Ele estava certo, e eu sabia.

Normalmente, ignorar as coisas até elas voltarem ao normal funcionava muito bem obrigado. Mas isso era sobre Jason; e eu não podia ignorar. Mesmo quando tudo isso poderia terminar em... Situações que eu preferia não ter que viver novamente.

Jason fechou a porta da varanda e eu quis me derreter nas sombras do telhado.

–Escute, Nico... Eu não sei quanto...

–Não. -cortei. Soltei uma respiração que eu não sabia que estava prendendo- Não sei que tipo de obrigação você acha que tem comigo, Jason. Tudo que você podia você já fez. Eu sei que eu fui algum tipo de projeto de reabilitação seu, e tudo bem, mesmo, mas...

A risada incrédula dele me fez para o fluxo de palavras.

–Projeto? Obriga... Nico, o que você está pensando?–ele pareceu querer me jogar da sacada, e sinceramente eu não tenho certeza se não era isso que eu merecia. Tentei colocar as mãos nos bolsos, mas essa jaqueta não os tinha. -Você foi bem frustrante, é verdade. E um pouco obtuso. Mas uma obrigação? –Ele sacudiu as mãos próximo a mim como se quisesse me chacoalhar pelos ombros- Foi tudo menos isso.

Foi só um sussurro. E eu vi tanto escondido debaixo daquilo tudo.

–Jason, eu...

–Não. Me escute, Nico.- A voz dele era intensa; e seus olhos pareciam a beira de colapsarem em rios de lágrimas. Era uma expressão que eu nunca havia visto no rosto dele; tão frágil, como se uma palavra errada pudesse parti-lo ao meio. -Não foi sempre assim. E acredite em mim, seria tão mais fácil para todos se isso não tivesse acontecido.

Dessa vez ele pareceu mais decidido quando colocou as mãos nos meus ombros, o choque de temperatura me fazendo tremer.

–Mas aconteceu. Mesmo que você nunca soubesse, aquilo já bastava. Mesmo. Mas... Olhe, eu entendo se você nunca mais quiser nem olhar para mim Nico, mas chega de ficar fugindo desse assunto.

–Que eu nunca... Jason, do que você está falando?- minha cabeça começava a doer por conta da garoa fina que estava começando a ensopar meu cabelo, e minha vista estava embaçando.

–Espera-Ele soltou meus ombros e fez um ‘T’ coma s mãos, e eu quis me atirar na lixeira lá em baixo quando senti falta das mãos dele. -Quanto você escutou da conversa?

–Isso realmente importa agora?- perguntei, cético.

–Quanto você ouviu?- ele repetiu insistente. Eu não via como isso resolvia alguma coisa, mas respondi mesmo assim, tentadno- e falhando-colocar as mãos nos bolsos.

–Só a parte que Hazel queria que você me contasse alguma coisa. -Ele pareceu tão aliviado com aquilo, que minha curiosidade apareceu forte como quando eu tinha dez anos.-E que eu assumo que você não vai me contar.-constatei. Ele nem mesmo teve a decência de parecer envergonhado.

–Não é nada que você precise se preocupar... -Ele passou a mão na testa para tirar um pouco da água que começava a acumular da chuva que ficava cada vez mais forte.

–Me preocupar? Eu podia ter deixado isso, Grace. Mas não depois do que você disse. ’’ Mesmo que você nunca soubesse aquilo já bastava’’? Como eu devo interpretar isso? O que você tem para me contar?-Eu não sabia de onde vinha tanta coragem e petulância, sinceramente, mas no momento eu era grato a isso.

–Nada!-ele soltou num tom esganiçado que não teria convencido nem Percy. -Não tem nada para contar!-A esse ponto a chuva já tinha feito seu caminho por dentro de nossas roupas e eu estaria mentindo se eu disesse que não estava tremendo com o frio.

E então a porta da sacada foi aberta com violência e Percy apareceu, com massa azul ainda no cabelo e uma expressão que eu havia visto poucas vezes em seu rosto; todas elas em situações de vida ou morte.

–Pelos deuses. Voce- Ele rugiu apontando o dedo no meio do nariz de Jason, parecendo transtornado- Para de ser um idiota. Até eu consigo ver a queda de vocês a uma milha de distancia. E você- ele se virou para mim e eu tive que conter a vontade de me encolher na jaqueta. - Para de fazer tudo mais difícil!

Eu pisquei duas vezes antes de olhar para Jason. Tive que esfregar os olhos quando notei que ele não só estava corando como também parecia que ia começar a chorar a qualquer minuto.

–Jason. - chamei baixo, engasgando um pouco com a água que ainda caída. Deu uma olhada de canto para Percy e se não fosse Reyna o puxando de volta para o apartamento o idiota era bem capaz de continuar parado ali. –Jason. -repeti com mais força. Ele me olhou com um medo estranhos nos olhos. Era tão estranho ver aquele tipo de expressão nos olhos dele, que eu quis me bater por ser a causa daquilo. -Do que ele estava falando?

–O que você acha que uma queda é, Nico?- ele respondeu grosso, mas o nariz dele estava começando a ficar avermelhado; por vergonha ou pelo frio da chuva, eu não tinha certeza.

–Mas... Voce?- Eu não queria que minha voz tivesse falhado tão miseravelmente, mas foi tudo que consegui articular. Jason Grace tinha...

–É; eu. - O Jason Grace tinha uma...-Por favor, fala alguma coisa.-ele quase implorou, mas eu não conseguia realmente me focar nisso; não quando ele tinha uma...

Eu não tenho certeza o que aconteceu então.

Eu tinha a vaga impressão que alguma coisa estava me cutucando, e tinha algumas imagens aleatórias achando uma ordem bagunçada na minha cabeça, e tudo sobre minha roupa e meu cabelo parecia desconfortável, e tinha esse calor amaldiçoado subindo desde a ponta dos meus pés até a ponta do meu nariz toda vez que meus olhos vagavam perto da zona da boca dele e... De repente eu estava o beijando.

Me demorou um ou dois segundos para entender o que eu tinha feito, e então mais três para virar e tentar alcançar a sombra rasa no canto da varanda.

–Nico. - o aperto que ele fazia no meu braço não era forte, e eu podia facilmente o quebrar.-Nico, por favor. Olha para mim.

Deliberadamente devagar, eu fiz o que ele me pedia. Minha respiração travou na garganta quando notei que se não estivesse chovendo, o rosto dele estaria molhado do mesmo jeito. Mas essa não era a parte mais alarmante de tudo, não. Essas seriam os olhos dele, azuis como nunca antes, que brilhavam com tanta felicidade que eu não conseguia me lembrar de alguém parecer tão feliz na minha presença.

–Você... Você fez isso por que...

–O que você acha que uma queda é, Grace?- rosnei as palavras de antes, me sentindo irritado e idiota por não pensar antes de fazer as coisas. Mas meu tom não pareceu o intimidar, só fez seu sorriso idiota aumentar ainda mais, e seu aperto em meu braço descer para minha mão, entrelaçando nossos dedos.

Tentei soltar mais uma vez, o rosto queimando tão intensamente que eu jurei que podia fritar um ovo ali sem problemas.

–Pára de me olhar assim. - resmunguei ainda tentando me soltar dele. Eu conseguia ver todos dentro do apartamento pelo vidro da sacada, nos encarando com sorrisos expectantes.

–Desculpe. Eu estou feliz. - ele disse soltando uma risadinha que era tão tosca e fora de lugar que me fez parar de lutar contra ele.

E foi ai que ele fechou a distancia entre nós, fazendo ainda mais água cair no meu rosto, entrelaçando nossas duas mãos juntas firmemente, nunca tirando aquele sorriso tonto do rosto. Não foi nada elaborado; nada com técnica. Ele simplesmente encostou a boca dele com a minha e deixou ali, sem fazer nada. Eu talvez devesse me sentir envergonhado por isso, e pelo fato que nossos olhos ainda estavam abertos, o que havia muitas pessoas nos olhando, mas naquele momento, eu sinceramente não liguei para nada disso.

Mais tarde, se alguém me perguntasse, eu negaria que meu primeiro beijo foi na chuva, com um cara que parecia um super homem loiro, doce, gentil e um idiota. E eu com certeza não diria que eu me desmanchei no abraço dele, esquecendo que ainda estávamos na chuva, encharcados, com todos os nossos amigos nos encarando do outro lado do vidro; e que eu simplesmente amava aquele calor que subia pelas minhas pernas e se espalhava por qualquer parte do meu corpo que tocava o dele.

Não era esse caminho que eu esperava seguir com a minha vida.

Mas foi perfeito mesmo assim.