Nova Terra escrita por Raposa das Bibliotecas


Capítulo 3
Katy




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–Eu já disse para você não trazer seu Dragão aqui!

–Não foi minha culpa, mãe.

–Não, não foi sua. Então a Torre Norte está pegando fogo, um fogo que acho que os Quatro Reinos pode ver por causa de uma coincidência qualquer.

A garota olhou a mãe e respondeu:

–Tá, eu posso ter um pouco de culpa.

–Um pouco?

–Eu apago o fogo. Não se preocupe.

Katy correu pelas escadas brancas o mais rápido que pode. Quando viu a Grande Janela, assoviou e continuou correndo, seus pés passaram pelo parapeito da janela e ela caiu montada em um Dragão pequeno. Ela o ganhará no dia anterior a este, no seu décimo quarto nascimento. Ela agora já é uma Dracae. Uma Senhora dos Dragões.

Hoje, um pouco mais cedo, Katy brincava com o Dragão na Torre Norte, caçando corvos, matando animais com o fogo. O fogo de um Dragão não é uma coisa qualquer, é um fogo vivo. Ele tem sentimento, ele escolhe quem queimar, Dracaes não se queima com nenhum tipo de fogo, ela já passou por essa experiência.

Eles agora estavam na parede da Torre. As garras do Dragão penetrando a parede cor marfim e começou a escalar até chegar a uma janela. Katy entrou na Torre e correu para o centro da sala. As chamas ardiam a fumaça era sufocante, Katy aproximou-se de uma labareda que chicoteou sua mão, o fogo se impregnou na carne e assim, em seu corpo. Katy começou a absorver o fogo, suas roupas já tinham se queimado. As chamas dançavam em sua pele, deixando os cabelos longos e negros mais vividos. A pele cor de bronze com uma coloração mais forte e os olhos, ah, os olhos de Katy, amarelos como o Sol, agora brilhavam tanto quanto este.

Katy ouviu o chamado do Dragão, mais ainda não tinha acabado. Ela ainda estava absorvendo o fogo e agora suas costas começaram a doer. Uma dor excruciante, nauseante. Uma dor mortífera que a fez cair. O fogo ainda caminhava até ela, não conseguia parar de absorver. Ela ouviu o estalar de ossos, podia senti-los se quebrando.

Agora estavam se recolocando.

De repente, no alto de suas costas, um pouco abaixo da nuca, duas elevações começaram a crescer. Crescia cada vez mais e a dor junto deles. Katy agora estava ajoelhada, com as mãos no chão e gritando de dor. Sua pele começou a se descolar das costas, fazendo a carne se expandir. Ela não podia ver o que estava acontecendo, mas a dor podia ser muito bem sentida.

Por fim ela ouviu que os ossos pararam de estalar e a sua pele ainda estava ali. Ela podia ver no chão, agora sem chamas, alguns pedaços brancos, duros, ossos. Ela levou a mão às costas, mas nada tinha de diferente, então, o que tivera acontecido ali?

Ela ouviu um o chamado do Dragão novamente e correu até a janela da Torre. Ele estava ainda nas paredes cor marfim, esperando por ela.

–Já vou- ela subiu no parapeito da janela e pulou. Mas o Dragão não se mexeu, ele não levantou voo para salvá-la. Katy começou a gritar e fechou os olhos, mas ela não caia mais. Quando teve coragem, abriu os olhos, olhou para a torre e ele ainda estava lá, parado, olhando-o no ar. Todos a olhavam no ar. Quando tomou mais coragem ainda e fôlego, Katy olhou para si própria, seu corpo em chamas e suas asas batiam.

ASAS!

Ela estava com asas. Asas que pegavam fogo. Katy, quando deu por si, estava nua e a vergonha tomou conta. Ela bateu suas asas para longe dali. Foi para o Jardim de Ossos, um jardim cheio de árvores brancas que não cresce folhas nem frutos. São árvores de sal.

Suas asas desapareceram quando pousou e correu para o castelo. Nenhum guarda a vista, ela continuou correndo e virou no corredor errado, quase entrando no estábulo. Voltou e subiu a Torre Sul e entrou no próprio quarto.

Katy não conseguia acreditar no que aconteceu. Como essas asas foram parar ali? Ela nunca tinha ouvido falar de uma Dracae que tivesse asas.

Nunca houve igual.

–Minha senhora?

–Sim- disse Katy se virando para a criada que estava à sua porta.

–Seu pai a quer ver. No Grande Salão.

–Obrigada.

Katy prendeu o cabelo em uma longa trança. Seus cabelos cor de carvão dançavam em suas costas cobertas por sedas. Sedas com desenhos de tigres malhados. Katy desceu rapidamente as escadas, passando por guardas que ficavam bobos com sua beleza estrondosa.

–Pai?- Ela disse adentrando o Grande Salão. E não exageraram no grande. É a maior construção já vista por Katy e já feita pelos homens. O Grande Salão tem desenhos de Dragões nas paredes, alguns desses desenhos simplesmente saem das paredes, feitos de ouro, eles dão vivacidade ao Salão. O Trono de seu pai é rodeado por um cemitério de ossos de Dragão. Cada um, posto estrategicamente ao redor da alta escadaria dourada e submissos ao Trono. Todos montados, mostrando o tamanho dos Dragões e dando uma ideia de seus poderes.

No centro do Grande Salão tem o esqueleto do maior e o mais feroz dos Dragões. Seu nome não consta nos livros de história e ninguém tem coragem de nomeá-lo. Ele foi o único Dragão não domado pelos orientais. Reza a lenda que este Dragão não só cuspia fogo como também piche. Um piche altamente quente e venenoso, capaz de fazer até o mais forte dos gigantes do Sul recuar.

O tamanho de seu poder é lendário e este também. Alguns Dragões voltaram à vida e os orientais agradecem por isso, assim retomarão o poder e agradecem também que o Grande Dragão não tenha voltado.

–Aí está ela, - disse o Rei do Oriente- minha Princesa. Bela como a mãe e corajosa como o pai. Minha filha é verdade o que dizem? Que você pode voar?

–M-mas que besteira pai. Ninguém pode voar, exceto os pássaros- Katy ouviu um barulho e olhou para o teto em formato de redoma. - E também os Dragões.

–Há fabuloso. Fabuloso. Katy, minha Princesa, este aqui é o Sor Falfer Tourn Hillin Frey Albert. Cada um dos nomes que ele tem foi ganho em batalhas, matando os líderes. Ele matou quatro, ninguém sabe dizer qual destes nomes é o seu verdadeiro. E ele não revela, nem mesmo a mim- disse o pai. Seu pai, o Rei, é um homem alegre, extrovertido. Muito carinhoso e inteligente e também, muito abestalhado. Uma vez ele pagou dez moedas de ouro a um mercante somente porque este dizia carregar um lagarto que voava. Mostrou as “asas” do animal e seu pai acreditou. O mercante disse que “após alimentá-lo com a comida certa, você poderá fazê-lo voar” e pagou mais cinco moedas de ouro para comprar a comida do mercante. Assim que este saiu, seu pai subiu ao próprio quarto, alimentou o lagarto e o soltou pela janela. As crianças pobres tiveram um jantar naquela noite.

–Onde o conheceu?

–Ele veio do Norte me trazendo uma mensagem. Eles solicitam nossa ajuda e pedem para irmos o mais rápido possível. Aqui também diz que o Sul também foi convidado e para convidarem seus maiores inimigos, deve ser importante.

–E o senhor, o senhor responderá à carta?

–Já respondi, mandei uma coruja, a mais rápida de todo o Oriente com uma carta dizendo que é uma honra. E que compareceremos.

–Mas o senhor não pode. Não pode sem consultar o Conselho, sem consultar a mamãe, sem consultar a mim.

–Lógico que posso Katy. Eu sou o Rei.

–Mas não age como um.

O Dragão que estava andando nas paredes do Grande Salão levantou voo e cuspiu um fogo verde. O fogo começou a queimar o chão, uma massa ondulatória que não se expandia, somente crepitava. O Dragão deu um rasante no ar e passou pelo fogo. A partir que seu corpo entrou em contato com este, ele deixou de ser um Dragão e se transformou em uma mulher de vestido verde. Os cabelos de igual cor, mas de um tom mais forte, balançava com o andar arrogante da mesma. Ela é uma Feiticeira. Vinda das Terras da Morte mais ao leste.

–Seu pai não precisa de conselhos de uma adolescente para governar um reino só dele.

–E quem é você, Bruxa?

–A Dracae me chama de Bruxa, eu me chamo de Feiticeira. Sou Circy, a Feiticeira Verde, filha de um Dragão.

–Filha de um Dragão?

–Acha que é só você que é a filha do fogo, menina? Eu sou mais velha que aparento ser. Sai do útero de uma fera sanguinária, sou filha do fogo, acasalei com monstros para trazer o poder ao Oriente.

–Não entendi.

–Da onde você acha que os Dragões saíram? Do Sol como reza a lenda? Não menina, tudo nesta vida começa com um ovo e precisa-se de uma mãe para chocá-lo.

–Está dizendo que você é a mãe dos Dragões?

–Mãe? Não.

–Então, o que é?

–Eu sou a filha de um, como havia dito. Eu somente choquei os ovos.

–Não dê atenção a ela Circy. É jovem, ainda tem muito a aprender.

Katy se virou e começou a andar, em direção as portas do Salão.

–Aonde vai Katy?

–Para meu quarto, onde nenhum Dragão verde possa me atormentar.


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Notas finais do capítulo

Olá, espero que tenham gostado e não deixem de comentar.