É engraçado o quanto tentamos culpar alguém quando perdemos algo que nos é precioso,talvez a sensação de que há alguém pagando um preço em troca da vida de um ente querido,nos dê conforto. Isso só me faz pensar no quão frágeis os humanos são. Mas tudo muda quando você passa a ser o culpado. Chega a hora de vos apresentar-lhe o quarto escolhido. Ian.

As águas estavam calmas e serenas naquele dia,um fenômeno raro nesta temporada de chuvas. Haviam diversas gaivotas voando de um lado para o outro,brigando por um lugar ao sol. O porto de Londres estava cheio de comerciantes e pescadores que retornavam das longas viagens no mar. Na beira do cais um garoto suspirou,ele odiava multidões. Os olhos acinzentados,que hoje estavam em um leve tom esverdeado, observavam o oceano com tédio e pesar.

Em sua mente,várias coisas passavam,era como uma roleta de momentos aleatórios,mas tudo bastava. Ian só queria tirar a memória de sua mãe e de seu passado sombrio da cabeça,entretanto, parecia que quanto mais tentava,mais as memórias voltavam a lhe atormentar.

Ele podia ouvir,os murmúrios e cochichos das diversas mulheres presentes no porto,embora tivesse apenas 17 anos,Ian possuia uma beleza incomum. Os cabelos negros em contraste com a pele alva sadia,os intensos olhos acinzentados e a barba por fazer,tornavam-no um dos homens mais desejados de toda Londres. Não que Ian se importasse,ele não desejava um relacionamento serio agora.

Foi então que ele ouviu,passos leves mais firmes caminhavam em sua direção,fazendo a madeira desgastada e comida pelo tempo ranger loucamente. Uma garota sentou-se ao seu lado,os cabelos negros e brilhosos que dançavam no ritmo da melodia do vento combinavam em meio a pele alva com leve toques rubros,os olhos azuis e brilhantes observavam-no com certa curiosidade e receio. Ela utilizava um longo vestido branco,um pequeno casaco salmão e um cachecol em diversos tons de vermelho. Ian limitou-se a olhar para ela,embora sentia-se extremamente desconfortável com o par de olhos azuis o encarando.

– E-Eu- A menina gaguejou corada- Eu vi você outro dia no Albergue de Londres.
Ian não respondeu.

– Perdão se soar um pouco rude,mais você não é daqui é?Que-quero dizer,você é muito bonito e...As pessoas daqui não são tão...Eu-Ela achou melhor se calar.

Ian deixou escapar um sorriso malicioso antes de pronunciar-se:

– Você também não parece ser daqui. - O garoto disse sem nenhum resquício de inocência.

A morena corou ao entender o que ele realmente queria dizer,o sorriso de Ian aumentou ainda mais.

– De-desculpe - A garota começou- foi uma péssima ideia vir aqui,eu já vou indo.
Ela levantou-se rapidamente,com pressa de sair dali,mais foi surpreendida por alguém lhe puxando. Ela voltou-se a Ian,que continuava segurando o braço da menina.

– Vem comigo. - Ele disse puxando-a,sem ao menos dar chance para a morena responder.

Em um beco úmido e escuro,longe do porto de Londres,gemidos podiam ser ouvidos. Os longos cabelos negros da menina,agora estavam bagunçados e pregados de suor. Ian beijava-lhe o pescoço com calma para provocar da garota ainda mais prazer,esta,apertava com força o tecido da blusa do moreno, suas pernas estavam enroscadas ao garoto. O vestido branco que outrora cobria a menina,agora estava jogado no chão como um velho tapete. A morena,agora, estava somente com lingerie,revelando a Ian um corpo escultural.

A pobre garota,agora,caia ingenuamente na armadilha de Ian. O mesmo plano de sempre,o moreno a satisfaria e a garota,maravilhada não notaria suas verdadeiras intenções e quando desse conta,estaria aguardando,ao lado de um telefone que nunca tocaria,somente guardando lembranças daquele que um dia fora-lhe especial. Mas Ian não se importava, ele tinha que fazer isso,se Ian torna-se sujo,impuro, ele certamente iria esquecer. Esquecer de tudo.

– Samantha!- Subitamente um grito rompeu os pensamentos do garoto.
– Ah,droga!- A Morena a sua frente praguejou - Desculpe,prometi que iria ajudar minha mãe hoje.

Ela agarrou as roupas no chão e vestiu-se rapidamente,não parecia notar o par de olhos acinzentados que a fitava.

– Tudo bem,continuamos isso outro dia.- Ian disse esboçando o belo sorriso malicioso.

Samantha sorriu gentilmente,enquanto corria em de volta ao cais.

Ian suspirou frustado,o garoto encostou-se em uma das paredes imundas de tijolo. Ele passou os dedos pelos cabelos escuros bagunçando os mesmos. Novamente os flashes de memória voltaram a sua mente.

– Machuca não?- Uma voz desconhecida penetrou pelos ouvidos de Ian.

– O que?- Ian indagou direcionando-se ao garoto mais novo atrás de si.

– As memórias. Elas machucam certo?- O menino suspeito explicou.

Ian não se deu ao trabalho de responder,o que diabos aquele garoto sabia sobre ele?

– Me diga.- O garoto de olhos heterocromáticos começou- O que você faria se encontrasse seu pai agora? Vulnerável,indefeso...

– Isso não é da sua conta.- Ian respondeu ríspido- O que você sabe sobre mim?

– O que eu sei hein?- O garoto pareceu analisar cada lugar de sua mente antes de responder- Pobre criança,perdeu a mãe cedo. O papai corrupto culpou o pequeno Ian pelo assassinato da doce Ravenna.

– Cale-se.- Ian falou,surpreendentemente sem demonstrar sinal algum de irritação.

O antigo Aaron riu,sua voz saiu meio distorcida,como se duas pessoas tentassem falar ao mesmo tempo. Ele mordeu o lábio inferior como se tivesse notado o que acontecerá.

– Desculpe por isso,parece que o pequeno Aaron não sabe perder. Francamente,este corpo que Lizzie arranjou-me só está causando problemas.

– Lizzie?- Ian repetiu,este nome lhe soava familiar.

– Sim,Lizzie,você esbarrou com ela uma vez,o que não deve ter sido muita sorte para você.-O garoto de olhos trocados aproximou-se de Ian.- Mas não se preocupe,você ira revê-la em breve.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido e Ian só pode sentir seu coração sendo atravessado,subitamente tudo ficou vermelho.

Quando voltou a si,Ian estava em um lugar totalmente diferente,a visão ainda turva,foi invadida por diversas cores misturadas,como o bater de asas de uma borboleta. Não,uma não,várias. Mas onde foi que Ian virá aquilo?

"Ah, eu me lembro...Elizabeth Marie."