Disse que esperava que eu começasse a gritar, ou a chorar, até mesmo querer matar ele com um machado e jurar vingança como minha irmã provavelmente fez, porém eu apenas sequei a lagrima que escorria e sorri dizendo: “Morrer pra salvar a vida de alguém é uma forma heroica e digna de morrer”.

 Não esperava menos de alguém como ela.

— Estou brincando. — retomei. — Dizem que quanto maior a porcentagem de sangue Vega no seu DNA, mais você esta sujeito a possuir algum tipo de loucura. Isso é verdade. Minha mãe se tornou obcecada pela sua beleza, ela dizia que todos os deuses estavam propensos a começar uma guerra por ela e que eu não havia herdado a beleza da minha bisavó divina, Afrodite, e sim dela.

— Mas vocês nem se parecem fisicamente. — pronunciou Nico.

— Totalmente louca, não é? Olha só para nós duas. — digo me posicionando ao lado de um quadro enorme e nos comparando. Nele, ela tinha um semblante serio, o cabelo penteado numa longa trança, com muitas joias e enrolada em sedas. Estava sentada no trono e tinha minha irmã com aparentes quatro anos no colo, como se anunciasse sua sucessora natural. Ronnie era quem se parecia com ela.

Ele riu da comparação boba.

Mais adiante encontramos duas portas enormes. Ambas pertenciam aos quartos da rainha e do rei.

Normalmente, os dois deveriam dormir juntos no quarto da rainha, porém nem sempre isso acontecia.  Então, por isso havia dois quartos.

Entramos no primeiro e mais majestoso.

Minha mãe também deveria ser obcecada pelo seu cheiro, pois o quarto estava inteiramente aromatizado pelo seu perfume favorito. Quer dizer, o quarto lembrava ela.

Uma mesa estava cheia de projetos e desenhos que ela fazia de protótipos de maquinas e invenções. Havia uma caixa cheia de equipamentos jogados em um canto. Algumas de roupas ainda estavam guardadas no closet. Havia retratos e quadros em todo lugar.

Um pequeno retrato em cima de estante me chamou a atenção. Era o único em que eu aparecia. Estava abraçada a ela, que sorria também, enquanto Ronnie não parecia feliz em tirar aquela foto. Usávamos roupas comuns de calor e estávamos sentadas na grama.

A estante, há uma TV e algumas fitas VHS. Uma delas é cheia de adesivos. Ligo a TV e coloco a essa fita num aparelho. Cenas de um documentário que nunca chegou a ser lançado sobre Isla De La Roya e a família real começam a passar. Eu apareço na maioria delas, junto com Ronnie, mamãe, Tia Rosa, General Eva e o Governador, que antigamente chamávamos de Velho Javis. Algumas cenas pertenciam ao mesmo dia em que a foto foi fotografada.

Eu me lembrava do dia em que ela havia sido tirada.

Na mesma tarde desse dia, eu havia sofrido o acidente.

O mesmo acidente que me levou a fugir dali para o mais longe possível.

Eu e Ronnie estávamos brincando no jardim numa tarde de verão de 2003. Quer dizer, quando digo “brincando”, na verdade quero dizer “brigando” ou “discutindo”, pois era o que mais fazíamos o tempo.  Recordo de estar dizendo o quanto ela era chata e idiota por estar brincando na lama, estragando o visual que as criadas haviam tido tanto trabalho pra arrumar nela. “Por que você não se comporta como gente? Por que você não age como gente?” gritei e agarrei seu pulso. Eu tinha sete e ela três anos. Em rebatida, ela imitou minha voz: “Por que você se comporta que nem uma boneca que nem eu? Olha só como eu sou bobona que nem a Barbie” e mostrou a língua. Aquilo me deixou muito nervosa, que me fez cometer o erro de dizer que ela não merecia ser rainha porque não se comportava como uma.

Foi o suficiente para deixa-la muito irritada. Com os olhos cheios de lagrimas, ela bateu o pé no chão e levantou a barra do vestido que a incomodava. “Por isso mamãe te odeia! Você é muito chata!”. “Ora, sua peste! EU TE ODEIO!” parti para cima dela afim de dar uns tapas, meu rosto queimava de raiva. Antes de acerta-la, Ronnie olhou para mim assustada e se protegeu com as mãos. Foi quando eu fui atingida em cheio.

Um cortador de grama que estava parado a uns metros de distancia simplesmente ligou no modo agressivo e avançou em mim. Aquela foi provavelmente a primeira demonstração dos poderes de Ronnie, sem querer ela deveria ter ligado aquilo para se defender do meu ataque.

Gritei quando as laminas girando em alta velocidade atingiram minha barriga. Sangue espirrou pra todo lado. Ronnie chorou, mamãe veio e um monte de gente gritou. Foi o que eu vi antes de tudo ficar escuro.

Acordei no hospital localizado no Distrito Central depois. Uma faixa estava enrolada na minha barriga para esconder os pontos de uma cicatriz gigantesca que cortava toda aquela região até a parte de dentro das coxas. Tia Rosa estava do meu lado e segurou minha mão quando voltei para o castelo.

No meu quarto, a maioria das minhas coisas estavam guardadas em malas cor-de-rosa. Tia Rosa disse que nós duas iriamos viajar para longe e que iriamos morar em Londres com o namorado dela. Ela havia dito também que minha mãe não iria me ver assim como não viu quando estava no hospital.

Eu não entendia muito bem naquela época, mas lembrava da dor que senti ao ser puxada para dentro de um carro pela Tia Rosa num dia chuvoso e ver o castelo para trás, com minha mãe e minha irmã no colo da General Eva olhando da porta.

Só depois de uns anos, quando já estava em Londres, que minha Tia Rosa havia brigado com minha mãe porque ela havia dito que era melhor que eu e Ronnie não crescêssemos juntas e que eu havia desrespeitado a herdeira ao trono ao falar que ela não merecia ser a futura rainha, e dizer aquilo implicava punição severa para quem quer que fosse, mesmo eu sendo filha da rainha também. Então, eu só poderia voltar para Isla De La Roya se Ronnie não estivesse lá até ela se tornar adulta.

É claro que minha tia achou aquilo um absurdo, afinal, eu era apenas uma criança! Mas sua palavra não foi o suficiente pra rebater o que havia sido decretado. Ela resolveu que iria embora para longe e me levaria, viveria uma vida que não precisa-se da minha herança ou de qualquer coisa que viesse daquela família horrível e cuidaria de mim melhor do que um dia minha mãe havia feito.

E minha Tia Rosa fez.

Quando volto à realidade atual, percebo que minha mão esta tocando a cicatriz por cima da blusa. Cicatriz que irei levar comigo pelo resto da vida e que aniquilou qualquer vontade de ter filhos antes mesmo de pensar nela. Meus olhos estão lacrimejando, mas dessa vez seguro o choro.

Rancor e mágoa inundaram meu coração, fazendo que por um segundo eu quisesse que todos queimassem no inferno. Mas então, eu recobrei o controle e respirei fundo. Não, eu era uma pessoa diferente. Eu era uma pessoa boa, não era?

Eu não queria deixar ninguém mal, muito menos desejar coisas ruins a alguém. Só queria que as pessoas sorrissem ao fim de todo dia. Queria que ninguém mais se machucasse como eu me machuquei. Eu não era como minha mãe, General ou a minha irmã.

Eu era Calliope, com o nome daquela musa, e eu era uma boa pessoa. E boas pessoas ajudam outras pessoas.

Até mesmo aquelas que a machucaram.

Até mesmo irmãs mais novas teimosas.

Abri uma das gavetas da penteadeira da rainha e tirei um pente de cabelo. Como as coisas haviam sido mantidas do jeito que haviam sido deixadas, ainda restavam alguns fios de cabelo da minha mãe nele. Enrolei em um pano qualquer que achei nas outras partes e entreguei para Nico, que guardou o pente na jaqueta.

— É suficiente, não é? — Ele assentiu. — Ótimo, vamos pegar Leo e sair daqui. Como você disse, ele lugar tem fantasmas demais.

(...)

Quando voltamos para baixo, encontramos Leo e a General Eva disputando um braço de ferro. O menino magrelo usava toda sua força usando os dois braços enquanto a mulher de quase 60 anos o derrotava facilmente usando apenas um e sem aparentar estar usando sua força.

— Vocês voltaram. Oh, Callie, se não soubesse o quão besta você é eu poderia até suspeitar do esse sumiço repentino dos dois. Mas não importa. Você precisa malhar mais, garoto. Seu braço parece um gaveto.

Mal tive tempo de ficar envergonhada antes dela continuar a voltar.

— Sua visita aqui reconfortou um pouco dos nossos corações. Mas não é o suficiente.  Desde que sua mãe sumiu, esta sendo difícil comandar as coisas aqui. Nem eu nem o velho Governador estamos conseguindo. O dinheiro que podemos usar para administrar o reino sozinhos esta acabando e somente a rainha pode tirar mais dinheiro do cofre para sustentar a cidade. Tenho medo que o povo venha a se rebelar se os trabalhadores não receberem mais seus salários... Isso nunca aconteceu aqui, mas eu não quero estar viva para ver se acontecerá... — disse a General levantando da cadeira onde estava sentada. — Não entendi o motivo da sua visita aqui, mas vou deixar pra lá.

Olhei para os vitrais que decoravam a sala. Pensei o quão catastrófico seria caso o povo se rebelasse com os problemas enfrentados pela ausência da rainha. Mas, minha mãe havia morrido e eu também não poderia dizer que ela havia sido devorada por monstros mitológicos, minha irmã estava em coma e dependia do sucesso da missão dos garotos estrangeiros para acordar.

Eu e Nico trocamos um olhar. Parecia que ele sabia o que eu estava pensando... Quer dizer, é claro que ele deveria saber, pois em seguida me deu um meio sorriso compadecido.

Apesar de ser uma criança bastarda que morava em outro país, eu ainda tinha uma herança que minha Tia Rosa se recusava a usar. Alguns muitos milhões de moedas royanas tinham sido dadas pela minha mãe para mim, para que eu usasse como bem quisesse. Eu poderia tira-las do Banco Real a qualquer momento.

Uma lâmpada piscou na minha cabeça.

— Usem a minha herança, se precisarem, acredito que vocês podem cuidar do reino até que minha irmã possa assumir, já que minha mãe “desapareceu”. Preciso só assinar uns papéis né? Acho que tenho o suficiente para sustentar as economias do reino por uns anos. Eu não me importo, posso conseguir mais dinheiro para mim lá fora sozinha.  Não deixe que as pessoas passem fome... Traga os papeis para eu assinar antes de ir embora, esta bem?

A General pareceu surpresa com a minha ação, mas apenas assentiu e saiu correndo falando que chamaria um dos contadores do Banco Real imediatamente. Minha decisão me deixava mais falida do que já era, mas por mim estava tudo bem. Eu seria recompensada depois.

Me aproximei dos meus novos amigos. Leo também vestia roupas royanas que escondiam parte dos curativos dos machucados causados pelo abutre gigante. Ele massageava os braços doloridos .

— Não é atoa que ela é a General. Minha tia dizia que ela era famosa na infância delas por ser a maior ganhadora em braço de ferro de Isla De La Roya. — sorrio. — Depois pego um pouco de gelo na geladeira para você.

— Leo, acho que já esta quase na hora de ir. A parte da nossa missão que acontece aqui já foi concluída. Agora temos que enfrentar a parte difícil. — disse Nico.

— Temos que voltar mesmo? Será que se eu falar que sou meio-irmão da Ronnie eu não posso ganhar direito ao trono? Eu seria um rei legal, não seria? — perguntou ele, meio sonhador. 

Olho em volta e vejo se ninguém ouviu. Nico revirou os olhos e pôs a mão na cabeça.

— Mal bastou umas horas aqui e o poder já subiu a sua cabeça a ponto de querer usurpar o trono de direito da nossa irmã? Que feio. — digo, rindo e bagunçando seu cabeço encaracolado.

— Eu to brincando.

— Sei... A General Eva te daria muito mais que umas derrotas no braço de ferro se ouvisse isso, talvez ela te quebrasse em pedaços e jogasse pros tubarões no mar.

O garoto latino se arrepiou ao pensar na hipótese.

— Talvez seja melhor a gente ir embora logo. — todos concordaram.

(...)

Depois de assinalar a papelada necessária, nos despedimos do pessoal conhecido. Pedi para que levassem o nosso carro para uma rua afastada e sem saída como Nico havia sugerido. A noite começava a cair e as pessoas saiam de suas casas. Eu havia mentindo dizendo que iriamos voltar para o continente num barco. Precisava ir embora antes que eles vissem que eu havia voltado e começassem com as perguntas a cerca da Rainha e a princesa herdeira.

Leo se sentou no banco de trás do carro junto com meu gato que ainda dormia ali. Eu e Nico ficamos na frente. Dei uma olhada em volta para me despedir de Isla de La Roya. Flocos de poeira vulcânica caiam para-brisa do carro como neve. Era estranho partir daquele lugar rumo ao desconhecido pela segunda vez.

O filho do deus dos mortos ligou o carro e guardou o pente no porta-luvas.

— Bem, para onde vamos agora? — perguntei ligando o radio do carro, escolhi uma estação com musica animada. Nico pareceu querer morrer.  — I got a pocket, got a pocketful of sunshine… — cantarolei e imitando a melodia batendo nas pernas.

— Vamos para a parte mais difícil: Para completar o feitiço, precisamos de duas almas para serem levadas no lugar das de Ronnie e Valentine, para que possamos traze-las de volta. — disse Nico, eu e Leo ouvimos atentamente. — A parte difícil é: nós temos que tirar essas duas almas de duas pessoas.

— Esta me dizendo que a gente tem que matar alguém???? — exclamou Leo, indignado.

— Não tecnicamente matar, mas induzir a pessoa a se matar sim. Quer dizer, a pessoa que escolhermos já esta destinada em se matar de qualquer jeito, nós só vamos estar lá e pegar alguma coisa dela na hora. Algo que ela estiver usando na hora da morte. Algo em que sua essência vital se prenda.

Fiquei horrorizada ao saber daquilo. Automaticamente entrei em pânico. Ouvi a voz da minha mãe na minha cabeça. Mais uma cena foi revivida na minha cabeça.

— Temos que dar um jeito nela. — disse minha mãe, Ronnie estava agarrada nas suas pernas.

— O que iremos fazer? — disse minha Tia Rosa. Haviam outras pessoas naquela sala afastada do castelo.  Uma mulher loira estava no centro da sala, ajoelhada e algemada. Seu corpo estava coberto por hematomas.

Eu estava me recuperando do acidente e havia resolvido sair do quarto para procurar minha Tia Rosa. Havia seguido ela até aquela parte do castelo sem que ela percebesse e fiquei espiando pela fresta da porta entreaberta ao que iria acontecer.

— Iremos dar um fim nela antes que Eva faça isso de um jeito muito pior. Por causa do ciúme possessivo da mulher estrangeira do nosso primo Otávio, nossa prima quase ficou cega com uma facada que essa senhora deu. Quando Eva sair do hospital, o derramamento de sangue será pior, então estamos fazendo por essa moça um favor. A vingança de uma Vega é algo muito pior que a execução. — disse minha mãe, sacando uma arma e apontando para a cabeça da mulher. Minha tia apenas suspirou e concordou infeliz. Meu coração entrou em pânico.  — Tem certeza que nenhum funcionário não autorizado não ficou no castelo, certo?

— Sim, Majestade. Tenho toda certeza. — ouvi a voz do Governador, mas não consegui encontra-lo ali.

— Ótimo.  — Continuou minha mãe. Ouvi o “click” da arma ser destravada. Todos ficaram em silencio. — Eu, Alexsandra Vega, Rainha de Isla de La Roya, condeno você a execução por tentar assassinar Eva Vega, General de Isla De La Roya e minha prima. Quais suas ultimas palavras? — disse ela, indiferente.

— Apenas cuidem do meu filho. Eu imploro. — Disse a mulher, por fim, com uma voz cansada.— Como desejar será feito. Eu me certificarei disso.

Em seguida, ouvi o barulho dos disparo e o banque do corpo da mulher cair no chão. Eu a conhecia, ela era esposa de um do primo da minha mãe e havia vindo da Alemanha. Lembrava-me dela ter me contando sobre como era sua vida de modelo e o quão gostava de ser famosa.

— Enrolem o corpo no tapete e joguem no fosso de lava sem que ninguém veja. E lembrassem, ela já estava com os dias contados mesmo. Nós só fizemos um favor em evitar que ela sofresse mais na hora de morrer. — disse mamãe por fim.

Saiu correndo com os olhos cheios de lágrimas e me tranquei no meu quarto. Sabia que ela havia feito uma coisa horrível que era um crime pesado, porém ainda era triste. Eu sabia que as pessoas que cometiam crimes pesados em Isla De La Roya eram executados pela própria rainha, mas assistir aquele foi algo completamente desgostoso enjoativo.

Mas o que aquela memoria tinha a ver com o que Nico havia acabado de falar? Talvez o fato que algumas pessoas já estão com a morte predestinada, não importa o que aconteça? Não importa o quanto tentarmos impedir? Era isso? Não conseguia entender.

Por outro ângulo, apenas pegar algo de alguém que já esta destinado a morrer sem impedir não parecia tão errado assim e além do mais, estaríamos salvando duas vidas em troca. Parecia ser um preço justo a ser pago. Apesar de ser completamente desgostoso e enjoativo.

Eu precisava salvar a minha irmã. Faria qualquer coisa por isso.

— Como você sabe quem vai se matar ou não? — pergunto, me sentindo enjoada.

— Veja, tenho até o aplicativo que diz a cada minuto quem vai morrer e quando.... Qual é? Meu pai precisa se manter atualizado com quem esta morrendo ou quem vai morrer— ele tirou um smartphone preto do bolso e mostrou uma lista com vários nomes e diversas causas de mortes. A lista descia a medida que um novo nome aparecia. Totalmente nauseante.  

Leo parecia que iria vomitar.

— Para onde vamos? — perguntou ele.

— Temos dois suicídios de duas garotas com idades próximas as das nossas irmãs em cerca de duas horas de diferença cada. Só precisamos dar uma passadinha no Brasil depois no Japão, será rápido. — explicou o filho de Hades.

— Elas estão destinadas a morrer de qualquer jeito. — dou os ombros e retorno a cantar, tentando afastar a sensação ruim. Mil pensamentos confusos fritam meu cérebro como batatinha.

Um segundo depois, o carro acelerou e desapareceu nas sombras. Foi quando refleti o quanto estava sendo egoísta e insensível. Duas pessoas precisariam morrer para que eu conseguisse o que eu queria. Um frio passou pela minha espinha.

Talvez, no fundo, eu era como os Vega mais do que imaginava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TRILHA SONORA:

Quarto da Calliope: https://www.youtube.com/watch?v=lsoLYWTzqSY

Criptas: https://www.youtube.com/watch?v=qgBc5vwIJm0

Musica do final (também conhecido como musica tema da Calliope): https://www.youtube.com/watch?v=gte3BoXKwP0

Então, o que acharam?Gostaram da Callie? Espero que tenham gostado desse capitulo, afinal, foi bem difícil de escrever. Mandem comentários, amarei lê-los! ♥
Até o próximo e penúltimo capitulo de JdO ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desventura Divina: A Jornada de Ouro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.