Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 15
Pegamos uma carona para a morte certa com grande estilo em My Little Ponys


Notas iniciais do capítulo

ALO GALERA DE COWBOY, ALO GALERA DE PEÃO, QUEM GOSTA DA LADY MEOW BATE FORTE COM A MÃO O/ -q (mas que raios é isso?)
Eu to de volta e dessa vez foi rápido. Praticamente tinha esse capitulo já todo escrito, era para postar mais cedo, porém tive que fazer algumas alterações e só agora ficou pronto.
Podem ficar mais aliviados nesse capitulo, nada de torturas, nada de crueldade (pelo menos eu acho). Ele também inicia uma outra fase da fanfic, a fase da reta final. Sim, estamos a menos de 6 capítulos do fim dessa historia (não choreeeeem), mas ainda tem muito o que acontecer e no final, surpresas os aguardaram o/
Percebam também que a partir desse capitulo, todos os capítulos terão uma musica no inicio do capitulo, elas não serão totalmente fieis na hora de descrever o capítulo em questão, mas chegarão perto, prometo!
Agora, vamos para o aviso final que com certeza vai partir o coraçãozinho de alguns leitores: Essa é o ultimo capitulo de Praticamente Olimpianas: A Jornada de Ouro com o ponto de vista e sob narração de Veronica Vega, mais conhecida como Ronnie! Sim pessoal, podem preparar os lencinhos, porém lembrem-se que a historia ainda não vai acabar agora ou no próximo capitulo, a muita coisa para acontecer ainda!
Bom, chega de avisos, prontos por capitulo? Então é só rolar a barra para baixo, boa leitura!



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Yeah I wish I'd been a, wish I'd been a teen, teen idle

Wish I'd been a prom queen fighting for the title

Instead of being sixteen and burning up a bible

Feeling super, super, super suicidal

(Marina and the Diamonds, Teen idle)

RONNIE

Meus dedos dançavam sobre os botões do fogão, dei um longo suspiro antes de começar a virar todos eles, deixando todo o gás sair. Porém, não tudo de uma vez, precisava de um tempo para escapar ali.

Como sempre, era eu quem ficava com a parte pesada do trabalho nas costas, mas dessa vez, eu não podia reclamar. O que tinha acontecido com o corpo de Valentine foi horrível e não duvido nada se alguém dissesse a palavra “fogo” ou “água”, ela provavelmente teria um treco e cairia dura no chão.

Pensar em como era ficar com a pele parcialmente carbonizada me fazia agradecer ao meu pai. Quer dizer, Hefesto estava a quilômetros de distancia de ganhar o premio de “melhor pai do mundo”, mas ser o deus do fogo já o fazia ganhar alguns pontos comigo caso — deuses que me livrem — acabar passando por uma situação parecida com a dela.

Assim que terminei, dei uma breve olhada pela cozinha da O.R.D.E.M, que ficava ao lado do refeitório. Era como uma cozinha de uma escola qualquer. Quando me virei para ligar o interruptor e acender a luz, jurei ter visto Dra. Howard em um canto, próximo ao armário. Sua expressão malvada era a mesma de quanto tinham me colocado para assistir aquela cena...

Além demais, não tínhamos encontrado a bruxa velha em nenhum lugar.

Meu coração disparou com aquilo, tanto a visão quanto a lembrança do que havia acontecido, acabei derrubando com força uma tigela de vidro do balcão e espalhando farinha por todo o chão. Peguei uma faca em um movimento rápido e joguei. Ela apenas bateu na parede e caiu com um barulho alto no chão.

Tinha sido apenas coisa da minha cabeça. Aquela cena ainda se repetia diversas na minha cabeça, não importava quantas eu tentasse bloqueá-las e deuses, ver aquilo várias vezes estava me deixando louca.

O relógio na parede fez um tique-taque estrondoso. O cheiro de gás vazado tinha ficado mais forte, era o sinal que precisava cair fora dali.

Segurei com força a caixinha de fósforos que tinha pegado na cozinha e pus-me a correr, ligando todas as luzes que estavam pelo caminho. Devia chegar até a saída o mais rápido possível.

Antes de começar meu serviço, tinha feito um revista minuciosa por todos os cantos e entradas do quartel general do mal, a procura de uma possível vitima presa ou qualquer coisa útil. Tinha encontrado algumas das nossas coisas ali e socado dentro de uma mochila qualquer apertada, infelizmente, também tinha achado coisas muito ruins, como instrumentos de tortura e o escritório pessoal da velha bruxa, vulgo Tiffany Howard.

Era uma mistura de um escritório normal com uma sala de um quartel general do exercito. Uma mesa grande, com um notebook moderno e muitas anotações em folhas soltas. Uma lousa branca estava rabiscada com planos e estratégias de batalha ao lado de duas maquetes bem grandes.

Apertei os olhos para entender a letra garranchada feita com canetão vermelho.

“Assim que a guerra contra a Gaia acabar, vamos aproveitar o momento de fraqueza de pós-batalha em que os acampamentos se encontram e ataca-los com todo nosso arsenal. Em seguida, vamos mandar grupos de soldados para examinar a área e acabar com sobreviventes teimosos. P.S. Não podemos deixar que o Governo fique a par disso”

As escritas batiam com o que acontecia nas miniaturas. Um dos acampamentos, o que tinha mais características gregas, devia ser o Acampamento Meio-Sangue e o outro, o tal Acampamento Júpiter — o tão pouco mencionado lado romano —. Nos dois, respectivamente, bonequinhos caídos eram pintados de laranja e roxo, ao redor deles, simbolizando os campistas caídos, fileiras de soldadinhos de brinquedo eram posicionadas. Colunas, pórticos e construções estavam derrubados, com bolinha de isopor pintadas de prata e com etiquetonas com “bombas silenciosas: não fazem barulho, não tem explosões grandes, cada uma pode acabar com qualquer coisa viva num raio de 3 metros. O Governo não vai desconfiar de nada”

Mesmo sendo apenas uma demonstração infantil, fez meu estomago se revirar. Era um pouco horrível. Dei outra olhada na lousa, em baixo, havia uma marcação mais recente, a tinta verde parecia mais fresca: “O Comandante disse que o grego e o romano estão acabados, que uma deusa o destruiu. Próxima sexta vamos marcar reunião com os lideres.”

Depois, havia aberto todas as portas dos armários e gavetas. Numa delas, acabei encontrando vários montes de dinheiro, porém todos revidados e alguns espalhados no chão. Sinal de que alguém havia surrupiado mais da metade antes e por algum motivo não conseguiu pegar o resto. Joguei todas as notas nos bolsos de fora da mochila. Seria desperdício deixar quase 2 mil dólares serem destruídos.

Então me debrucei sobre o notebook e comecei a hackear todas as senhas e bloqueios, tinha aprendido que toda informaçãozinha faria diferença. E ele parecia oferecer muitas.

Encontrei um pen-drive limpo e arquivei tudo que encontrava no sistema para ele, algumas vezes lendo uma coisa ou outra de mais importância.

Talvez um dia eu poderia usar aqueles arquivos para alguma coisa.

A cada vez que penetrava mais fundo no sistema, cada vez as pesquisas ganhavam um tom de confidencial e mais ficavam interessantes. Uma delas era a confirmação de que o lugar em que eu estava, era apenas uma filial e a matriz, a O.R.D.E.M original, tinha localização restrita e era muito mais poderosa que essa, como uma central deve ser. Fala sério, se na filha faziam-se coisas tão terríveis, eu não queria nem saber do que o pessoal da mãe era capaz.

Outra coisa que não era nem um pouco irrelevante, era saber que Dra. Howard e todo resto trabalhavam para alguém que se alto denominava: “O Comandante Gigante”, ou apenas “O Comandante” para os mais chegados. Ele era o dono da central, a autoridade máxima, o cara que ordenava que a matança e a maldade acontecessem, eu mal o conhecia, mas queria sua cabeça em uma bandeja.

Havia descobrindo mais uma coisa, mas decidi guardá-la para contar primeiramente a Valentine. Meus olhos ficaram fixos no ponto da tela em que a data era marcada. Dia 31 de julho. Tínhamos começado a Jornada de Ouro em 20 de Junho. Mais de um mês de atraso, me senti quebrada com isso.

Se tinha uma coisa que eu odiava, era quebrar promessas. Tinha prometido que cumpriria a Jornada de Ouro e agora o nosso prazo tinha acabado. Tudo culpa daquele cassino idiota e desse lugar infernal.

O pior de tudo é que eu me sentia culpada disso tudo, provavelmente, devia ser.

A corrida para encontrar novamente a saída naquele labirinto de salas e corredores teve que ser apressada. Tique-taque. Eu esperava que Valentine já tivesse cumprido a parte dela, que era levar todos os corpos adormecidos do pessoal que trabalhava ali para a garagem, que ficava do lado de fora e ao lado da casa. Se a explosão atingisse ali, tecnicamente não seria nossa culpa.

Bem, no começo eu não tinha muito concordado com a ideia de vingança, mas então lembrei de tudo que fizeram comigo e outras pessoas, a raiva voltou a subir até minha cabeça.

Matando eles, tecnicamente estávamos regredindo nosso nível ao deles, numa atitude nada heroica. Mas quer saber a verdade? Foda-se toda aquelas morais chatas. No fundo, como disse Valentine, estávamos agindo como heróis ou algo parecido, afinal, estávamos fazendo com quem ninguém mais possa ser machucado por eles.

No começo, eu queria ser uma heroína, mas infelizmente, desviaram meu caminho para uma estrada de terra que terminaria em algo sem saída ou volta.

Por mim, tudo bem.

Cheguei ao portão principal a tempo. O cheiro havia me deixando um pouco tonta e já havia tomado conta do lugar em pouco tempo. Desci os degraus da entrada e me virei de frente.

Olhando por fora, a filial da O.R.D.E.M era apenas uma mansão cujas janelas eram cobertas por cortinas e tinham plantinhas arrumadinhas nos parapeitos. Tudo era pintado de branco e muito organizado. Quem olhasse da rua, pensaria que era apenas uma casa normal, mas era justamente isso que a O.R.D.E.M queria que pensassem. A casa era apenas a cobertura que escondia o bolo e ele, bem, tinha mais três andares enormes debaixo da terra. Ao lado, a garagem continuava silenciosa e vazia,

Dei mais alguns passos para trás, me certificando se o vazamento era forte o suficiente e se estava em uma distancia boa para correr. Com as mãos tremulas, tirei um palitinho e risquei na lateral da caixa, lançando rumo a casa, torcendo para que não apagasse.

Comecei a correr novamente, até então não havia acontecido nada. E foi assim que fui surpreendida por uma explosão, um choque de energia e calor sendo libertado acabou me jogando para longe. Nada de sair desfilando de costas sem olhar para explosão. Rolei para longe, uma ou outra hora engolindo um pouco de grama e terra, sendo chicoteada por estilhaços. Nada de efeitos hollywooodianos cinematográficos. Nem ao menos um duble.

Fiz um esforço para levantar, cambaleando ainda mais. Me apoiei na fonte vazia em meio ao jardim bem arrumado. Esperava que a asa de um dos cupidos esculpidos nelas não quebrasse com meu peso. Há essa altura, nem mesmo a garagem tinha conseguido se safar.

Quase 30 pessoas estavam lá dentro. Tínhamos matado todas elas, quer dizer, eu tinha. Tinham matado, torturado, violentado e manipulado não só semideuses, mas espíritos da natureza e até mesmo humanos. Eu apenas estava fazendo um favor para todos, aquilo não era nem o mínimo do que a O.R.D.E.M. merecia.

Mesmo assim, estava ficando parecida com eles. Eu nunca tinha matado humanos. Eu era uma assassina, matando alguns de um das minhas espécies.

“Não Ronnie, você não matou nenhum dos seus. Você não é humana, você é meio humana, também é meio deusa. Deuses também faziam essas coisas, humanos igualmente. Você é uma semideusa, você é uma Vega. Sangue antigo corre nas suas veias e suas leis em sua cabeça. Sua família inteira pode estar morta, mas você não, então continue a seguir seu legado. Um Vega acerta suas contas, um Vega clama sua própria justiça. Justiça e vingança não são a mesma coisa, mas ambas fazem parte de suas regras. Olhe suas mãos, veja suas cicatrizes. Você não seguiu a ordem de ninguém, você apenas seguiu suas origens.” Meu lado racional tomou controle enquanto o emocional estava completamente confuso. Era ele que eu devia escutar, afinal, um Vega sempre escolhe a razão.

Andei em direção aos portões, descendo uma colina inclinada por onde saiam os carros. Toda a propriedade estava praticamente escondida, uma cerca gigantesca de ferro rodeava o lugar e protegia. A mesma estava escondida pela mata que tomava todos os arredores da região e a casa mais próxima se encontrava em quase meio quilometro de distancia. O céu estava nublado em um tom cinza azulado, sinal de que já estava amanhecendo.

Encontrei um carro totalmente preto estacionado do outro lado e entrei pela porta do motorista. Valentine se encontrava dentro dele no banco do carona, enquanto o pequeno sátiro, Sam, cochilava no de trás. Ela estava quase irreconhecível com um óculos de sol gigantesco cobrindo os olhos e um lenço grande enrolado no pescoço e em torno da cabeça, como um capuz. Até suas mãos estavam cobertas pelo moletom tamanho extragrande que encontrávamos em um dos armários da O.R.D.E.M. Todas as outras coisas tínhamos encontrado vasculhando em um deposito para onde iam os pertences das vitimas. Boa parte das queimaduras no rosto tinham sido cobertas por muito pó compacto e base, que estranhamente, eles guardavam para alguma eventualidade.

Valentine tinha pedido para virar todos os espelhos para a direção contrária, pois, não queria ver como estava sua aparência. Eu entendi.

Minhas mãos sentiram um choque gelado ao apertarem o volante. Era a primeira vez em anos que fazia algo sem minhas luvas (que deviam ter tido algum fim), deixando expostas minhas cicatrizes grotescas parcialmente abertas. Pressionei meu pé contra o acelerador e sai rasgando pelo caminho que se abriu em uma estrada de terra, sem se importar com a nuvem de poeira que começou a subir.

Tinha a visão focada na estrada, mas minha cabeça estava dando voltas por ai. O silencio não ajudava. Logo recordava das paredes cheias de espinhos pontudos em volta de mim, a cobra se rastejando sobre meu peito e aquela menina sendo morta por mentes psicóticas na minha frente. As lembranças eram fortes demais, eu não conseguia barrá-las.

E se eu tivesse respondido as perguntas, será que aquela menina estaria viva? Será que se tivesse feito que que eles mandavam, ninguém teria morrido por causa de mim e eu não precisaria ter presenciado tudo aquilo ou quase ter sido violente...

A culpa pesava em meus ombros, junto com o nojo e raiva.

Mas pensando por outro lado, ás vezes alguns sacrifícios tem que ser feitos. Se eu tivesse respondido as perguntas, a garota estaria viva e nós ainda estaríamos presas...

Era confuso.

Todos aqueles pensamentos me deixaram completamente fora de si, não estava apenas no mundo da Lua, estava dando um passeio pela Via Lactea. Porém, fui bruscamente arrastada de volta para da orbita com um grito de Valentine.

— RONNIE! A ESTRADA! CUIDADO COM O CERVO!

Meu transe impediu que eu lesse todas as placas colocadas na escada avisando que ela era uma área de reserva florestal e que há riscos de animais na pista. Um cervo se encontrava parado no meio da pisca, sem fazer menção de sair do caminho.

Apertei o volante com força e virei com tudo para a esquerda, fazendo o carro desviar e passar do acostamento, quebrando a grade de proteção e batendo contra alguns arbustos que graças aos deuses, nos pararam antes de cair em um desfiladeiro aberto, a vários metros abaixo quando eu pisei no freio. Valentine bateu o rosto contra o porta-luvas e Sam soltou um gemido, provavelmente, devia ter caído do banco para o chão.

Fui sufocada por alguns airbags que se inflaram em seguida até que murchassem novamente depois de alguns segundos e se recolhessem.

— Estão todos bem? — perguntei a procura de ar.

— Por acaso parecemos bem? — ela rosnou, tomada pela raiva — Sam, você esta bem?

— Tem algo escorrendo do meu nariz, é vermelho e pegajoso. É sangue. — comentou ele.

— Viu? Não estamos nada bem, estamos ó-t-i-m-o-s! — o sarcasmo em sua voz tinha uma sonoridade acusadora, como se ela estivesse jogando toda a culpa sobre mim.

Dessa vez eu não aguentei e estourei.

— Escute aqui, Valentine, eu não tenho culpa! — gritei furiosamente — Você não pode reclamar de nada, fui eu que apaguei todos eles lá na O.R.D.E.M, se não fosse por isso, vocês não poderiam ter fugido! Fui eu quem fiquei com o serviço sujo de matar todos eles, enquanto a única coisa que fez foi arrasta-los e tranca-los dentro daquela garagem, sem correr o risco de ser pega pela explosão! Eu que fiz todo o trabalho pesado, você não pode falar desse jeito comigo! Você não é a única que foi machucada por eles.

Ela apenas revirou os olhos e estendeu a mão cheia de queimaduras, aquela era sua vez de falar.

— Primeiramente, é tudo culpa sua sim, se você não tivesse arrumado aquela pulseira que aquele autômato imprestável encontrou, eles não teriam nos achado quando saímos do cassino!— desabafou, mostrando que também guardava as coisas para poder jogá-las na cara das pessoas depois.

— Se você não tivesse seguido as ideias do seu irmão, não estaríamos metidas nessa roubada! — rebati.

— E então estaríamos aonde? Entenda de uma vez por todas, Ronnie, você tenta se iludir achando que somos alguma coisa, mas não somos nada além de duas garotas zero a esquerda tentando encontrar um lugar no mundo. Mostrar que poderíamos ser algo mais do que duas covardes que queriam se matar.

— Sem família, sem amigos, completamente sozinhas — eu concordei.

Nos entreolhamos e em seguida nos abraçamos, desabando em lagrimas. O que tinha acontecido conosco? No que haviam nos transformado?

— Me desculpa, eu não devia ter jogado tudo nos seus ombros, você não sabia... Foi um grande acidente, eu estou nervosa, triste e ferida, só queria-me sentir melhor jogando a culpa em alguém, mas na verdade, eu também tenho um dedo nisso... Eles não teriam pegado a gente se eu tivesse sido mais responsável e não tivesse caído na magia daquele cassino. — disse ela, encharcando meu ombro com lagrimas. — Saindo antes que eles chegassem.

— Eu também preciso pedir desculpas, por ser tão chata, tão irritante e infantil, tão teimosa. Eu devia escutá-la melhor e não querer fazer as coisas da minha maneira ou agir como uma criança mimada querendo algo. Você tem razão, nós duas estamos erradas — dei uma longa fungada, passando a mão no rosto para parar o choro. — E eu também queria agradecer, tipo, por tudo. Se não fosse por você, o numero de burradas feitas por mim seria muito maior. Obrigado pro me impedir toda vez que tive uma vontade imensa de matar seu meio-irmão mesmo ele estando morto e muitas outras coisas ruins que eu poderia ter feito sem que você tivesse puxado minha coleira.

Começamos a rir com a minha péssima comparação com puxão de orelha mesmo com alguns lagrimas teimosas caindo.

— Somos meio humanas e meio deusas. Acho que errar é algo que faz parte das nossas duas naturezas — Valentine disse por fim, eu assenti. — Eu também devo ter errado ainda mais nessa vida, só que não me lembro.

E lá estávamos nós de novo, rindo da nossa própria desgraça, como gostávamos. Era bom.

— Antes de tudo isso, eu só queria, sei lá, ter pelo menos uma vida estável, não normal, mas estável sabe? Pode parecer idiota, mas sempre quis.

— E agora? O que vai ser da gente? Quem vamos ser? Qual será nosso próximo papel para tentar encontrar nosso lugar no mundo, já que tentar brincar de herói não deu muito certo? — cortei a choradeira e as risadas.

— Eu ainda não sei, vamos pedir uma carona, já que não vamos conseguir tirar esse carro daqui e o capô esta bem amaçado. E mais uma vez, tentaremos começar do zero.

— E se der errado novamente?

Ela deu um sorriso triste.

— E se não der certo, uma hora teremos um fim, então seria melhor adianta-lo. — a palavra oculta em sua fala era “suicídio”.

— Er, não queria interromper a conversa de vocês, mas tem um caminhão vindo ali atrás pela aquela outra estradinha. É melhor nós apressarmos se quisermos pegar uma canora — disse Sam, com um pedaço do estofado do banco na boca.

(...)

Tinha vontade de subir em um avião com um mega fone e gritar para todo mundo ouvir o quanto eu queria poder voltar para a Jornada de Ouro.

Desde que pegamos uma carona naquele caminhão que carregava um frigorifico com Jilly Bob, um fazendeiro pacifico e gentil, estávamos planejando começar tudo de novo, deixar o passado para trás. Porém, como já esperávamos, nada deu certo.

Nós três nos alojamos na antiga casa da minha mãe, em Violet Village. A vontade de fazer alguma coisa era tanta que estávamos desesperadas para encontrar alguma vaga em uma escola da região, porém, todas alegavam nos rejeitar pelo fato de que precisávamos pegar uma transferência da nossa atual escola, que seria a Miss Caroline (mesmo sem termos frequentado sequer uma aula naquele lugar que tentara nos matar, além do mais, era uma espécie de quartel de treinamento da O.R.D.E.M., mas isso é uma historia para outro dia...), nenhuma estabelecimento parecia estar interessado em contratar duas garotas nem que se fosse trabalhar de graça. Quando ficávamos cansadas de apenas ficar em casa, dávamos algumas voltas na vizinhança durante a noite.

Dessa vez, deviam ser por volta das 8 horas, não havia ninguém passeando pelas redondezas do bairro. Estávamos no quintal atrás da minha casa. Os dois andares projetavam um sombra gigantesca, cobrindo todas as árvores durante o dia. Mal dava para enxergar o vermelho desbotado das paredes que seguiam o estilo vitoriano. Chovia bastante, mas eu e Valentine estávamos lá fora, ensopadas e dançando uma contra a outra usando dois sabres que eu havia encontrado dentro do guarda-roupa proibido da minha mãe — o qual ela nunca me deixava mexer pelo fato de estar cheio de armamentos de todos os tipos e invenções perigosas, até mesmo várias armas de fogo —, e se acham que eu fiquei realmente mal por desobedece-la mesmo estando morta, sim, vocês acertaram.

Voltar para aquele lugar não tinha sido parcialmente uma boa ideia. Violet Village tinha o dom de reviver meus fantasmas. Na manhã da nossa chegada, acabamos chamado a atenção de algumas pessoas que moravam ali, inclusive o mesmo casal de idosos que haviam cuidado de mim. Recebi uma rajada de perguntas e olhares preocupados até que como sempre, seus netos apareceram e tomaram sua atenção. Dessa vez, eu não fiquei chateada.

Sabia que meu lugar não era ali e aquela não era minha verdadeira família.

Quanto mais o tempo passava, eu, Valentine e Sam, ficávamos mais próximos. Eu continuava dormindo no meu velho quarto, enquanto minha amiga, em um dos vários para hóspedes no andar de cima e Sam na sala, o garoto-bode alegava que preferia dormir com a TV ligada, já que a mesma podia afastar seus pesadelos. Queira poder dizer o mesmo.

Referente aos mesmos, eles pareciam estar cada vez piores. Sabia que semideuses costumavam ter pesadelos, mas os nossos passavam dos limites. Por sorte, Valentine vinha no meio da noite e jogava uma jarra de água gelada em mim, me tirando do sono. Eu fazia o mesmo quando os pesadelos vinham para atormentá-la também.

Tivemos várias brigas como a primeira, mas elas se resolviam tão rápido como aquela, afinal, não importava o que acontecesse, nós precisávamos uma da outra. Se não quem iria nós tiraria do mundo dos sonhos ruins? Ou que iria dar uns tapas no rosto durante nossos surtos nervosos e logo depois, pedir desculpas e tentar fazer as coisas ficarem melhores mesmo sem sucesso? Além do mais, ás vezes, Sam também precisava da nossa ajuda com os mesmos problemas.

O barulho das espadas de chocando era maior que os da chuva e me fez voltar a realidade. Bloqueei o ataque de Tine, como tinha feito daquela vez em que estava lutando com gravetos junto com Greg. Céus, aquilo parecia ter acontecido há séculos, mas apenas tinham-se semanas.

Dias demais, que formavam semanas e essas semanas formava quase dois meses. Dois meses desde que nosso caminho fora desviado, como se ainda estivéssemos dirigido aquele carro roubado e acabamos saindo da estrada principal, entrando em um desvio que nós deixou a deriva no meio do nada e quebrando sem dar chance de volta, completamente perdidas e sozinhas.

— Sabe o que eu acho? — disse Valentine por fim, pedindo uma pausa com as mãos.

— O que você acha? — indaguei, fincando a ponta da espada no chão. As gotas que caiam freneticamente do céu mal faziam questão de dizer que iriam diminuir.

— Que o motivo de tudo que tentamos fazer dar errado é porque não devíamos estar tentando fazer essas coisas, como se as Parcas ou seja-lá-quem controle o destino, não quisesse que fizéssemos isso. — levantei a cabeça. Ela me encarrou com seus olhos escuros como um abismo sem fim. As queimaduras ainda tomavam conta do seu rosto (e corpo) e durante a noite parecia uma espécie de máscara horrenda.

— E o que eles, seja lá quem controle o destino, quer que a gente faça? — isso tinha soado mais como um resmungo irritado.

— O que a gente nasceu para fazer, quer dizer: A Jornada de Ouro. Eu estava pensando aqui, analisando as coisas, tudo faz sentido! Não podemos deixar de lado algo que foi destinado a nós desde sempre. Olhe só os fatos: não temos mais nenhum parente do lado mortal da família, crescemos sozinhas, nunca soubemos sobre nossa verdadeira origem, somos as ultimas semideusas herdeiras de deuses “maiores” vivas, nunca fomos pro acampamento, nunca fomos reclamadas lá!

— Porque fomos rejeitadas e deixadas de lado, porque ninguém nos quer — respondi desanimada. A cada dia que se passava, mais pessimista ficava.

Valentine bufou irritada.

— Fala sério! Será que dá para me escutar sem ficar colocando problema?! A resposta correta para isso é o fato de que não podíamos ir para lá antes, se não iriamos morrer junto com os outros campistas. Nós somos o bote de escape para quando o navio afundasse.

Cara, ela conseguia ser pior que eu em comparações. Não dava para me imaginar como um bote salva-vidas. Como era ser um bote salva-vidas?

— Mas a gente perdeu o prazo...

— Ainda temos uma chance... Lembra-se daquelas coisas que você pegou da O.R.D.E.M?

— Ah... lembro — franzi minhas sobrancelhas. Onde ela queria chegar?

— Eu estava mexendo nelas, sabe, a procura de algo útil e acabei encontrando aquele relógio, aquele que Hermes havia me dado e dizia que poderia viajar no tempo.

— Mas eu me lembro que você tinha me dito que não sabia se ele funcionava ou não. — recordei-a.

— Não custa nada tentar, é melhor do que ficar tentando fazer coisas que não tínhamos que fazer. Por mais que eu odeie essa historia de já ter tudo o que temos que fazer definido, é o único jeito. — disse ela — Estávamos no lugar errado na hora erra onde não devíamos estar, por isso tudo esta dando errado. Você sabe muito bem que isso é verdade.

Odiava admitir, Valentine tinha razão.

— Você conseguiu entrar em contato com eles?

— Com os outros? Não, já tentei Mensagem de Íris, e-mail, até já tentei de alguma forma invocar meu irmão. Nada deu certo, para variar. Parece que temos uma barreira nos cercado e ela não permite que não fazemos nada... — suspirou.

— Pois não deveríamos estar aqui, eu sei. — quase todos os dias, sempre a via focada em tentar conseguir contato com alguém que conhecíamos, usando até mesmo alguns rituais estranhos que pareciam ter sido tirados de algum Guia de Magias para Bruxos.

— E então, se conseguirmos voltar no tempo... Você ainda completaria a Jornada e morreria por isso?

Essa era uma pergunta difícil. Significa desistir de tudo, de novo. Mas, a vontade de aceitar era maior do que a de ficar. Eu iria me livrar da culpa, do meu passado e daqueles que continuavam a me atormentar. Me livraria das visões e dos sonhos ruins, do sofrimento e da tristeza, mas também deixaria de viver muitas coisas que poderia viver em um futuro próximo (se tudo estivesse ocorrendo bem). Nunca fui do tipo de garota que sonhava em crescer, casar e ter uma família, envelhecer ao lado do cara que amava com os netos brincado ao redor e essa melação toda, mas sempre tinha curiosidade em saber qual rumo minha vida poderia tomar mais para frente, o que poderia acontecer.

Talvez o fato de que todas as vezes que eu tentava me imaginar no futuro, tudo o que via era uma tela embaçada porque eu não fazia parte dele.

Então eu respondi:

— Por que eu recusaria? Eu não tenho nada de interessante para fazer nessa semana mesmo! — eu sorri e ela também. Então corremos para dentro de casa.

(...)

Nós três estávamos reunidos na sala de jantar, com as coisas e mochilas sobre a mesa, incluindo várias embalagens de comida de fast-food. Ninguém gostaria de morrer de barriga vazia e a ultima refeição devia ser a melhor. Musica alta vinha do radio MP3.

— Esses tacos são os melhores — abocanhei um deles com vontade, relembrando dos em quando era pequena e mamãe comprava esse tipo de comida para o jantar, pois, fingíamos que havia um monstro na cozinha e não podíamos ir para lá sem ser pegas. No começo eu não gostava muito desse prato, mas a brincadeira era tão boa que acabei aprendendo a gostar.

— Pensei que você fosse de origem espanhola. — Valentine tinha em mãos um hambúrguer gigantesco e um refrigerante ainda maior.

— E sou, porém isso não me impede de preferir comida mexicana. — roubei uma batatinha da grande porção de Sam. O mesmo tinha as mãos cheias delas e continuava a empurra-las boca adentro, como se nunca tivesse comido isso nada vida e acho que não tinha mesmo.

Mariposas que haviam fugido da chuva voavam em torno do lustre preso ao teto. A mesa era feita de mogno e tinha uns 8 cadeiras e tomava quase todo o espaço. De um lado se encontrava o armário cheio de porcelanas e artigos de cozinha caros que não eram usados pra nada. Das duas portas colocadas a cada lado, uma levava diretamente para a cozinha e a outra para a sala.

O relógio na parede marcava quase nove horas da noite. Precisávamos ir.

Explicar para Sam o motivo de termos que ir embora foi à parte mais difícil. Apesar de não parecer muito bem, eu tinha me apegado a ele e Valentine mais ainda, como um irmãozinho caçula para nós. Agora eu entendia como Elle se sentia ao cuidar de todos aqueles semideuses.

Confesso que senti um pouco de saudade ao relembrar do pessoal do Acampamento de Trailers, agora devia ser Acampamento do Argo II.

Depois de um tempo tentando convence-lo a parar de choramingar e terminar de comer o lanche, fechamos a casa e ficamos esperando nosso táxi chegar sentadas na varanda, já havia estiado e o céu aberto entre nuvens. Eu tinha escondido a chave dentro da boca da cabeça de raposa colocada como enfeite na porta. Quem sabe algum dia a encontrassem ali.

— Lembro que descobrimos que as adagas que usaríamos para destruir o guardião escolhido por Gaia para proteger as ruínas do Acampamento Meio-Sangue estariam guardadas na Estatua da Liberdade.

Valentine suspirou e com um graveto começou a fazer traços em um pequeno banco de areia ao lado do ultimo degrau da escadinha que servia de banco.

— Perdemos muitas coisas para fazer isso. — disse ela — Eu perdi minha memoria e você a esperança de achar sua mãe viva.

— Sim, mas isso não vem ao caso. Nosso problema é, como vamos entrar lá? Não sei se existe horário de visitação na ilha depois das oito e não podemos simplesmente atravessar o porto e invadir lá!

— Não acredito que Veronica Vega, que acredito ser uma das pessoas mais brilhantes do mundo, que queimou todos os membros da O.R.D.E.M e ainda consegue controlar um navio voador com a força da mente, esta com medinho de invadir um monumento histórico? — seu olhar era zombeteiro, até estranhei.

— Não estou com medo! Só quero saber como vamos fazer as coisas, sabe? Para não correr mais riscos... — justifiquei. Não queria ser presa por violação de patrimônio publico.

— Correr riscos do que? Mais do que já corremos? Todos os dias monstros aparecem aqui para nos pegar e você sabe muito bem, que, ainda existe outra coisa para temermos. — rebateu ela.

— Tipo o que?

— A verdadeira O.R.D.E.M. Seja-lá-onde-ela-esteja, uma mãe sente falta da sua filha e o que eles vão fazer quando descobrirem o que fizemos?

— Eu apaguei o notebook pessoal da Dra. Howard antes de sair... Espere, mas se ela fugiu... pode muito bem ter ido para a matriz ou feito uma cópia de arquivos. Não sei, ambas as alternativas podem fazer com que eles saibam da gente.

Só de pensar em ser capturada pela O.R.D.E.M novamente fez meu corpo estremecer. Não podia deixar aquele maldito flashback tomar conta da minha mente novamente, eu tinha que manter a calma.

— Você não contou para eles sobre sua casa não é? Mesmo assim, uma hora vão descobrir. É melhor apagar nosso rastro, de uma vez por todas. — sugeriu ela.

— E o que vai fazer com Sam?

— Deixar ele sozinho não podemos — ele estava deitado debaixo de uma árvore, virou a cabeça ao ver a menção do seu nome feita por nós — Eu tenho um plano. Sam, por que você não vem aqui?

Um tanto desconfiado, ele se aproximou. Valentine tirou alguma coisa da bolsa, selou uma das pontas do papel com a língua e fechou o envelope, entregando o ao sátiro.

— Pra que isso? — sua voz estava embargada e segurava os soluços, seus olhos molhados denunciavam o choro.

— Preciso que você entregue isso ao meu meio-irmão. Você vai saber quem é logo de cara. Agora sem choro.

— Tem um táxi vindo, à dois quarteirões aproximadamente. — digo. Meus sentidos sobre máquinas e mecanismos estavam ficando cada vez mais aguçados. Como as ruas de Violet Village não tinham quase trafego nenhum, o barulho que o motor do carro fazia me soava tão alto quanto o da buzina de um trem em meus ouvidos.

— Hora de ir. Ainda bem que Sam não vai precisar de passaporte.

— Vai mandar ele para eles? Elle não cuida de pessoas demais? — perguntei. E se eles não estivessem mais (acho difícil, porém não impossível) em Las Vegas?

— Sim, mas há espaço para um sátiro, é só até que nós conseguirmos fazer o acampamento voltar. Abraço coletivo? — ela estendeu os braços. Nós três nos abraçamos com força, com corações apertados se separamos.

De fato, despedidas não eram nada fáceis.

— Boa sorte, menino-bode — Baguncei seus cabelos cacheados o máximo que pude, já que os chifres pesados não deixavam. Assim que saiu do seu cativeiro, Sam havia ganhado alguns centímetros a mais e ficará mais alegre. Tinha encontrado sua família... Porém, ela teria que acabar por causa de uma jornada — Fique bem, tá legal? Não te perdoei por ter comido um dos vagões da minha locomotiva a vapor. — sorri, me sentido um pouco nostálgica ao lembrar do incidente. Sam havia sem querer comido uma das partes da miniatura de trem com trilhos e tudo que tinha debaixo da cama e acabei ficando muito zangada. Quando era pequena, era obcecada por esse tipo de coisa, até mesmo até agora. Colecionava mini réplicas carros, trens, invenções, aviões e qualquer coisa que fosse feita de maquinário. Minha obsessão idiota de alguns dias atrás agora soava infantil e fútil. Devia ser algum efeito colateral que ter que morrer, sabe, era como um colírio que expandia sua visão e te fazia pensar o quanto tinha sido estupida no passado.

— Bem, hora de dizer “tchau”. — Valentine estalou os dedos. Um vórtice negro apareceu bem no nosso meio. Ele girava na mesma intensidade do indicador dela. Ele se aproximou.

— É seguro?

— Dá pra sobreviver.

— Senhor passageiro, agora um aviso: recomendo você tentar ao máximo segurar o enjoo. Não deixe braços, nem perna... cascos ou qualquer parte do corpo para fora e você tem direito a gritar. Gritar bastante. — imitei a voz de uma aeromoça.

Valentine deu tapinhas em seu ombro, motivando-o a pular dentro da sombra. Mesmo apreensivo, deu seu melhor meio-salto-de-bode-montanhês-meio-tropeço e sumiu dentro da escuridão. A única coisa audível foi um grito agudo até que ela se fechou.

— Ádios, Sam. — acenei.

— Bonne chance, ami. — ela secou uma lágrima rebelde — Eles crescem rápido. Uma hora, os chifres ficam maiores e somos obrigados a deixa-los ir.

— Ele vai ficar bem. — confortei-a.— Como conseguiu... Achei que estivesse com os poderes cortados?

— Quer dizer, fracos. Porém, andei treinando e consegui faze-los se aproximar do que eram antes, porém tenho medo de tentar em grandes distancias sabe? Por isso chamamos um táxi.

Nosso momento de abalo emocional foi interrompido por uma buzina e faróis ligados.

Entramos no tradicional táxi amarelo. O motorista não era muito de falar, apenas perguntou para onde iriamos e ligou o rádio, iniciando um longo percurso.

(...)

Não importava quantas vezes tentasse, nunca conseguia me acostumar com as viagens na sombra. Dessa vez, parecia que tinha acabado de respirar todo o dióxido de carbono da atmosfera.

— Você sobrevive. — disse Valentine tirando alguns gavetos e folhas de arvore do cabelo, a aterrisagem não foi perfeita.

Assim que o aperto no meio peito afrouxou (principalmente na parte do sistema respiratório), chequei que estávamos sozinhas, sem nenhum guarda por perto. A esse horário não deviam ter mais turistas, porém a segurança devia continuar.

O pedestal da estatua estava na nossa frente e era bem maior em questão de altura que algumas casas. Achamos melhor ficar atrás dela, pois os portões de entrada para subir até o topo deviam estar fechados e a presença de possíveis guardas ali era maior. O taxista havia nos deixado próximo ao Porto de NY, eu tinha sugerido para “pegarmos emprestado” uma daquelas lanchas encostadas no porto, mas Valentine alegou que mar e água não fariam bem para ela e preferiu ir para a Ilha da Liberdade do seu jeito. Depois de ter sido capturada e torturada pela O.R.D.E.M, Tine evitava de qualquer jeito proximidade com grandes quantidades de água no mesmo lugar e até mesmo o isqueiro do fogão, ou qualquer coisa que pegasse fogo. Como eu também não sabia cozinhar, as refeições nos dias em que nós três passamos na minha casa foram a base de comidas de fast-food ou besteiras feitas em 3 minutos no microondas ou talvez umas duas caixas de pizza.

— Vamos entrar — peguei uma lanterninha-chaveira presa no zíper da minha mochila e apontei a luz sobre o lugar. O bosque que cercava a base estava escuro e silencioso. Depois de passar a lanterna na lateral, encontrei um brilho prateado, uma porta de manutenção camuflada.

Me aproximei da maçaneta e da fechadura, encostei meu dedo mindinho nela e simulei mentalmente que estava enfiando uma chave e o mecanismo aceitou meu truque. A fechadura de destravou com um “track”.

Empurrei a porta e entrei. Estava tudo escuro. Não podia ligar os interruptores, já que eles poderiam denunciar nossa presença. Lancei a luz da lanterna de mineiro para cima, iluminado uma escada de ferro que subia em formato de caracol, era impossível ver onde terminava. A mesma era cercada por uma estrutura de ferro, com várias barras finas cruzando umas as outras. Parecia uma teia de aranha feita com régua.

Fechei os olhos e ordenei que qualquer sistema de segurança como câmeras e sensores de movimentos possivelmente instalados ali desligassem. Nenhum mecanismo poderia ficar ativado.

— Parece que temos uma bela subida — Valentine apontou para a parte mais alta da escada que conseguíamos ver.

— 167 da entrada, onde estamos, até o topo do pedestal e mais 168 até a cabeça. Isso sem contar os 54 que teremos que subir se formos para a tocha.

Ela me encarou como se estivesse falando espanhol e bem, às vezes eu falava.

— Li tudo isso no guia. — balancei o panfleto que antes estava jogado em um canto qualquer.

— Tanto faz, só acho que devia ter um elevador ou algo assim. — comentou.

— Você pode viajar nas sombras, leve a gente até lá em cima — dei um sorriso presunçoso.

— Eu já estou forçando meus poderes demais, Ronnie. Não abuse da sorte que tivemos em não ter que atravessar a barco, com toda aquela água e ... — ela roubou a lanterna de mim e tomou a frente durante a subida, pensar em ter que atravessar o estreito de barco a deixou nervosa. — Suba.

Os primeiros degraus foram uma maravilha, mas assim que já tínhamos alcançado uma boa altura, os barulhos que minhas botas faziam contra o ferro da escada davam a impressão que iria ela ruir e despencar qualquer momento. Fora o detalhe que a escuridão se tornava mais densa atrás de mim quanto mais me afastava do pequeno feixe de luz.

— Onde será que as adagas estão guardadas? — perguntei, tentando romper a barreira ausente de som que se formava ali.

— Talvez em algum lugar na coroa ou quem sabe na tocha. — respondeu.

— E você por acaso comprou seus tickets na internet para subir lá em cima, mocinha? — fingir lhe dar uma bronca.

— Fala sério, estamos invadindo isso aqui no meio da noite. É claro que vou me preocupar com os tickets— Valentine riu e continuou a escalada.

Em poucos períodos de tempo, somos obrigadas a parar para descansar. Os degraus são pequenos e estreitos e muito altos, sem ter iluminação o medo de tropeçar em um deles e rolar escadaria abaixo é maior. Eu agarro os dois lados do corrimão com tanta força que sinto o metal de retorcer sobre meus dedos.

Só depois de muito tempo conseguimos ter acesso à coroa. Como estava de noite, era apenas possível enxergar o mar escuro lá em baixo e um pouco das luzes da cidade e sua silhueta pelas pequenas janelinhas que davam um detalhe na coroa vista pelo lado de fora.

— E então, o que vem agora? — disse ela, jogando o feche de luz nas paredes, dando uma boa verificada no lugar.

— Nós procuramos, é obvio. — tateei em todos os lugares. Não havia encontrado nenhum trinco ou passagem que pudesse esconder alguma coisa. — Droga.

— Tem que estar por aqui! — exclamou Valentine, puxando a aba do boné preto que usava. Segundo ela, ele cobria seu rosto e jogava uma sombra sobre suas queimaduras, apagando-as levemente.

Meus pés afundaram sobre uma superfície de metal que fez barulho. Um quadrado feito de ferro e com uma tranca presa a um cadeado, como aqueles que eram colocados no meio da calçada e serviam para fazer manutenção em bueiros de água da chuva ou fiações de prestadoras de serviço.

— Acho que achei — segurei o cadeado minúsculo, feito de metal dos deuses. Passei minha mão sobre o tampo, revelando uma escrita: CIA OLYMPUS DE MANUTENÇÃO E REPAROS. APENAS PESSOAS AUTORIZADAS.

Valentine tirou a correntinha do pescoço mais relutância que o necessário e me entregou em seguida. Enfiei a chave no buraquinho e fiz meu coração se acalmar ao ouvir o barulho que a fechadura fazia ao se soltar. Para um cadeado tão pequeno, parecia tão resistente.

Fui obrigada a usar um pouco de força bruta para puxar a trava emperrada e só assim conseguir abrir a tampa. Estranhamente, lá embaixo estava completamente iluminado, revelando até mesmo uma escadinha de ferro, por onde descemos.

O espaço não era muito grande, tochas que nunca se apagavam estavam presas à parede. Uma vitrine menor ficava encostada a parede, com dois manequins femininos trajando armaduras sobre roupas ao estilo grego antigo. Um baú se encontrava do lado contrário. As paredes foram pintadas em tom claro.

Eu não fazia ideia que teria um compartimento daquele tamanho na estatua da liberdade e como ele ficava ali, como se tratava de obras dos deuses, era melhor apenas aceitar tudo e esquecer as perguntas, ou elas a deixariam louca.

— “Espero que esse seja o numero de vocês” — Valentine leu um bilhete que estava preso no espelho lateral.

Levantei a tampa do baú e me deparei com duas adagas do tamanho de uma faca de açougueiro no meio a palha. Ambas eram idênticas e o cabo envolto com couro cabia perfeitamente em nossas mãos.

A adaga tinha cerca de 30 centímetros, forte como bronze, dourada como ouro e tão leve como se tivesse sido feita de alumínio, porém mortal. Um nome em grego estava cravado logo acima de um botão com uma pedra gigante de diamante lapidado contornado com pedrinhas coloridas menores. Assim que meu dedo roçou na borda do botão brilhante, a lâmina se expandiu até ter o tamanho perfeito de uma espada. Valentine fez o mesmo.

Golpeei o ar, experimentando um movimento com a espada. Não era um machado, porém, não era tão difícil de usar. O treinamento que tivemos com sabres no quintal de casa não havia sido profissional, mas ajudaria muito.

— Me deixa adivinhar: temos que usar as armaduras. — reparou ela.

— Sim, a da esquerda é a sua, olha só o tamanho. Alta e magra, parece que foi feita para uma Angel. — eu disse, Valentine me lançou um “essa só pode ser uma das suas brincadeirinhas!” silencioso. Não era uma brincadeira, era mais uma forma de tentar levantar o astral, afinal, teríamos que nos arrumar para caminhar em direção a nossa própria morte.

Depois de muito tempo tentando não vestir algumas partes do lado errado ou colocando a túnica por cima do peitoral de bronze, conseguimos nos deixar pelo menos apresentáveis, quer dizer, meu sentido de “apresentáveis” era sinônimo de que se nossos ancestrais da Grécia Antiga vissem isso, eles provavelmente se jogariam do tártaro de tanto rir da nossa falta de jeito.

Aproveitei o momento em que Valentine estava virada de costas amarrando as tiras das sandálias estilo gladiador e dei uma olhada em um dos meus braços, agora descobertos das mangas compridas da minha jaqueta. Uma coloração esverdeada tomava conta de praticamente toda a extensão da pele e ficando roxa em torno das cicatrizes que pareciam estar crescendo. A maior e mais recente não havia recebido nenhum tipo de tratamento, nem pontos nem curativos e tinha cara de estar infeccionando, o tempo em que passei presa no Cassino Lotus e depois pela O.R.D.E.M. haviam agravado a situação. Enquanto fiquei em casa, tentava amenizar o problema sem que Valentine ou Sam soubesse, usando blusas de mangas compridas e tentando amenizar a dor durante a noite, mas apenas isso, sem nenhuma melhora.

Olhei para as cicatrizes. A única coisa que me restava da minha família materna, justo uma maldição estupida. Mas como eu havia prometido a mim há muito tempo: ela iria morrer comigo, não havia mais ninguém seguindo a nossa linhagem. Por alguma estupidez de algum antepassado, nosso sangue havia sido manchado, marcado e condenado. Os Vega eram grandes inventores, gênios, cientistas, porém não conhecidos e que eram destinados principalmente a morrer pelas mãos de suas próprias criações. E eu era a ultima a ter esse legado sombrio nas costas, ainda tendo uma parte divina. Mãos marcadas, uma mente brilhante, ideias brilhantes, porém limitada graças a uma injustiça. Mas, desde pequenos, uma das lições que somos obrigados a aprender é que os Vega nunca, nunca se envergonham do que eles são e que o sangue que corre em suas veias é algo que você deve se orgulhar, apesar de tudo, apesar de uma maldição que quer fazer você perder a cabeça, literalmente.

Mas não era a maldição que iria me matar.

Coloquei as luvas novas, feitas de couro e ainda mais longas que as antigas. Tinha comprado elas assim que fugimos.

Ficamos alguns minutos encarando nossos reflexos no espelho até que eu dissesse alguma coisa:

— Vamos dar o fora daqui — me lembrei que ainda estávamos dentro da Estátua da Liberdade e quem sabe que por maldade do destino, alguém da cidade tenha percebido que as luzes dela estavam apagadas e ligara para a equipe de manutenção que poderiam estar chegando?

Quando já nos encontrávamos lá em baixo, decidimos procurar refugio dentre as arvores da ilha. Apesar de estar coberta por nuvens, a lua ainda conseguia iluminar lançando pequenos feixes pratas ali. Sentei na grama bem aparada junto com Valentine, que procurava furiosamente alguma coisa dentro da sua mochila até que encontrou um relógio de pulso prata.

— Para voltar no tempo, temos que rodar o ponteiro no sentido anti-horário. Uma volta completa equivale a 12 horas, ou seja, preciso dar duas voltas para voltar cerca de um dia... Então quantas voltas vou ter que fazer para irmos para ultimo dia do prazo da Jornada?

Fiz a conta mentalmente. Viramos a noite e a madrugada para fazer o ponteiro voltar tantos dias.

— Vamos lá: uma volta, duas voltas, um dia, dois dias, três dias... — ela começou a girar o pino e movimentar os ponteiros. Se fosse eu, já teria perdido a contagem graças a um cochilo que havia feito. Assim que ela terminou, após horas, suas mãos estavam vermelhas e cheias de calos, meu pescoço dolorido por causa da posição em que tinha caído no sono.

Olhei para o céu, que estranhamente estava aberto e sem sinal de nuvem de chuva nenhuma.

— Funcionou?

— Acho que sim. Há uns segundos atrás antes de terminar, o céu estava claro e era de tarde.

— Em que horas estamos?

— Por volta das 07h30min do dia 13 de Junho. Temos um tempo extra para chegar até lá antes da meia-noite.

— Acho que você chegou ao ponto certo: como a gente vai ir para Long Island? Roubando um carro? Isso seria fácil perto do pior: não fazemos a mínima ideia de qual seja a localização exata das ruinas do acampamento.

— Não podemos apenas perguntar para alguém na rua...? Ah, tem a névoa, mortais não vão saber onde o acampamento ficava...

Ela foi interrompida pelo som de folhas balançando e de galhos sendo quebrados. Seria esquisito encontrar um cavalo justamente naquele lugar, na Ilha da Liberdade, mas até mesmo o maior nível de esquisitice já registrado na historia não conseguia ser mais estranho do que aquele cavalo, ainda mais pelo fato do evidente chifre comprido que parecia ter brotado na testa do bicho.

Demos um passo para trás.

Outro “cavalo” igualzinho apareceu em meio à vegetação. Seus grandes olhos equinos se focavam em nossos restos e nas adagas empunhadas em nossas mãos de forma desconfiada. O aviso era claro: soltem as adagas e nos aproximamos.

Nós as largamos no chão em um movimento quase sincronizado. Confiantes que não correriam risco, eles se aproximaram em um movimento majestoso. Eles não eram brancos, mas sim, quase perolados, emitindo um brilho fraco, porém deslumbrante. Suas crinas e rabos balançavam levemente com a brisa. Sem duvida, eles eram em disparada os animais mais bonitos que já tinha visto na vida. A energia que seus chifres lançavam pelo ar funcionava como uma frequência que lançava ondas de calor para o meu corpo, me dando uma sensação de conforto e descanso.

Não resisti ao impulso e corri para abraça-lo que por sorte, soltando um gritinho entusiasmado demais, ele não teve nenhuma reação. Seu pelo era tão macio e quente que me fazia cogitar a ideia de dormir agarrada ali para sempre. Valentine trançava a crina do seu.

— Sabe, quando eu era criança, sempre quis ter um unicórnio. Um My Little Pony, para falar a verdade. Um sonho de criança tosco sabe? Mas agora, saber que são reais e... é incrível — sussurrei quase para mim mesma.

— É isso que o nosso outro mundo faz, o mitológico. Coisas das historias que vemos são vindas da nossa realidade. Infelizmente a maior parte delas são monstros. — explicou Valentine. — Porém esses garotões não. Não sei se você sabe, mas antigamente caçadores mandavam donzelas ficar sentadas em bosques a meia noite para atrair esses animais e eles acabavam dormindo em seus colos, então os caçadores os matavam.

Senti-os ficarem nervosos a ouvir aquilo.

— Ei, calminha, não há caçadores — continuou — Unicórnios são símbolos de pureza e inocência, então eles são ligados às donzelas e fazem qualquer coisa por elas. Sendo um ser mágico e tão poderoso, é capaz de atrair os olhos de todos, principalmente interesseiros. Seus chifres têm propriedades curativas. Existem muito poucos deles livres por ai e o numero baixo de florestas contribuiu bastante. Em cativeiro há muito mais, no Acampamento Júpiter, o romano, eles tinham um estábulo só de unicórnios, mas na são super-raros natureza. Tivemos sorte de chamar a atenção desses dois aqui.

Wow.

— Devo pedir desculpas pela minha falta de conhecimento pelo assunto? — tentei não parecer ofendida com a aula que levei. — Você podia fazer doutorado na área de Unicórniologia. Como você sabe tanto?

— O lado bom de ter um irmão fantasma que já esta bem familiarizado com esse mundo é que você acaba tendo umas aulas e aprendendo bastante. Por isso você devia andar mais comigo e Nico ao invés de ficar afastada e passando pelos cantos.

— Prefiro continuar burra a me enturmar com a Família Adams. — respondi indiferente.

— Poxa, pegou pesado dessa vez. Para que ter inimiga se tenho você como melhor amiga? — Valentine colocou a mão sobre o peito e se inclinou para trás dramaticamente como se tivesse ficado arrasada. — Bem que minha mãe disse que você era má influencia e não devia andar com você.

Levantei o dedo do meio.

— Esta vendo só? É a prova disso. Ela estava certa o tempo todo... — E então parou de rir e começou a olhar para o nada soltando um suspiro cansado — Queria pelo menos lembrar como ela era, coisas como seu sorriso e seu nome.

A única coisa que sabia sobre a família materna dela era que sua mãe havia morrido quando bem nova e ela foi mandada para um orfanato para ser colocada à adoção.

Estranho. Antes de perder a memoria, essas foram às únicas coisas que Valentine havia me contado antes de perder a memoria, entretanto no dia ela deixara bem claro que aquele era um assunto delicado e que não queria falar mais sobre ele. Algo no passado a deixava perturbada.

— O bom de não se lembrar dela é que você acaba não sofrendo por saber que nunca mais vai vê-la e vai por mim, isso é bem pior. — desabafei.

Silencio.

— Ás vezes eu me surpreendo com a velocidade em que nossas conversas divertidas se tornam lamentos sádicos com tanta facilidade.

— Talvez seja pelo fato das nossas vidas estarem a milhas de distancia de um lugar chamado felicidade.

Fomos interrompidas por uma batida de casco impaciente. Em meio a conversa havíamos esquecido nossos amigos equinos mágicos e eles parecem não gostar muito de ser esquecidos.

Uma lâmpada ligou ao lado da minha cabeça.

— Tive uma ideia. Eles são seres mitológicos, devem saber onde ficam as ruinas, podemos pedir que nos levem até lá!

— Como vamos pedir? Eles não tem cara de quem costuma servir de meio de transporte.

— Eles são parecidos com cavalos, são parentes mágicos dos cavalos e pégasos. Sam me ensinou uma dica secreta de sobrevivência básica, daquelas que os sátiros já nascem sabendo — vasculhei os bolsos da mochila e tirei duas maçãs vermelhas — Nunca saia sem maçãs. Além de ser uma ótima refeição que pode te salvar de uma morte horrível por fome, pode ser seu bilhete dourado para pedir uma carona. — estendi as duas frutas para os unicórnios, que aceitaram de bom grado — Será que poderiam levar nos levar as ruinas do Acampamento Meio-Sangue? Sei que vocês tem medo de correr riscos, mas juramos com nossas vidas que ninguém vai machucar vocês. Precisamos de uma carona, é por uma boa causa, por um ato heroico. — tentei fazer meu sorriso mais meigo.

Os unicórnios ficaram um tempo em silencio, lançando olhares um ao outro, em uma conversa que só eles entendiam. Deviam estar usando telepatia para decidir se valia a pena ou não. Por fim, depois de um longo tempo de espera, eles balançaram a cabeça para trás, em direção ao seu próprio dorso. A mensagem era clara: nós podíamos subir.

— Ronnie? — Valentine perguntou, já montada em sua carona.

— Sim?

— Ouça mais dicas secretas de sobrevivência básica que sátiros já nascem sabendo do Sam.

— Realizei dois dos meus maiores sonhos de criança: conhecer um My Little Pony com chifre e dar um passei nele.

— Não conheço nenhum herói que tenha montado em um unicórnio partindo em direção a sua maior batalha. Apenas pégasos.

— Todo mundo já andou em um pégaso. Será que devemos nos sentir privilegiadas por pegar carona com My Little Ponys com chifre?

— Acho que isso é um privilégio para poucos.

— Não é qualquer um que pode caminhar para a morte certa em grande estilo.

Eu cogitei a ideia de pedir para eles usarem seus poderes de cura nas minhas cicatrizes, porém acho que já estava pedindo demais.

Segundos depois, ambos de puseram a galope lado a lado, atravessando árvores como se fossem elas que abrissem o caminho. Uma piscada de olhos e já tínhamos voltado para a cidade, preferi não perguntar como fizeram isso. Eles passavam entre carros e motos com a maior facilidade do mundo, alternando entre a rua e a calçada. As pessoas deviam achar que era alguma espécie de apresentação de cavalaria da policia, pois apenas acenavam ou algumas ignoravam.

Se acham que fiquei completamente tranquila com esse passeio, tire seu cavalinho — unicórnio — da chuva, a cada metro percorrido meu coração quase pulava da minha boca, fora os ataques cardíacos quando eles decidiam se exibir e pular alguns obstáculos, tipo carros em movimentos ou até mesmo ônibus. Acabei ficando rouca de tanto gritar. Depois de muitos sustos, comecei a me acostumar e começar a ver beleza naquele caminho, os as luzes da Times Square quando passamos por ela, os letreiros, o barulho ensurdecedor que o transito fazia soava tão baixo que não atrapalhava. Por um momento, me senti triste por ter que deixar tudo para trás, mas não deixei que esse sentimento fosse adiante.

Outro salto e logo estávamos em uma estrada de terra aberta que levava ao nosso destino final, já estava amanhecendo, a claridade do nascer do sol se misturava com o brilho das estrelas. O vendo balançava meu cabelo e fazia minha franja cobrir os olhos. Certa hora, um caminhão tombado no meio do caminho estava pronto para nós fazer parar, porém, nossos amigos com chifres saltaram com maestria, comemorando o feito com um relincho com as patas dianteiras erguidas antes de retornar ao trote.

Bem, Valentine tinha razão quando disse que estávamos caminhando para nossa grande morte em My Little Ponys com estilo.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Odiaram? Amaram? Ficou bom? Ruim? Diga nos comentários, sua opinião é muito, muito importante para mim! ❤
Apesar de não ser um dos meus capítulos preferidos, foi legal escrever esse aqui. Queria muito ter conseguido trabalhar mais o plot da maldição da família da Ronnie antes, porém terei que adiar isso para daqui para frente, vai ficar melhor.
O próximo capitulo será a nossa batalha final. O que será que nossas garotas irão enfrentar? Será que elas conseguiram cumprir a Jornada de Ouro afinal? Além de ser o ultimo capitulo pelo PDV (POV) e narração da Valentine e encerrara a participação das nossas garotas por aqui (será que elas vão morrer?) e abrirá o caminho para outros personagens aparecerem, aguardem!
Logo logo estarei de volta, enquanto isso, mandem comentários, conversem comigo no twitter (@lannistaylor), ou façam perguntas na ask (ask.fm/ladymeow13), favoritem, indiquem para os amigos, eu ficaria muitíssimo agradecida!
Antes de dizer tchau, gostaria de desejar a todos os leitores de JdO, fantasmas ou não, um Feliz Natal (caso eu não postar antes), que ganhem muitos presentes, sejam muito felizes, comam muita comida gostosa e tudo o quanto é coisa boa, sério, vocês são muito importantes para mim! ❤
Enfim, a tia Lady Meow ama vocês ❤
Bjos e até os comentários!



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