Can I love you? — Clary & Jace escrita por Giovana Serpa


Capítulo 1
Excessive Tiredness


Notas iniciais do capítulo

É minha primeira fic de TMI, então peguem leve. As personagens provavelmente vão estar um pouco mudados, se repararem em alguma coisa que o personagem nunca faria e eu coloquei aí, podem me dar uma dica nos reviews.
Obrigada, de nada.

Boa leitura.



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Eu definitivamente precisava de um descanso, e bem rápido. O peso de uma noite inteira acordada pesava sobre meus ombros como uma baleia obesa, e parecia que a qualquer momento eu poderia desabar e dormir ali mesmo, na rua, embalada pela tosse tuberculosa dos mendigos.

— Você parece uma zumbi ambulante — comentou Simon. — Já pensou em fazer teste para figurante de The Walking Dead?

Olhei para ele com a melhor careta de raiva que eu conseguia fazer, porque o sono dominava cada músculo do meu rosto gelado.

— Cale a boca, Simon — murmurei, cansada. Chutei uma lata de refrigerante vazia no meio da calçada e prendi o cabelo num coque. — Nossa, acho que eu nunca me senti tão cansada assim antes.

Ele sorriu ironicamente, as sobrancelhas levantadas por trás dos óculos.

— Quem mandou aceitar tantas encomendas numa semana só? — perguntou.

Dei um soco fraco em seu ombro e olhei para o céu escuro e as ruas quase desertas. Não deveria ser muito seguro ficar caminhando por Nova York antes do nascer do sol, mas eu precisava ir para casa antes que minha mãe acordasse e percebesse que eu estivera fora.

— Eu preciso de dinheiro para comprar aquele kit super demais de arte, com aquarelas — expliquei. — E duvido que minha mãe possa comprá-lo para mim.

— Já pensou na possibilidade de pedir a ela? — ele perguntou, me dando um empurrãozinho. — É bem simples na verdade...

Revirei os olhos enquanto Simon dava patéticas dicas de como pedir o kit de arte para minha mãe. Como se ela tivesse dinheiro para isso. Quer dizer, ela era uma ótima artista e tudo mais, mas não tinha o devido reconhecimento. Havia apenas alguns clientes, que pagavam o mínimo possível em suas obras. Não tínhamos lá a melhor das condições e o kit de arte que eu quero custa muito caro. Além do mais, eu queria mesmo obter minha própria liberdade financeira.

Eu era uma artista bem regular, e na escola as pessoas achavam isso incrível, porque elas eram todas idiotas sem senso artístico. Se eu vomitasse sobre uma tela grande e depois jogasse molho de tomate por cima, eles achariam perfeito e me pagariam alguns dólares nele por algum motivo que eu não sei.

E era por isso que eu só vendia minhas obras para as pessoas do Grupo de Artes, porque são as únicas que realmente querem as pinturas, que sabem que são boas, e não compram qualquer flor desenhada com giz de cera. O Simon, por exemplo, meu melhor amigo, sempre estava tentando comprar alguns dos meus quadros, mas eu não aceitava. Ele só queria que eu tivesse o dinheiro necessário para comprar o que eu queria, e eu estava disposta a apenas aceitar dinheiro em troca da minha arte, e não do meu afeto.

— Me lembre do por que de você estar aqui, me acompanhando até em casa em plenas cinco horas da madrugada — falei.

— Porque — ele respondeu — você me ligou às quatro horas dizendo que estava exausta de tanto pintar e que o cheiro de tinta estava meio que grudado em você. Eu sugeri que nós fossemos àquele café vinte e quatro horas, você aceitou, nós fomos e agora eu estou te levando para casa porque você é frágil e pequena demais para as perigosas ruas do Brooklyn.

Ignorando a parte do pequena e frágil demais, assenti e falei:

— Ah, é. Enfim, obrigada. Eu pintei todas as encomendas da semana, só assim tenho tempo de estudar para as provas semestrais e ainda assim continuar com as entregas no prazo —soltei um enorme bocejo e envolvi a cintura de Simon com o braço direito. — Obrigada por existir, Simon.

— De nada. Eu sei que sou muito especial.

— E convencido. Nunca se esqueça de "convencido".

Balancei a cabeça para espantar o sono e olhei para frente. Havíamos chegado à minha casa. Me desgrudei de Simon e disse:

— Não me ligue antes das uma da tarde.

— Duvido que eu esteja acordado até lá, mas, se for o caso, estarei assistindo algum filme, e não ligando para você, de qualquer modo. Tenho coisas melhores para fazer.

Ele deu de ombros.

— Estou começando a achar que você é, tipo, um completo idiota.

— Você ainda tinha dúvidas? — Ele riu, me fazendo rir também.

— Tchau, Simon.

— Tchau, Clary. Durma com seus lápis de cores.

— Com certeza vou dormir.

Me virei para a entrada da casa e mal pude controlar o impulso de correr até o apartamento da minha mãe no segundo andar. Abri a porta cuidadosamente e entrei com o máximo de silêncio possível.

Minha mãe estava deitada no sofá, completamente adormecida. Ela era tão bonita quando não estava me repreendendo ou estressada.

Suspirei pesadamente e caminhei até o meu quarto. Será que minha mãe sabia que eu havia saído? Quando saí, ela já estava dormindo no sofá.

Joguei minha mochila no chão e só lembrei de tirar os tênis verdes antes de cair na cama e mergulhar no melhor sono do mundo.

***

Acordei sentindo meu rosto inchado. Passei a mão pelos olhos e suspirei, bocejando em seguida. Onde eu estava mesmo? Ah, é, meu quarto. Minha casa.

Encarei a parede laranja com certo desgosto. Era sábado. Eu ainda não havia estudado para as provas de segunda-feira e, se você quer saber, também não estava com muita vontade. Certo, nenhuma vontade. Nenhuma mesmo.

Olhei para o relógio em forma de sol pendurado na parede. Meio dia e quarenta e sete. Por que eu havia acordado antes das uma? Ah, não importava. Não sentia mais vontade de ficar na cama, de qualquer modo.

Balancei minhas pernas para fora da cama e caminhei até a janela aberta. Apoiei-me no parapeito e encarei a rua, tentando contar todas as vezes que desenhara aquela paisagem. Morava ali havia tanto tempo que mal podia me lembrar, era assustador.

Ainda apoiada no parapeito da janela, ouvi a voz familiar de Luke e minha mãe na cozinha:

— Já disse que a Clary está dormindo — dizia minha mãe. — Ela não é de dormir tanto, mesmo num sábado. Geralmente acorda para ir com Simon tomar café em algum lugar nada saudável. Semana passada peguei ela acordada às três e meia da manhã pintando, estou começando a me perguntar o por que. Estou preocupada, Luke.

— Vai ver é só uma fase difícil — Luke tentava confortá-la. Ele era fissurado por fases difíceis. — Hoje em dia os adolescentes têm muitas dessas coisas. Vou tentar conversar com ela, Jocelyn.

— Fico com medo de que ela comece a me perguntar sobre o pai, sobre o sentido da vida dela ou coisas do tipo — minha mãe disse, um pouco mais baixo.

Eles pararam a discussão sobre o assunto Clary por ali. Eu suspirei. Não gostaria nada de que minha mãe soubesse meu plano para ganhar dinheiro, porque ela diria “Desde quando o que temos não é o suficiente para você, Clarissa? Pensei que pudesse contar comigo para tudo, mas agora eu vejo que nosso estilo de vida não é o suficiente”. Chatooooo.

Eu sabia disso porque já havia acontecido uma vez, quando eu e Simon decidimos vender limonada para comprar telas novas para mim. Podia escutar a bronca só de pensar no assunto.

Balancei a cabeça para afastar as lembranças enquanto procurava algo para vestir no guarda-roupa. Mas era difícil bloquear meus pensamentos. Eu ficava pensando no que minha mãe havia dito: eu não conhecia o meu pai. Não sabia onde eu havia nascido. Não sabia da minha história. E mesmo que tivesse um instinto curioso, nunca havia sentido vontade de perguntar, porque Luke sempre repetia para mim:

— O passado pode te dar respostas, mas também é capaz de te destruir.

Peguei alguma roupa qualquer e saí do quarto, dando de cara com a minha mãe bebendo café e Luke sentado no sofá vento TV.

— Bom dia, galerinha — falei, forçando um sorriso largo que supostamente deveria esconder minha cara cansada.

Luke sorriu, mas minha mãe permaneceu séria. Sem esperar por uma resposta, fui até o banheiro.

Depois de me despir, tomei o melhor banho quente de todos os tempos. Eu precisava daquilo porque era uma espécie de relaxante, meus músculos doloridos se davam algum espaço para respirar e eu sentia uma espécie de alívio inimaginável.

Assim que tomei banho, me forcei a encarar meu reflexo no espelho. Acho que eu o odiava, no mínimo. Eu era apenas uma garota baixinha e ruiva e só tinha os olhos verdes como atrativo. Se alguém me visse nunca diria que eu havia acabado de completar dezesseis anos.

Coloquei minha roupa, escovei os dentes e saí. Estava fazendo um dia nublado de um jeito prazeroso, como se o dia estivesse perfeito para você se enfiar debaixo das cobertas e dormir o dia inteiro, sem precisar se importar em levantar para comer, porque sua mãe traz chocolate quente para você a todo o momento, achando que você está depressiva ou algo do tipo, mas é apenas preguiça.

Fui até a cozinha e preparei um sanduíche para mim.

— Mãe, vou ao Java Jones para um show da banda de Simon hoje — falei, mastigando um pedaço do sanduíche.

— Ah, é? — ela disse. — E qual é o nome da banda dessa vez?

— Algo a ver com panquecas gordurosas, eu acho — falei.

— A criatividade dos jovens de hoje — brincou Luke. — É de assustar.

Minha mãe soltou um sorriso forçado e se virou para mim.

— Sinto muito, querida — falou. — Eu queria que você ficasse em casa hoje porque preciso sair e não quero você andando por aí sozinha à noite sem poder ligar para mim caso algo acontecesse.

Isso porque ela não sabe que eu saio toda madrugada de sábado agora. As mães de hoje são tão inocentes.

— Mas, mãe — insisti. — É importante pro Simon que eu esteja lá, e hoje é o Sábado do Milk Shake. Você sabe como eu adoro milk shake, e hoje vai ser de graça se eu comprar pelo menos três.

Luke riu um pouco e minha mãe revirou os olhos.

— Esteja em casa antes das onze e meia — ela grunhiu.

— Tudo bem — falei, comendo o último pedaço do sanduíche. — Você é a melhor, mãe.

Abracei ela e voltei para o quarto, ansiosa para sair à noite. Eu sentia algo esquisito, como se eu pressentisse algo importante vindo, como se minha vida fosse mudar dali algumas horas.

Foi desde aquela tarde que eu aprendi a confiar bastante na minha espécie de sexto sentido.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :) Mandem reviews. Beijos!