Abro meus olhos. Estou em uma sala escura. Minhas mãos estão atadas e uma dor excruciante escapa de minha cabeça.

–Peeta?

Ouço a voz vinda da direita. Da cela surge uma figura desconhecida. Mas o tom da voz me lembra alguém. O tom de voz brincalhão, mas ao mesmo tempo imponente, está devastado. Seus cabelos foram raspados. E a garota que tirou a roupa no elevador uma vez, está pálida com o gelo.

–Johanna?- sussurro

–O que restou dela. –Ela dá uma risada fria.

Seus olhos percorrem todo o meu ser de cima a baixo quando um líquido é ejetado nas minhas veias, por meio das cordas que prendem minhas mãos. O líquido queima e sei por onde percorreu. Começo a gritar histericamente. Minha visão fica preta e pontinhos brancos dançam sob meus olhos.

–Não mexa. - fala Johanna ríspida. - Vai acabar piorando.

De repente vislumbro Katniss. Ela está bonita. Mas algo está diferente, não é ela. Uma chama de maldade acende em seus olhos, e seu sorriso é frio. Não! Ela dança em meio ás chamas de um lugar estranhamente conhecido. A padaria da minha família.

–Katniss Everdeen a garota Em Chamas! - Alguém grita nos devaneios.

–Não!- começo a berrar procurando algo em meio às chamas.

–Peeta! Não é Real! É veneno de Teleguiada!- Johanna me faz retornar a realidade.

Fecho os olhos com força. O que aconteceu com minha família? Ninguém me informou de nada até agora, mesmo que eu perguntasse com afinco. Isso me fazia acreditar que já era tarde. Mas essas imagens... Será possível que Katniss tenha... Não.

Abro os olhos e olho para frente de minha cela. Há dois corpos inertes pendurados. Ruivos.

–Quem... –paro, a dor está insuportável- ...são eles?

Johanna segue meu olhar.

–Daurius e Lavínia. Ambos avoxes.

Reconheço o nome de Daurius como o pacificador do doze que costumava comprar pães todos os dias sem falta, uma condição rara no distrito. Já a garota não me parece ser estranha. São o garoto e a garota avox que nos serviram durante o período Jogos.

–Melhorou?-pergunta Johanna me tirando da profundidade de meus pensamentos.

–Não. - respondo ainda sentindo a pontada perturbadora na cabeça.

Ela fixa os olhos em outra pessoa. Ao fundo da sala, Enobaria sorri debilmente durante o sono. E ao seu lado Annie Cresta que reconheço das edições antigas dorme amordaçada.

–O que há com elas?

–Muita Morfina. –responde Johanna.

Algum tempo se passa até que uma nova onda de líquido flamejante se segue. E depois outra. Meus berros invadem o ambiente. A cada nova sessão uma imagem pior que a outra. Mais tenebrosa. Mais irreal.