Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 19
Princesas, cafés ingleses e abutres gigantes. Isso não é um filme da Barbie.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Sei que demorei, mas aqui estou eu com mais um capitulo de JdO. Hora de saber como vão nossos velhos amigos em sua missão para tentar acordar nossas heroínas adormecidas e com direito a personagem novo!
Espero que gostem!



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LEO VALDEZ 

Já se passavam das oito da noite quando me sentei num banco de um pub inglês e me joguei em cima do balcão.

Meu estomago se revirava e sentia que minha alma havia sido jogada longe pelo escapamento daquele carro infernal.

Que belo jeito de chegar à Inglaterra.

Se viagens na sombra fossem uma pessoa eu a mataria.

Nico pergunta para as pessoas que estão naquele lugar — um único homem velho com cara de mal — se o nome era aquele pub era o mesmo que ele tinha encontrado no Facebook da garota que procurávamos e se ela trabalhava aqui. Não consegui ouvir a resposta porque no exato momento tive que segurar a vontade de vomitar.

— Acho melhor você tomar alguma coisa, quem saiba você melhore e evite com que eu seja obrigada a limpar seu vomito do chão. — diz uma voz feminina.

Levanto a cabeça do balcão e passo a encarar a coisa mais bonita que já vi nos últimos meses desde que voltei a viver:

(Detalhe que eu via muitas coisas bonitas)

Ela era alta, dependendo do reflexo da luz, seus olhos grandes variavam do marrom claro para uma cor esverdeada. Seu cabelo caramelo fugia do coque bagunçado no topo da sua cabeça, nem mesmo o avental sujo de molho e comida estragava a beleza da minha nova rainha da beleza. E eu conhecia muitas rainhas da beleza.

De repente, meu mal estar passou.

Ela era idêntica a forma que Vênus era retratada no quadro “O Nascimento de Venus” de Bouguereau.

— Ei, poderia ajudar a gente? — perguntou Nico, se aproximando do balcão.

— Pois não? O que querem? — disse ela, desconfiada.

— Queríamos saber se alguém chamada Calliope Campbell trabalha aqui.

— Hm, talvez eu possa responder... Se vocês pedirem alguma coisa, é claro. — Ela indicou para a estante cheia de garrafas atrás dela.

— Um copo de água seria bom, obrigado. — eu sugiro.

Ela arqueia a sobrancelha e cruza os braços.

— Meu turno termina daqui a pouco, o movimento esta péssimo e meu salario não é pego para eu dar água para as pessoas..... Ah, tudo bem. Seja o que vocês quiserem. — ela deslizou um copo com água em nossa direção. — Vocês estão procurando Calliope Campbell, estão falando com ela nesse momento.

A encaramos simultaneamente, surpresos. A menina da foto de perfil não era feia, mas também não chegava a ser tão bonita.

— Mas porque na sua foto de perfil você esta tão diferente...? — não consigo me segurar e pergunto.

— Existem pessoas que não são fotogênicas. — ela pareceu ofendida. — Vocês tem sotaque norte-americano, o que diabos querem comigo?

— Você é filha de Alexsandra Vega e meia-irmã de Ronnie Vega? — indaga Nico.

— Você quis dizer “filha bastarda”. Rejeitada pela mãe a infância inteira.  Sim, sou. Mas não me interesso por nada que tenha a ver com elas. É o porquê de eu estar enfiada aqui. — tocar naquele assunto a havia deixado extremamente nervosa. — É algo delicado. Prefiro não falar aqui dentro. Me esperem lá fora quando terminar de arrumar e fechar essa espelunca. Acho que seria muito legal da parte de vocês me ajudarem colocando as cadeiras em cima das mesas.

Apesar de citar sua família a deixar irritada, tinha certeza de que ela estava curiosa para saber do que se tratava tudo aquilo. Eu e Nico nos entreolhamos, ele deu os ombros e começou a organizar as cadeiras, sem escolha, tive que ajudar.

Depois de colocar o velho bêbado gentilmente  para o lado de fora, ela trancou as portas e colocou uma moeda dentro de uma maquina de aparência antiga, um Jukebox , e escolheu uma musica.

Haviam se passado algumas musicas antigas quando terminamos. Bem, era um trabalho cansativo, mas nem chegava aos pés de lutar contra monstros horríveis.

— Agora a gente pode conversar?

— Ah, veremos isso lá fora. Terminei por aqui. — ela deu ombros e pegou uma mochila atrás do balcão, um par de chaves pendurado nas paredes e começou a apagar as luzes. — Vamos ter uma conversa séria.

Saímos todos para fora e ela fecha as portas do barzinho.

— Bem, acho que podemos... — comecei dizendo, tentando quebrar aquele silencio mortal. Eu odiava silencio porque me lembrava seriedade e eu odiava seriedade.

— Acho que vocês podem começar a explicar quem são e o que querem comigo. Alias, não precisam esconder que são filhos de deuses. — cortou ela — Minha mãe lidava com eles o tempo todo, por mais que eu deteste toda essa droga de “mitologia real”, tem coisas desse meio que eu aprendi a reconhecer.

Ficamos sem palavras por um momento, mas Nico respira fundo e começa a contar.

Por alguns minutos, ela ficou ouvindo tudo, sem expressar nenhuma reação. Às vezes, quando ele dizia uma ou outra coisa, seu corpo mandava sinais explicando seus sentimentos quanto a isso. Depois que ele terminou de contar tudo, exatamente tudo, ela deu um longo suspiro e disse:

— Passei minha vida inteira fugindo de tudo isso e vocês simplesmente aparecem aqui, ok. Mas eu sinceramente não posso ajudar. Minha mãe uma dia tentou curar minha irmã daquela doença bizarra das mãos usando minha genética, porém não deu muito certo pois eu tinha sangue divino vindo por parte do meu pai e isso atrapalhava quando se trata de procedimentos parecidos com isso. Acho que não vai funcionar com vocês também. — disse ela antes de se virar — Sinto muito não poder ajudar vocês, mas eu não posso. Sinceramente não posso. Acho que terminamos por aqui. Adeus. — em passos rápidos e largos, ela desapareceu no beco atrás do pub, nervosa.

— A única coisa que a Ronnie tem de parecido com essa garota é que as duas são loucas. — diz Nico, tentando entender.

Ficamos um momento pensando, até que eu digo:

— O que vamos fazer?

Ele não tem tempo para responder. Um bater de asas fortes o suficiente para causar uma ventania na rua nos interrompeu, porém não serviu para nos colocar em alerta e se defender do ataque que veio do céu.

Com um relampejo negro, o filho de Hades foi lançando do outro lado da rua, batendo na vitrine de uma loja qualquer e estilhaçando o vidro, não consegui enxergar enquanto tentava não ter minha cabeça arrancada por um bico afiado e longo de uma ave que estava em cima de mim.

Sua envergadura das asas chegava ao tamanho de uma moto, as penas negras e o fedor de carne podre que vinha daquele animal denunciava que aquela coisa era um abutre gigante. Consigo faze-lo se afastar com um chute que só serviu para deixa-lo irritado, rolei para o lado e incendiei minha mão, pronto para atacar aquela coisa.

Ao invés de recuar com o fogo, aquela criatura apenas fez um som estranho e partiu para cima de mim de novo.

Vi Nico sair em disparada até o carro para procurar sua espada, porém ele estava enrolado demais com as chaves. Que falta de profissionalismo.

O abutre era duas vezes maior que eu, tentar uma luta corpo-a-corpo significa querer morrer, porém a unica coisa que pensei foi em correr na direção da ave em alta velocidade gritando e pronto para socar aquela cara cheia de penas como se fosse uma espécie de Thor magrelo e depois de tomar um longo bronze de 200 anos.

É claro que iria dar muita merda.

Ao invés de me atacar, a ave gigante simplesmente agarrou meus ombros com aquelas garras pontudas e me ergueu do ar. Sentia minha pele rasgar com o aperto, estava subindo cada vez mais alto, Nico conseguiu pegar a espada, porém não sabia o que fazer, já eu estava a quase 4 metros de altura.

Foi então que um borrão dourado entrou em cena.

— EU ORDENO QUE VOCÊ O SOLTE AGORA! — disse Calliope, apontando para nós de lá de baixo. Sua voz estava ampliada numa frequência 10 vezes maior que o normal por um microfone de bronze brilhante que ela segurava com a mão. Uma melodia baixa e animada saia do mesmo e era engraçado a forma em que as palavras saiam melodicamente da sua boca...... como se ela estivesse cantando e usando charme.

Enquanto a sua voz era linda e agradável aos nossos ouvidos, o abutre começou a grasnar histericamente por causa do som agudo e acabou me soltando quando os estilhaços dos vidros das janelas que se quebraram em seguida o atingiram. Imediatamente, a criatura fugiu para longe.

Eu comecei a cair rapidamente rumo ao chão em alta velocidade.

Que forma heroica de morrer, não?

Porém, sinto alguém me abraçar no ar, em seguida, entro dentro de uma sombra e no segundo seguinte caio de joelhos no chão.

— Você esta bem? — perguntou Nico antes de eu desmaiar de medo.

(...)

Olho para a janela e percebo que estamos correndo em uma cidade em alta velocidade, ouço os motores acelerarem cada vez mais e as luzes do outro lado da pista ficam cada vez mais para trás.

Olhos verdes e arregalados me encaram num amontoado peludo e gordo sem cima de mim. Que diabos era aquele gato?

Percebo que estava no banco de trás daquele carro funerário.

— Lady Marshmallow gostou de você. — diz Calliope. Só agora percebo que minha cabeça esta apoiada em seu colo. Vendo seu rosto de perto, percebo o quanto ele é melancólico e lindo como um sábado ensolarado quando se esta apaixonado.

Era incrível a forma em que ela me lembrava uma versão mais alta e adulta de Calipso.

Lembrar da minha antiga namorada me fez lembrar do acidente que aconteceu quando tentei resgata-la e acabou tirando sua vida.

Tudo por causa de uma ilha e uma maldição idiota.

Eu odiava os deuses por isso, secretamente.

Era real ou estava sonhando?

— Isso é um sonho? Eu morri?

— Você não esta sonhando.

— Então me da um beijo para eu saber que estou acordado mesmo.

— Sai fora!

Ela riu. Que diabos ela fazia ali?

— Depois de morrer e voltar a viver para salvar o mundo pensei que você fosse uma espécie de Hercules hipster do século XXI. — diz Nico tirando uma com a minha cara — Acho que você esta andando com Jason demais.

— O que ela faz aqui? — pergunto.

— Isso é jeito de tratar uma dama que salvou sua vida? Ah, tanto faz. — ela tira sua cabeça do seu colo e me obriga a sentar. Depois, pula para o banco do carona. — Mudei de ideia, resolvi ajudar vocês. Quer dizer, eu acho que posso arranjar um jeito de ajudar vocês.

Ué.

— Ajudar? — Nico aponta para os vidros enquanto dirige, alguns estão estilhaçados e outros trincados.

— Oops. Prometo que mandarei alguém consertar isso quando chegarmos a Isla de La Roya.

Meu espanhol de farmácia tentou traduzir algo que devia significar “Ilha da Ferrugem”.

— Cara, não estou entendendo nada. Será que da pra vocês falarem numa língua que eu entenda ou me explicar tudo do começo? Principalmente da parte em que eu desmaiei e a Calliope entrou na equipe, alias, que diabos você é? Um anjo com voz de demônio?

— Pode me chamar de Callie e não, não sou um anjo. Meu pai era que nem vocês e o pai dele também. Minha mãe me disse algo sobre ser era um legado de Afrodite e bisneta de Apolo. Aquele microfone é uma arma que ela me deu quando criança para que pudesse usar meus poderes para me proteger. Ouvi vocês serem atacados e resolvi ajudar em todos os casos possíveis. — ela sorriu. Callie falava muito rápido.

— Segundo ela, existe outra forma de acharmos algo de um dos parentes próximos da Ronnie que sejam humanos normais. — Nico continua a explicação.

— Estamos nos dirigindo ao Porto de Corunha, na Espanha, onde pegaremos um barco e iremos para a terra natal da minha queria e odiada família materna. Vamos encontrar o que precisamos lá.

Olho para as malas nos meus pés.

— Qual é a das malas? Você vai se mudar?

— Sim, depois de uma longa conversa com Nico, ele me convenceu a deixar Londres e ir para um tal de Acampamento Júpiter. Não sabemos o que Éton, o abutre gigante, queria, porém agora ele sabe que existe uma descendente dos deuses muito longe do alcance dele e ele pode, sei la, espalhar para os colegas.

Era tanta informação que achei que desmaiar novamente seria uma boa ideia.

Fiquei observando a estrada pela janela, tentando entender o máximo que déficit de atenção permitia. Nico permanecia os olhos fixos da estrada e Callie cantarolava uma musica aleatória e lia uma revista sobre roupas extremamente caras que a julgar pela sua quantidade de malas e seu antigo emprego, ela nunca iria conseguir comprar.

Sua presença era tão calma que parecia que nos conhecíamos há muito tempo. Ela estava tão relaxada e tranquila que nem parecia a mesma pessoa que estava a ponto de nos colocar para fora do pub batendo na nossa cabeça com uma frigideira.

De repente, o filho de Hades deu um de seus sorrisos psicóticos e apertou alguns botões. Por sorte, eu estava com o cinto de segurança em volta da cintura, serão teria sido jogado em cima do volante quando o carro deu um banque para frente ao entrar e sair repentinamente de dentro de uma sombra.

Assim que a velocidade diminuiu, encostei a minha cabeça no banco da frente e esperei o enjoo passar.

— Tá tudo bem? — disse ela, em seguida deu ombros. —

— Nem um pouco. Odeio viagens nas sombras — murmurei. — Espere, como você pode estar tão “deboas” depois de ter entrado dentro de um buraco negro de tortura e desespero.

— Leo, como é que dizem mesmo? Bem menos... — reclamou Nico revirando os olhos.

— Por quê? Era para eu estar passando mal ou algo do tipo? — perguntou Callie com a cara confusa mais bonita que já tinha visto na vida.

— É o esperado. — respondi chocado.

— Essas coisas não me assustam. Já passei por coisas muito piores que isso. Meus pesadelos não têm a ver com seus deuses e seus poderes divinos. — ela sorriu docemente.

— Quer dizer que não ficou com um pouco de medo quando viu Éton?

— Só achei bizarro e talvez um pouco engraçado. Sua cara desesperada enquanto era levado por aquele bicho era hilária, me perdoe por rir, Leo.

— Não foi nada engraçado. — tentei parecer bravo, mas não deu certo. Então começamos a dar risada.

O ar salgado denunciou que estávamos próximos ao litoral. Mais alguns metros rodados e chegamos a um porto.

Encostamos o carro perto da baia e descemos. Apesar de estar já amanhecendo, havia alguns barcos pequenos e médios ancorados, com as cabines iluminadas.

Callie tirou uma pequeno cartão de papel, igual aqueles cartões de visita.

— Espero que tenha algum barco aqui... — ela começou a andar e procurar ler os nomes de todos os barcos ancorados no cais, até que parou em um de tamanho médio. Callie então bateu as mãos cinco vezes. Automaticamente, um senhor não muito velho saiu de dentro da cabine. Na poupa estava escrito o nome do barco: Princesa Veronica.

Callie começou a falar com ele em espanhol, tentei traduzir e passar para Nico o que eles falavam.

— Este barco pertence à Isla de La Roya, certo? — o homem assentiu e mostro um barsão desenhado na polpa, mas estava escuro demais pra que conseguisse ve-lo. — Preciso que leve eu e meus amigos para lá agora, por favor!

Ele arregalou os olhos e pareceu lembrar de algo. De alguma forma, ela deveria ser familiar para ele. Depois, ele se ajoelhou diante dela.

— É uma honra poder vê-la depois de muitos anos, Princesa Calliope. É admirável o quão tenha crescido desde que deixou nossa casa.

— Sim e agora eu preciso voltar para casa. Pode nos levar até lá?

Estranhamente, o senhor sabia quem era ela. Mas o que mais me deixou surpreso foi ele chama-la de princesa e trata-la com tanto respeito e um pouco de admiração. Como se sua vida pertencesse a ela.

Ele gesticulou para que nós nos aproximássemos:

 — Se aceitarem, meu humilde barco levará vocês em segurança até nossa casa. Ele consegue levar seu carro junto, por favor, se acomodem como quiserem enquanto preparo tudo para partirmos.

(...)

Só depois de um tempo passado desde a partida, me dou conta que já estávamos em alto mar. Callie estava na dianteira, apoiada na borda do barco. Os cabelos voando violentamente com o vento enquanto ela se perdia em pensamentos.

Eu gostei daquele barco, me lembrava o meu amado Argo II/III que havia ficado no acampamento, além do piloto ser um simpático senhor de 50 anos com um bigode engraçado, barriga um pouco grande e uma pele escura como bronze.

O único que estava odiando a viagem era Nico, vira e mexe ele ia até a borda para vomitar. Lembrei que filhos de Hades não se davam bem no mar por causa da rivalidade de Poseidon e seu pai. Ele literalmente estava em território inimigo.

O sol mostrava seus primeiros raios no horizonte quando avistei um ponto se erguendo a frente. À medida que nos aproximamos mais, maior iria ficando até conseguirmos avistar uma ilha por completo.

O lugar estava coberto por uma nevoa marinha que deveria ser comum em alto mar. Era muito grande e em ambos os seus lados, haviam outras ilhas menores um pouco afastadas. Uma pequena faixa de areia cheia de pedras separava o mar de uma densa e alta floresta estranha. Olhei mais pra cima e percebi que um monte gigante e avermelhado era quem expelia a fumaça. Um vulcão ativo.

Entre duas pedras enormes, uma fenda se abria no meio da praia e da floresta, abrindo uma passagem por onde a água do mar entrava. Era “estreito” o suficiente para um barco grande passar. O barco entrou pela passagem e um frio na barriga começou a me encomendar depois que tinha visto um crânio humano enrolado entre os cipós de boiavam nas margens cobertas por pequenas coisas brancas que pareciam papel aos montes.

Estávamos chegando cada vez mais próximo de uma luz e graças a claridade agora era mais fácil enxergar o que estava ao nosso redor.  O barco parou quando chegamos próximo a uma escada de ferro erguida sobre a ponta da margem que subia em ziguezague até um topo de o que parecia ser uma torre de observação. Era uma construção meio quadrada, com uns 5 metros de altura. Havia uma janela escura no topo.

— Quem são esses, Jorge? — perguntou um homem naquele mesmo espanhol arrastado e estranho que Callie e o capitão do barco usaram para conversar. Ele estava parado no segundo degrau e usava uma armadura gigante e pesada de ferro. Em sua mão, estava uma metralhadora complexa e aparentemente perigosa. Como eu não havia visto ele antes?

— Você deveria tratar com mais respeito um membro da família real e seus amigos, Carlos. — disse o barqueiro apontando para Callie, que se aproximou da escada.

— Mil perdões, Princesa Calliope. — Disse o guarda, abaixando a cabeça desajeitadamente coberta por um capacete pesado. — Ajudem aqui, seus molengas! Não veem que a princesa esta esperando?

Haviam outros guardas fortemente armados camuflados em galhos altos das arvores ao redor e mais outros dentro da torre de vigilância. Dois deles estavam começando a descer as escadas correndo quando Callie fez um sinal para eles pararem.

— Não precisa, pessoal. Podemos nos virar sozinhos daqui.  — Ela colocou um pé no primeiro degrau da escada, por causa das ondinhas que viam do mar, o barco balançava um pouco, fazendo ela quase perder o equilibro. Felizmente, o guarda estendeu a mão para ela e a ajudou a sair do barco. — Obrigada. Pode ajudar meus amigos também?

Em seguida, eu e Nico também saímos do barco segurando as malas extremamente vazias de Callie e começamos a subir as escadas. Jorge havia saído com o barco dizendo que iria deixar o carro no portão para cargas que ficava no outro lado da ilha para que colocassem o pra dentro. 

Subimos alguns lances de escada até chegarmos a torre de vigilância. Era muito maior do que imaginava.

Por dentro, ela era aberta. Nas paredes laterais, haviam computadores e telas onde passavam algumas imagens. Havia uma equipe lá dentro, mas ao contrario dos outros guardas que viam, eles não usavam armaduras. Do outro lado, havia uma saída fechada por um grosso portão que levava a uma ponte. No final dela, era possível ver a silhueta de uma cidade mergulhada nas sombras geradas pelo nascer do sol.

— Eu lembro de quando você passou por esses portões para ir embora. Você mal alcançava a minha cintura. — Disse uma mulher parada na nossa frente, com os braços cruzados. — Lembro da velha Rosa puxando seu bracinho enquanto você chorava pela sua mãe.

Ela não era alta, mas aparentava ser muito forte. Assim como o resto dos vigilantes, usava uma espécie de quimono curto verde musgo, porém feito com um tecido mais grosso e que tinha uma calça da mesma cor por baixo. Também usava botas escuras de combate. Seu peito estava cheio de medalhas e metade do seu rosto era coberto por uma mascara escura, mas mesmo assim ainda era possível ver a enorme cicatriz que ela deveria cobrir. Seu cabelo que antes deveria ser totalmente negro agora perdia espaço para os fios brancos.

— E agora eu estou de volta. Sim, sinto saudades de você. — respondeu Callie, suspirando. Pelo jeito, ela iria ouvir aquilo muitas vezes naquele dia.

— Largue de ser mentirosa. Você nunca gostou de mim, ao contrario da sua irmã. Você sempre corria quando eu começa a contar sobre ter esmagado o crânio dos inimigos da minha família, enquanto a pequena Veronica amava.

— Nossa família, General Eva. É que é difícil fazer uma criança gostar de historias sobre esmagar a cabeça das pessoas, mesmo que elas sejam nossos inimigos.  — respondeu Callie, já se irritando com a mulher.

— Você como sempre foi coração mole. Alexie foi esperta em ter te declarado como filha bastarda e não como herdeira legitima apesar de ser a filha mais velha. Você não tem jeito de uma Vega, muito menos sangue e punhos de ferro para isso. Ainda mais por que foi criada pela velha Rosa...

Ao citar o ultimo nome, a voz da General Eva mudou por um segundo, quase soando como um sussurro apaixonado. Aquela mulher tinha um ar imponente. Porem era confuso ouvir ela falar com tanta convicção e intimidade com Calliope ao contrario das outras pessoas, poderia ate dizer que havia um tom de escarnio na sua voz. E eu ainda não havia entendido a parte do “minha família”. Elas eram parentes?

— Acho que já esta bom, precisamos entrar.  — Disse Callie, já impaciente. — Pode abrir o portão?

A general pareceu ignorar a pergunta.

— Quem são eles?

— Ah, esse é..... Leo! Ele é meio irmão da Ronnie, por parte de pai. — Ela apontou pra mim.

— Alexie não falava muito sobre os pais de vocês. Provavelmente o seu deveria ser tão molenga quanto você, sua mãe deveria estar bêbada ou algo do tipo. Agora o da pequena Veronica? Com certeza deveria ser alguém poderoso.

Calliope revirou os olhos. Era um fardo ser comparado aos seus irmãos e detalhe que eu tinha muitos.

— E esse?

— Esse é Nico. É uma amigo dela.

— Best Friend Forever da Ronnie. BFF. Claro. — disse ele pela primeira vez em tempos.

— Tá. Normalmente eu torturaria esses dois até obter informações para saber o que traz vocês aqui, mas ultimamente a coisa tem sido bem entediante. Vou deixar vocês fazerem o que querem. — a Eva deu ombros e riu — Mas andem fora da linha que irei me divertir um pouco depois de muito tempo. — ela apontou para as facas presas em seu cinto e a espingarda pendurada em seu ombro. Vou bem atrás de vocês, nada de gracinhas.

Outro guarda abriu o portão e atravessamos a torre rumo a ponte. Um cavalo bonito preso a uma pequena carroça vermelha e bonita esperava por nós. Alguém se ofereceu para guiar o cavalo, porém Callie disse que poderia monta-lo sem problema e nos mandou sentar no banco de trás. A general cruel havia montado em outro cavalo e seguia atrás.

Por incrível que pareça, Callie era muito boa com cavalos.

A ponte de ferro não era tão longa, mas passava por cima de um enorme fosso escuro, por onde um rio de lava saia debaixo do monte fumegante passava. Gostaria de saber se aquilo era assim por natureza ou se algum louco havia dito a ideia de furar um vulcão ativo e fazer um rio de lava. Mesmo sendo filho do deus dos vulcões, eu definitivamente não sabia o que concluir.

Assim que chegamos ao final, tive a plena certeza que o motivo de nunca ter ouvido falar daquele lugar era porque aquela deveria ser de longe a cidade mais estranha do mundo que não estava no Guinness Book.  


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado e me perdoem se houver erros, não consegui revisar.
E então? O que acharam da nossa personagem nova? E do PoV do Leo? E do mais importante, o capitulo? Bem, me digam nos comentários! Ficarei feliz em saber que ainda tem gente aqui!
Abraços e até logo!



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