Acabou que a Laura nos ligou dizendo que só voltaria na segunda. O fim de semana correu tranquilo, bem tranquilo por se dizer, melhor leia-se: chato, entediante. Eu e a loira ficamos ensaiando nossas falas para uma peça que apresentaríamos daqui a um mês, saíamos um pouco, indo a um Starbucks do outro lado da rua e nós entupindo de café. Lembrei de perguntar ao Senhor Alejandro sobre o tumulto de sexta – feira, ele apenas disse que apareceu um grupo famoso e subiu até o último andar. Depois Érica me disse que o Tokio Hotel havia chegado na sexta – feira, e que tinham ido ao nosso prédio, mais ela confirmou o que o Senhor Alejandro disse eles tinham ido no último andar. Último andar, equivale ao décimo quinto andar, décimo quinto andar é a cobertura. Cobertura onde eu moro!

- Kinha? – Eu olhava para a revista sem acreditar no que estava pensando.

- Sim? – Ela veio ao meu encontro se sentando do meu lado.

- Os pais dos Kaulitz se chamam Simone e Gordon, não é? – Perguntei para ela já sabendo da resposta, ela afirmou com a cabeça me encarando. – E nas cartas da Laa dizia Simone e Gordon, do qual deu pra entender que eles eram os pais dela. – Minha voz saia em um sussurro como se a qualquer momento ela entrasse pela a porta.

- E ela tem dois irmãos. – Kinha quebrou o silêncio que tinha tomado posse do cômodo. 

- Mais existem muitas Simones e Gordons, por ai. – Tentei não pensar na possibilidade.

- Todos alemães? – Ela levantou uma sobrancelha, e nós olhamos, imaginávamos a mesma coisa. A família misteriosa dela seria Simone, Gordon, Bill e Tom?

Ok, isso pode ser meio ridículo. Muito ridículo. Porque ela nos esconderia isso? Só que não vou ficar acusando a anã sem ter certeza, ela não pode ser irmã deles. Ou pode. Ela sempre disse que tem dois irmãos, mas nunca disse que são gêmeos. Mas ela é alemã. Só que nem por isso significa que ela seja uma Kaulitz. Mas como ela consegue todas aquelas coisas? Eu já estava vendo uma diabinha e uma anjinha, cada uma sentada em um dos meus ombros discutindo.

Resolvi ignorar elas e voltar a tomar meu café. Terminamos de arrumar a bagunça do café da manhã e fomos pro teatro, por sorte eu e Érica não nós atrasamos. O ensaio ocorreu normalmente: gritos, palavrões, humilhação, raiva, nada fora do normal. Saímos umas duas horas mais cedo do que o normal, Kinha resolveu aproveitar e ir visitar seu “namorado” na faculdade. Um mauricinho a parte. Não tenho nada contra ele, mas a Laa o odeia.

Resolvi ir direto para casa, o sono me consumia e eu já conseguia ouvir os gritos da minha cama. Abri a porta e me deparei com uma pessoa sentada no sofá, estava vestida de preto, olhei no sofá e vi a mochila da pequena jogada junto com uma bolsa preta, e uns óculos de sol por perto. Reconheci o de Laura, um WayFare roxo. A pessoa aprestava atenção em um desenho que passava na tevê, com um sorriso nos lábios. O cabelo cuidadosamente jogado pra trás, da cozinha ouvi algumas risadas; uma era familiar. Isso me despertou do meu transe, mas só tinha um problema eu conhecia aquela pessoa que estava sentada no sofá, mas de onde? Ele estava lá como se frequentasse o lugar há muito tempo, estava tão à vontade.

- Es kommt hier bereits zurück! (Volte aqui já!) – Um garoto com roupas largas veio correndo da cozinha segurando uma panela, Laura apareceu logo atrás dele com uma colher de pau na mão, ele correu ao redor do sofá, passando o dedo pelo conteúdo da panela e levava ele a boca.

- Nicht, nicht. Dieses ist so gut. (Não, não. Isto está tão bom.). – Ele a provocou, ainda não haviam notado uma estátua parada na porta da frente os olhando. Eu já tinha descoberto quem eram, mas a diabinha e a anjinha voltaram e agora discutiam e eu? Bem, eu permanecia parada em frente a porta sem conseguir reagir.

O menino, que na verdade era Bill, permanecia sentado vendo o seu desenho calmamente, nem estava ligando para um Tom que esticava os braços deixando a panela bem longe de Laura, ela tentava pular o fazendo gargalhar. Os dois permaneciam de costas pra mim na porta da cozinha.

Ela bateu o pé no chão, e emitiu um grunhindo de raiva fazendo o maior soltar uma risada mais escandalosa. Se isso for possível. Laura se virou, com um sorriso nos lábios, mas quando me viu ficou parada ali na porta, ela também parou de andar, seus olhos se arregalaram e a vi engolir em seco. Seus olhos permaneciam vidrados em mim, Tom também notou minha presença e deu um sorriso tímido.

- Dré? – Ela disse por fim, fazendo um Bill distraído olhar para trás. Ele como os outros dois, ficaram de boca aberta, os olhos arregalados, sem reação. Assim como eu. – Mais você não iria chegar só daqui a duas horas? – Senti o tom de reprovação em sua voz.

- Bem, saímos mais cedo hoje. São seus irmãos? – Perguntei me encaminhando pra frente. Óbvio que era os irmãos dela, sua idiota. Ela olhou para o que estava sentado no sofá, e como se eles se comunicassem apenas com o olhar, Bill assentiu com a cabeça.

- Sim. – Sua voz saiu em um sussurro inaudível e abaixou a cabeça.

- Esta é a famosa Andressa? – Tom deu um grande sorriso; que em outra ocasião teria me feito derreter; veio em minha direção. – Brigadeiro? – Ele me ofereceu. As roupas largas, os dreads, para, perai, cadê os dreads? Olhei bem para ele e não tinha mais dreads e... e... ele ta moreno. Senti minha boca ir se abrindo levemente ao ver as tranças em sua cabeça. As roupas também estavam diferentes, largas, mas ele usava uma blusa xadrez por cima. Bem, pelo menos o piercing permanecia no mesmo lugar. Ri por dentro com os meus pensamentos. Mas por fora permanecia como uma estátua viva, não o respondi, meu olhar passou de Tom e foi direto para Bill.

Meu pequeno. Quer dizer de pequeno ele não tem nada, parecia muito maior, ou só seria porque ele tava do lado da Laura? Também tava diferente, os dreads que eu vi na última revista tinham sumido. Ele usava todo o cabelo jogado para trás, as mechas brancas também sumiram, a maquiagem estava diferente. Reparei em sua mão que estava nos ombros da menor, a unha estava pintada toda de preto.

Eles estavam tão diferentes, pareciam mais maduros. Não conseguia acreditar que o meu Bill o mesmo que eu sempre disse que ainda iria me casar com ele, que ele me conheceria e se apaixonaria perdidamente por mim, estava nesse exato momento no meio da minha sala, do lado de Laura me encarando.

- Porque? – Consegui responder assim que senti o ar de volta aos meus pulmões, ela abaixou a cabeça e uma lágrima escorreu por sua face. Neste momento percebi que meu rosto já estava molhado por elas. Bill a abraçou, ela escondeu seu rosto no pescoço dele ficando com os pés fora do chão. Tom jogou a panela no sofá branco, e foi ao encontro dela, abraçando - a por trás, ele beijou a bochecha da menina e disse algo em alemão do qual eu não consegui decifrar. Estavam os dois a abraçando com ela no meio. Então o famoso K. Em seu nome significava Kaulitz? O mistério que ela escondia sobre sua família era ser uma Kaulitz? Laura Sabrina Dias Kaulitz Weiller, porque escondeu isso, sendo que confiava em mim? Só queria saber porque mentiu para mim, não só para mim, mas para Kinha também, você sempre disse que confia cegamente em nós!