Acordei ofegante, mas com um alivio de não ter acordado coberta de sangue e com asas de urubu como no sonho. Mas um sonho idiota, mais um dos milhares e é sempre a mesma coisa. Nos primeiros eu apenas me via nos espelhos de um lago em uma floresta escura. Depois que eu completei treze anos ele só pioravam, eu não consegui sai dessa floresta e vozes estranhas me perseguiam. Uma dor invadia meu peito e eu sempre acordo sozinha nas manhas frias de Nova Iorque.

– Angel, desce vem tomar café conosco.

A voz dele ecoou no quarto. Era Jeremy batendo na porta, ele aprendeu a bater de forma mais leve depois que Dora o ensinou que forçar a porta deixaria as mocinhas assustadas, Dora a vó de Jeremy e minha tutora. E Jeremy, bem, ele é autista e é a pessoa que mais se parece que comigo. Não que eu seja também mas nessa joça de mundo em que vivo ele é o único que me passa segurança. O Jeremy é o melhor.

– Me da um minuto. – pedi encostando a minha voz na brecha

Fui no banheiro, tomar um banho quente e deixar que a agua percorresse meu corpo extirpando as lembranças da noite passada, ao menos por hora. Escovei os dentes e evitei fitar o meu inimigo com uma rachadura enorme, vitoriosa meu bem. Cochichei para ele.

Vitoriosa até a Dora ver isso. Ela ficaria triste e faria uma cara que me deixaria mal a ponto de permitir que ela conserte. Tudo seria muito fácil se eu fosse uma típica adolescente nova-iorquina com problemas bestas de namorado, mas não a Angelina tem que ser a problemática, tipo uma das exceções da sociedade. Vivendo em consultas com uma psicóloga mal amada paga pelo governo que pelo que eu percebi é louca de vontade de me mandar para o reformatório ou lugar ruim como o Jeremy chamaria. Na primeira visita ela me fez contar sobre os sonhos e disse que era tudo “resultado da minha falta de integração social” e eu mandei ela se foder. Ela ficou roxa e disse que faria uma petição para a minha entrada em uma escola interna novamente. Mas a Dora disse que tomaria conta da minha educação e que conforme o meu desempenho ela mesmo escolheria uma escola para que eu me adaptasse. Como além de ser a minha tutora também é professora aposentada não teria problemas então a Claire aceitou. Esse é o nome da velha chata. Depois desse episodio eu apenas ignorava os sonhos nas consultas e dizia que eu não tinha mais. Dora sabe que é mentira ela sempre acorda cedo e deixa um copo de leite todas as manhas ates que eu acorde na do lado da minha cama na minha mesa de desenho, me acalma

– Vem Angel, eu ainda estou te esperando. – ele gritou novamente enquanto isso eu ainda estava secando o cabelo, como devo ter passado meia hora dentro daquele banheiro apenas vesti a minha roupa, uma blusa xadrez que eu ganhei no natal passado e uma calça jeans rasgada, pelo que eu sei hoje a Dora vai me ensinas sobre historia americana então eu acordei de bom humor, é aminha matéria preferida.

– BUMMM. Surpresa Angel, hoje é seu aniversario – a mesma recepção do ano passado, abri a porta e dei de cara com o Jeremy com um chapéu de aniversario das meninas super poderosas . Ele me deu um abraço apertado eu evito contatos físicos mas eu não pude resistir. Eu esqueci que hoje completo dezesseis anos, sempre esqueço dessas datas, mas o Jeremy sempre faz questão de lembrar ele tem um mural com os aniversariantes da família, segundo ele eu sou da família, eu sou sua anjinha.

– Esse ano você não escapa. – a Dora gritou do andar de baixo

– Eu nunca escapo. - ele me soltou e começou falando dos planos do dia da Angel. Descemos as escadas e a sala estava coberta de balões cor de rosa. O senhor John marido de Dora estava vermelho de tanto encher balão com um chapéu igual na cabeça olhei para ele com uma cara pedindo desculpa e disse com a boca que o Jeremy havia insistido. Ele apenas riu, fazia tudo pelo neto. Na mesa um bolo pequeno também das meninas super poderoas e dezesseis velas.

Somos apenas nós quatro em uma casa gigante na periferia de Nova York. Essas comemorações são como um evento. Os pais de Jeremy morreram em um acidente quando ele tinha apenas dois anos então eles cuidam da criação dele, quando ela me trouxe do reformatório não tínhamos contato foi através do Jeremy que começamos a trocar as primeiras palavras. O senhor John nunca se esforçou mas é um homem muito simpático e faz todas as vontades de Dora que põe uma ideia na cabeça e ninguém tira. Meu aniversario é uma delas.