Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 5
Ninguém está pronto para: Enfrentar os pais


Notas iniciais do capítulo

As vezes a família é um mal necessário.



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No capítulo anterior eu explorei um pequeno pedaço da vida de duas pessoas que se sentem isolados e deslocados nesse enorme mundo. Ok! Foi gentileza minha. Eles se sentem bastante isolados, deslocados e solitários nesse vasto universo.

Entretanto, ao contrário de Léo Valdez, Nico Di Ângelo possuía Percy Jackson. Também possuía um pai presente, uma madrasta presente e uma 'avódrasta' muito presente. Era uma família típica grega-deusa. Eu não sei o termo correto disso. Alguém me ajuda? Vou contar e no final você pode tentar dar sua opinião.

Nico não tinha para onde ir. O acampamento Grego ou Romano não era exatamente o lugar onde ele moraria todos os doze meses do ano. Em cada um dos acampamentos ele se sentia deslocado. E a acolhida no mundo inferior fez toda diferença. Nico Di Ângelo possuía um quarto e todas as acomodações que um príncipe do reino dos mortos sonharia ter.

Vários servos, mortos, que não ficariam pegando no seu pé. Ele não pensava em se mudar, pelo menos ainda não. Sequer possuía um trabalho, como conseguiria dinheiro para comprar uma casa? Não completou os estudos, não sabia fazer nada... nada além de seus poderes. Tais poderes que não lhe garantiam um salário mensal.

Podia dar aulas particulares de italiano e grego. Ah! Latim também. Mas que pais iriam olhar para ele e pensar “Oh! Legal, o professor particular do meu filho tem cara de psicopata, vamos deixá-los sozinhos para estudar”.

Ser um meio-sangue era uma merda, pensava Nico.

Os meio-sangue que viviam longe dos acampamentos precisavam lutar por suas vidas. Muitos não sobreviviam ou sequer passavam dos dezoito anos. O próprio Nico estaria morto anos atrás se não fosse pela intervenção divina de seu pai.

Trabalhar não era problema para um meio-sangue. Cada um possuía uma qualidade (e muitos defeitos também) herdados pelos pais e mães divinos.

Como por exemplo: os filhos de Afrodite que possuem uma rede de cosméticos, perfumes e poções especiais. As lojas online recebem milhares de encomendas por dia, e todo o Chalé de Afrodite estava empenhando em prosperar no negócio, com Drew no comando da empresa. Ela puxou do pai a habilidade de empresariar e da mãe, além do charme, Drew era uma excelente perfumista. Poucos sabem, mas Drew Tanaka possui um diploma de Química. Isso mesmo, ela se formou na universidade. Mas falemos da filha do amor depois...

Nico recebeu uma boa proposta de seu namorado. Trabalhar no Café Crepúsculo dos semideuses. Mas Nico era introvertido, não gostava muito de lugares movimentados e de lidar com outras pessoas. Ele não era como Percy, que conseguia conquistar qualquer pessoa em cinco minutos de conversa.

Ao recusar o emprego, ele acabou mentindo para Percy. Falou que estava pensando em trabalhar por conta própria, mas sempre que era questionado sobre os serviços que iria prestar, ele mudava de assunto. Assim que tivesse uma boa ideia, iria contar para Percy.

Para qualquer outra pessoa, o mundo inferior não era um lugar para as pessoas morarem. Para o filho de Hades, era normal.

Assim como uma família, eles estavam sentados à mesa. Hades na cabeceira, apreciava um bom vinho. Do lado direito da mesa estava Perséfone, com seus olhos negros e uma beleza estonteante. Os longos cabelos estavam presos em uma trança lateral, com o fim da primavera o tom castanho dos fios ia perdendo a cor e ficando avermelhados. Ela mexia na salada, totalmente desgostosa, estava de dieta. E ao seu lado, Deméter. A deusa da agricultura estava dizendo nesse exato momento que sua filha não precisava de uma dieta, mas sim de um novo marido.

Hades a ignorava com elegância e sutileza, como se faz com os mosquitos.

Nico estava sentado do lado esquerdo de seu pai, mexendo a sopa com uma colher. Ele não sentia fome.

— Coma, menino. Está muito magrinho. — Deméter comentou. — Esses jovens de hoje em dia não sabem se alimentar. — Ela suspirou. — E muito menos arrumar os cabelos.

— Mãe, deixe ele. — Perséfone deu um sorriso para Nico. — Eu gosto desse estilo. Parece que acabou de acordar, e quer dizer para o mundo: Olha, não ligo para meu cabelo. Sou legal assim.

— Podemos não falar do meu cabelo, por favor? — Nico pediu. Mas obviamente não surtiu efeito. Elas continuaram falando. Cada uma discordando do que a outra dizia, mas no fim, Deméter sempre tinha a razão. Ela era ótima em fazer qualquer um desistir de uma boa discussão.

— Querida você não vai comer a sobremesa? — Deméter não desistia mesmo.

— Não, estou cortando o açúcar.

Enquanto elas discutiam sobre alguns gramas que ela possivelmente ganhou nas últimas semanas, Hades informou Nico que eles iriam fazer uma caminhada longa pelo mundo inferior. E isso fez o rapaz lembrar do aniversário de Percy que seria no outro dia. Comemorariam na boate Tanaka. É, o pai de Drew era empresário e abriu uma boate em Manhattan. E assim, como o Café de Sally e Percy, a boate de Drew era muito bem frequentada por seres mitológicos Gregos e Romanos.

— Amanhã estarei ocupado. É o aniversário do Percy.

Ele comentou, terminando sua sopa, ou teria que ouvir Deméter falar o resto da noite. Mas tocar no nome de Percy na mesa de jantar era o mesmo que pedir por isso. Tarde demais para se arrepender.

— Não me diga que você ainda esta se encontrando com a criança de Poseidon? — Deméter o olhou horrorizada. Nico não sabia qual o motivo para tanta irritação. — Como filho de Hades você tem uma posição importante no mundo.

Era confuso, eles não estavam preocupados com sua sexualidade, mas sim com o fato de, entre todos os homens do mundo vivo e dos mortos, Nico escolheu o filho de Poseidon.

— E ele é filho de um dos três grandes também. — Nico fez o que não devia. Deu corda para Deméter. Ela começou a falar como Nico deveria se comportar, sendo o filho de Hades. — Olha. Sinto muito se eu não curto sequestrar mulheres em campos floridos.

— Hey! — Hades o alertou. Afinal, a fofoca que rolava é que ele havia sequestrado Perséfone. Vocês conhecem a história. Não? Então podem pesquisar na biblioteca do Acampamento meio-sangue.

— Qual o problema de o rapaz namorar o filho de Poseidon? — Perséfone ainda tentou contornar a situação, mas ela conhecia a mãe que tinha. — Falando nisso, Nico, quando você vai trazer seu namorado aqui? Quero conhecê-lo.

— Mas vocês já o conhecem. Não sei se lembram, papai o trancou nas masmorras alguns anos atrás.

— Oh! É verdade. — Perséfone acabou aceitando uma taça de sorvete de passas. — Mas agora a situação é diferente. Pensei em fazer um jantar especial. Você o traz aqui para conversármos melhor. Até porque, Perseu Jackson não falou com seu pai.

— Você não acha mesmo necessário ele vir aqui pedir sua permissão, não é? — Nico olhou para o pai, que até o momento estava tentando se safar da conversa. — Não, né?

— Na verdade... — Hades abandonou a refeição. — Eu preferiria que você desse um ponto final nessa história. Sinceramente não vejo qualquer bem futuro que essa relação traria para todos nós.

Nico largou o guardanapo sobre a mesa.

— Não vê? Que tal a minha felicidade? Eu não tenho culpa se o seu passado comprometeu o seu futuro. Não pense que vai fazer da minha vida um jogo de xadrez. Eu não sou um peão.

— Você é meu filho e não sabe que isso já é motivo para compreender o que eu digo?

— Poderia ser mais claro pai? — Nico olhou para o outro lado da mesa, Deméter finalmente havia fechado a matraca e estava apenas observando.

— Meus filhos são amaldiçoados Nico. — Ele entrelaçou os dedos, pensativo. — Digamos que a deusa do Amor não se importa muito com minhas crianças. Tudo por alguns deslizes do passado.

Ele olhou desapontado para Perséfone. Ela aproveitou o momento para deixar a mesa, levando sua mãe junto. Hades contou a história de Adonis, o mortal por quem Afrodite e Perséfone se apaixonaram, então, por ciúmes, Ares o matou. Bem, uma história trágica de amor e ciúmes. Nico engoliu seco, ele não desejava matar ninguém por ciúmes. Mentira, nós temos a prova disso em capítulos passados. Mas agora ele sabe se controlar.

— Desde então, as crianças de Hades tem sofrido longas eras de solidão e rejeição.

— Mas, pai. — Nico não era de dar detalhes sobre sua vida íntima. Mas o momento era oportuno para isso. — Afrodite apareceu em uma noite. Percy e eu estávamos... — Ele se forçou a dizer onde estavam, mas decidiu pular a história e ir ao que interessava. — Ela disse que estava torcendo por nós.

— Meu filho, o amor pode ser tão bonito quanto feio. Se Afrodite esta torcendo por você, então espere e verá. Ela não deixará sua vida muito fácil. É assim que funciona.

— Mas está indo tudo bem, pelo menos até agora.

— É, eu sei o que é isso. — Hades parecia indiferente e aquilo irritou Nico.

— Só porque você não viveu seu amor com minha mãe, não significa que eu tenha que pagar por isso também. Se alguém mandasse você abandoná-la, você a abandonaria?

Hades o olhou sem emoção. Porém, as palavras que vieram a seguir possuíam uma carga de emoção infinita.

— Eu trocaria minha imortalidade por um dia que fosse com Maria. — Os olhos do deus viajaram pelas décadas, até a época em que seu amor estava ainda vivo. Ele retornou ao presente no momento que Perséfone e Deméter entraram pela sala de jantar.

— Diga a verdade para ele. — Esperneou Deméter. — Vamos. Fale de uma vez, quem sabe assim o menino compreenda.

— Do que ela esta falando? — Nico olhou para todos no recinto que pareciam saber muito bem do que a velha maluca, digo, a deusa da agricultura falava.

— Eu quero você comigo Nico. Quero que esteja ao meu lado. Posso conseguir sua imortalidade. Assim você viverá para sempre conosco aqui. Um deus. Mas antes precisa provar sua força.

— Mas... — Nico sentiu-se tonto. Era uma oferta absurda, não estava preparado para recebê-la naquele instante. — Eu não compreendo, já vivo aqui e que diferença faz imortal ou não?

Perséfone suspirou. Ela não gostava muito de reuniões em família e estava sempre entediada, menos na primavera, quando trabalhava muito. No restante do ano, comia muita bobagem na frente da televisão, assistindo à filmes, série e uma infinidade de vídeos clipes. Ela costumava chamar Nico para assistir alguns desses itens com ela. Ainda não eram os melhores amigos, mas ela conseguiu superar sua presença ali, mesmo que tudo no rapaz fizesse seu marido lembrar da mortal que morreu alguns anos atrás.

— Nico, se você continuar morando aqui, poderá enlouquecer. Um dia vai acordar sem saber se aqui é lá ou se lá é aqui. — Ela se referia ao mundo dos mortais. — Como ainda não desenvolveu todos os seus poderes, quando isso acontecer, poderá causar dor a todos. — Ela virou-se para o marido. — Conte-o tudo, chega de segredos.

Hades massageava as têmporas. Tanto tempo esperando a hora certa para falar com seu filho, e num instante Perséfone resumiu tudo em menos de cinco minutos.

— Pai, do que ela está falando?

Então Hades empoleirou-se na cadeira, apoiando o queixo na mão, como se estivesse com preguiça de continuar a conversa.

— Meus filhos têm uma tendência natural à tragédias e danos catastróficos. Alguns pouco, outros muito. Alguns iniciam Guerras, outras revoluções... e Surprise! Surprise. Advinha quem é a bola da vez?

— Eu?

— Sim. — Hades passou as mãos em seus cabelos negros. — Você pode trazer escuridão ao mundo. Ou não. Depende de como vai desenvolver seus poderes. Por isso minha proposta. Se aceitar, irá se tornar imortal. Um deus. E sua transição não afetará o mundo. Mas do contrário, poderá destruir um continente inteiro caso seu poder seja despertado em algum lugar ou momento errado.

— E quem garante que eu despertarei esse poder? Já passei por tantos problemas e ele não veio à tona. Posso controlar, eu posso.

— Você quem decide. — Hades queria encerrar aquele assunto.

— Pai. — Nico o encarou. — Eu abdicaria a minha imortalidade para ficar o tempo que fosse com Percy.

— É. Não resta dúvidas. Você é mesmo meu filho. Não se arrependa depois.

Como eu disse, esse foi um jantar normal em família. Às vezes uma família precisa fazer algum tipo de intervenção em prol daquele que está passando, ou passará, por uma dificuldade. A família do mundo inferior não era diferente.

Nico pensou como seria se ele fosse igual a Léo. Morando sozinho e trabalhando. Mas daí Nico lembrava que não possuía um talento especial para trabalhar e se sustentar. E aquilo não significava uma derrota. Ele não desistiu. A intervenção não deu certo por um lado, porém agora, estava a par de que seu futuro era incerto.

Que novidade.


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Notas finais do capítulo

- Atualizei antes do combinado (uma vez por semana) porque essa semana vou estar ocupada e queria responder os comentários do último capítulo hoje;

— Esse capítulo é importante. A revelação vai interferir diretamente no futuro da história. Ser filho de Hades tem dessas coisas;

— Dúvidas e comentários: conversamos nos reviews. Eu não mordo. Aliás, eu adorei umas observações dos leitores, vocês são mesmo sabidinhos, acho que Atena passou por aqui.