Leo's POV
Estávamos todos à bordo do Argo II.
Meus amigos dormiam e eu, bem, olhava para as imagens do Acampamento Meio-Sangue magicamente projetadas nas paredes do refeitório. Na verdade, não pensava no acampamento, minha mente vagava por outros lugares. Uma ilha misteriosa, mágica, inalcançável... Lá, uma linda garota de cabelos caramelos e olhos amendoados cantava em grego antigo.
Calipso.
Eu sentia tanta falta daquela adolescente imortal, irritante, mal educada e raivosa...
Nossa despedida fora rápida demais, ela me beijara e eu ficara assustado. Que estúpido, podia ter aproveitado muito mais o momento, mas aquele tinha de ser o meu primeiro beijo!
Agora só restava a lembrança. Seus lábios tinham gosto de canela e cidra, só de pensar, já ficava arrepiado... Calipso tinha de ser tão insuportavelmente bonita? Droga!
Seu corpo esguio, perfeito em seu vestido vermelho, ou até mesmo quando usava sua calça jeans esfarrapada.
Também ficava excitado quando a via suja de terra, gostava de mulheres que punham a mão na massa.
Só de pensar na jovem, meu "amiguinho" lá de baixo se manifestou.
Droga.
Sentia-me culpado quando isso acontecia. Meu rosto ganhava uma tonalidade vermelho-tomate que não combinava nada com o meu estilo descolado, "gostoso pra dedéu".
De repente, um som fez-me virar. Percy Jackson entrara no refeitório.
– Ah, oi. - Ele parecia surpreso em me ver. - O que está fazendo aqui em cima?
– Posso perguntar o mesmo...
– Eu fico com fome de madrugada. - Ele respondeu e levantou uma sobrancelha. - Sua vez.
– Bem... - Não sabia como responder.
– Tudo bem se não quiser falar. - Percy sentou com um pedaço de pizza fria nas mãos. Era muito fácil gostar daquele cara, ele não ficava pressionando, não ligava para fofocas. Uma ideia surgiu em minha mente.
– Percy? - Chamei depois de um momento de silêncio.
– Sim? - Ele estava de boca cheia.
– Posso perguntar uma coisa?
– Já está perguntando... - Ele respondeu, pensativo.
– Não foi isso que eu quis... Bem, deixa para lá. Eu quero perguntar algo meio indiscreto. - Corei. Droga. Tinha que ir em frente, talvez Percy fosse o único que pudesse me ajudar.
– Vá em frente - Ele riu.
– Você e Annabeth estão há um tempo juntos... Eu queria saber se, bem, se vocês só ficam dando beijinhos ou se... Já passaram para algo mais interessante. Não que beijar não seja interessante, na verdade, é muito interessante. - Pensei em Calipso. - Enfim, eu queria saber se vocês já... já...
– Quer saber se já fizemos sexo? - Percy riu novamente.
Ele respondeu com tanta naturalidade que eu me assustei. Percy parecia tranquilo, nem um pouco perturbado por minha curiosidade.
– Bem... É. - Disse corando.
– Sim, eu e Annabeth já fizemos sexo. E, tudo bem, Leo, não precisa ficar tão envergonhado por perguntar. É natural. Acontece com todos os casais apaixonados, não é? - Falava com tanta certeza e calma que eu relaxei.
– Acho que sim.
– Mas, por que está perguntando?
Tamborilei os dedos pela mesa, agitado.
– Percy, eu conheci alguém.
– Sério? Isso é muito legal. Acho que perdi muita coisa enquanto estava no Tártaro... - Ele suspirou. - Quem é? Eu conheço?
Lembrei-me tarde demais que a pessoa em questão era uma velha conhecida do filho de Poseidon.
– Prefiro não dizer, os outros também não sabem... Tudo bem?
– Como quiser. - Respondeu.
– É que eu tenho sentido coisas estranhas... Você sabe, lá embaixo. - Corei novamente. - O que eu faço? Não posso pensar nela sem que isso aconteça!
Percy sorriu.
– Cara, isso é normal. É a forma de seu corpo lhe dizer que você está atraído por ela.
– Eu sei, mas é constrangedor! Quando acontece em público, tenho vontade de me jogar pela amurada. Ninguém percebeu, mas é uma questão de tempo...
– Olha, eu posso ajudar. - Ele me ofereceu um pedaço de pizza e eu o peguei. - Quando eu comecei a namorar Annabeth, também sentia isso, nós não fazíamos sexo ainda, então eu não tinha como... Como posso dizer? Extravasar minhas vontades. - Ele riu. - Encontrei uma maneira bem fácil de resolver o problema.
– E qual é? - Perguntei, ansioso.
– Sempre que sentir as coisas esquentando aí embaixo, pense em uma coisa horripilante. Algo desestimulante.
– Como assim? - Fiquei confuso. Desestimulante?
– No meu caso, eu pensava nos deuses usando lingerie... Você sabe, Zeus, Hefesto, Dionísio... Acho que eles me transformariam em um golfinho se soubessem disso. Opa, Acabei de dizer em voz alta. - Percy colocou as mãos na cabeça, desesperado, parecia esperar que um raio o atingisse.
Tentei imaginar meu pai, Hefesto, de lingerie... Não, não dava. Estranho demais.
– Relaxa, eles estão muito ocupados, suas personalidades ainda estão em conflito. - Eu o tranquilizei.
– Espero que sim... - O semideus ainda não parecia calmo.
– Os deuses de lingerie? - Assobiei e soltei uma risadinha. - Essa é boa.
– É, funcionava muito bem. Era horripilante o suficiente. - Percy estremeceu.
– Ok, agora tenho que escolher um pensamento desestimulante. - Concentrei-me, algo surgiu em minha mente, tía Rosa usando uma malha de balé e uma saia rosa-bebê. Quando ela girava, as pelancas de seus braços balançavam como geleia. Ahá. Aquele seria o meu pensamento! Horripilante o bastante... Estremeci e soltei um palavrão em espanhol.
Percy riu.
– Acho que encontrou o que procurava...
– Sim. - Larguei a pizza, não estava mais com fome.
– Leo, sempre que precisar de conselhos desse tipo, pode me procurar. Já passei por todas as situações constrangedoras que você possa imaginar...
Sorri. Estava feliz por ter Percy. Não podia conversar sobre aquilo com Jason, ele era certinho demais e não tinha experiência com sexo, eu tinha certeza. Seria constrangedor para ele. Percy, por outro lado, parecia manjar do assunto.
– Ah, Percy... Agora que você admitiu que já passou da "fase 2" com a Annabeth, conte: Vocês estavam fazendo sexo aquele dia nos estábulos? - Perguntei curioso.
Percy sorriu de um jeito misterioso.
– Eu? Tenho cara de alguém que faz sexo em um navio mágico cheio de semideuses e com um sátiro louco que usa um taco de beisebol como arma?
Ia responder que sim, ele parecia ser esse tipo de cara, aquele que nunca segue as regras, assim como eu. Mas Percy levantou e riu.
– Bem tenho que ir... Negócios para resolver. Talvez eu me atrase para o café. - Ele piscou e saiu, deixando-me com cara de pastel.
Ótimo, agora eu tinha um conselheiro do sexo.