Nova Terra escrita por Raposa das Bibliotecas


Capítulo 12
Sor Vitoriano




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A poeira levantava a cada vez que o cavalo batia seus cascos cansados na terra. O cavaleiro está cansado, mas não como seu cavalo, que cavalga com dificuldade. Aos poucos, chegaram a uma pequena aldeia no meio do nada, chamada de Renly.

Seus habitantes são pacatos e hospitaleiros se você tiver uma boa bolsa cheia de moedas de ouro e prata. O que o cavaleiro tinha. Por baixo de suas vestes simples está uma cota de malha enferrujada embaixo das axilas e próximo às nádegas. Nos demais pontos vermelhos, ou foram por chuva ou por suor de batalhas. As pintas avermelhadas de sua malha faziam-no lembrar-se de uma linda mulher que pagou a algumas noites. De longos cabelos trançados vermelhos. Lembra-se bem das roupas: um longo vestido cheio de tecidos que variavam de cetim para seda. Ambos de uma cor peculiarmente verdes. Seu rosto cheio de sardas, o que o encantou de primeiro, mas o que o encantou mais foi a maneira simples da moça.

E claro, sua habilidade com a língua.

–Onde posso encontrar uma estalagem para repousar minhas pernas cansadas? –Perguntou a um senhor que puxava uma carroça cheia de feno.

–Há duas estalagens aqui, jovem moço. A Ponta Velha e a Tridente. Ambas ficam no centro da cidadela. É só seguir por esta travessia e encontrará uma grande fonte e também as estalagens.

–Muito obrigado, senhor. –Disse, jogando uma moeda de prata para o homem, que a segurou como se fosse sua própria vida.

Seu cavalo já não aguentava mais seu peso, então desceu e caminharam juntos até a estalagem. A caminho da praça, várias mulheres estavam amontoadas nas janelas a cochichar sobre o cavaleiro que chegara. Algumas até arriscaram em chamá-lo de galante.

Pobres moças, não sabem o que o aço faz com os homens.

Quando finalmente chegou à fonte no centro da cidade, viu que a estalagem Ponta Velha tinha um letreiro peculiar: duas mulheres que estavam com os seios de fora riam em cima de uma sacada, segurando o que mais parecia um tapete trabalhado com o nome do local. Já Tridente era bem mais simples. Tinha o nome pintado em um pedaço de madeira, preso por correntes no alto da sacada.

Um homem desesperado por aconchego de uma cama e por uma mulher para passar a noite, com certeza iria para Ponta Velha. Já um Sor como ele, iria para Tridente.

E foi o que aconteceu.

O nobre cavaleiro bateu à porta da estalagem. O homem que abriu a porta não passava de sua cintura, com um caneco de cerveja na mão e a boca cheia de espuma.

–Posso ajudar? –Perguntou o pequeno homem.

–Claro. Procuro um lugar para repousar o corpo cansado de um homem e de um cavalo. –Disse apontando para o cavalo, que bebia da fonte.

O anão colocou a cabeça para fora da porta para ver o cavalo, que bebia feito louco.

–Se tiver dinheiro para pagar.

–Isso não me falta.

–Então entre.

–Quero um bom estábulo para meu cavalo. Comida, água, e quero que escovem seu pelo. Ficarei aqui por mais ou menos três luas.

–Como quiser, Sor.

O cavaleiro foi até o cavalo, pegou uma pequena bolsa de couro preta e sua espada. Não que ele já não tivesse uma embainhada, mas duas espadas é sempre um feito.

–Vamos. Vou mostrar-lhe seu quarto.

Subiram por uma escada que rangia como um porco na hora do abate e foram para um quarto. Não é grande, nem pequeno. Uma cama boa, com lençol bom. Não de linho, mas bom do mesmo jeito. Uma pequena cômoda no canto e uma janela que dá para a fonte.

–Depois desço para acertar-lhe.

O anão assentiu e desceu as escadas de um jeito desengonçado. O Sor logo foi guardando sua bolsa preta na cômoda e foi para o banheiro, se é que se pode chamar de banheiro. Quando abriu a porta, um sapo saltou para fora e foi saltitante até a escada. O banheiro tinha um dispositivo estranho preso a parede, que quando o Sor puxou a corda, água desceu por um cano.

Assim que se lavou, desceu para o bar, onde homens gordos e bêbados riam e se sujavam com cervejas. Algumas meretrizes sentadas em seus colos, apalpando suas virilhas.

–Se quiser uma moça para dormir, posso arranjar-lhe uma. –Disse o anão de repente.

–Obrigado, mas dispenso.

–Não gosta de moças? Podemos arranjar rapazes também.

–Não gosto de rapazes.

O anão ficou fitando o Sor, que foi até o balcão.

–O que tem para comer? –Perguntou ao homem que servira os pratos.

–Hoje temos carne de porco e batatas.

–A carne está bem gorda?

–De molhar a boca.

–Então quero um pouco. Tem arroz? Milho?

–Temos arroz para acompanhar. O milho acabou.

O Sor assentiu e logo um prato de madeira estava a sua frente, com enormes pedaços de batatas cozinhas e pedaços de carne de porco cobertos por gordura. O arroz foi servido em um recipiente à parte. O cavaleiro não pensou duas vezes, seu estômago doía de fome. Deu uma garfada na batata, mandando-a para dentro da boca de com a faca cortou um pedaço da carne, fazendo a gordura explodir em sua boca.

–O que tem para molhar a garganta? –Disse ainda engolindo um grande pedaço de batata.

–Temos cerveja. –Ele fez um não com a cabeça. –Vinho e aguardente.

–Vinho. E água. Água tem?

–Sim.

–Quero os dois.

O homem logo trouxe duas taças, uma com água, outra com vinho que, assim que bebeu, sentiu o doce sabor de um bom vinho. Relaxou os ombros e voltou a comer. Ouviu o sininho da porta tocar, mas não olhou para trás, para ver quem era. Apenas continuou a comer.

Quando já tinha terminando a carne e a batata, terminou de beber o vinho e a água. Chamou o moço que lhe servira o jantar.

–Pago aqui para você ou para o anão?

–Aqui.

–E quanto é?

–Uma moeda de prata e uma de bronze.

O homem tirou duas moedas de prata do bolso de suas camisas de linho branco e deu ao homem. Não quis saber de cerimônia e subiu para o quarto. Estava extremamente cansado. No caminho, uma meretriz nua o tateou na virilha, mas ele nem a dispensou com um não tão seco quanto a estrada que estava.

Dormiu bem por um tempo, até começar a gritaria no bar. Quando já não conseguia mais dormir, prendeu o cinto em sua cintura, junto da bainha com a espada e desceu os degraus, devagar para poder ver o que era. Agachou a tempo e não foi acertado com um pedaço de madeira que voou.

–O que está acontecendo aqui? –Disse ao anão.

–Uns homens vieram para cá, há algum tempo e começaram uma briga. Não consigo parar isto.

O homem correu para o quarto. Ele devia ficar quieto, não se meter em brigas, mas o anão estava em apuros. Abriu a bolsa preta e pegou duas bolinhas e voltou para baixo. Procurou pelo anão e viu um homem acertar um soco em uma meretriz que caiu com o rosto que inchou no mesmo instante. Sem pensar duas vezes, desembainhou a espada e a desferiu contra o homem, abrindo-lhe uma segunda boca no braço.

Logo ele viu o anão e embainhou a espada, indo agachado até o anão.

–Quem começou o levante?

–Eles. –Disse o anão apontando para dois homens que riam sentados em sofá de couro com copos de cerveja nas mãos.

Ele sentiu um golpe forte em sua têmpora e logo tudo ficou escuro.


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