O. V. Sam.

Um piscar de olhos. Foi assim que o tempo dela aqui pareceu passar para mim, como um piscar de olhos. Em um dia eu estava nadando com ela na piscina do colégio no dia da minha formatura, e agora estou acordando na cama dela no dia da formatura dela.

Aquilo era a reta final. Amanhã faria exatamente um ano desde que a realeza surgiu na vida dela e na de todos nós, tecnicamente. Amanhã seria o último dia dela como Paloma Blake, a Hexembiest de Portland. Logo ela se tornaria Paloma Blake, princesa da Áustria, membro da família real.

Eu sabia que tudo já estava organizado para a viagem, mesmo que ela não tivesse me contado. A parte técnica era fácil para quem tem um avião particular e simplesmente é a princesa do país para o qual quer ir, mas eu notei pelo modo como ela estava abraçando todo mundo com muito mais frequência, como ela simplesmente gostava de passar mais tempo em silêncio do que conversando quando estava comigo, o jeito como os olhos dela se enchiam de lágrimas sem mais nem menos.

O tempo estava acabando.

Eu estava deitado de barriga para cima encarando o teto do quarto dela. Ela deixava o ar condicionado na temperatura era glacial porque gostava de dormir com frio, mas eu sabia que estava quente lá fora. Vire-me para olhar para ela. Ela ainda era linda do jeito que ela é. A vida dela e de todos ao redor dela mudou tão drasticamente, mas ela parecia à mesma garota que vi no dia da cerimônia de iniciação.

Tudo parecia ser o mesmo, mas ao mesmo tempo tudo estava tão diferente.

Ela abriu os olhos muito lentamente e sorriu ao me ver do jeito que ela sempre fazia.

_ Bom dia – ela disse.

_ Bom dia – respondi sorrindo de volta para ela. Meu sorriso era uma das coisas que ela mais gostava em mim.

Era tão real, mas ao tempo parecia tão falso. Aquilo estava mesmo acontecendo. O relógio estava batendo. O toque final estava próximo.

_ No que você está pensando? – ela perguntou ainda com a voz sonolenta.

_ Simplesmente, não estou conseguindo acreditar – respondi.

_ Em que?

_ Hoje é a sua formatura. Nesse dia a um ano atrás tudo na sua vida ainda estava bem, e hoje ele marca que as coisas estão acabando e uma nova era começa para você.

Ela respirou fundo e senti que ela estava segurando o choro.

_ Podemos fingir que o dia de hoje é como o de um ano atrás?

Pensei na questão por meio momento, mas não havia outra resposta que eu poderia dar além de sim. Não teríamos outra oportunidade para fazer isso. Então assenti para ela e ela sorriu como se estivesse esquecido as palavras anteriores.

_ É a formatura vadias! – ela se virou e berrou segurando os dois botões do interfone que transmitiam som para os quartos de hospedes que era onde normalmente as duas amigas dela, Pâmela e Priscila dormiam.

Normalmente o interfone era só usado para fazer chamadas até a cozinha, mas a Paloma resolveu estender o serviço para fazer coisas como essa.

_ UHU! – As meninas gritaram depois de alguns segundos.

Ela levantou da cama e correu pelo corredor batendo em todas as portas, acordando a namorada do irmão, o Chester, os ruivos e as amigas no processo, depois ela desceu as escadas correndo, estralou os dedos para ligar o rádio como se estivesse fazendo mágica, e tecnicamente ela estava, e estava tocandoWe Own the Night do The Wanted e a Paloma automaticamente começou a cantar junto.

_ Que os nossos corações estejam cheios/ Como as nossas bebidas, hoje à noite/ Que possamos cantar e dançar até perder a cabeça/ - Pâmela e Priscila, que estavam no topo da escada, se juntaram a ela na cantoria. – Só somos jovens se aproveitarmos a noite/ hoje á noite, somos os donos da noite. / Hoje á noite, somos os donos da noite.

Então elas riram do jeito mais adorável possível.

Eu achei o máximo o jeito que elas conseguiram sentir e fazer parecer que aquele era o dia pelo qual elas esperaram por tanto tempo e não transformarem numa data fúnebre que marcava o último dia de normal da garota que marcou a vida de todo mundo que ela tocou.

_Oi irmã mais nova. Fiz café da manhã – Brad apareceu na cena dizendo.

Ela brilhos os olhos nele e assentiu sorrindo, correndo na direção dele com ansiedade. Então nós seguimos o exemplo.

Todos estavam se empenhando muito para fazer daquele dia especial para ela. Embora ela estivesse indo para a Áustria ser uma princesa, todo mundo estava pensando no lado ruim da coisa. E principalmente no lado ruim que nos era conveniente, o fato de que ela estaria deixando todos nós.

Mesmo que eu não devesse fazer isso, tudo que eu conseguia ver quando pensava na minha vida depois que ela tivesse ido, era o mesmo cenário com um novo vazio opressor. Um vazio que costumava ser o lugar onde a Paloma estava.

Todos nós nos sentamos para tomar café e a Paloma não demorou em começar a falar.

_ Bom, eu e as meninas – isso incluía a Alisson, por mais incrível que pareça e por algum motivo misterioso, já que ela tinha mais formações que a maioria dos alunos de ensino médio, mas estava se formando também – vamos passar o dia num SPA de luxo que eu fiz a realeza pagar, estaremos em casa as cinco, se vocês não estiverem prontos, cabeças vão rolar, literalmente. As Limusines vão nos pegar aqui seis horas, então se assegurem de que os pares de vocês estejam aqui – ela disse do jeito mais descontraído possível. Como se fizesse aquilo sempre. – Irmão mais velho, você e a Debrah podem ir no carro com o meus Mauvais dentes, eles serão todo de vocês hoje.

_ Não consigo acreditar que estamos mesmo fazendo isso – Alisson disse num tom animado.

_ É, também não consigo – Paloma rebateu, voltando a comer.

O. V. Paloma.

Depois que tomamos café já seguimos direto para o SPA, de pijamas mesmo, parando apenas para pegar nossos vestidos e os pacotes com a beca e o capelo. Na verdade, não era nem para termos tomado café, mas fiquei tão emocionada com o fato de que o meu irmão se importou em acordar cedo para fazer café para mim no dia da minha formatura que me se senti na obrigação de tomar.

Sam disse que ia para a casa dele porque ele tinha umas coisas para fazer antes de ter que voltar a minha casa para começar a se aprontar para ser o meu par, já que ele faria isso com o Tanner, e embora grande parte de mim quisesse passar o dia inteiro com ele, eu consenti. Aquele não podia ser um dia como outro qualquer e eu iria me assegurar de viver às 24 horas dele. Amanhã eu estaria partindo.

Grande parte de mim, na verdade, 99% de mim queria fugir, dar um ataque e simplesmente não ir, mas tinha aquele 1% que era baseado no meu conceito de dever e no lugar que eu pertencia e ele de algum modo conseguia vencer as probabilidades e as estatísticas, no fim das contas, não havia dúvidas de que amanhã eu estaria partindo.

Assim que entramos no SPA iniciamos o processo bruto do dia das formandas. Depilação a laser em todos os pelos do corpo, hidratação com banho em água perfumada, me fazendo lembrar nascentes do Japão e essas coisas. Só quando estávamos nos processos finais, lá para as três horas da tarde, quando paramos para tomar um suquinho enquanto deixamos os produtos descansarem nas nossas peles e cabelo, foi que tivemos tempo para conversar.

_ Já pensou como é que vai ser? – Priscila deu início ao diálogo.

_ Eu pensava, mas parei. Vai acontecer de um jeito ou outro, então para que ficar imaginando se eu vou ter que viver isso de qualquer modo? – respondi sem olhar para ela.

_ Você quer escolher alguma coisa nossa para guardar de lembrança, ou quer que a gente escolha? – Pâmela perguntou, a voz dela estava meio chorosa e aquilo começou a me contagiar.

_ O que vocês escolherem está bom. – Sorri de lado para elas.

_ Você sabe, não é? Nós vamos sentir muito a sua falta – Priscila adicionou.

_ Eu também vou – respondi, secando duas lágrimas que insistiram em cair dos meus olhos. – Mas serão por poucos períodos de tempo, vocês só precisam-me dizer quando poderão me visitar e eu irei mandar o avião buscar vocês. Afinal, eu serei a princesa.

Elas riram daquilo e assentiram.

_ Sei que é meio egoísta da minha parte te perguntar isso, mas... Quando estivermos na Áustria e você for à princesa... Nós ainda seremos amigas? – Alisson perguntou fazendo uma cara azeda.

_ Mas é claro que sim! Nós quatro seremos amigas para sempre.

Eu havia decidido que manteria o contato com elas. Custe o que custasse. Não seria tão freqüente. Eu não sabia se poderia ter um celular ou conversar com elas por telefone, mas eu simplesmente não iria deixar nossa amizade para trás. Não ia mesmo. Mas aquilo me fazia lembrar o Sam e de como dele eu teria que desistir. Nós estávamos presos um a outro de uma maneira muito mais forte, e eu teria que libertá-lo para que ele conseguisse viver sem mim. Para aquele tipo de relação que nós tínhamos não havia outra forma e nenhum jeito fácil de me livrar daquilo. Então tínhamos que arrancar o mal pela raiz.