“Frio. Solidão. Penas caindo no lago escuro. A terra estava gelada, e eu caída sobre ela...”

Foi só o que eu me lembro da noite de ontem, um único sonho. Mas a Dora não tinha deixado um copo de leite do lado da minha cama, acho que dessa vez eu não gritei. Levantei e fui ao banheiro, depois de um longo banho frio para espantar – por hora – as lembranças. Mas foi um erro já que fora do banheiro o frio me agarrou e as o cheiro de terra molhada invadiu o quarto. A janela estava aberta e de toalhas corri para trancar, no outro prédio dois garotos da idade do Jeremy me olhavam com óculos de fundo de garrafa, quando um deles começou a rir mostrei o dedo do meio e puxei a cortina.

Desci e a Dora havia recheado a mesa de café. Jeremy veio depois animado, teria uma festa na sua escola. Mas antes de sair me entregou o colar, o senhor John ficou com ele na varanda esperando o ônibus da escola. Ajudei Dora a retirar a mesa e fomos para o escritório usar os livros que ela havia comprado. Grandes livros de historia, a minha matéria preferida. Passamos a maior parte da manha ali, ela saiu e foi fazer o almoço me deixando só ali.

A tarde continuamos estudando, acabamos um livro e ela me liberou, fui arrumar o quarto. Tinha uma estante que eu não usava a tempos. Atrás de alguns uma caixa onde eu guardava meus desenhos, e eu nunca mais desenhei. Eram meio toscos em minha opinião. Mas faziam sucesso para o Jeremy, tanto que eu desenhei um deles na parede do seu quarto. Tirei-os da caixa e selecionei o meu preferido e uns inacabados, o resto vou queimar. Afinal o resto são lembranças dos meus sonhos.

Joguei os que eu vou aproveitar no chão, peguei um lápis e fiquei olhando para os papeis, e nada. Confesso que quando os pesadelos eram mais frequentes eu tinha mais ideias.

O jantar foi uma lasanha deliciosa preparada pela Dora, conversamos sobre a festa na escola do Jeremy. Falei que voltaria a desenhar e pedi ajuda dele com ideias ele logo se prontificou.

– Angel querida, amanha você tem consulta com a Dr. Claire .

– Não, ela só vai ficar me enchendo, é serio eu não vejo razão disso. Ela é uma velha mal amada que só faz perguntas idiotas – terminei de falar e tomei um longo gole do suco de maracujá. E o Jeremy ficava repetindo “velha idiota, velha idiota” e o senhor John olhou me repreendendo. E eu me afundei na cadeira.

– Eu vou com você e encerramos o assunto aqui.

Tentei não transparecer a minha raiva e o Jeremy finalmente parou de repetir “velha idiota”. Tiramos a mesa, lavamos a louça e assistimos uns desenhos ,eu cuidei de não repetir a palavra “idiota” em voz alta.

Chequei três vezes a janela, tudo certo. Achei um cadeado no porão e coloquei aqui. Só o homem de ferro abriria essa janela. De manha despertei cedinho, eu ficaria feliz porque foi uma noite sem sonhos mas a possibilidade de rever a cara da Dra. Claire me embrulha o estomago, como prometido a Dora me acompanhou.

Na sala de espera mais duas garotas acompanhadas de suas mães eu acho, uma com uma blusa de caveiras e um milhão – não era tudo isso – de tatuagens que eram visíveis através de sua meia calça rasgada. E outra era loira, meia estatura que não parava de roer as unhas, a com uma blusa de caveiras , logo foi chamada e o seu nome era Izzy, ela largou a bolsa no colo da mulher que a acompanhava e entrou. Passou meia hora, menos do que geralmente custam essas consultas e saiu, mas antes fez uma careta para a outra menina que parecia assustada. Depois o nome dela foi chamado, era Jade. Ela veio na minha direção parou de roer as unhas e falou “vai você, por favor” eu fiquei com medo que ela começasse a chorar e entrei. Com já mencionei a minha consulta foi uma coisa idiota. Ella com as mesmas perguntas eeu com as mesmas respostas. Saí depois de uns quarenta minutos e a cara da Jade não era das melhores, desejei boa sorte e vimos embora.

A chuva nos alcançou no meio do caminho, mas continuamos e chegamos encharcadas, troquei de roupa e fui para o quarto do Jeremy que estava respondendo alguns exercícios da escola, enquanto ele me mandava ideias de desenhos. No final saiu um jardim florido, os avós dele e um gavião. Foi o que ele pediu.

– Eu preciso dormir Angel, amanha te dou mais ideias.

– Claro, eu vou indo. – dei um beijo de boa- dei um beijo de boa noite e me retirei.

Só deitada que eu lembrei do cara de boné, fiquei com ele na cabeça até o sono me encontrar. Mas não durou muito. O cheiro de fumaça me fez despertar, mas eu não conseguia fazer muito me sentia paralisada.

Quando eu consegui abrir a boca foi para gritar o nome do Jeremy, levantei cambaleando. O meu quarto estava normal, mas ao abrir porta a um feixo de luz laranja queimou meus olhos. A casa toda estava possuída pela fumaça, até as escadas incluindo o quartos.

Respirei fundo e não enxerguei mais nada.