Nova Terra escrita por Raposa das Bibliotecas


Capítulo 2
Khaos


Notas iniciais do capítulo

Olá amiguinhos, estou aqui com um novo capítulo. Espero que gostem.



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O frio cortante do Norte fez Cale-mi estremecer. A grande fila de vendedor de escravos, estupradores, ladrões, assassinos, entre outros, caminhava lentamente. O medo podia ser ouvido. As perguntas do juiz sempre eram as mesmas “Por que fez isso?” “Trabalha pra alguém?” “Te pagaram quanto?” “Como você se vê depois do ocorrido?” “Se você pudesse se julgar, qual seria seu autojulgamento?”. Claro, são perguntas bestas, mas é com essas perguntas que ele decide qual a finalidade do corpo: forca, guilhotina ou liberdade.

Cale-mi é um ladrão, bom, roubou um pão para não morrer de fome, não tem família, não tem emprego, não tem um nada na vida, tinha somente um colar com uma pedra azul que tomaram dele assim que foi preso. Suas pernas doem depois de ter apanhado de chibata. Suas costas ardem pelo líquido que limparam o sangue da mesma. Suas mãos ardem pelas brasas que as queimaram. As grosas correntes o prendem, em seu pé, uma corrente preta e uma esfera maciça o prende.

A caminhada voltou a ocorrer, seu coração, agora disparado, espera ansioso pela sua sentença. Ele não sabia o que fazer, não sabia o que falar o que pensar.

Nada!

Ele olha agora, a senhora, uma mulher idosa já, implorando para deixarem-na ir, sua netinha não tem como sobreviver, mas esse juiz, ah, esse juiz é com um dos diabos das histórias antigas. Ele é mal, cruel, sanguinário. Não perdoa ninguém.

–Então, a senhora roubou aquelas frutas no mercadinho para sua neta, simplesmente por que não pode pagar?

–Sim Milorde.

–Não sou seu Lorde- houve uma pausa no julgamento, ele ficou olhando uma menina andar por sobre a muralha. Ali é um terreno quadrado, circundado por uma muralha não muito alta, de uns seis a sete metros de altura. –A senhora pode ir. Dê a ela uma moeda de ouro para que possa comprar comida.

–Obrigado Milorde.

–Eu já disse que não sou um Lorde! Ainda não.

A senhora saiu por um portão de ferro e a vez de Cale-mi chegou. Ele se sentou na cadeira quebrada dos réus e o juiz começou:

–Qual seu nome rapaz?

–Cale-mi.

–Bom, Cale-mi, você é acusado de roubo. Nega os fatos?

–Não.

–Então sabe que roubo é crime no Norte.

–Acho que é crime em todos os Reinos, senhor.

–E mesmo assim o fez.

–Me condenaria por ter fome?

–Te condenaria por roubar. Onde nasceu, Cale-mi?

–Worwend.

–Worwend. Casa das Putas. Tem razão, não o condenaria por passar fome.

–Estou livre então?

–Ainda não terminamos. Você ainda mora em Worwend?

–Não senhor.

–Você trabalha para alguém?

–Para meu deus.

–Seu deus?

–Sim, senhor.

–Seu deus o mandou roubar, Cale-mi?

Houve silencio.

– Se você pudesse se julgar, qual seria seu autojulgamento?

–Livre. E rico. Poderia me dar algumas moedas de ouro como fizeram com aquela senhora. Aposto que ela ficou muito contente por poder alimentar a neta. Acho que gostaria de saber que ela comercializa o corpo da pobre menina. Nunca comercializei ninguém, senhor. Estou livre agora?

–Claro!- A felicidade em Cale-mi foi como uma explosão de fogos de artifício, então tudo aconteceu. Um balde de água extremamente fria foi jogada nele, assim que a água o tocou, seu corpo se curvou e ele sabia o que esperava.

–Vo-você disse que eu esta-estava livre.

–E está, meu caro.

Forçado, Cale-mi se ajoelhou e sua cabeça foi posta na cavidade da guilhotina.

–Últimas palavras, meu caro?

–Longa vida ao rei.

E a lâmina desceu, zunindo acima da cabeça dele e esta, bom, esta foi separada do corpo. Assim que morreu, seu corpo foi recolhido e jogado junto de uma fogueira de corpos mortos. E a cabeça junta de outras flamejantes.

–Isso é cruel- disse um menino em uma sacada, vendo o cerco flamejante.

–Não meu Príncipe, isso é justo. Eles matam, roubam. Gostaria que isso acontecesse com você? Que você fosse roubado ou morto?

–Acho que não.

–Foi o que pensei- o homem alto, lindo, louro de olhos claros caminhou e se ajoelhou aos pés do irmão.

–Você que aprende que, no mundo, há muita maldade.

–Eu entendi. –O irmão sorriu- É hora de eu procurar o Felp.

–Vá, lá.

O garoto subiu as escadas das grandes torres do castelo do norte. Suas pernas não se cansavam nunca do que faziam. Quando chegou a uma porta de madeira, abriu-a e começou a gritar, um grifo apareceu, batendo as asas, fazendo os cabelos dançar.

Com um salto, o Príncipe montou no animal que bateu asas e o levantou tão alto que ele podia jurar que via os quatro Reinos. Segurando firme nas penas do animal, este desceu com um rasante e voltou a subir, mas rápido que o normal e assim que deu uma “pausa” no ar, o menino se soltou.

O corpo pesado caiu como se fosse uma pluma, o vento passando pelo seu rosto, se não fosse frio não teria feito um corte na bochecha esquerda. Seus olhos se fecharam e ainda em queda-livre, seu sonho aconteceu.

Ele via de cima, do céu, as florestas cinza do Norte, os rios, alguns congelados, as plantações inefáveis dos camponeses. As extrações de pedras preciosas e metais. Tudo e de repente ele viu um corpo, caindo do céu. Ele precisava pegar esse corpo, ele estava próximo ao chão.

Desceu com o bico apontado para o chão e com um rápido movimento, apanhou o garoto de corpo frio.

O olho do Príncipe abriu de repente e a visão do animal já não mais tomava conta de seus olhos. Ele estava voando, calmamente por cima das árvores, o grifo com as asas esticadas.

–Vamos amigo- disse o Príncipe esfregando a mão na penugem do bicho-, temos que voltar.

O garoto desceu do bicho e voltou para o quarto. Seus livros todos jogados em cima da cama e uma corrente com uma pena no chão. Todas as vezes que ele tinha entrado na cabeça do grifo, ele estava com a pena, mas desta vez não. Ele não sabia como aconteceu, simplesmente aconteceu.

O Príncipe apanhou o colar e o colocou no pescoço. Começou a guardar os livros e arrumou a cama. Fitou o quarto por um momento e correu até a janela, acima da cama e olhou. Não tinha ninguém lá embaixo.

Chegara a hora.

O Príncipe deu espaço e correu, saltando pela janela. Assim que chegou ao chão, caiu de pé. Ninguém ficava naquela parte do castelo, então não corria risco de ser visto.

Ele seguiu para o Grande Portão e entrou no castelo, direto na sala do trono, onde seu pai discutia política. Um pássaro verde acinzentado estava sobre a mesa de seu pai, ainda na gaiola. O Grande Mestre escrita uma carta.

–Não deixe de mencionar que, - começou o Rei- o Sul ainda é muito bem-vindo no Norte. E que eles serão muito bem recebidos.

–Pai? O que está fazendo?- Perguntou.

–Enviando um pássaro para o Rei do Sul. Convidando-o para vir a nossa casa. Precisamos de ajuda que somente estes podem dar.

–Você sabe quando chegarão?

–Se aceitarem, daqui uma semana talvez.

O pequeno Príncipe ficou imaginando quando seria. Ficou imaginando qual o propósito do pai deixar de lado uma rixa para pedir ajuda. Ou talvez não seja uma ajuda, sim uma reconciliação. Enfim, ele ainda saberá a resposta. O menino subiu as escadas negras e foi para a cantina, onde passou a maior parte da tarde.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e não deixem de comentar. Obrigado.