Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 6
Ninguém está pronto para: Guardar segredos


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente, ou felizmente, Nico não está pronto para guardar certos segredos de Percy (apenas alguns)



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No capítulo anterior eu explorei um pequeno pedaço da vida de duas pessoas que se sentem isolados e deslocados nesse enorme mundo. Ok! Foi gentileza minha. Eles se sentem bastante isolados, deslocados e solitários nesse vasto universo.

Entretanto, ao contrário de Léo Valdez, Nico Di Ângelo possuía Percy Jackson. Também possuía um pai presente, uma madrasta presente e uma 'avódrasta' muito presente. Era uma família típica grega-deusa. Eu não sei o termo correto disso. Alguém me ajuda? Vou contar e no final você pode tentar dar sua opinião.

Nico não tinha para onde ir. O acampamento Grego ou Romano não era exatamente o lugar onde ele moraria todos os doze meses do ano. Em cada um dos acampamentos ele se sentia deslocado. E a acolhida no mundo inferior fez toda diferença. Nico Di Ângelo possuía um quarto e todas as acomodações que um príncipe do reino dos mortos sonharia ter.

Vários servos, mortos, que não ficariam pegando no seu pé. Ele não pensava em se mudar, pelo menos ainda não. Sequer possuía um trabalho, como conseguiria dinheiro para comprar uma casa? Não completou os estudos, não sabia fazer nada... nada além de seus poderes. Tais poderes que não lhe garantiam um salário mensal.

Podia dar aulas particulares de italiano e grego. Ah! Latim também. Mas que pais iriam olhar para ele e pensar “Oh! Legal, o professor particular do meu filho tem cara de psicopata, vamos deixá-los sozinhos para estudar”.

Ser um meio-sangue era uma merda, pensava Nico.

Os meio-sangue que viviam longe dos acampamentos precisavam lutar por suas vidas. Muitos não sobreviviam ou sequer passavam dos dezoito anos. O próprio Nico estaria morto anos atrás se não fosse pela intervenção divina de seu pai.

Trabalhar não era problema para um meio-sangue. Cada um possuía uma qualidade (e muitos defeitos também) herdados pelos pais e mães divinos.

Como por exemplo: os filhos de Afrodite que possuem uma rede de cosméticos, perfumes e poções especiais. As lojas online recebem milhares de encomendas por dia, e todo o Chalé de Afrodite estava empenhando em prosperar no negócio, com Drew no comando da empresa. Ela puxou do pai a habilidade de empresariar e da mãe, além do charme, Drew era uma excelente perfumista. Poucos sabem, mas Drew Tanaka possui um diploma de Química. Isso mesmo, ela se formou na universidade. Mas falemos da filha do amor depois...

Nico recebeu uma boa proposta de seu namorado. Trabalhar no Café Crepúsculo dos semideuses. Mas Nico era introvertido, não gostava muito de lugares movimentados e de lidar com outras pessoas. Ele não era como Percy, que conseguia conquistar qualquer pessoa em cinco minutos de conversa.

Ao recusar o emprego, ele acabou mentindo para Percy. Falou que estava pensando em trabalhar por conta própria, mas sempre que era questionado sobre os serviços que iria prestar, ele mudava de assunto. Assim que tivesse uma boa ideia, iria contar para Percy.

Para qualquer outra pessoa, o mundo inferior não era um lugar para as pessoas morarem. Para o filho de Hades, era normal.

Assim como uma família, eles estavam sentados à mesa. Hades na cabeceira, apreciava um bom vinho. Do lado direito da mesa estava Perséfone, com seus olhos negros e uma beleza estonteante. Os longos cabelos estavam presos em uma trança lateral, com o fim da primavera o tom castanho dos fios ia perdendo a cor e ficando avermelhados. Ela mexia na salada, totalmente desgostosa, estava de dieta. E ao seu lado, Deméter. A deusa da agricultura estava dizendo nesse exato momento que sua filha não precisava de uma dieta, mas sim de um novo marido.

Hades a ignorava com elegância e sutileza, como se faz com os mosquitos.

Nico estava sentado do lado esquerdo de seu pai, mexendo a sopa com uma colher. Ele não sentia fome.

— Coma, menino. Está muito magrinho. — Deméter comentou. — Esses jovens de hoje em dia não sabem se alimentar. — Ela suspirou. — E muito menos arrumar os cabelos.

— Mãe, deixe ele. — Perséfone deu um sorriso para Nico. — Eu gosto desse estilo. Parece que acabou de acordar, e quer dizer para o mundo: Olha, não ligo para meu cabelo. Sou legal assim.

— Podemos não falar do meu cabelo, por favor? — Nico pediu. Mas obviamente não surtiu efeito. Elas continuaram falando. Cada uma discordando do que a outra dizia, mas no fim, Deméter sempre tinha a razão. Ela era ótima em fazer qualquer um desistir de uma boa discussão.

— Querida você não vai comer a sobremesa? — Deméter não desistia mesmo.

— Não, estou cortando o açúcar.

Enquanto elas discutiam sobre alguns gramas que ela possivelmente ganhou nas últimas semanas, Hades informou Nico que eles iriam fazer uma caminhada longa pelo mundo inferior. E isso fez o rapaz lembrar do aniversário de Percy que seria no outro dia. Comemorariam na boate Tanaka. É, o pai de Drew era empresário e abriu uma boate em Manhattan. E assim, como o Café de Sally e Percy, a boate de Drew era muito bem frequentada por seres mitológicos Gregos e Romanos.

— Amanhã estarei ocupado. É o aniversário do Percy.

Ele comentou, terminando sua sopa, ou teria que ouvir Deméter falar o resto da noite. Mas tocar no nome de Percy na mesa de jantar era o mesmo que pedir por isso. Tarde demais para se arrepender.

— Não me diga que você ainda esta se encontrando com a criança de Poseidon? — Deméter o olhou horrorizada. Nico não sabia qual o motivo para tanta irritação. — Como filho de Hades você tem uma posição importante no mundo.

Era confuso, eles não estavam preocupados com sua sexualidade, mas sim com o fato de, entre todos os homens do mundo vivo e dos mortos, Nico escolheu o filho de Poseidon.

— E ele é filho de um dos três grandes também. — Nico fez o que não devia. Deu corda para Deméter. Ela começou a falar como Nico deveria se comportar, sendo o filho de Hades. — Olha. Sinto muito se eu não curto sequestrar mulheres em campos floridos.

— Hey! — Hades o alertou. Afinal, a fofoca que rolava é que ele havia sequestrado Perséfone. Vocês conhecem a história. Não? Então podem pesquisar na biblioteca do Acampamento meio-sangue.

— Qual o problema de o rapaz namorar o filho de Poseidon? — Perséfone ainda tentou contornar a situação, mas ela conhecia a mãe que tinha. — Falando nisso, Nico, quando você vai trazer seu namorado aqui? Quero conhecê-lo.

— Mas vocês já o conhecem. Não sei se lembram, papai o trancou nas masmorras alguns anos atrás.

— Oh! É verdade. — Perséfone acabou aceitando uma taça de sorvete de passas. — Mas agora a situação é diferente. Pensei em fazer um jantar especial. Você o traz aqui para conversármos melhor. Até porque, Perseu Jackson não falou com seu pai.

— Você não acha mesmo necessário ele vir aqui pedir sua permissão, não é? — Nico olhou para o pai, que até o momento estava tentando se safar da conversa. — Não, né?

— Na verdade... — Hades abandonou a refeição. — Eu preferiria que você desse um ponto final nessa história. Sinceramente não vejo qualquer bem futuro que essa relação traria para todos nós.

Nico largou o guardanapo sobre a mesa.

— Não vê? Que tal a minha felicidade? Eu não tenho culpa se o seu passado comprometeu o seu futuro. Não pense que vai fazer da minha vida um jogo de xadrez. Eu não sou um peão.

— Você é meu filho e não sabe que isso já é motivo para compreender o que eu digo?

— Poderia ser mais claro pai? — Nico olhou para o outro lado da mesa, Deméter finalmente havia fechado a matraca e estava apenas observando.

— Meus filhos são amaldiçoados Nico. — Ele entrelaçou os dedos, pensativo. — Digamos que a deusa do Amor não se importa muito com minhas crianças. Tudo por alguns deslizes do passado.

Ele olhou desapontado para Perséfone. Ela aproveitou o momento para deixar a mesa, levando sua mãe junto. Hades contou a história de Adonis, o mortal por quem Afrodite e Perséfone se apaixonaram, então, por ciúmes, Ares o matou. Bem, uma história trágica de amor e ciúmes. Nico engoliu seco, ele não desejava matar ninguém por ciúmes. Mentira, nós temos a prova disso em capítulos passados. Mas agora ele sabe se controlar.

— Desde então, as crianças de Hades tem sofrido longas eras de solidão e rejeição.

— Mas, pai. — Nico não era de dar detalhes sobre sua vida íntima. Mas o momento era oportuno para isso. — Afrodite apareceu em uma noite. Percy e eu estávamos... — Ele se forçou a dizer onde estavam, mas decidiu pular a história e ir ao que interessava. — Ela disse que estava torcendo por nós.

— Meu filho, o amor pode ser tão bonito quanto feio. Se Afrodite esta torcendo por você, então espere e verá. Ela não deixará sua vida muito fácil. É assim que funciona.

— Mas está indo tudo bem, pelo menos até agora.

— É, eu sei o que é isso. — Hades parecia indiferente e aquilo irritou Nico.

— Só porque você não viveu seu amor com minha mãe, não significa que eu tenha que pagar por isso também. Se alguém mandasse você abandoná-la, você a abandonaria?

Hades o olhou sem emoção. Porém, as palavras que vieram a seguir possuíam uma carga de emoção infinita.

— Eu trocaria minha imortalidade por um dia que fosse com Maria. — Os olhos do deus viajaram pelas décadas, até a época em que seu amor estava ainda vivo. Ele retornou ao presente no momento que Perséfone e Deméter entraram pela sala de jantar.

— Diga a verdade para ele. — Esperneou Deméter. — Vamos. Fale de uma vez, quem sabe assim o menino compreenda.

— Do que ela esta falando? — Nico olhou para todos no recinto que pareciam saber muito bem do que a velha maluca, digo, a deusa da agricultura falava.

— Eu quero você comigo Nico. Quero que esteja ao meu lado. Posso conseguir sua imortalidade. Assim você viverá para sempre conosco aqui. Um deus. Mas antes precisa provar sua força.

— Mas... — Nico sentiu-se tonto. Era uma oferta absurda, não estava preparado para recebê-la naquele instante. — Eu não compreendo, já vivo aqui e que diferença faz imortal ou não?

Perséfone suspirou. Ela não gostava muito de reuniões em família e estava sempre entediada, menos na primavera, quando trabalhava muito. No restante do ano, comia muita bobagem na frente da televisão, assistindo à filmes, série e uma infinidade de vídeos clipes. Ela costumava chamar Nico para assistir alguns desses itens com ela. Ainda não eram os melhores amigos, mas ela conseguiu superar sua presença ali, mesmo que tudo no rapaz fizesse seu marido lembrar da mortal que morreu alguns anos atrás.

— Nico, se você continuar morando aqui, poderá enlouquecer. Um dia vai acordar sem saber se aqui é lá ou se lá é aqui. — Ela se referia ao mundo dos mortais. — Como ainda não desenvolveu todos os seus poderes, quando isso acontecer, poderá causar dor a todos. — Ela virou-se para o marido. — Conte-o tudo, chega de segredos.

Hades massageava as têmporas. Tanto tempo esperando a hora certa para falar com seu filho, e num instante Perséfone resumiu tudo em menos de cinco minutos.

— Pai, do que ela está falando?

Então Hades empoleirou-se na cadeira, apoiando o queixo na mão, como se estivesse com preguiça de continuar a conversa.

— Meus filhos têm uma tendência natural à tragédias e danos catastróficos. Alguns pouco, outros muito. Alguns iniciam Guerras, outras revoluções... e Surprise! Surprise. Advinha quem é a bola da vez?

— Eu?

— Sim. — Hades passou as mãos em seus cabelos negros. — Você pode trazer escuridão ao mundo. Ou não. Depende de como vai desenvolver seus poderes. Por isso minha proposta. Se aceitar, irá se tornar imortal. Um deus. E sua transição não afetará o mundo. Mas do contrário, poderá destruir um continente inteiro caso seu poder seja despertado em algum lugar ou momento errado.

— E quem garante que eu despertarei esse poder? Já passei por tantos problemas e ele não veio à tona. Posso controlar, eu posso.

— Você quem decide. — Hades queria encerrar aquele assunto.

— Pai. — Nico o encarou. — Eu abdicaria a minha imortalidade para ficar o tempo que fosse com Percy.

— É. Não resta dúvidas. Você é mesmo meu filho. Não se arrependa depois.

Como eu disse, esse foi um jantar normal em família. Às vezes uma família precisa fazer algum tipo de intervenção em prol daquele que está passando, ou passará, por uma dificuldade. A família do mundo inferior não era diferente.

Nico pensou como seria se ele fosse igual a Léo. Morando sozinho e trabalhando. Mas daí Nico lembrava que não possuía um talento especial para trabalhar e se sustentar. E aquilo não significava uma derrota. Ele não desistiu. A intervenção não deu certo por um lado, porém agora, estava a par de que seu futuro era incerto.

Que novidade.

 

Ninguém está pronto para: Guardar segredos

O aniversário de Percy foi na semana passada, mas como ele estava atarefado com a Cafeteria, não teve tempo para comemorar. Mesmo a contragosto, sua mãe Sally o acordou na manhã de seu aniversário com um belo cupcake azul e uma velinha. Ela sentou na cama do filho e cantou um happy birthday to you com sua doce voz maternal. Percy assoprou a velinha e ganhou um abraço da mãe. Depois do momento especial, Paul entrou no quarto e parabenizou Percy pelo aniversário. Ele também estava com um envelope na mão.

Era o presente de aniversário de Sally e Paul para Percy.

Percy pegou o envelope, um pouco sem graça. Ele não era acostumado a ganhar presentes. Vocês sabem, infância difícil, a mãe trabalhando tanto, etc.

— Nossa! — Percy tirou do envelope alguns cupons. — Troca de óleo grátis por seis meses. E olha esse aqui, lavagem gratuita por um ano?

— Já que seu pai resolveu te dar um carro, e todo o nosso investimento foi na cafeteria, decidimos inovar esse ano. — Sally falou com uma nota amarga, mas não malvada. — Então juntamos esses cupons dos jornais semanais.

— Eu adorei. — Percy se levantou e abraçou a mãe. — Valeu Paul. — Ele apertou a mão do padrasto e não parou por aí, abraçou-o também. Afinal, o tinha como um pai agora.

Ele preferiu não marcar nada naquele dia para comemoração, nem mesmo um cineminha com Nico. Mesmo porque estava realmente sem tempo. Entretanto, quando se é um meio-sangue famoso, como era Percy, datas comemorativas tais como aniversários, eram devidamente festejados. Vocês entendem, não é?

Meio-sangues não costumam viver muito, então precisam celebrar ainda vivos.

E assim surgiu a grande noitada de sábado na boate Tanaka. Rachel garantiu que organizaria a festinha com ajuda de Drew. Por isso Percy não precisou se preocupar com absolutamente nada.

O sábado amanheceu nublado e a previsão do tempo para o restante do dia não era nada bom. Ele ficou com preguiça de sair da cama, mas logo que sentiu o cheiro de café, seus sentidos despertaram. Já era seis e meia da manhã quando Percy terminou de lavar a louça do café e ainda sonolento, pegou as chaves do carro e saiu de casa.

Sentia tanto sono, que cogitou a possibilidade de pegar um táxi e ir dormindo no banco traseiro. Mas assim que saiu do prédio onde morava, ele encontrou Nico parado na calçada segurando uma sacola de material reciclado, ele vestia um casaco preto e calça jeans surrada. Seus cabelos estava como se não tivesse penteado depois que acordou. Mas conhecendo o namorado como conhecia, sabia que ele realmente não havia dormido.

— Não tem relógio no Mundo Inferior? — Ele perguntou quando chegou perto de Nico.

— Deméter fez questão de colocar um relógio cuco na sala. Toda vez que ele canta, quero mandá-lo para o inferno. Mas como a gente já vive nele...

Percy gargalhou. Ele adorava as piadas que Nico contava. Embora algumas vezes parecesse que falava sério.

Eles se beijaram. Nico enfiou as mãos dentro do casaco de Percy e recebeu um abraço quentinho e aconchegante. Começou a chuviscar e eles correram para entrar no carro.

— Olha, eu queria te dar seu presente agora. — Nico entregou a sacola. — Eu não queria fazer isso na frente de todo mundo na festa. E não dei nada para você no dia de seu aniversário só porque me pediu para não comprar nada.

— E mesmo assim você comprou. — Percy pegou a sacola, não estava chateado, ao contrário. Ele só não sabia como reagir quando ganhava presentes.

— Eu sou o seu namorado. Não me prive do prazer em passar horas na rua quebrando a cabeça com o Leo para achar um presente perfeito.

Opa, opa. Ele falou Leo? Desde quando Nico e Leo batem perna por aí atrás de presentes? Pensou Perseu Jackson.

— O que tem o Valdez?

— Ele foi comigo. — Nico colocava o cinto de segurança, enquanto analisava a tempestade que vinha do sul. E quando a ficha caiu, foi tarde demais.

Percy não deu tempo para Nico saborear o momento de “Opa, opa, isso foi um momento de ciúmes?”. Mas foi estranho, por alguns segundos sentiu que Percy havia roubado o ar ao seu redor com um único olhar. mas durou rápido demais.

— Uma jaqueta. — Ele tirou a peça de dentro da sacola.

— Gostou?

— Como não gostaria? — É, eis uma coisa sobre Percy. Ele não era filho de Afrodite, mas possuía charme. Percy virou-se, esticando seu braço para trazer Nico para mais perto dele, beijou-o rapidamente nos lábios e depois de um longo abraço como forma de agradecimento, Percy acariciou o rosto do rapaz e então o beijou novamente, mas dessa vez foi mais afoito, com direito a uma breve perca de noção de local e horário, enquanto sua mão brincava para dentro da camisa de Nico.

Nico foi quem finalizou o beijo, por necessidade de respirar e se comportar.

— Eu te levaria para um outro lugar agora. — Comentou, apertando os dedos no queixo de Nico. Com um exagero extra na força. — Mas tenho que abrir a cafeteria. Minha mãe e o Paul só irão mais tarde.

— Se quiser eu posso te dar uma mãozinha agora de manhã. Prometo não assustar ninguém.

— Eu adoraria. — Percy piscou para o namorado. — Então, me conta mais sobre você e o Leo procurarem meu presente.

Ah! Aí está.

— Queria a opinião de alguém. — Nico respondeu, olhando a cidade pela janela do carro, a chuva pegou todos de surpresa pelo visto. Muitas pessoas correndo de lá para cá sem guarda chuva. Percy aproveitou o sinal vermelho para olhar o namorado. — Sabe que eu não tenho muitos amigos, não é?

— E a Rachel? — Percy insistiu. Ele não sabia porque fazia aquilo. O que estava pensando afinal?

— Ela está muito ocupada com a festa de hoje à noite. Não tinha tempo para sair comigo.

— Sei. — É, era isso. Percy sentiu ciúmes. Nico riu. — O que foi isso?

— Isso o que?

— Esse sorriso de vitória.

— Você está com ciúmes do Leo?

— Não! — Respondeu rápido demais. Tudo dava a entender que era mentira. Fico pasma com minha interpretação em sinais. — Eu já disse que confio em você. E ele é meu amigo também. E os dois sabem muito bem do que eu sou capaz, já me viram em ação.

Percy não soube de onde veio aquele tom ameaçador. Mas ele estava ali.

— Está dizendo que se eu te trair, você vai me cortar com sua espada? — Nico não estava assustado, mas impressionado com a revelação doentia.

— Ótimo! Que bom que você entendeu. — Percy riu e piscou para ele. Queria poder dizer que era uma brincadeira, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade.

— Não seja bobo. — Nico ainda estava interessado naquela conversa. — Achei que eu fosse o psicótico da relação. Além do mais, Leo gosta de outra pessoa. E não sei se percebeu... — ele olhou para Percy. — Mas não tenho olhado para os lados desde que nos conhecemos.

Percy sorriu satisfeito e sem olhar para ele – porque precisava prestar atenção na direção –, ele apenas perguntou de quem Leo gostava.

— Não sei se posso falar sobre isso, foi uma confidência em uma conversa particular. Eu não sei se tenho o direito de revelar.

— Qual é? Eu sou bom em guardar segredo. — Então eles chegaram ao destino. Percy estacionou o carro como sempre, do outro lado da rua. Nico saiu rapidamente e correram para atravessar a rua pouco movimentada naquela manhã chuvosa. Percy tratou de abrir logo a cafeteria e entraram.

Nico tirou o casaco e pendurou no cabide que ficava logo na entrada. Ele sacudiu os cabelos e limpou os pés no tapete. Percy ligou as máquinas e também o aquecedor. Em alguns minutos a Cafeteria abriu e já estava recebendo seus primeiros clientes.

Do outro lado do balcão, Nico tentou ajudar, preparando alguns expressos para viagem, mas ele não era tão bom naquele serviço. E graças aos deuses, a nova funcionária do Café Crepúsculo dos semideuses chegou uma hora depois. O movimento não estava muito grande, a maioria das pessoas que entravam ali estavam se protegendo da chuva. Os mortais que frequentavam o café, eram poucos. A maioria podia ver através da névoa e tinha em sua família alguma ligação com semideuses. E a propaganda cresceu na boca a boca mesmo. Percy estava pensando em um comercial na TV Hefesto. Isso com certeza poderia alavancar mais ainda a cafeteria. Lembrou-se de que havia pedido para Leo falar com seu pai, e em consequência disso, ele lembrou também a conversa que deixou para depois com Nico.

— E então. Quem é a tal pessoa? — Percy perguntou, depois de atender os últimos clientes que entraram no café. Nico estava sentado em uma das mesas do fundo, lendo um livro. Deixou o livro na mesa e olhou para Percy.

— Eu já falei que não posso contar.

— Claro que pode. — Percy sentou e estendeu a mão, alcançando a do namorado. — Você confia em mim, eu em você. Não escondemos segredos... Não é?

Nico demorou para responder e quando percebeu que a expressão no rosto de Percy era de dúvida, ele falou de uma vez.

— Jason.

Percy abriu a boca, mas não disse nada. Ele foi atender mais um ou dois clientes e depois voltou para a mesa de Nico.

— Sério? Eu achei que o Jason não... você sabe. Ele não parece...

— Pelo que sei ele só gosta do Leo como um amigo.

— É, dá para perceber pelo jeito que ele engole a língua da Piper.

— Que piada de mal gosto. — Nico riu, só porque Percy gargalhava. — Não fale nada para ele.

— Claro. — Percy sentiu um pequeno alivio no peito. Era bobagem desde o começo aquele ciúme sem sentido. Mas analisando a situação, ele finalmente entendeu como Nico se sentia em relação aquilo. Era dolorido e assustador, mesmo o mais ínfimo motivo, ganhava proporções gigantescas pela imaginação.

— Percy, a máquina de cupcake está dando problemas de novo. — Andrômeda chamou.

— Já vou.

Percy foi ajudar destravar a máquina de cupcake, criação de Leo Valdez, mas nem tirando da tomada e ligando novamente, ela voltou a funcionar.

— Liga para o Leo. Ele pode resolver. — Ela sugeriu ansiosa. Percy deu um longo suspiro. Sabia do interesse de Andrômeda em Leo. Mas vejam como a vida nos prega peças. Ele acabou de descobrir que sua atendente possuía pouquíssimas chances com o filho de Hefesto.

— Certo, eu vou ligar para ele. — Percy viu os olhos cor de uva da filha de Dionísio brilharem. Oh! Merda. Ele odiava aquela sensação de ver alguém que ele gostava tanto se ferrar.

No telefone, só foi falar que a máquina estava com problema, que Leo garantiu que largaria seu trabalho para resolver o problema. Percy agradeceu e desligou.

— Ele já vem? — Andrômeda não conseguia, ou não queria, esconder sua animação.

— É, ele vem. Olha... — Percy havia prometido para Nico que guardaria segredo, mas... Ok! Aquele não era um problema dele. Então controlou sua vontade de cuidar dos outros. — Você vai na minha festa?

— Sim. — Andrômeda preparava um expresso. Ela começou a trabalhar apenas uma semana e já estava no ritmo. — Combinei com Annie e Rachel. Vamos nos encontrar na casa da Drew mais tarde.

E Percy não precisava fazer muitas perguntas, Andrômeda falava pelos cotovelos. Soube que Travis convidou ela para ir no cinema, mas não aceitou porque ela saiu com as amigas para o cinema e depois num bar, para comemorar a viagem de Piper.

— Ela vai viajar?

— Não soube? Piper e Jason terminaram. Ela decidiu se mudar com o pai para a China. Ele vai fazer um novo filme e... — É, ela fala bastante.

Já passava das duas da tarde quando Leo entrou pela porta da cafeteria. Ele usava uma capa de chuva amarela e carregava um guarda chuva, mesmo assim estava todo molhado. Andrômeda pegou a capa de chuva dele, levando para os fundos da cafeteria, onde poderia pendurar para secar. Percy mostrou a máquina com problemas e imediatamente Leo começou a trabalhar.

— Alguém me empresta uma nota para eu testar? — Leo pediu e Percy entregou para ele um dólar. A máquina estava funcionando novamente. — Voilà.

— Quanto eu te devo, Leo? — Percy perguntou, preparando um bloquinho de notas para assinar e fazer o pagamento.

— É por conta da casa a manutenção dos meus equipamentos.

— Não é justo. Assim você não vai nunca ganhar dinheiro.

Isso era verdade. Percy insistiu mais um pouco até conseguir um número onde pudesse preencher o cheque grego. Ele entregou à Leo, que guardou no bolso da calça jeans.

Depois que o trabalho foi finalizado, Leo resolveu se juntar à Nico na mesa em que ele ocupava. Eles tomaram um chocolate com chantilly feito por Andrômeda.

— Vocês vão querer comer alguma coisa? — Ela perguntou toda solicita e sorridente.

— Aquele cupcake com bolinhas azuis dentro, pode ser? Valeu señorita. — Leo agradeceu a gentileza com um daquele sorrisos de tirar o fôlego e Andrômeda saiu quase que flutuando dali.

Nico balançou a cabeça, ele costumava ver garotas apaixonadas por Percy as pencas. Por isso sabia muito bem quando via uma garota suspirando apaixonada. Mas, assim como Percy, Leo era um pouco avoado para notar essas coisas.

— Você vai na boate essa noite, não é? — Ele perguntou, deixando de lado os suspiros de Andrômeda.

— Não tenho certeza. — Leo fez uma carinha de cão sem dono. — Eu não estou afim de segurar vela, sabe?

— Vai ter umas duzentas pessoas lá. Não é como se você fosse o único solteiro.

— É. Mas... — Leo falou baixinho. — Eu não sei se quero encontrar aquela pessoa.

Nico compreendeu. Ele sabia pelo o que Leo passava. Ver Percy com outra pessoa causava-lhe uma dor angustiante. E não queria que Leo sentisse isso.

Por acaso Percy estava ali próximo e ouviu a conversa quase sem querer. Eu falei quase. Mesmo que tivesse prometido para sua consciência que não iria se intrometer na vida dos outros, Perseu Jackson não poderia ver seus amigos tristes ao seu redor.

Então era isso. Recapitulando. Travis gostava de Andrômeda que gostava de Leo, que por sua vez, gostava de Jason, que terminou o namoro com Piper, que foi embora para a China. Perfeito!

Isso estalou como mágica na cabeça do semideus.

Não, espera. Percy! Eu não entendi. Volta e me explica melhor o que você planeja.

É, ele já foi.


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Notas finais do capítulo

- Srta Valdez e Bincky, agradeço as palavras incentivadoras em suas recomendações, achei muito amor;

— O que será que o Percy vai aprontar? hehe alguém vai fazer apostas, mandem um comentário com o que acham.


Para quem curte Percy/Nico:
http://fanfiction.com.br/historia/439926/Can_You_Feel_My_Heart/