Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 16
Estou pronta pra jogar o "cobra-cega" mais perigoso da minha vida


Notas iniciais do capítulo

Oi.... alguém lembra de mim?
Foram longos quase 10 meses sem nenhum capitulo novo, cheio de rascunhos não terminados, bloqueios frustantes, falta de ideias, desanimo e tristeza tanto pra mim quanto pro pessoa que gosta dessa historia (bem, eu presumo que gostem)
Esse capitulo não ira encerrar a batalha como eu queria, mas achei que postar essa "primeira parte" antes como uma forma de atualizar, matar a saudade, encerrar o POV das meninas e criar uma preparação para o fim que essas pobres semideusas terão que ter (e é claro, instigar voce, querido leitor, a ler o próximo e para evitar que o capitulo se torne longo e cansativo por causa da repetição de palavras etc.)
Como disse acima, esse capitulo não terá a batalha final, mas sim a pequena - ta mais pra enorme - introdução a ela! Me inspirei em algumas partes em cenas de alguns filmes e usei bastante referencias, então não achem estranho se algo lembrar alguma coisa (não se esqueçam de falar quais vocês encontraram pra mim para eu confirmar *-*). Apesar do clima extremamento tenso, tentei deixar esse capitulo o mais bem humorado que consegui, mas é claro, seguindo o padrão de JdO, ou seja, com piadas sádicas e bastante humor mórbido.
Não sei se lembram, mas no ultimo capitulo que postei a quase um ano trás (chora), falei que esse seria o ultimo POV da Valentine e o ultimo capitulo narrado por uma das Donzelas de Ouro. O próximo capitulo, o 17, terá um foco narrativo com base na visão de um narrador em terceira pessoa, uma outra forma que encontrei de criar uma "quebra" entre os focos de narração dos capítulos de "Antes/Durante a Jornada" e "Depois da Jornada". Então não se assustem ou coisa parecida, por isso estou avisando com antecedência :D
Bem, chega de falar, o tempo que deixei vocês sem capitulo novo dispensa enrolações (perdão galera, sério mesmo, foi bem dificil pra mim.... :( ).
Agora vamos ler e matar a saudade dessas duas garotas suicidas? Nossas guerreiras de primeira viagem? Preparem o folego, pois, apesar de ser uma introdução, ele é muito agitado e angustiante, e os lencinhos..... Já que mesmo o longo tempo não descongelou meu coração gelado de escritora (minhas meninas vão sofrer novamente u.u ) MUAHAHAHAHAHAHAHA
Boa leitura e aproveitem o ultimo POV de Valentine Laurent, a filha de Hades, vejo vocês nas notas finais ♥

XXXXXXXXX CAPITULO SEM REVISÃO AINDA XXXXXXXXXX



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Don't make me sad, don't make me cry

Sometimes love's not enough

When the road gets tough

I don't know why

Keep making me laugh

Let's go get high

Road's long, we carry on

Try to have fun in the meantime

Come and take a walk on the wild side

Let me kiss you hard in the pouring rain

You like your girls insane

Choose your last words

This is the last time

Cause you and I

We were born to die

(Born To Die, Lana Del Rey)

VALENTINE

Quanto mais nos aproximávamos de uma grande colina, mais a paisagem ganhava uma tonalidade morta: a vegetação perdia a cor e ficava seca, o céu se tornava cinzento e tempestuoso, o solo tão areado que podia sentir a dureza passar pelos cascos do meu unicórnio.

Nós deixaram no sopé da colina, sem antes de uma despedida: nossos novos amigos se curvaram e tocaram o chão próximo ao nossos pés com o chifre, depois se levantaram e relincharam.

— Bem, vocês precisam ir, esta amanhecendo — acariciei a crina do meu e Ronnie fez o mesmo. Esperamos o som dos galopes ficarem distantes para ter certeza de que eles tinham ido mesmo. Tínhamos a sensação que haviam energias ruins ali e não queríamos que nossos novos amigos equinos com chifres mágicos fossem atingidos por qualquer coisa.

— Vamos subir! — disse Ronnie alegremente, tentando afastar a tensão. — Mão na cintura, cabeça erguida, cabelos balançando com o vento e vamos andar marchando como se fossemos invencíveis e que todos não são bons demais para nós! Seja-lá-o-que-tenha-do-outro-lado, não é forte o suficiente para nós!

— Talvez você esteja assistindo filmes de heróis demais, mas se isso tirar o medo e para de fazer minhas pernas tremerem como se estivessem no modo vibrador, eu topo! — qual é, iriamos morrer, deixar isso mais alegre e bem humorado não faria mal. Boas vibrações trazem boas coisas, não é?

E então marchamos confiantemente até o topo... Para então desabar ao olhar para o vale que ficava lá embaixo.

Mesmo sem ter nunca ficado ali antes ou conhecido, nossa reação foi como a da Katniss ao ver as ruinas do Distrito 13. A única diferença era que no nosso caso, estávamos frente a frente com as ruinas do que havia sido o Acampamento Meio-Sangue.

Ainda na colina, um pinheiro enorme morto estava tombado de lado, com as raízes para fora, como se tivesse simplesmente sido arrancado por uma mão gigante como um humano arranca um dente-de-leão do chão. A situação das árvores que cercavam o lugar era semelhante, as folhas no chão entrando em decomposição e em alguns casos, fumaça saia das copas como saia em meio às ruinas.

Um pano sujo estava preso dentre os galhos do pinheiro e uma corrente que cercava o tronco prendi inutilmente uma carcaça de um dinossauro, não espere, aquilo mais parecia um dragão? Olhando mais para frente, víamos colunas gregas caídas sobre algumas ruinas que antes deviam ser casinhas, porém agora só restavam alguns paredes e tetos esmagados. Um riacho que desaguava no estreito de Long Island tinha as águas sujas e canoas quebradas boiavam ali. A antiga arena de lutas estava mais detonada que o Coliseu de Roma e a parede de escalada tombada mais mortal que já tinha visto ainda escorria lava vulcânica pelos blocos de concreto e pedaços de madeira. Como Gaia tinha destruído isso tudo? Bombardeando o acampamento ou simplesmente estalando os dedos?

Ver aquilo me deixava arrasada, se me lembrasse de ter tido uma casa, o sentimento seria o mesmo ao vê-la destruída. Uma mistura de agonia, medo, raiva e indignação apertava meu coração. Naquele ponto, minha pose heroica já tinha ido pelo ralo e agora estava na estação de tratamento de água.

— Valentine, olha! — Ronnie deu uns passos para trás e apontou em uma direção que eu não tinha reparado ainda, onde uma casa grande se mantinha parcialmente erguida. No chão em frente a ela estavam gravadas algumas palavras na terra tão vermelha quanto sangue... Não duvidava nada que misturada a ela havia sangue de verdade.

“Esse é o preço que todos tiveram que pagar ao pensar

que derrotariam tão facilmente a Mãe Terra sem perder nada.”

— Isso é horrível! — Coloquei as mãos em volta da boca para conter o grito, pois com as lágrimas não tinha mais jeito.

— Temos que des-cer — gaguejou Ronnie, seu entusiasmo também tinha sumido.

Demos as mãos e nos ajudamos a ir par baixo, devia ser uma tarefa simples se não tivesse tantos escombros e o fato do chão estar se mexendo sobre nossos pés, como areia movediça. Ver tudo tão de perto conseguia ser ainda pior mesmo já tendo visto tudo.

— O que é isso? Uma cabeça! — ela deu um grito e pulou, esbarrando em mim.

Debaixo de onde seu pé se encontrava há segundos atrás, estava um crânio humano, alguns metros a seguir outra parte da ossada. Observando em volta, percebi que haviam mais elementos dentre a destruição e eles eram esqueletos, não precisava de ninguém confirmar para saber que eles eram o que restaram dos campistas.

Ao contrário do Mundo Inferior, aquele lugar não fazia uma filha de Hades se sentir bem mesmo rodeada de tanta morte. Respirar aquele ar me deixava apavorada e um tanto asfixiada. O mais estranho era o zumbido ressonando nos meus ouvidos, como vários insetos juntos, mas ele foi aumentando e aumentando até se tornar um murmúrio audível, com centenas de vozes humanas choramingando: “O que aconteceu?”, “Onde estou?”, “Esse lugar é terrível! Tire-me daqui!”, “Foi tudo tão horrível, um clarão e então morremos! Quero voltar”, “Gaia vai pagar por isso, por que nos matou?”, “É tudo tão horrível” e muitas outras, todas sendo ditas ao mesmo tempo. Pedidos de desculpa, lamentos, choros e até mesmo arrependimentos. Só a morte era capaz de revelar sentimentos profundos e secretos. As vozes pertenciam aos semideuses mortos, porém não sentia a presença de suas almas ali. Deviam estar presos do Tártaro, porém suas — antigas — emoções continuavam presas em seu leito de morte e antiga casa.

Duas pessoas inocentes se sacrificando voluntariamente para trazer mais de cem que se foram por causa de uma maldição. Esse era o nosso preço a pagar para reverter o preço que os outros semideuses tiveram que pagar por culpa de Gaia, no caso, com suas vidas.

— Tínhamos que lutar com alguma coisa para completar a Jornada de Ouro, até agora não estou vendo nada — comentou Ronnie.

Tirei as mãos das orelhas que tentavam abafar o ruído das vozes. — Matar algo e morrer fazendo isso, só não me lembro o que era...

Um grasnado familiar me chamou a atenção. Em uma coluna torta, uma ave negra estava empoleirada, observando tudo. Eu conhecia aquele corvo. Era o meu corvo.

Como ele havia conseguido sair da sua gaiola improvisada que era um cesto de roupas em Las Vegas e nos encontrado aqui? Em Long Island? Do outro lado do país?

Seus minúsculos olhos negros encontraram os meus a apesar da distancia e grasnou. “Você não pode simplesmente se livrar dos seus fantasmas”. A mensagem era clara. Depois disso, voou e procurou um galho ainda mais afastado, provavelmente pressentindo que algo ruim iria acontecer e bem, ele estava certo.

— Sabe, uma recepção mais calorosa não faria mal e tipo, eu nem estou falando de DJs, gente com coras de flores dançando e um cara sarado seminu saindo de um bolo gigante, mas isso aqui já é demais! Esse lugar esta largado aos corvos — resmungou Ronnie — Literalmente.

Subitamente, um urro furioso interrompeu minha resposta antes mesmo de dizer ela, uma mão enorme brotou de um pedaço de terra não muito a nossa frente, seguida por um corpo com... aquilo eram mesmo 6 braços?

Aquela coisa era tão grotesca que não queria me dar ao trabalho de descreve-la e definitivamente eu não sabia se era pior encarar aquele rosto deformado ou aquela tanga imunda que usava (sendo que ela era a única coisa que ele usava).

— Espero sinceramente que esse não seja o tipo de recepção calorosa que você esta esperando — por fim eu disse, engolindo em seco.

— Nem de longe — vi ela agarrar o cabo da adaga que agora estava em forma de espada, em um gesto de precaução.

— Evite fazer movimentos bruscos porque ele pode não enxergar direito com esse olho remelento... — devia ter dito isso um pouco alto demais, pois aquele lutador-de-sumo-feito-de-terra-duas-vezes-maior-que-um-humano-normal-e-com-seis-braços pareceu ainda mais irritado e agarrou duas pedras que pareciam bem pesadas com os múltiplos braços e lanço-as simultaneamente em nossa direção — ABAIXA!

Empurrei Ronnie e me joguei contra os escombros que cobriam o chão, desviando dos pedregulhos que ele jogava em alta velocidade e que junto com o peso poderiam fazer um belo estrago se encostassem em nós.

— Acho que você machucou meu ombro — disse ela tentando se levantar.

— Você me deve um obrigado por não ter sido esmagada por uma pedra.

— Ta, mas o que vamos fazer agora?

Por mais que estivesse com muita vontade de dar meia volta e correr para longe dali, eu sabia que tinha a obrigação de completar minha missão, e fugindo como uma covarde jamais me ajudaria a fazer isso.

— Estamos usando armaduras, temos espadas em nossos pulsos, então o que acha que devemos fazer?

— Chutar os traseiros dos carinhas malvados! — ela sorriu de maneira “psicopaticamente” louca que por um momento pela primeira vez me fez ter medo daquela garota.

Voltamos a encarar cara-a-cara aquele ser monstruoso. Ronnie fez um sinal para mim indicando que queria começar a brincar primeiro — e eu nem fiz menção de opor contra isso. Em seguida, saltitando rapidamente ela se lançou com a espada contra ele, tentando corta-lo ao meio como aqueles golpes dos filmes, porém a pela do monstrengo parecia ser feita de barro endurecido, o mesmo conseguiu segurar a espada ainda em movimento com o braço superior direito enquanto agarrava Ronnie pela cintura e a jogava longe como se fosse uma boneca com o braço inferior esquerdo.

Estava petrificada com a agilidade e força da defesa, torcendo para que a filha de Hefesto não tenha sofrido nada mais que um arranhão pequeno — o que seria muito difícil de acontecer —.

Jogando a espada em um canto como um graveto, ele começou a bater no peito com ambos os membros, numa tentativa bizarra de imitar o King-Kong.

— Isso é tudo o que vocês têm? Pois de Donzelas de Ouro estão mais pra “donzelas em perigo”! — Cuspindo no chão, ele carregou mais uma leva de pedras prontas para serem lançadas. — Você e sua amiga são praticamente um insulto às forças de defesa da Mãe Gaia!

Senti meu sangue subir ao ouvir aquela anomalia dizer nossos títulos com tanto desdém.

— Então você admite que é o típico brutamontes que bate em garotas? Agora serei que eu lhe ensinarei a nunca mais erguer qualquer um dos braços contra uma! — Respondi a altura.

Desviei de vários arremessos usando meus reflexos ágeis e talvez um pouquinho de ajuda das sombras, mesmo assim continuava a ser um pouco cansativo. Contra-atacar no meu caso seria ainda pior. Em uma breve olhada, percebi que a espada de Ronnie não estava mais aonde tinha sido jogada, muito menos próximo, assim me veio por um momento à ideia de que ela poderia ter usado seus poderes magnéticos para recupera-la.

Senti um calor agradável percorrer a mão que que segurava Fatal, percebendo que ela... brilhava?

Valentine, eu não faço a mínima ideia de como to fazendo isso, mas devem ser as adagas e, bem, elas podem virar outras armas!”

Me senti mais aliviada do que assustada-barra-surpresa com o concelho que Ronnie tinha me dado pela minha mente. Se isso era possível, então aquelas adagas tinham realmente algo a mais!

Enquanto aquele ogro feito de terra recarregava suas munições, toquei o botão de diamante do punho da adaga magica, que instantemente se transformou em um arco e aljava cheia de flechas de ferro estigio, assim como meu antigo arco.

Mostrando que não havia desaprendido depois de tanto tempo sem usar um desses, atirei contra um rochedo que vinha em minha direção. A única flecha não só a interceptou, como a reduziu em míseros pedregulhos. Bastou apenas um tiro para saber que o meu novo brinquedinho e as suas flechas eram muito superiores aos antigos que tive.

Assim que fui redescobrindo a técnica e a maior velocidade com os disparos, fui conseguindo parar todas as pedras que eram colocadas no caminho. Insolentemente a versão malvada do Coisa do Quarteto Fantástico resolveu que era hora de jogar sujo e disparar mais de um rochedo por vez.

Tudo podia estar indo sob controle até que a aljava se mostrou um inferior a antiga, já que mesmo as fechas sendo retornáveis, elas demoravam muito para fazer isso e cá entre nós, meus projeteis estavam acabando. E recolher as que estavam caídas no chão era algo completamente fora de cogitação no momento.

Me restavam apenas duas para despedaçar seis pedras que iriam ser atiradas contra mim de uma vez sem piedade quando um grito furioso cortou os sons da luta.

— Isso é pra você na próxima vez que ira jogar alguém no chão, faça com que esse alguém essa a sua Mãe Gaia! Seu grande filho da mãe! — Ronnie apareceu saltando sobre suas costas e com um machado de bronze celestial com lamina dupla simplesmente o transformou em uma pilha de areia ao meio enquanto estava distraído demais calculando qual seria o ângulo perfeito para me acertar em cheio.

— Como você... Esta bem?

— Eu? Melhor impossível! Quem não esta nada bem é o chão com o buraco causado pelo meu impacto! — Ela riu.

— Mas como é possível? Você esta ilesa...

— Acho que quando minha mãe dizia que tinha pele de bronze, ela não queria apenas se referir à cor dela... — suspirou ela, com o instalar de dedos seus, as flechas caídas no chão se reunirão como se estivessem atraídas por um mesmo imã gigante, ela as pegou e me entregou — Isso deve ser seu.

— Valeu, não lembrava que seus poderes tecnopatas iriam atém de dispositivos mecânicos ou eletrônicos...

— Também tenho magnetismo telepático, talvez por causa do meu legado, deus dos ferreiros e tal. Posso comandar metais também. — deu uma pausa. — Mas, pensando agora, será que era só esse? Quero me referir aos monstros.

— É muito difícil. Ele disse que “éramos um insulto às forças de Gaia”, no plural... Então deve ter mais.

— A menina esta certa, há muito mais de nós da onde esse veio... e todos querem se vingar pelo nosso irmão! — Olhamos para o outro lado, onde mais dois seres idênticos aquele que havíamos acabado de matar caminhavam em nossa direção, um carregava um bastão pesado feito de madeira e outro um escudo de pedra.

— Agora um pra cada uma — murmurou Ronnie.

Coloquei uma seta na mira e atirei naquele que carregava o pedaço de árvore, mas o outro colocou o escudo na frente do irmão e pegou a flecha que ficou presa nele. E sem fazer nenhum esforço a mais... Ele simplesmente a partiu ao meio.

Sem hesitar dessa vez, partimos em direção a um ataque, dessa vez invertamos nossos oponentes. Ronnie estava lutando para quebrar aquele grossíssimo escudo com o machado e ao mesmo tempo desviando de socos vindos dos múltiplos braços do seu pequeno gigante.

Comecei a correr feito uma garotinha.

Afinal, eu era uma garotinha.

Não sabia para onde estava indo, só sabia que estava correndo o mais rápido que aquelas sandálias apertadas permitiam correr, saltando pedras, colunas tombadas, barras de ferro retorcido, pisoteando ossos e crânios, desviando de pedaços de armas quebradas cujas laminas ainda eram perigosamente afiadas e enferrujadas.

Ao longo da corrida, fui percebendo que estava fora de forma ou aquele acampamento era enorme. Infelizmente, aquelas criaturas conseguiam até mesmo quebrar as leis da física, mesmo sendo tão grande e pesado, um ainda conseguia correr muito. Acredito que apenas isso justificava o fato dele estar basicamente na minha cola.

Havia adentrado no começo da floresta que cercava o terreno quando pensei em fazer a coisa mais inteligente que me passou pela cabeça. Aquelas arvores tinham galhos altos e pareciam fortes o suficiente para suportar alguém em pé, para fazer essa travessura precisei apressar o passo para ganhar tempo para começar a escalar.

Apesar dos urros monstruosos estarem próximos, eu tinha que me manter calma, apesar das mãos tremerem tanto quanto um celular no modo vibratório. As pequenas lascas e calos que se formavam nas palmas enquanto eu tentava subir atrapalhavam e doíam, mas eu precisava conseguir alcançar o galho mais próximo. Segurando o choro e o grito, consegui alcançar e pular para um galho maior onde poderia me equilibrar em pé com maior facilidade. Meus batimentos cardíacos estavam muito acelerados. Minhas juntas pareciam endurecidas pelo pavor, apesar de eu estar em um local seguro onde podia usar melhor minhas habilidades como arqueira.

Cansado das tentativas falhar de tentar subir, o gigante agarrou a parte mais baixa do tronco e forçou para ambas as direções, tentando arrancar a arvore inteira pela raiz. Por muito pouco quase não perdi o equilíbrio e cai, mas conseguir me segurar. Sem muito esforço, logo ele conseguiu arrancar a arvore do chão enquanto a sacudia violentamente, tentando me fazer soltar como um gato pendurado em alguma coisa. Eu tinha que aguentar, precisava segurar com mais força.

Impaciente com a minha insistência, ele começou a bater o pé ritmicamente no chão. Até mais outro daquelas criaturas surgir da terra pra ajudar o irmão a me fazer cair.

— Parece que a gatinha não quer descer.... — disseram ambos em uníssono antes de se concentrarem e segurarem juntos o tronco como se fosse um daqueles equipamentos de levantar peso de academiar. — Que pena! Nossa adormecida Mãe Terra nos ensinou a dar um jeito em gatinhas mal criadas!

Mal tive tempo de pensar em descer até ser lançada junto à árvore para longe. Soltei meus braços assim que vi que iria ser prensada em questão de segundos contra mais outro conjunto de árvores colossais. Antes mesmo de chegar ao solo, fui pega no ar por enormes mãos que me apertavam com força, comprimindo meus órgãos e quase quebrando meus ossos.

— Vocês não se importariam em dividir ela comigo também, não é? — Perguntou o terceiro, que também deveria ter surgido da mesma forma que seus irmãos. Assim que exclamações animadas foram soltadas, novamente já me encontrava no ar e em seguida, com as costas dolorosamente colididas com troncos caídos. Felizmente consegui abrir os olhos a tempo de perceber um bastão ser empunhado em minha direção e rolar para o lado.

Minha cabeça seria esmagada novamente se não fosse por um reflexo automático que me fez agarrar o arco e usar para bloquear um punho feroz. Desta vez, tinha um novo agressor menor que os outros. Provavelmente era por causa disso que estava conseguindo força-lo para longe de mim, apesar daquelas coisas serem muito fortes.

Mesmo que não estivesse sequer passado na minha mente sair dali, era impossível derrotar tantos ogros de barro ao mesmo tempo, principalmente quando se esta quase totalmente quebrada.

— São Nascidos da Terra! Acabem com eles logo antes que o numero deles dobrem e fiquemos em desvantagem! — Ordenou uma voz feminina e poderosa, digna de uma líder — Tropas, atacar!

— Mas isso não é uma tropa! — questionou outra.

— Frase de efeito!

Eu devia ter batido a cabeça vezes demais. Aquilo não poderia ser a voz de Elleanor McLuckyhill, a líder do antigo Acampamento de Trailers e aqueles gritos de guerra e laminas de batalha em choque com outras armas não eram feitos por um grupo de reforços. Era apenas uma ilusão boba causada pelo resto de esperança tola que ainda existia em mim. Era impossível alguma coisa assim acontecer.

Tão impossível quanto ver uma motocicleta Vespa feita de bronze passar por cima daquelas coisas e reduzi-las a apenas poeira.

Tudo acontecia rápido demais ou eu estava perdendo os sentidos?

— Isso foi um strike?

— 5 pontos para nós.

Senti meus braços sendo puxados e meu corpo levantado. Minhas juntas doíam como se estivessem colocadas com supercola. Permanecer de pé era mais difícil do que esperava numa situação dessas.

— Sinceramente, eu gostaria de poder reencontra-la em uma situação e ocasião um pouco melhor, Ma Chère Valentine.

Um familiar garoto asiático com feições irônicas me puxou para um abraço. Apesar de nunca termos trocado mais de cinco frases, era meio reconfortante rever Greg Takashi. Porém antes de eu sequer pensar em fazer uma pergunta, Ronnie começou a tagarelar — muito — rapidamente.

— Você não vai acreditar no que aconteceu! Num minuto eram dois desses monstrengos e no outro eram vários, eu estava seriamente encurralada até que eles apareceram em uma daquelas esferas de energia gigante do nada!

— Thomas usou seus poderes de filho de Hecate para criar um feitiço que pudesse teletransportar alguns de nós para cá com o preço de se conseguirmos salvar vocês, ele tem que receber um beijo da Valentine... — me resumi a revirar o olhos seguidamente e sorrir involuntariamente até que as risadas aquelas duas hienas cessassem.

— Agora eu faço questão de sobreviver para ver isso. — Comentou Ronnie, tirando sarro da vermelhidão que se espalhava pelo meu rosto.

Juntos seguimos de volta ao centro dos escombros, onde uma outra batalha atingia o seu ápice. Deviam ter cerca de 10 pessoas contra o dobro de gigantes. Apesar de nunca terem frequentado o Acampamento Meio-Sangue, aqueles semideuses eram muito bons, apesar de serem filhos de deuses menores, isso não tirava sua grande habilidade de combate, mas isso não nos impedia de apanhar de volta.

Meu olhar automaticamente se pôs a buscar alguém naquele monte em golpes, ruinas e monstros. Ansiosa para localizar alguém totalmente vestido de preto, porém só consegui ficar decepcionada por não vê-lo.

— Ele queria estar aqui Valentine, tenha certeza disso. — Disse Greg, incrivelmente sério demais — Depois de deixa-las em Las Vegas, ele descobriu o que aconteceria com vocês e tentou impedir...

— Porém algo aconteceu, Nico foi pego pelas próprias sombras e desapareceu. Sentimos muito pelo que aconteceu com vocês naquele lugar horrível, de verdade — Elleanor veio a nossa encontro. Um fio de sangue descia de sua testa e se misturava aos seus cabelos vermelhos. Um par de facas mantinham-se alertas em seus punhos. — Acreditamos que Hades tenha o impedido de mudar o destino, com medo das consequências que uma mudança poderia causar a Jornada e facilmente afeta-la.

Não me deixei não parecer abalada com aquilo. Como meu próprio pai havia impedido meu irmão de tentar nós salvar de sermos brutalmente torturadas e quase violentadas?

— Como ele sabia... — Ronnie foi a primeira a dizer alguma coisa, suas sobrancelhas franzidas, dentes a mostra e punhos cerrados deixava sua irritação bem clara.

— O caderno de desenho que ele carregava... Toda a Jornada de Ouro estava desenhada e descrita nele. Ele sempre soube de tudo, por isso ele guiava vocês.

— Aquele miserável... ele sabia de tudo e mesmo assim nós forçou a fazer isso? Mesmo sabendo o que aconteceria com a gente? E não tentou fazer nada para impedir? — Ronnie explodiu de raiva, seu sangue havia subido a ponto de dar um tom quase roxo a sua pele negra. Sua moto mudou de forma, para um gato raivoso. Os olhos feitos de rubi do Caça-Trufas tinham um brilho sombrio e assassino. Senti meu arco ficar estranho, como sua matéria de ferro negro tivesse entrado em algum campo magnético. Algo semelhante parecia acontecer com as facas da Lider do Acampamento de Trailers. Os poderes magnéticos de Ronnie se ativavam quando seu corpo mostrasse uma sensação que não fosse normal.

— Calma, Vega. Vocês aceitaram participar da Jornada, sabiam que poderiam acontecer coisas ruins e mesmo assim, Nico não poderia interceder, muito menos avisar, repetindo: alterar um destino que esta definido pode resultar danos inimagináveis em toda a historia cronológica. — Repreendeu Elle com sua voz altamente severa, suficientemente forte para fazer o autômato de Bronze abaixar as orelhas e a garota recuar um pouco, assustada. — Eu entendo sua revolta, mas ela deve se voltar aos deuses, não o garoto.

Então ela ergueu o rosto para o céu, como se estivesse disposta a voar e buscar os olimpianos para esfregar seus rostos divinos no asfalto.

— Eu já estou cansada disso. Milhares de anos e vocês nunca irão mover seus grandes traseiros divinos para mudar a historia? Ou quanto mais centenas de semideuses terão que sofrer e morrer para que vocês façam isso? Vocês são deuses, porra, podem fazer qualquer coisa! — Gritou ela. Um trovão fez a terra tremer. — O que foi? Vocês são poderosos o suficiente para ouvir a verdade? Só quero lembrar que durante todos esse séculos, suas lutas só foram vencidas por que semideuses se sacrificaram e ajudaram a vencer, e mesmo assim continuam não se importando conosco a ponto de manipular e controlar os outros para que as coisas saiam do jeito que querem, mesmo que a gente se ferre? Nos privado até mesmo da droga da verdade! Custava ter falo desde o começo? A gente ainda lutaria para completar a Jornada, não importa, mas custava ter contado tudo? Porque quem sabe assim nós poderíamos ter nós preparado para suportar o trauma de ser torturadas, queimadas e quase ter nosso corpos violados e talvez nós tivéssemos se preparado psicologicamente pra aguentar esse choque!

Nenhuma resposta.

Ultimamente era normal ver Ronnie começar a surtar por qualquer motivo, com certeza era resultado da pressão psicológica a que fomos expostas enquanto éramos bonecas nas mãos da O.R.D.E.M, por isso não me surpreendi.

— Olha criança, eu te entendo, entendo perfeitamente, até porque eu passei anos inteiros da minha vida pensado exatamente isso há. Querer lutar contra os deuses não resolvera nada, até porque eles são deuses, você nunca conseguiria chegar nem perto antes de te pulverizarem com um comando. — Continuou a líder — Mas uma boa ideia para confronta-los e mostrar o quanto você é superior aos Olimpianos é completando a Jornada de qualquer jeito. Vocês sofreram tanto nela, ir até o final é uma clara forma de desafio, desafiar a si mesmas, ir até o final de algo que te fez tão mal e sem se arrepender pode provar as quão corajosas e heroicas são, além de tentar pesar na consciência deles. O que acha?

Ronnie fez menção de pensar apenas para disfarçar que iria pegar o machado. Elle ficou muito assustada acreditando que seria atacada e desviou até a arma foi lançada como um bumerangue que atingiu em cheio a testa de um Nascido da Terra que estava atrás dela.

— O que estão esperando? Vamos lutar!

Assim que ela terminou de falar, mais cinco criaturas deram as caras. Ronnie e Greg logo se puseram na dianteira, visando o fato de que eu ainda não podia lutar tão repentinamente. O filho de Momo conseguia prender a atenção dos monstros fazendo piadas ou falando algumas coisas que os deixavam irritados, distraindo-os o suficiente para que Ronnie conseguisse derruba-los sem que percebessem. Ambos trabalhavam como uma dupla incrível e então se juntaram ao resto do grupo. O numero

— Vem cá, vou ajudar você — disse Elle, segurando meu braço dolorido com cuidado.

— Espere, como conseguiu fazer ela..?

— Foi fácil, cuido de quase 20 semideuses filhos de deuses menores, estou acostumada a ouvir discursos parecidos. — terminou com um sorriso, que logo se fechou com uma expressão séria. — O que pensa que estava fazendo?

— Como é?

— O jeito que você esta lutando, esta fazendo errado e é perigoso. Minha experiência gerou conhecimento acerca dos semideuses e graças a isso eu percebi que existem diversas formas diferentes de nós nos posicionarmos na batalha levando em conta nosso legado. E não seguir isso pode dificultar as coisas.

— Aonde você quer chegar, Elle?

Ela virou o pescoço em direção a um semideus que tivera sua única arma — uma espada pequena — arrancada de sua mão por um Nascido da Terra. As pupilas da líder brilharam em um verde ainda mais intenso, fazendo com que a criatura derrubasse a espada no próprio pé, se desintegrando em seguida.

— Que azar — riu ela — Como eu iria dizendo, você pode ser mais útil lutando de um jeito do que lutando como outro. Você já viu seu pai, Hades, estar na dianteira de uma batalha junto com os Olimpianos? Não, claro que não. E quando ele raramente esta disposto a lutar ao lado de seus irmãos, ele sempre faz isso pelas sombras, literalmente, sempre na parte de trás, longe do furacão da batalha, onde seus poderes ficam mais claros e mais fatais para seu inimigo. Agora entende o que estou tentando te falar?

— Você acha que se eu lutar pelas costas... eu posso me sair melhor? Lutar por trás, quero dizer, enquanto Ronnie luta sozinha na dianteira?

— Usar um elemento surpresa em um combate é essencial, e você é o elemento surpresa, minha querida. Ambas precisam bolar uma estratégia. Eu sei qual será seu grande inimigo no embate final, vou adiantar que vocês terão que aprender a deixar de enxergar com os olhos...

Elle mal pode terminar de explicar quando um impulso a arrastou para trás. Um gigante havia se aproximado de nós sem que percebêssemos durante a conversa. A ação repentina deveria ter me deixado sem ação, mas graças ao balde de água fria que a filha de Tique havia jogado sobre mim, não hesitei em fazer o que ela falou. Fui me esgueirando pelas arvores próximas enquanto ela se debatia e tentava acerta-lo com as facas.

Soprei a franja que insistia em cobrir meu rosto antes de mirar minunciosamente e acercar o alvo bem em cheio. Tentando retirar a flecha cravada em um de seus olhos com seus múltiplos braços, o monstro soltou Elle desesperadamente, a mesma mal chegou a tocar no chão quando o nocauteou com dois cortes de faca em ambas as pernas dele.

— Eu não disse? Você se saiu muito bem! — disse ela, espanando a poeira da armadura.

— Você premeditou tudo isso?

Elle pensou um pouco antes de responder:

— Por incrível que pareça, não.

— Aconteceu alguma coisa? — A Dupla Dinâmica veio até nós ofegantes. Greg guardava o que restava suas estrelas ninja nos bolsos enquanto Ronnie tentava remover a terra encrustada na ponta da lamina do seu machado com as unhas.

— Nada que valesse a pena não perder — Respondeu a ruiva.

Um rapazinho saiu do meio da nuvem de poeira onde o conflito acontecia fervorosamente. Eu tinha o visto uma vez, no Acampamento de Trailers, porém não sabia seu nome.

— Elle, quer dizer, Comandante Elle! — Ele fez um gesto militar com a mão na testa, devia ter 13 anos. Uma criança lutando para nós ajudar — Precisamos de uma estratégia urgente! Os Gegenes voltaram a se multiplicar, estamos entendendo em uma desvantagem gigante!

— Imagino, Milles. — Ela o abraçou e puxou para mais perto do corpo — Meninas, acho que é hora de vocês começarem sua própria batalha. Pelo que eu vi sobre o futuro de vocês, ela se inicia em uma parte subterrânea do acampamento construído pelos meios irmãos de Ronnie. Greg, você pode escolta-las e ficar de guarda para que nenhum Gegene resolva atrapalhar? O que elas terão muito trabalho para enfrentar seu inimigo, não podem se distrair ou será pior. Além do mais, você sabe onde fica.

— Sim senhora, vamos. Algo grande as espera, literalmente. — Chamou a prole de Momo, dando risadinhas na ultima frase, mas fechando a cara em seguida, como se lembrasse de algo triste.

Antes de seguir ele, fomos surpreendidas por um abraço de urso de Elle, quase fomos afogadas por suas lagrimas.

— Conheço vocês muito pouco e há tão pouco tempo, mas logo me apeguei. Queria ter tanto a oportunidade de ter cuidado de vocês como cuidei dos meus pupilos. Obrigada meninas, teríamos todos nos que nascer várias e várias vezes de novo para recompensar tudo o que fizeram e vão fazer pelo resto dos semideuses.

— Mas Elle... Por que você esta chorando...? — Perguntou Ronnie.

— Você sabe o que acontece lá embaixo, não sabe? — Eu disse.

— Não cabe a mim falar. — Respondeu ela por fim.

Apenas balancei a cabeça e dei os ombros, em sinal de entendimento. Ok, era realmente melhor não saber, apesar de ter uma pequena suposição sobre isso.

Demos um breve aceno de despedida antes de seguir Greg rumo a um conjunto de pequenas construções derrubadas. Deveriam ser o que foram os antigos chalés.

— Greg? — Eu não iria sossegar até descobrir a verdade, admito. — Você também sabe o que vai acontecer, não?

— Pergunta difícil, doce parisiense. Mas acho que não posso contar, é um spoiler. Qual a graça de receber um spoiler? Quando você for viver isso não haverá tanta graça porque você já saberá o que ira acontecer!

Decidi interpretar isso como uma confirmação da minha suposição. Nós iriamos morrer, estava no caderno, então é realmente verdade. Mas infelizmente, isso doeu em mim mais do que eu imaginaria.

— Acho que o Chalé 9 é esse aqui. Existe uma escada que leva diretamente lá pra baixo em algum lugar dele. — Informou o guia

— Ai meu santo hefestinho, olha só quanta coisa tem aqui! Esse lugar deveria ser incrível quando estava inteiro! — Disse Ronnie futucando os escombros a procura de algumas coisas junto com o suricata Caça-Trufas jogadas no chão. — Qual é pessoal, eu só estou pegando umas lembrancinhas que sobraram, não custa nada, podemos até mesmo precisar para usar — completou resmungando, enquanto enrolava um grande cabo de bronze em volta da cintura, guardava parafusos e outras coisinhas dentro dos bolsos e ainda de quebra, guardando ferramentas que ainda estavam inteiras no compartimento de objetos do autômato.

— Eu amo essa maluca. Ela é incrível. — comentou Greg. — Quero ser como ela quando crescer.

— Fala sério. — revirei os olhos.

— Ah sim, esqueci de contar algo que você gostaria de saber. Esta vendo aquelas ruinas escuras dois chalés adiante, com pequenas chamas verdes espalhadas. — Disse, apontando para o local indicado. — Aquele é o chalé do seu pai, ou melhor, o que deveria ser seu chalé.

— Wow... — Fiquei um tempo olhando para ele, imaginado em como seria se estivesse inteiro e qual a sensação de morar nele.

— Isso explica o mal gosto pra decoração. — Ronnie cortou a minha linha de pensamento. — Até porque, quem é louco o suficiente de combinar tijolos negros com fogo grego como enfeite nas paredes??????

— Na verdade, acho que foi o Nico que ajudou a construir. — Obviamente, o Bobo da Corte pessoal da Rainha das Piadas Ruins não conseguiu aguentar a risada.

— O que é ainda pior. Eu realmente espero que isso não seja hereditário, ou terei que arrumar meu circulo de amizades. — alfinetou a garota.

“Por que Zeus não agiliza as coisas e apenas joga um raio na minha cabeça? Me pouparia de aguentar esse tipo de coisa!”, pensei.

— Vocês vão ficar fofocando como duas tagarelas ou vão procurar uma escada que nos leve pra onde devemos ir?

— Quando se estamos perto de uma despedida, todos os precisos segundos devem ser gastos falando mal das pessoas como se resultasse num prazer divino. — Eu não sabia se essa maneira de Greg de dizer as coisas era herança da sua mãe ou era por profissão mesmo.

— Você errou, Ninja Sarcástico, nós apenas comentamos os defeitos das pessoas. Não acho que exista algo de mal nisso. — corrigiu Ronnie. — Gente, olhem só!

Seu pé batia ritmicamente contra uma espécie de tranca de uma passagem de alçapão parcialmente coberta por terra.

— O que estamos esperando? Vamos abrir! — Juntos nos pusemos no trabalho de limpar a passagem o máximo possível até conseguirmos abri-la com um enorme rangido. Pedrinhas que prendiam-se na lateram caíram dentro do buraco estranhamente claro, e aparentemente afundaram na água.

Ronnie e eu nos entreolhamos, num misto de curiosidade e receio.

— Você não disse que os Vega eram basicamente reis? Então acho que seria muita desconsideração da minha parte deixar uma verdadeira princesa de sangue azul ficar em segundo lugar! Pode ir na frente. — fiz uma reverencia exagerada.

— Só faço isso porque você tem grandes problemas com água a ponto de preferir uma mangueira a um chuveiro e um chuveiro a uma banheira de hidromassagem, senão te empurrava daqui mesmo. — resmungou ela, se preparando para descer pela escadinha de ferro.

E nossa amizade se resumia em uma saudável sequencia de insultos, trocas de farpas e brigas que terminavam com risadas acompanhas de milk-shake de morango.

Logo seu corpo foi descendo e desaparecendo na profundidade obscura, até que possamos ouvir seus pés chegando ao chão, ou pelo menos eu achava que era ele. Caça-Trufas não demorou muito para pular trás de sua dona e depois seria eu.

— Pode ficar mais calma, Valentine. A escada termina em um banco de areia que é grande o suficiente para você “aterrissar” sem que toque na água a uns centímetros, que para falar a verdade, é bem funda.

— Boa sorte. — desejou Greg, sendo sincero.

— Obrigada. — Então, comecei a descer lentamente, sendo engolida pela escuridão e pelo cheiro de água parada de um pântano. Antes de chegar ao final da escada, Ronnie me ofereceu sua mão para que eu me manteasse equilibrada até que terminasse. Estava certa quanto ao lugar: a escada terminava mesmo em um pequeno banco de areia cercado por água hora parada/hora tremulante. Ela só havia me esquecido de contar que aquela galeria subterrânea era uma bizarra mistura de rede de tuneis iluminados por lâmpadas elétricas nas paredes cimentas tomados por um pântano que sabe lá Zeus como crescera ali.

Havia plantas e pequenas arvores retorcidas assustadoras cobertas de musgo, cipós que muitas vezes tocavam na água e barulhos de criaturas estranhas. Parecia o lado sombrio da Mãe Natureza, ou seja, só podia ser fruto dos poderes negros de Gaia.

— Esse aqui é o ambiente perfeito pra uma cobra gigante, porém não para guerreiras gregas! Já sei, Caça-Trufas! — ordenou ela — Comando 79!

— Como você consegue memorizar todos esses comandos e o que eles fazem? — perguntei.

— Eu não memorizo. Falo com ele mentalmente e mostro o que eu quero que ele se transforme. Isso é apenas uma frase de efeito sabe? Pra deixar mais legal. E olha lá, bom garoto!

Diante de nós estava uma pequena barca dourada flutuando. Ronnie não hesitou em subir em cima dela com um pulo, dando batidinhas na lateral enquanto se acalmava.

— Totalmente seguro, agora vem, mas antes pegue esses dois troncos finos ai estranhamente caídos que servem perfeitamente como remos.

Peguei os galhos e tentei subir no barco com um pé de cada vez, quase colocando meu coração pra fora quando o mesmo deu uma pequena inclinada e pensei que iria cair dentro da água. Porém minha melhor conseguiu me puxar para dentro antes que acontecesse.

— Por pouco, foi por muito pouco... — Murmurei apreensiva, tentando manter meus nervos em controle.

— Agora pegue um galho, use o para remar e direcionar o barco. E se estiver com medo dessa paisagem horrível, finja que estamos em um passeio romântico numa gôndola pelos famosos canais de Veneza. — Juntas, começamos a remar, direcionando para frente e posteriormente à direita, onde o túnel se abria estreitamente num caminho mais longo.

O estranho rio se agitava à medida que passávamos junto com a vegetação que estava sobre ele. Pela altura em que o tronco se mantinha molhado, a profundidade não devia passar de 50 centímetros, o suficiente para me ficar com todos os fios de cabelos arrepiados de medo.

— Silencio... — Reclamou Ronnie.

— Melhor assim, qualquer som pode ser um tipo de alerta soando como “Ei! Estamos aqui, porque você não vem e nos faz de aperitivo!?” — Respondi

— Faz sentido.

De repente, algo fez o barco perder a velocidade, o remo ficou mais pesado, como se só eu estivesse empurrando.

— Ronnie! Você não vai ajudar?

— Estou tentando! Mas parece que meu remo esta preso! — Ela forçou até que conseguisse solta-lo, fazendo a embarcação dar um solavanco pra frente. — Que estranho.

Não demorou muito para algo semelhante acontecer em seguida, porém dessa vez foi comigo. O pedaço de madeira parecia estar sendo segurado por algo debaixo da água, tentei puxar de volta com força, porém isso foi um tremendo erro, já que fui puxada de volta e por muito pouco, não fui jogada pra fora da canoa.

— O que esta acontecendo!? — exclamamos em uníssono.

A resposta não veio em palavras, mas sim em galhos e cipós avançando em nossa direção. Plantas tentando nos derrubar e agarrar violentamente. Usávamos nossas armas-multifuncionais em formato de espadas para tentar cortar todo aquele monte de mato assassino, porém ele conseguia crescer numa velocidade cada vez maior.

— Temos que pular! — gritou Ronnie. — Caça-Trufas não vai aguentar, estão tentando desmonta-lo!

— Pular? Na água? Esta louca? — respondi.

— Louca estaria se resolvesse continuar lutando contra essas coisas! Não é tão fundo! Vamos conseguir, eu seguro você! — com um golpe, podou três cipós pontudos em nossa direção antes de sair do barco e saltar na água. Em seguida, estendeu a mão para mim. — Pode vir!

— Nem pensar! — continuei a cortar galhos como uma louca, mas parecia que a cada um cortado, mais três surgiam. Já estava sem folego quando um daqueles veio de supetão e agarrou meu tornozelo, me puxando com força para frente e me desiquilibrado. Estava desesperada demais pra perceber a mão de Ronnie agarrando meu ombro quando fiz a única coisa que me passou na cabeça no momento.

Depois da escuridão e do frio eternos que duraram alguns segundos, veio o impacto do meu corpo caindo sobre algo duro e gelado, como mármore. E de fato, era mesmo mármore.

Levantei a cabeça, parecia que estava em algum lugar planejado por algum arquiteto que desconhecia a forma de se usar uma régua, pois estava tudo inclinado.

Já de pé, encontrei Ronnie agachada tentando colocar uns parafusos de volta em seu papagaio autômato.

— Será que da próxima vez da pra avisar antes de nos arrastar pelas sombras tão repentinamente?

— Eu não sei como consegui... querer ir para o lugar mais próximo que tenha solo firme foi a unica coisa que pensei!

— Pelo menos você pensou em algo certo, porém, que diabo de lugar é esse? Uma pizzaria seria bem melhor!

Ronnie tinha razão, mas na verdade, qualquer lugar seria melhor que aquele. Estávamos numa espécie de templo grego antigo e totalmente soterrado. Algumas colunas se mantinham inteiras, porem curvadas, segurando o teto e impedindo que tudo fosse coberto por mais terra novamente. No piso enfeitado com desenhos monocromáticos porém quase totalmente apagados pelo vermelho do barro, haviam várias estatuas de deuses quebradas e caídas..

Mais a diante, em frente a uma parede, se localizava uma espécie de altar. Com uma folha com uma imagem de uma deusa impressa que provavelmente havia sido tirado de algum site como o DevianArt colada ali, abaixo dela se encontrava uma tigela cheia de, obviamente, mais terra e folhas(será mesmo que tudo tinha que ter terra no meio?). Umas frutas secas e muita bagunçam. Devia ser um altar destinado a Gaia, mas por que tártaros haveria um desses para ela no Acampamento? E por que haviam tantas estatuas de deuses caídos?

Apesar das tochas de fogo grego nas paredes, o frio fazia fumaça sair de nossas bocas quando falávamos e as mesmas ainda jogavam uma luz verde assombrosa por toda a extensão do templo caído.

— Valentine... Acho melhor você ver isso! — Sussurrou Ronnie, um pouco distante do ponto onde estava, mas aquela gruta causava um eco tão grande que parecia que ela estava gritando. Fui até lá correndo, mas na verdade toda aquela pressa era apenas para não ficar muito tempo longe de alguém, afinal, aquele lugar me dava nos nervos.

Uma trilha de ossos se encontrava próxima a borda, todos amontoados. Ao lado, algo me deixou instigada: parecida uma calda, fina na ponta e a medida iria ficando longa e maior, até sumir e terminar debaixo a água. Ajoelhada em frente a ela, tomei coragem em olhar para frente e deuses, me arrependi de ter feito isso.

Na primeira reação, pensei em gritar, porém o susto foi tão grande que minha voz sequer conseguiu sair das cordas vocais. Fiquei ali, paralisada e de boca aberta, encarando parte corpo reptiliano do tamanho de um elefante que sobressaltava sobre a água. As escamas não pareciam formar desenho algum, apenas um estranho padrão de textura que dava a impressão de parecer penas de aves.

— Será que esta vivo? — perguntei, depois de muita tentativa de falar alguma coisa.

— Eu não sei! — respondeu a outra semideusa — Não acha que devemos empurrar o resto pra dentro da água?

— É uma boa ideia. Vou fazer isso! Fica ai!

Foi a pior ideia que tivemos no dia.

Tomada por uma coragem momentânea, levantei e usei o pé para afundar a calda como o corpo, empurrando a mesma para baixo. Eu só não esperava que ao primeiro toque, aquela coisa voltasse a ter vida e se mexido com uma grande velocidade que, se não fosse por Ronnie ter me puxado para trás da parede do altar, com certeza teria sido abocanhada por uma cobra do tamanho de um trem.

— O-o que foi isso????? — minhas mãos e pernas tremiam tanto que era impossível me manter agachada.

— Uma cobra? Ou o que você acha? Era horrível.

— É obvio que é uma cobra, um daqueles dragões gregos sem asas.... Os tais drakons, não parecem ser muito fãs de ambientes aquáticos... Espere... tem um monstro grego... — respondi, relembrando.

— Basilisco? Como o do Harry Potter? — sugeriu Ronnie.

— Exatamente.

— Como vamos derrotar essa coisa...? Nos mitos... lembro de ter ouvido falar que não podemos encarar os olhos de se não seremos petrificadas.

— Você quis dizer mortas?

— Sim, mas “petrificadas” soa menos... assustador?

— Só continue.

— Também a algo com a pele... Esse monstro irradia tanto veneno que quando algum guerreiro tenta mata-lo com a espada, o veneno passa pra lamina e o guerreiro morre instantaneamente.

— Isso reduz bastante nossas opções de matar aquela coisa.

— E nós tínhamos mais opções?

— Só uma: fatiar aquela coisa como presunto.

— E agora...?

— Só nos resta fatiar aquela coisa como presunto, mas que teremos que morrer ao fazer isso.

Tive como resposta o silencio de nós duas, não havia sequer coragem de se mover. O único com mais alto que nossa respiração era um cauteloso sibilo, típico de cobras. E se você se esforçasse um pouco, daria para escutar aquela língua imensa bifurcada procurando sinal de comida, ou seja, nós.

— A gente vai ter que lutar de olhos fechados, tentar transformar aquele monstro em uma bolsa de pele de cobra gigante e morrer fazendo isso? Não vai ser uma tarefa fácil. — Concluiu Ronnie.

— Onde você leu no nosso contrato em que seria fácil?

— Nós não temos um contrato!

— Por isso mesmo. — Sorri, estufando um pouco o peito. — Ei, tive uma ideia! — Chamei sua atenção — Temos que encontrar uma forma de não olhar nos olhos do Basilisco e isso pode ser útil! — Arranquei o lenço preto enrolado no meu braço e o dobrei até que ficasse num tamanho reconsiderado para servir de venda, Ronnie me entregou o seu vermelho e fiz a mesma coisa antes de devolver a ela.

— Estamos basicamente em um esgoto, usando armas brancas e vamos usar lenços nos olhos.... Somos um tipo de Tartarugas Ninja?

— Eu não sei, só sei apenas que sou o Michelangelo.

— Ainda bem, porque não hesitaria em sair nos tapas com você caso escolhesse ser o Rafael também — Mesmo que estávamos nos segurando para não rir e acabar chamando atenção, nossos sorrisos e brilhos nos olhos já diziam tudo. Era tão bom sermos tão amigas, tão bom a ponto da morte eminente já não ser tão aterrorizante assim. Tinha medo do tamanho do ego gigante de Ronnie aumentar se eu dissesse que seria uma honra morrer junto com uma garota tão poderosa e legal quanto ela, por isso resolvi guardar isso apenas para mim.

— Eu só espero conseguir — Alisei minha Letal já em seu formado de espada, acreditava que essa seria a unica forma de poder lutar.

— É claro que vamos conseguir! Apesar de sermos semideusas de primeira viagem, somos garotas e não acho que lutamos tão mal assim...

— Nós lutamos muito bem, melhor que semideuses garotos com muita experiência, eu acho.

— Hora de colocar isso a prova, não é mesmo? — Ronnie empunhou Fatal e colocou sua a faixa no rosto, usando a mão para tatear o ar até que recuperasse o sentido do tato com mais precisão.

— Ta linda.

— Você mente que nem sua vó.

Em seguida, minha vista ficou totalmente bloqueada pelo tecido escuro. Demos as mãos para tentar nos manter equilibradas.

— Pronta?

— Sim.

Na verdade, não. Quer dizer, nunca estaria pronta, porém não tive escolha e então saímos pisando forte de nosso esconderijo. Não sabia se era neurose minha ou estava sentido o couro escamoso se rastejar pelo mármore cada vez mais próximo de mim.

Os problemas não terminavam por ai, além de estar completamente vedadas e só podendo usar o resto dos sentidos, com um monstro grego mortal pronto pra nos transformar em comida de cobra e nós sequer bolamos uma estratégia ou pensamos em como iriamos lutar daquele jeito.

Mas, para mim uma coisa era seria: eu iria jogar o “Cobra” (Cabra) Cega mais perigoso da minha vida e tinha plena certeza que não sairia viva dessa.


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Notas finais do capítulo

ENFIM, o que acharam? Não ficou do jeito que eu queria, mas dei tudo o que pude, espero que o próximo seja melhor! Lembrando que o ultimo capitulo sobre a jornada das meninas não terá POV da Ronnie nem da Valentine, e sim de um narrador e os que vierem depois desse..... BEM, É SURPRESA HAHA (mesmo que alguns leitores já saibam hsuashaushua) e não, elas não narrarão mais por x motivo (façam suas apostas e contem o que vocês acham que ira acontecer com minhas bebes, mas é claro que eu não posso confirmar nem negar nada, deixa isso na hora de ler o próximo!)
Dessa vez, não vou estipular uma data para postar o capitulo 17 (ainda preciso escrever ele) e sempre que estipulo, nunca consigo cumprir, então é melhor deixar em aberto não é mesmo? Porém vai ser logo, eu tenho fé!
Até os comentários e indefinido próximo capitulo! Obrigada por terem lido, obrigada por terem esperado, obrigada por não terem esquecido dessa historia e me cobrado varias e varias vezes, sem voces, essa historia não seria nada, por isso, MAIS UMA VEZ OBRIGADÃO!!!!!! Então, tchauzinho (adoro vocês).



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