Demorou quase três anos para Luke conseguir me convencer de ter um filho. Foi difícil no começo, chegamos a pensar que eu fosse estéreo, mas depois de todo um acompanhamento médico, em uma tarde de outono, recebemos a confirmação de que eu estava gravida. Uma vez, ao assistir um filme, li uma frase: “Uma mulher se torna mãe ao engravidar, um homem se torna pai somente ao ver o bebê pela primeira vez” e devo concordar que não existe fato mais verdadeiro que esse. Pois, quando o teste deu positivo, me senti tão realizada e Luke ao ver o Tobias, tão pequeno, tão indefeso, chorou mais do que o próprio filho, ainda mais realizado que eu. Porque aquela coisinha pequenininha, parecida com um boneco, era a nossa união, a mistura de nossos genes.

Não foi fácil para mim ao chegar em San Diego, eu tive que voltar a me acostumar a tudo novamente, tive que enfrentar medos e problemas, mas no fim, as coisas foram se ajustando, recebemos apoios de amigos, familiares e dos fãs de Luke, que pareciam aumentar a cada livro publicado. Não que ele tenha voltado a publicar outro romance, na verdade, Luke escrevia agora sobre suspense, aventura e tragédia, um gênero que atraiu leitores em um número surpreendente. Eu não trabalhava todos os dias, sempre tinha tempo para mimar Tobias e Luke nunca pôs o status social em primeiro lugar, erámos uma família feliz.

Juro que não pretendia aumentar o numero tão cedo, Tobias tinha apenas três anos de idade e dava um trabalho tremendo, porém Luke parecia não ver isso. Tão tal que, quando Luke chegou em casa sorridente, enquanto eu estava cultivando as flores no jardim e Tobias brincando na grama, eu sabia que ele havia tramado alguma coisa.

– Querida, desculpa, mas foi inevitável não fazer isso. – Sussurrou tentando se explicar se aproximando com Tobias no colo. – Sei que deveria ter informado antes, mas...

– Luke, você está me assustando. – Brinquei apertando as bochechas de Tobias e dando um beijo rápido em seus lábios. Ele ficou pensativo por um tempo, olhando as vezes para mim e as vezes para nosso filho.

– Por favor, eu não quero devolve-la, eu já assinei os papeis e...

– Ela quem? – Interrompi limando as mãos sujas de terra no avental.

Luke ficou em silencio e depois assoviou, olhando para trás, acompanhei seu olhar e vi uma garota, de aproximadamente sete anos, se aproximando a passos lentos em nossa direção. Ela era magra, tinha uma pele branca alva e os cabelos negros como as plumas de um corvo, os olhos verdes demonstravam seu nervosismo. Ela engoliu em seco quando ficou em minha frente, estalando os dedos calmamente.

– Mas o quê...

– Olha, então, você provavelmente vai me matar e eu vou passar uma eternidade dormindo no sofá, mas lembra quando eu disse que iria fazer uma matéria sobre lares adotivos? Pois é, eu fiz e acabei conhecendo essa menina. Amor, eu juro, eu tive que adota-la. Eles não tinham como mantê-la lá, por conta da idade. Ela provavelmente nunca seria adotada. E eu me apeguei a ela, e ela se apegou a mim. Vocês provavelmente podem se dar bem, ela é inteligente, gosta de crianças e...

– VOCÊ FEZ O QUÊ? – Gritei, a garota se encolheu e ficou atrás de Luke, olhando-me assustada. Na verdade, os três me olharam assustados, até Tobias começou a fazer biquinho de choro diante do meu tom de voz, tentei me acalmar, mas foi em vão. – QUE HISTÓRIA É ESSA DE ADOÇÃO, VOCÊ É LOUCO.

– Querida...

– NÃO ME CHAMA DE QUERIDA.

– Por favor, não grita com ele. – A menina disse baixinho e eu me surpreendi ao ouvir a determinação em sua voz. – A culpa é minha, não deveria ter pedido pra ele me adotar. Eu não deveria ter achado que vocês poderiam chegar a ser minha família.

Olhei para ela e senti um aperto no peito, meu lado maternal entrando em ação. Fechei os olhos, respirei fundo e tentei sorrir de forma convincente, enquanto ainda queria matar Luke por fazer algo ás minhas costas.

– Tudo bem, desculpe-me. Somos sua família agora. Qual o seu nome, princesa?

A garota sorriu verdadeiramente e se aproximou um pouco. Luke me olhava encantado e Tobias observava atentamente a sua nova irmã.

– Reyna. – Ela disse e eu tive que controlar meus batimentos cardíacos. Olhei para Luke, que assentia minimamente. Meu queixo caiu, a garota continuava sorrindo e sua voz falando seu nome ecoava sobre todo o local.

– Reyna? Jura?

– Sim.

– Certo, Reyna. Eu sou a Thalia, e eu sou a sua nova mamãe. Uau, é, eu sou a sua mãe! Isso não é legal?

– É, eu acho.

Sorriu timidamente e eu me aproximei o suficiente para abraça-la, ela cheirava a avelã e tinha um abraço maravilhoso. Naquele momento, me apeguei de uma maneira surpreendente a Reyna, que ao contrario da outra Reyna, era feliz.

Naquele mesmo ano, a ceia de natal foi realizada em minha casa. Tia Ártemis, Zoë, Jason, Piper, minhas sobrinhas Mia e Alyssa, Katie, Travis e o filho Michael, Annabeth e seu namorado Chris, Rachel, Will e a filha Lena, Percy e a namorada Mary, Tony e Sam (Samantha tinha dezesseis e Tony dezessete, estavam em um relacionamento conturbado de tapas e beijos) e Lee compareceram. Foi uma noite bem alegre, Reyna brincava com Alyssa e Michael, por terem a mesma idade, Tony e Sam discutiam e depois se beijavam a todo momento, Annabeth e Percy, apesar de estarem ambos compromissados, se encaravam a todo momento, Lee segurava vela, Tobias era paparicado por Lena e Mia. Trocamos presentes, conversamos, cantamos, bebemos, dançamos. Foi uma verdadeira farra. Foi, na verdade, um dos dias que ficavam na categoria de “o dia mais feliz da minha vida”, porque eu estava ao lado do homem da minha vida, com meus filhos, amigos e familiares. Estávamos felizes. Não havia briga. Não havia magoa. Não havia assuntos dispersos. Havia apenas harmonia. Havia apenas esperança. Aquela esperança que fazia todos nós continuarmos seguindo em frente a todo custo. Juntos. Porque ao todo, apesar de todas as diferenças, éramos uma família.

Porque somos uma família. E será assim sempre e para sempre.