A Página Virada escrita por Nicole Baioretto


Capítulo 2
Sapatilhas de Balé


Notas iniciais do capítulo

Yup, eu sei. Centenas de anos sem postar capítulo xD
Em meio a uma zona do meu ano pré-vestibular, perdi meu cel com anotações, minha beta receber proposta de trabalho para um livro, reescrevi esse capítulo de 3 mil palavras porque não gostei do meu estilo de escrita e mil outras coisas rolaram, mas o segundo cap chegou!

Aviso: Os capítulos vão demorar para sair, mas para compensar, serão mais compridos (3 mil palavras).

Boa leitura!



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A luz parecia mais forte e era chato olhar na direção do sol sem ofuscar a visão. Laís sorria, pois o dia estava mais claro e ameno que a previsão do tempo tinha prometido. Ela estava animada enquanto seus pés golpeavam o chão com força e a impulsionava pela rua abaixo da cidade.

Liberdade! Oh meu Deus, sinto-me tão solta. Vou à lanchonete que aqui perto e ficarei lá até o final da primeira aula.

Correr lhe fazia-a sentir como se fosse um pouco criança, mas ainda sentia a adrenalina por pular o muro da escola. Deu um meio sorriso para si. Poderia ficar na lanchonete, jogando Snow Mountain Race, em uma das máquinas de jogos. Era um jogo de corrida com diversas fases que davam uma senha no final para continuar de onde parou. Bem no cantinho do seu cérebro, estava com sua senha memorizada.

Estava frio, mas não mais para Laís. Quebrar a rotina era algo tão novo e louco no seu dia a dia que parecia programado. Ela já tinha pensado tantas vezes em fugir, mas ainda assim nunca tinha feito nada até então. Laís piscou confusa porque seu corpo estava tão diferente, e realidade pulsava tanto.

Ela prosseguiu, correndo pelas calçadas, atravessando as ruas calmas do bairro e fazendo o mesmo caminho que já fez mil vezes da escola para a lanchonete, porque toda hora ia para lá quando ficava na escola de tarde.

Finalmente estou chegando. Só preciso virar essa esquina e... Ué?

Piscou duas vezes antes de processar o que via. Seja o que for, aquilo não era a lanchonete. Estava diante de um grande, velho e alto museu. Olhou para trás e viu que não conhecia aquele lugar.

O... Quê?!

Sacou o celular e ligou o GPS. Esperou alguns segundos, abriu os mapas e apenas leu na telinha do smartphone:

Carregando localização... Carregando localização... ERRO Localização Não Encontrada, por favor, reinicie o aplicativo...

Abriu e fechou mais umas três vezes até ter certeza que não encontraria. Quando virou para trás, esbarrou num estranho que estava andando.

— Opa, cuidado ai moça. — Murmurou um pedido de desculpas, um pouco sem jeito por sua falta de atenção, e então olhou melhor para o prédio. Tinha uma escadaria e o prédio tinha marcas de arquitetura antigas encravados em sua pedra, com uma varanda sustentada por colunas romanas e, bem no topo, havia um cartaz de plástico chamando as pessoas ao redor para entrar ao Museu Das Belas Artes De Poranta.

Uma das professoras tinha falado daquele museu no início do ano, e era sobre alguma nova coleção de artes românticas... Ela não se lembrava direito.

Bem, acho que, se vim parar aqui, foi por algum motivo... Talvez seja melhor dar uma olhada.

Subiu as escadarias e entrou no prédio. O cheiro de antiguidade estava por todo lugar, mas alguém tinha colocado perfume de flores no ambiente. Havia uma decoração incomum para um museu, com paredes cor vinho que lhe lembrava um saguão de hotel chique. Estava muito iluminado, com numerosas lâmpadas nas paredes, e no centro, uma moça morena, com um par de óculos de aro grosso, estava sentada atrás da mesa vendendo ingressos. Ela foi até a moça e notou que havia um constante burburinho de várias pessoas, mas ali na recepção não via tantas delas. Ao pagar o ingresso ela hesitou quando viu que gastaria todo dinheiro do lanche para agosto.

Ah, dane-se, estou aqui mesmo.

Ela pagou e ficou notando como era estranho estar vestindo uniforme e com a mochila jeans nas costas, do tipo, “oi, estou obviamente matando aula num museu”. A mulher também pensou isso, porque seus olhos percorreram seu rosto e suas roupas, sua mochila e por fim ficou olhando sua cara. Mas ela decidiu que não interferiria, afinal de contas não era da sua conta. Após abrir e mexer a caixa registradora entregou-lhe o troco junto com o ingresso e voltou a rabiscar no bloco como se nada tivesse acontecido.

Seu coração deu mais uma pulsada energética enquanto percorria o chão de ladrilhos desgastados e antigos e se aproximava do som dos burburinhos das pessoas. As cores estavam mais fortes, mais vivas e ela se perguntou por que aquilo soava tão mais real que uma semana, um mês ou um ano já soou para ela. Viu uma escada pela direita, de degraus pequenos e amarelos, que guiavam até o segundo andar do prédio histórico. Tomou a escada e viu um cara alto, moreno, com barba feita descendo as escadas apressadamente. Ele devia ter uns 20 anos e era bonito, bastante bonito, mas nem parecia ter notado sua presença. Laís sentiu se ficar vermelha e prosseguiu subindo até o segundo andar.

Gente, que dia mais louco. O que estou fazendo aqui?

O andar acima também estava bastante iluminado e havia um grande, alto e largo quadro pendurado na parede. Era gigante e lhe fazia sentir ainda mais baixinha como um anão ou um gnomo.

O cara que construiu esse museu tinha mania de grandeza ou algo assim?

Olhou para o quadro e viu que deveria ter levado meses para ter ficado tão lindo. Era uma paisagem de uma cachoeira desaguando em uma floresta, bastante tropical. Tirou-lhe o fôlego olhar para aquela imagem, o paraíso tinha ganhado um retrato em tinta a óleo, e passadas leves e fluídas de pincel registravam uma enorme cachoeira no centro e cores escarlates e laranjas pareciam dançar no céu. De repente, começou a passar mal. Lais sentia tontura, como se tivesse levantado rápido demais, mas ela estava apenas parada. E antes que pudesse piscar, mergulhou em uma escuridão.

A luz da tarde estava machucando seus olhos. Estava bem no seu rosto, dando-lhe uma dor de cabeça e suas costas também doíam um pouco com o peso constante da sua mochila. Laís olhou ao seu redor, surpresa, e viu que estava sentada em um balanço de madeira em um parque que ficava a uns dois quilômetros da sua casa.

O quê... Aconteceu comigo?! Hoje o dia está estranho demais, será que tomei alguma coisa para ficar louca? ...Mas não tem como eu ter usado drogas sem perceber, não é?

Apalpou seu rosto, seu corpo e seus bolsos. Tudo parecia em seu lugar, e pelo menos naquele momento nada coçava, doía ou parecia estar faltando. Parece que tinha sido sequestrada, mas aparentemente ninguém mexeu com ela. Demorou minutos para perceber que tinha sido raptada... Por ela mesma.

Olhou ao redor e só o que viu foram duas crianças alegres e distraídas brincando pela praça colorida e uma senhora passeando com um labrador gordo. Eles não notaram que ela acabara de sair da viajem mais louca da sua vida. Ela pegou o celular, tampando o sol com a mão. Quando apertou a tela do Smartphone, a tela acendeu-se e mostrou em números garrafais que já eram cinco da tarde.

São cinco da tarde? Cinco da tarde, estou vendo direito?
Calculou as horas que ficou “fora do ar” com os dedos.

Eu fiquei dez horas... Aqui? Dez horas inteiras em transe?

Estava boquiaberta. Não conseguia dizer se esteve na praça durante todo esse tempo. Mas quando saiu do balanço, sentiu as pernas doerem de cansaço e seu estômago roncar alto. Deve ter ficado aquelas dez horas sem comer, porque estava faminta.

Fez o percurso inteiro um pouco desnorteada, como se tivesse acordado de ressaca mental. Estava acabada, suada, esfomeada, cansada, assustada e com certeza em encrenca.

Nunca. Mais. Mato. Aula.

Já bolava na cabeça desculpas para os seus pais e convencê-los de como passou o dia inteiro fora. Mas não dava certo, nenhuma mentira que bolava estava boa o suficiente. Começou a ficar preocupada demais.

Acalme-se, Laís, você vai bolar uma mentira convincente... Você sempre foi boa em mentir, vai conseguir fazer isso mais uma vez.

O caminho foi um pouco chato de se fazer naquela hora do dia porque a cidade agitava-se com pessoas, carros e barulhos de todos os lados. Um dos carros passou por ela, pequeno e prateado, e seus olhos captaram Isabela, da sua sala, olhando para ela espantadíssima em encontrá-la.

Caramba, agora lembrei que matei o dia inteiro! E se mais alguém me viu enquanto eu estava andando por aí?

Começou a repetir mentalmente para si: “aja naturalmente como se nada tivesse acontecido...” A boca da garota fazia um “o” de surpresa enquanto encarava Laís e continuou encarando até sumir de vista. Foi tão súbito o que aconteceu no museu que ela ainda não tinha digerido totalmente a informação. Quando chegou ao seu prédio começou a desenvolver a mentira que contaria para seus pais. Subiu e chegou ao apartamento, abrindo a porta com delicadeza para não fazer barulho. A luz amarelada daquela sala bagunçada emanava do teto e a mesa branca e pequena estava completamente vazia, o que era mal sinal, porque era naquele horário que sua mãe fazia o lanche da tarde e o cheiro de café devia estar impregnado no apartamento. O barulho da maçaneta girando ecoou pelo apartamento.

—... Mãe? Pai? Cheguei. — Ela anunciou um pouco temerosa.

— Laís? É você? — sua mãe apareceu do corredor, com as roupas do trabalho ainda no corpo e seu semblante preocupado. Os cabelos loiros da sua mãe caíam para trás, despenteados, e o tailleur que usava estava um pouco desalinhado. Seus olhos castanhos a fitavam. — A escola ligou, o diretor estava preocupado, você sumiu, larguei o trabalho, liguei para você, liguei para o porteiro da escola, e nem ele não te viu e passei pelo bairro inteiro de carro...!

Laís quase fez uma careta. O jeito da sua mãe de falar era desconcertante quando ficava muito preocupada ou estressada

Sara foi em sua direção rapidamente e Laís começou a pensar em várias desculpas para dizer, mas sua mãe a surpreendeu com um abraço, envolvendo-a em braços quentes e transpondo sua preocupação. Ela apenas calou-se e retribuiu, imaginando como deve ter sido ruim para sua mãe chegar do trabalho e não encontrar a filha.

— Onde está o pai? — foi tudo que disse, surpresa por sua mãe não ter feito algo mais previsível como ficar furiosa ou dar uma bronca.

— Seu pai teve que ficar no trabalho para uma reunião importante, não queria que ele largasse para te procurar. — Sua mão foi até a testa e Sara a fitou.

— Agora me conte porque sumiu por horas... Não atendeu o celular, não avisou a ninguém e ninguém te viu saindo.

Ela era contra, muito contra, em relação a mentiras, mas não poderia dizer a verdade dessa vez. Não se quisesse perseguir seu sonho.

— Eu deixei o celular no silencioso e eu fui para uma lanchonete . — Olhou bem nos olhos de sua mãe para tentar convencê-la de que falava a verdade.

— Fiquei lá o dia inteiro e não vi que o tempo passou.

— Laís! Você estava com alguém?

— Não! — ela respondeu enquanto bolava mais mentiras.

— Que lanchonete era?

—... O do Jeff, na frente da Praça da Rosa Ermelinda. — fez uma pausa, e acrescentou com a voz irritada.

— Foi por causa da Sônia, tá? Ela estava me deixando louca. — Se conseguisse convencê-la de que foi tudo por birra da professora, melhor ainda.

Sua mãe se virou para pegar um copo d’água, estava visivelmente chateada. Deu dois goles grandes e olhou-a mais uma vez. Perguntou uma última coisa:

— E você ficou lá por horas, até o fim da tarde. Laís... Não está escondendo alguma coisa?

A pergunta pegou Laís de surpresa, mas tinha que convencê-la. Teria que falar algo de muito efeito para sua mãe, algo que a convencesse de vez:

— Não estava sozinha. Estava com o Felipe, um garoto que conheci no aniversário da Natália.

Sua mãe ficou bastante surpresa. Aquilo sim soou como algo mais convincente, embora mais drástico.

— Tem algo mais para contar, filha? — perguntou, preocupada. Laís confirmou:

— Não, mãe.

Tique-taque, tique taque... O relógio na sua frente batia lentamente. Seu quarto era pequeno, apenas para ela. Com um toque feminino e um pouco infantil naquele quarto e até um papel de parede de flores rosa. Tinha duas portas: uma para o corredor e outra para a varanda do apartamento, acessível pelo quarto da Laís e pela sala de estar, que ela adorava, porque podia ficar na varanda vendo as casas e os prédios brilhantes do seu bairro à noite. Magali, sua calopsita de estimação, dividia o espaço com ela no quarto, ao pé da cama. Laís estava lá, esparramada pensando no que fazer naquela situação e ouvindo os eventuais grasnados da Magali. A pequena ave ajeitava suas penas, compridas e não aparadas, empoleirando-se no seu toco de madeira e tentando chamar sua atenção, mas naquele momento Laís estava pensando em outros assuntos.

Ela sentou-se e fitou, na sombra feita pela escrivaninha, um par de sapatilhas vermelhas, desgastadas, desbotadas, porém maleáveis, confortáveis e muito queridas. O tempo de comprar um novo par estava aproximando-se, mas usaria aquelas sapatilhas até não poder mais. Deu um sorriso nostálgico quando se lembrou da dor aguda que sentiu nas pontas dos pés nas primeiras vezes que dançou com elas, do treino árduo e da sua insistência. Nunca pensou que um dia sentiria falta desses momentos que na época achava tão chato e tão desgastante. Sentiu-se preocupada de novo. Abaixou a cabeça e abraçou o travesseiro.


Não quero largar. Não agora, quando estou tão perto.

A prova de admissão do balé seria em apenas dois meses, por isso não poderia contar para sua mãe que passou mal.

Sentiu uma pontada de medo quando lembrou que sua amiga Elaine fora recusada quando descobriram que tinha um sopro pequeno no coração, mesmo com o médico dizendo que estava tudo bem.

Pensou no seu problema durante longos minutos. Se escondesse da sua mãe, poderia descobrir que havia um grande problema por trás do seu apagão. Mas se contasse...

Eu prometo a mim mesma que, se voltar a acontecer um apagão desses, conto para minha mãe. Tomara que seja apenas uma vez, ou senão terei que desistir da academia.

Mas talvez não fosse nada de sério. Lembrou de como chegou ao museu sem orientação nenhuma e de como seu GPS não funcionava, mesmo com o celular em perfeito estado. Tinha que haver uma razão por trás, destino talvez.

Ela estava com medo, estava preocupada demais e jogou-se na cama de novo. Pegou o celular para ver as mensagens, mas o aplicativo não carregava.

Erro: Não há acesso à internet.

Então estranhou porque sempre tinha internet no celular, mas quando acessou as configurações descobriu que o pacote de dados estava desabilitado. Foi quando se tocou.

Pera... Sem internet? Quer dizer que eu não conseguia ver minha localização... Porque esqueci que tinha desabilitado a internet?!

Deu um tapa na própria cara. Só um ser humano tão desligado teria tentado usar o GPS sem internet.

Caramba! Destino uma ova.

Deu risada consigo mesma e virou-se, para dormir. Teria aula no dia seguinte e a semana ia ser longa sem computador e sem sair, estava de castigo por uma semana.

O dia seguinte veio, e com ele, uma baita claridade incômoda no quarto da Laís. Quando abriu seus olhos, estava enrolada como um bolinho numa confusão de lençóis e cobertores. Rastejou para fora da cama, semiconsciente, para bater a mão no alarme. Mas então notou que ele não estava tocando. Estranho. Então deu uma olhada melhor no relógio e descobriu que já eram 06h32.

06h32?! Eu devia ter acordado às 06h, que desgraça!

Era muito azar estar atrasada e encrencada na escola ao mesmo tempo. Então era por isso que o dia estava tão claro. Seus pais acordariam às sete, e se a vissem ainda em casa, estaria frita. Correu para se arrumar, enfiando a bermuda masculina, a blusa folgada e branca, seu tênis e socou os livros do dia na mochila jeans.

Prendeu seu cabelo loiro escovando-o em um rabo de cavalo alto, seu penteado favorito, e olhou para o espelho.

Céus, minha testa e minhas orelhas são gigantes.

Pensou, fazendo um bico de reprovação. Tirou as remelas do olho com pressa, prestando atenção na cara para pelo menos estar apresentável na escola. O dia já estava tão claro que era possível ver um pouco do azul escuro de seus olhos.

Quando nasceu, tinha os olhos azuis e acinzentados. Mas com o tempo foram escurecendo até ficarem quase imperceptíveis. Tecnicamente, Laís é uma loira de olhos azuis. Uma loira testuda com um maxilar forte e orelhas gigantes, mas ainda assim uma loira de olhos azuis.

Teria passado maquiagem, mas correu para ir embora e pegou um saco de pães de queijo. Detestava ir para a escola sem escovar os dentes, mas demorava dez minutos para chegar mesmo se corresse. Antes de sair correndo, roubou os chicletes de maçã do seu pai.

Correu pela calçada com um pão de queijo na boca, atraindo atenção das pessoas pelo jeito caótico que corria. E então seu elástico se rompeu e o cabelo foi para o rosto, jogando uns fios pra dentro da sua boca.

—Pfff! — “dane-se, não vou refazer. Vou de cabelo solto mesmo”.

Quando chegou à escola, parou para tomar fôlego. Quando levantou o rosto, ouviu ao longe o som da sirene das 7h.

E eu ainda tenho que correr mais cem metros e subir essa escadaria maldita.

Quando chegou à sala 14, ofegante e cansada, colocou a mão na maçaneta para abrir, mas foi interrompida.

— Laís. — Disse o diretor, obviamente insatisfeito com a conduta dela no dia anterior.

— Venha, vamos para a minha sala hoje. O professor já sabe que você vai se atrasar uns minutinhos. — terminou de dizer, com seu jeito “calmo, mas bravo” de falar. Pelo visto, já deve ter tido que lidar com muitos alunos que fugiram. Mas Laís era a primeira em bastante tempo.

Ela ficou na sala do diretor por quase meia hora, que era mais tempo do que ela achava que levaria, mas o diretor estava mais preocupado com a imagem da escola e os possíveis perigos que ela podia ter encontrado enquanto esteve fora. Ela deu o seu melhor para mentir de novo e recontar a história da lanchonete e até do garoto.

Qual era mesmo o nome dele? Nicolas?

— Então, quem era esse garoto? — o diretor perguntou.

— Ah, ninguém, juro. Ele não é daqui, nem se preocupe. — Ela respondeu, mas ele não parecia muito interessado no garoto mesmo.

Quando terminou de contar tudo, viu que ele pareceu genuinamente convencido, já que histórias de garotas e garotos que tentavam sair não eram raras. Aliás, Laís entendeu quando o diretor esclareceu que isso era um dos maiores motivos da rígida política de controle dos alunos que a escola tinha.

— Mas me conte melhor essa parte da fuga que eu não estou entendendo direito. Você fugiu como?

— Eu... Pulei o muro.

— E você não foi pega pelas câmeras ou por alguém? — ele levantou uma sobrancelha.

— Jeremias, não quero soar convencida, mas não é difícil saber onde as câmeras estão apontadas. E o muro é tão longe da câmera que duvido que teria alcance até lá.

— Mas você não fará isso de novo.

— Não. Não farei de novo.

A conversa teria durado mais, mas para o alívio de Laís, o diretor já tinha ligado para sua mãe e conversado com ela mais cedo. Divertiu-se imaginando sua mãe falando caoticamente ao telefone com o diretor e ele tentando entendê-la. Isso não era algo que desejaria nem para os seus maiores inimigos.

O único detalhe é que, quando terminaram de conversar e levantou-se para sair, o diretor a chamou uma última vez, dizendo com voz amigável e calma de sempre:

— Só peço que pense duas vezes antes de escapar da escola de novo, Laís. — Então ele fez uma pequena pausa e adicionou, falando mais devagar — sei que você tem um sonho, e quer seguir com ele. — Disse, provavelmente se referindo ao balé.

Laís assentiu e foi embora, fechando a porta atrás de si. Não sabia se tinha recebido um conselho ou uma ameaça.


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Notas finais do capítulo

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