Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 48
Ninguém está pronto para: Recomeçar


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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Era possível sentir o cheiro de bolo recém-saído do forno logo na escadaria do prédio.

Percy apertou os dedos em volta do corrimão e subiu os últimos degraus que o separava da porta do apartamento de sua família. Antes de bater na porta, ele fechou os olhos, pensando na melhor maneira de aparecer diante de sua mãe, sem que ela desmaiasse ou tivesse qualquer problema cardíaco.

Agora ele possuía a certeza de que não sabia o que estava fazendo. Naquele momento, ele desejou não ter dispensado a ajuda de seus amigos, quando dispensou um por um, dizendo que poderia fazer aquilo sozinho. Decidiu deixar o prédio e pedir para que alguém viesse antes e conversasse com seus pais, assim evitaria danos graves. Mas ele não agiu tão rápido como imaginava, a porta se abriu e Paul saiu no corredor com um saco de lixo preto na mão.

Ele ficou estupefato ao ver Percy próximo a escada, e como não dava mais para fugir, a única coisa que Percy pensou em fazer foi levantar a mão e acenar para o padrasto.

Com certeza foi uma péssima ideia. Pior seria se ele pedisse para Paul manter a calma.

— Calma, não chama a minha mãe agora. — Percy falou baixinho, tentando tranquilizar o padrasto. O que fez parte das péssimas ideias de sua lista de péssimas ideias.

— Sa-sa-sally! — Paul berrou.

— Ótimo, eu acabei de falar para não chamar minha mãe. — Ele levou a mão até a cintura.

— Quem é você? Por que está fazendo isso com a gente? — Paul arremessou o saco de lixo em Percy.

— Sério mesmo? — Ele girou os olhos.

— Me falaram que alguém poderia se aproveitar desse momento, mas não achei que seriam tão desgraçados em imitar meu enteado. Eu vou chamar a polícia. — Paul ameaçou, entrando no apartamento.

— Ah tá! Você vai chamar a polícia, claro, faz isso. — Percy escorou-se na parede. — Não poderia ser uma recepção melhor, passar a noite na prisão depois de ser ressuscitado, eles iriam adorar ouvir a minha história, quem sabe eu consiga uma gaita também.

— Percy...

A voz de Sally fez Percy abrir os olhos e endireitar o corpo, como quando ele era pequeno e fugia da escola, retornava para casa e esperava a mãe ir trabalhar para se esconder no quarto. Mas Sally sempre o pegava no corredor.

— Oi, mãe. — Ele falou, logo em seguida sentiu Sally pular em cima dele, num abraço apertado.

Percy precisou responder muitas perguntas, e não imaginava que conseguiria respondê-las tão rápido e em tão pouco tempo. Mas tudo ainda estava muito confuso. Desde a sua morte, ou melhor, o coma, até a visita ao mundo inferior, encontro com juízes, Nico príncipe dos mortos, mais gótico que isso ele duvidava que poderia acontecer. E, por fim, a luta dos amigos para abrir um portal e trazê-lo de volta.

Paul ainda o olhava boquiaberto, enquanto Sally não parava de beijar o rosto do filho, até que eles ouviram um choro de bebê.

— Sua irmã deve estar com fome. — Sally limpou as lágrimas.

— Minha irmã? — Agora foi Percy que abriu a boca. — É verdade, você estava grávida, o que aconteceu?

— Depois do seu enterro... — Sally parou de falar, sentindo um peso no coração com aquelas palavras. — Depois de acontecer tantas coisas, eu acabei indo para o hospital e foi preciso fazer uma cesariana.

— Mas não se preocupe, Sarah é muito forte, ela é bem grande para um bebê que nasceu de sete meses. — Paul afirmou, segurando a mão de Sally. — Elas duas são muito fortes. Sua mãe não desistiu de você, Percy. Todos os dias ela dizia que você voltaria.

— É mesmo? — Percy olhou para a mãe, fazendo um carinho no rosto dela. — Você não desistiu de mim?

— Como eu poderia? — Sally o beijou na testa. — Seu pai me disse uma coisa que fez eu pensar que havia alguma alternativa. Além do mais, você é Perseu Jackson. — Ela sorriu. — Ah! Eu espero que não se importe, transformamos seu quarto para receber Sarah.

Percy foi até o antigo quando para conhecer a irmã. Sally a tirou do berço e a apresentou.

— Ela é tão bonita. — Ele falou, tentando encontrar uma maneira de pegá-la no colo. — Eu não poderia morrer agora, não antes de te ensinar onde encontrar as melhores lojas de doces de Nova Iorque, levar você para pescar, soltar fogos no dia de independência e acampar no verão.

O bebê dormiu e com a ajuda de Sally, Percy colocou-a de volta ao berço. Eles voltaram para a sala e conversaram até que Sarah acordou novamente para mamar e trocar a fralda. Percy estava na cozinha, comendo mais um pedaço de bolo, quando Sally retornou.

— Paul está fazendo um ótimo trabalho trocando a fralda dela. — Ela falou, sentando-se ao lado do filho. — Hoje é um dia tão maravilhoso, eu nem acredito que você voltou para nós.

— Eu também, mãe. — Ele falou, na verdade estava se sentindo um filho relapso, pois enquanto esteve no mundo inferior, não levou em consideração os sentimentos da família. — Olha, eu sinto muito por tudo o que passou. Não deve ter sido fácil, ainda mais com a gravidez. Eu jamais teria tentado alguma coisa, se soubesse no que iria dar.

— Não é como se a gente soubesse o dia que iremos partir. Mas eu desejo que não aconteça tão breve com você. — Sally esticou a mão e apertou a do filho. — Quando eu estava no hospital, seu pai me visitou.

— Bom saber que na minha ausência ele dá as caras. — Percy não queria ser grosseiro, mas já era tarde para esquecer o que falou.

— Além do mais... — Sally começou a falar mais baixo, certificando-se de que Paul não estava ouvindo. — Uma noite eu recebi a visita de Panaceia. Bem, ela disse que o nome dela era esse e que foi enviada por Poseidon para cuidar de nós duas.

— Isso explica muita coisa. Panaceia é a deusa da cura, e Sarah está grande para um bebê que nasceu antes da hora. — Percy lavou os pratos, enquanto sua mãe secava.

— A Deusa da cura foi me visitar no hospital e então no outro dia os médicos começaram a falar que houve um milagre, embora alguns fossem mais céticos com isso e pediram mais exames. Ficamos internadas mais um dia, até que voltamos para casa.

— E o que Paul acha disso?

— Paul não é muito fiel a uma religião, sabe disso, mas depois de tudo o que já passamos e vimos, ele vem se acostumando com a ideia de meu primeiro filho ser um semideus. — Eles terminaram de arrumar a cozinha e foram para a sala. — Me fala como ficou Nico e Luke nessa história toda.

— Na verdade, eu não tenho a menor ideia. Também não sei como descobrir o que aconteceu. — Percy afundou o corpo no sofá, e mesmo que sua mãe falasse que tudo vai ficar bem, ele não tinha a menor ideia do que poderia acontecer.

Passou quase dois meses desde que Percy retornou à vida, e mesmo que ele tentasse arduamente voltar ao ritmo da rotina que era habitual na cidade, as coisas não estavam seguindo da forma que achava que deveria ser.

Todos os dias, Percy acordava as cinco e meia, encontrava a mãe no quarto de sua irmã, já que Sarah era o tipo de bebê que gostava de trocar o dia pela noite. Ele vinha dormindo no sofá-cama na sala, pois insistiu que não precisava de seu quarto de volta, jamais iria expulsar uma menina do quarto só para voltar a dormir confortavelmente em uma cama.

Após deixar o apartamento, Percy caminhava sempre até a Cafeteria Crepúsculo dos Semideuses. Embora sua rotina não fizesse ainda sentido, os negócios da família iam muito bem.

Após abrir a cafeteria, Percy limpava todas as mesas e o chão, as máquinas de café e as prateleiras de exposição. As sete horas, o estabelecimento estava aberto e com fila para pegar o café. Andrômeda servia café nas mesas, embora demorasse um pouco mais na mesa e Travis, enquanto Steve, o filho de Deméter, organizava a dispensa, onde ele era muito bom.

Dante chegava sempre ao meio-dia, onde iniciavam as entregas para o almoço, e assim o café começava a ganhar mais popularidade entre os semideuses de Nova Iorque.

Butch e Annabeth estavam sentados nos bancos do balcão, mostrando para Percy uma revista de uma agência de viagem. Planejavam viajar para o Peru, mas ainda achavam cedo para uma viagem internacional.

— Vocês não têm nada a perder se forem hoje. — Percy falou, entregando o pedido para Andrômeda. — Sério, deviam aproveitar o clima no Peru... é verão agora?

— Você sabe onde fica o Peru? — Annabeth perguntou, fazendo a sua melhor cara de sabidona.

— Sei lá, no caribe?

Annabeth gargalhou e até mesmo Butch não resistiu e riu, mesmo que de forma mais discreta.

— Caribe? — Thalia falou assim que entrou na cafeteria. — Vai fazer as malas, Jackson?

— Annabeth quem vai viajar. — Percy respondeu.

— Vamos para a américa do sul! — Annabeth disse. — E você, quando vai partir?

— Hoje, no final da noite. — Thalia se sentou no banco. — Ártemis permitiu que eu ficasse mais tempo para resolver os documentos. Conseguimos vender a casa e mamãe está em uma clínica de reabilitação bem cara, do jeito que ela gosta, onde os fãs malucos dela vão poder tentar invadir para tirar fotos.

— Onde está o Jason? Achei que ele iria querer passar o dia com você. — Annabeth desistiu de esperar Percy trazer mais bebida para seu copo e invadiu o espaço atrás do balcão.

— Meu irmão tem aquela doença de não viver sem Leo Valdez. — Thalia comentou, com um tom irônico.

— Seu irmão está apaixonado. — Annabeth olhou para trás e viu Percy juntar os cacos de algumas xícaras que havia derrubado. — Quer ajuda?

— Não, está tudo bem. — Percy levantou-se.

A porta da cafeteria abriu novamente, o movimento era intenso naquele horário. Entretanto, o homem que entrou no estabelecimento não estava interessado em beber ou comer alguma coisa. Solicitou um encontro com Perseu Jackson e Andrômeda arrumou uma mesa para eles conversarem.

Percy lavou as mãos e depois as secou em uma toalha, pedindo para Andrômeda cuidar de tudo. Assim que se sentou, o homem tirou alguns papeis de sua pasta de couro e uma caneta do bolso interno do paletó cor de vinho.

— Meu nome é Donald e eu estou representando a administradora Nova Iorque Real. Tenho alguns documentos para serem assinados, assim como a escritura do apartamento na Quinta Avenida, Condomínio Solares.

— Como é que é?

— Você é o novo proprietário do apartamento. — O homem estreitou os olhos, ajeitando os óculos de leitura e continuou. — O antigo dono transferiu a escritura para seu nome. Só preciso que assine e então irei resolver juridicamente a transferência, mas não precisa se preocupar, o serviço já foi pago. Além do mais, estamos tentando resolver isso já faz alguns meses, mas só agora foi liberada a fiscalização do engenheiro.

Percy leu o documento, procurando por alguma pegadinha ou uma nota de rodapé que pudesse ser usada futuramente para chantageá-lo ou tirar dinheiro dele de alguma forma, não sabia se isso era possível, mas precisava achar algum erro naquele documento, já que não é todo dia que você ganha um apartamento. Foi então que ele se recordou de Nico, e a história de que o pai dele havia lhe dado o apartamento que era para a mãe dele. Por fim, ele decidiu mostrar para Annabeth, e com o aval dela, assinou os papeis necessário.

— Parabéns, você tem uma casa nova. — Annabeth deu alguns tapas nas costas de Percy.

— Eu não vou morar lá. Não tem nem possibilidades de eu passar uma noite sequer naquele lugar, não depois de tudo o que aconteceu. Eu não acredito que ele se deu ao trabalho de passar para meu nome.

— O cara disse que demorou para ser liberado, vai ver Nico fez isso antes de tudo acontecer.

— Isso não me anima a ficar com o apartamento.

— Então o que você vai fazer?

— Eu preciso ir até lá para fazer vistoria logo que for liberado os papeis, então depois disso eu vejo. — Percy se levantou. — Tenho que levar o lixo. Ah! E para a sua informação, eu sei onde fica o Peru.

— É claro que sabe. — Ela riu e Percy também, depois de muito tempo sem vê-lo sorrir.


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Notas finais do capítulo

Oi, como vão?
Eu sei que é meio doido entender a história, pq ela tem vários picos de emoção e depois tudo fica calmo, mas eu vejo mais como uma série que puda várias histórias depois. Não sei se me entendem, mas é isso aí.

Beijos e obrigada aos fortes :D