Acordei suada e ofegante. Precisava de respostas. Não entender o que estava acontecendo acabava comigo. Notei que ainda estava escuro lá fora, sabendo que não voltaria a dormir, levantei na esperança de tomar uma ducha. E foi o que fiz. O banheiro estava repleto de coisas como, shampoos, condicionadores, cremes, sabonetes, sais de banho e outras coisas femininas, o que era estranho. Também encontrei um roupão bege, e vesti-me com ele. De volta ao quarto pensava em colocar o vestido azul outra vez ou procurar uma maquina para lava-lo.

Mas então me veio a cabeça que talvez o grande armário a esquerda também pudesse estar abastecido de acessórios femininos, até mesmo roupas. Caminhei até ele e constatei que de fato ele estava repleto de vestidos, saias, calças, blusas e sapatos, muitos sapatos. Em uma gaveta achei também roupa intima, respirei aliviada. Fiquei encantada com uma blusa da banda Kansas, e a vesti, depois escolhi um jeans simples e uma sapatilha azul. Tudo encaixava-se perfeitamente em mim, como se tivessem sido feitos sob encomenda, mas item para minha lista de "Coisas estranhas na casa do Derek".

Cansada daquele quarto, embora este fosse muito aconchegante, sai com Sammy já desperto atrás de mim, indo mais uma vez parar no jardim, especificamente na grande estufa. Raios de sol apareciam ao longe, não demoraria muito para amanhecer. Enquanto me deliciava com o cheiro das flores fui adentrando mais a estufa, parei ao lado do quadro que Derek pintara de mim, era muito belo. Continuei andando e o que vi me surpreendeu mais uma vez, a estufa abria-se para um ateliê. Curiosa não pude deixar de adentra-lo.

Muitos quadros estavam postos nas paredes de vidro do local. O que assustou-me era ver que a maioria deles eram pinturas de mim. Outras de Claire ou Sammy, algumas paisagens, caricaturas, eram todas magnificas, mas não me encantaram como as varias flores em sua maioria rosas, em alguns quadros.

Aproximei-me de um cavalete onde uma tela estava posicionada, apenas esperando para ser pintada. Não pensei duas vezes, procurei por um avental, em seguida reuni pinceis, tintas, água, um lápis, e varias outras coisas.

Comecei esboçando os raios de sol que colidiam com o vidro da Estufa/Ateliê.

Não vi a hora passar, nem ao menos me importava, Sam ao meu lado cochilava tranquilamente. Estava tão absorta que não a vi entrar.

– Não me contou que sabia pintar Só Blaire. – virei-me encarando a pequena Claire a minha frente

– Nem ao menos sabia que podia pintar Car. – respondi confusa. Era assim que me encontrava desde que despertara ontem, confusa.

– Como podia não saber? Papai vive pintando o que irrita minha m... Sammy, encontrei você. – seus olhos viajaram até meus pés quando viu o Cão, indo até ele, que despertara com a voz de sua pequena dona.

– Não me disse que ia dormir fora, menino mal.

– Sinto muito, ontem quando deixei seu quarto ele veio comigo. – falei um pouco embaraçada.

– Ah não tem problema sabe, não tenho mais medo. Papai diz que já sou muito grande para ter medo, não conte a ele, mas Sam não gosta de dormir sozinho. Sempre tenho que olhar embaixo da cama e deixar a porta do closet trancada. Ele sente-se mais seguro assim. – ela falava sonhadoramente. – Você pinta muito bem sabia? Minha professora disse que pinto como minha mãe, acho que ela se enganou, mamãe não sabe pintar, quando perguntei o porquê Martha disse que não era assunto de criança, você conhece a Martha nossa governanta?, ela é adorável, uma velha meio ranzinza, não diga a papai que disse isso.

Claire tagarelava como só uma criança poderia fazer, quando vi estávamos sentadas no chão, e ela contava suas histórias sobre amigos ou a escola. Ainda pensava no que ela dissera antes, sobre pintar como sua mãe.

– Car, posso lhe perguntar algo?

– Ah sim.

– Será nosso segredo ok?

Ela assentiu extasiada. – Papai disse que posso guardar segredos.

– Gostaria de lhe fazer algumas perguntas. Aãn, seu pai é casado? – perguntei corando um pouco. Era estranho conversar sobre isso com uma garota de 6 anos.

– Ah claro, com minha mãe né. – ela parecia confusa, mas não tanto quanto eu.

– E onde ela esta? – esperava que ela fosse dizer no céu ou algo assim, mas o que ouvi em seguida doeu, não sei porque, apenas doeu.

– Trabalhando. Papai disse que ela volta semana que vem. Ela constrói a casa das pessoas. – Derek era casado, tinha uma filha, então porque diabos haviam todos aqueles quadros meus aqui?

– Car? – a voz de Derek me fez levantar em um pulo. Não era como se estivéssemos fazendo algo errado, era?

– Estou aqui. – Claire disse, também levantando-se. Se ela não se parecesse um anjo, então não sabia o que de fato era um.

O vi adentrar o quarto, pelo jeito ele acabara de acordar, ainda usava as roupas da noite anterior.

– A quanto tempo exatamente esta aqui?

– A alguns minutos. Olha o que a Blair pintou, não é lindo? – ela apontava algo atrás de mim, Ah sim a pintura que começara.

– Espero que não se importe, não conseguia dormir, então vim até aqui. – ele olhava-me de uma forma estranha, não sabia dizer ao certo como.

– Tudo bem. Vamos tomar café em 10 minutos, só preciso de um banho. – com isso ele saiu, levando consigo minha pequena confidente. Ao que parece Sammy não iria me deixar tão cedo, pois ficou onde estava.

Passado alguns minutos decidi subir também e me lavar.

– Blair?

– Sim? – respondi abrindo a porta e vendo Claire.

– Papai pediu que viesse chama-la.

Dois minutos depois nos encontrávamos sentados a frente de uma mesa maravilhosa. Derek na ponta como qualquer pai de família, Claire a sua esquerda, e eu a direita dele. Não sei por que, mas aquilo parecia certo, tão natural como respirar.

– Sobre o que conversaram na estufa? – Derek parecia nervoso ao perguntar.

– Nada de mais, coisas de garotas,

– Falamos sobre muitas coisas papai, e Blair me pediu para guardar um segredo, já sou quase uma adulta posso guardar um segredo não é mesmo? – Claire falava orgulhosa de si mesma. Ela era adorável. Não pude deixar de sorrir enquanto bebia o maravilhoso suco de maracujá em meu copo.

– É mesmo. Gostaria muito de saber qual é o grande segredo que você guarda filhota. – Derek disse também rindo, entrando na brincadeira.

– Ah ela perguntou se você era casado. – droga! Engasguei com o suco, o que não foi nada comparado ao que aconteceu depois. Uma velha adentrou o cômodo com uma bandeja na mão, mas ao me ver parou bruscamente, fitando-me como se estivesse vendo um fantasma antes de desmaiar.