Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 47
Ninguém está pronto para: Profecias que sempre se cumprem


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O apartamento de Drew estava destruído, assim como boa parte do prédio. Os semideuses estavam espalhados pelos cômodos, recuperando o que poderia, embora a própria moradora não estivesse preocupada com os objetos materiais. Mas esse não era o maior dos problemas naquele momento, sentada numa cadeira, ela não aparentava preocupação com o que havia quebrado e o que estava salvo.

Thalia retornou para a sala, informando que conseguiu fazer com que Annabeth descansasse um pouco no único quarto que havia resistido àquela bagunça. Ela passou direto por Leo e Alex, e sentou-se ao lado do irmão.

— Se não fosse por essa história maluca que acabou de acontecer, eu diria que a família Grace está dando um gelo na gente. — Leo comentou, olhando para Percy, tentando chamar a atenção dele. — Hey, cara. — Ele deu uma batida no ombro de Percy.

— Desculpe, eu estou com o pensamento longe.

— Deu para perceber. — Alex falou. — Qualquer coisa que você precisar, e é claro, se estiver ao meu alcance em ajudar... pode pedir.

— Valeu, mas eu acho que não há mais nada que a gente possa fazer. — Percy deu alguns passos para o centro da sala, olhou ao seu redor, rostos familiares cansados e feridos. — Obrigado a todos por estarem aqui, significa muito para mim saber que vocês se sacrificaram de alguma forma para mais uma luta. Sinceramente, eu não sei se possuo tanto valor assim para que se sacrifiquem por mim.

Percy sabia que seus companheiros não precisavam de muita motivação para fazer o que achavam certo. Bastava um deles precisarem de ajuda, que estavam sempre dispostos a fazer o que fosse possível, lutariam e dariam suas vidas se fosse possível. Afinal, eles eram unidos e a vida era assim a muito tempo.

— O valor de uma pessoa não pode ser medido. — Thalia declarou. — Nós fazemos parte de uma sociedade alternativa totalmente louca, não temos expectativa de viver até os trinta e estamos sempre ameaçados. Não podemos dar ao luxo de perder um membro dessa sociedade confusa.

Ela se levantou e abraçou o amigo.

— Qualquer coisa que precisar, Percy, pode contar com a gente. — Jason completou.

— Foi exatamente isso que eu disse. — Alex comentou e Leo o cutucou, enquanto os dois rapazes trocavam olhares.

— O mais importante agora é saber o que está acontecendo de verdade. — Thalia afastou-se de Percy e percorreu a sala. —  O que exatamente está acontecendo, e se vai ter algum efeito colateral. Afinal de contas, se Luke retornou para o Mundo Inferior, o que vai acontecer com ele?

— Ele será julgado novamente por seus atos, como foi feito na primeira vez quando ele morreu. — Dante explicou, analisando o olhar vago de Drew. — O último julgamento de sua outra vida não será mais levado em consideração.

Era inevitável a preocupação de Percy quanto ao destino de Luke, e também o que viria mudar com a rotina sem Nico ao seu lado. Ou seja, já era horrível antes de saber o motivo dele estar no Mundo Inferior, agora então, sabendo que ele dominava o lugar, e estava impedido de retornar, tudo parecia perdido.

***

Todos os olhares estavam voltados para os herdeiros de Hades.

Ainda sem compreenderem a reviravolta naquela situação, Nico e Hazel dirigiram-se um ao lado do outro para o local indicado pelos juízes. Eles se sentaram em silêncio e observaram Luke na cadeira de réu.

O julgamento iniciou-se com um discurso sobre as antigas leis do Mundo Inferior e como respeitá-las era importante para todos, não importando qual a sua posição. Nico ouvia aquelas palavras, sentindo o ar comprimir ao seu redor. Hazel levou a mão até o ombro dele, perguntando se estava tudo bem, mas ela compreendeu que a resposta era bastante óbvia naquele momento.

Estava na hora de Luke fazer sua apresentação, o que ele fez de maneira rápida e sem muitos rodeios. Sua aparência era tranquila e ele não titubeou nas palavras, mostrando-se bastante seguro do que dizia.

As imagens da curta vida de Luke iniciaram-se em uma tela, começando com quando Nico o encontrou no Campos Elísios e mandou-o para a Terra. Hazel segurou a mão do irmão, enquanto os juízes discutiam a violação das regras do filho de Hades, o que fazia conexão com o discurso inicial sobre a posição de cada um, e suas devidas responsabilidades para aquele mundo.

Mesmo que não estivessem esperando uma colocação de Nico naquele julgamento, ele decidiu falar. Todos se calaram quando o jovem ficou de pé. A atenção era toda sua.

— Eu cresci diferente das pessoas, permaneci enclausurado em um hotel por muitos anos, saí de lá e perdi minha irmã logo em seguida. E então eu me mudei para o Mundo Inferior. Meu pai vem decidindo o meu caminho desde que nasci, e mesmo depois de eu achar que estava no controle da minha vida, mesmo tomando decisões equivocadas, descobri que é só mais um truque de Hades para decidir quem é seu verdadeiro herdeiro. — Nico respirou fundo, olhando diretamente para os três juízes. — Luke não é mais do que uma peça que eu movi para conseguir o que desejava. Ele não merecia estar aqui, e por isso eu intercedo a minha irmã, escolhida pelo nosso pai, que anule esse julgamento e permita que Luke retorne para o mesmo local de onde eu o tirei.

As vozes se intensificaram no local, até que os três juízes bateram o martelo, fazendo o som ecoar e estremecer o chão, recuperando a ordem e o silêncio das sombras que presenciavam o julgamento.

— Eu acolho o pedido do meu irmão. — Hazel levantou-se num impulso, seguindo a deixa de Nico.

— Você não possui poder nesse tribunal, menina. — Os três juízes falaram ao mesmo tempo, irritados com a ousadia dos irmãos.

— Nosso pai nos escolheu por algum motivo, creio eu. De certo não era para ficar apenas enfeitando essas cadeiras. — Hazel manteve-se firme, mesmo que a presença dos juízes causasse um arrepio na espinha.

— Não seguimos ordens de crianças. — As vozes frias dos juízes ecoaram pelo ambiente, transformando-se em lanças de gelo. Nico colocou-se na frente de Hazel, para protegê-la, mas não foi necessário, pois uma barreira de proteção formado por uma névoa sombria envolveu os dois. A nevoa foi dissipando-se até que Nico e Hazel pudessem ver o que, ou quem, havia os defendido.

A surpresa com aquela revelação fez Nico di Angelo retrair os ombros e abri a boca em espanto. Ele não poderia dizer o quanto aquela piada era de mal gosto. Hazel perguntou o que estava acontecendo, olhando para o irmão sem entender por que ele estava tão atemorizado.

A mulher parada em frente aos três juízes aparentava autoconfiança. Possuía cabelos negros e cachos bem moldados, vestindo uma túnica de quíton, na cor branca. Nos ombros, o tecido de linho era preso com alfinetes dourados e um pingente no formato de uma harpia.

Seu olhar era complacente, enquanto sua presença parecia trazer uma serenidade ímpar ao ambiente. Ela sorriu na direção de Nico. Hazel notou que ele tremia, colocou então seu braço em volta do ombro do irmão, falando algumas palavras de conforto em seu ouvido, mas não parecia surtir efeito.

— Vossas excelências e senhores dos mortos. — A doce voz pareceu acalmar a todos, entretanto, Nico tampou os ouvidos em discórdia. — Minos, vossa estrela celeste da Nobreza, eu intercedo pela sua benevolência. Aiacos, Estrela Celeste do heroísmo, eu rogo por sua piedade invejada pelos deuses. E Radamanthys, a estrela celeste da Fúria, eu imploro em nome de vossa lealdade. Essas crianças são frutos de seu senhor imperador Hades, que, no momento, encontra-se em uma delicada posição. É por isso que todos devemos respeitar a sua decisão ao escolhê-los como sucessores.

Os três juízes olharam-se entre si, conversando em sussurros, até chegarem a uma decisão em conjunto. Então Minos, os juízes que dava a palavra final nos julgamentos, tornou pública a sentença dos três:

— Recebemos as palavras de mediação da senhora Maria Di Angelo, deusa do caminho dos vestíbulos do inferno. Dessa forma, respeitando a decisão de nosso mestre Hades, a intercessão de seus representantes, quanto ao julgamento do réu, será aceita. Ele deverá retornar ao seu posto anterior no Campos Elísios.

O juiz bateu seu martelo, firmando a decisão tomada. O julgamento fora finalizado.

***

A presença de Maria di Ângelo era como uma das muitas ilusões que Nico tivera ao longo dos anos. Ele sonhava em como seria acordar e encontrá-la na cozinha preparando o café da manhã. Ou apenas sentada diante da lareira, com um livro na mão. Pequenas lembranças de seu passado se misturavam com aqueles sonhos. Nico recordava-se sempre de como ela o beijava na testa antes de dormir, checando se ele havia escovado os dentes e vestido o pijama. O cheiro dela também era característico, jamais esqueceria, pois jasmim fazia parte de sua essência.

Agora, diante da mulher com quem sonhou todos esses anos, o rapaz não sabia o que falar, nem por onde começar.

Hazel estava terminando de contar sua história para Maria, enquanto ela prestava atenção, desviando o olhar algumas vezes para o filho.

— Então a última vez que vi meu pai foi em um desses flashbacks. E agora que eu te conheci, era você a mulher que preparava poções para ele. Eu não sabia que ele estava doente, ou coisa parecida, nem que procurava por um sucessor. Aliás, tudo isso está muito confuso, e logo terei que retornar para meu acampamento. — Hazel caminhou até o irmão sentado em uma cadeira, mexendo com a xícara de chá que ela havia preparado.

— Creio que não haverá retorno. Você não ouviu? Estamos condenados a permanecer aqui, nós dois protegendo o mundo do nosso pai. — Nico falou, sem muita emoção.

— Ele não pode nos obrigar a fazer isso. — Hazel balançou a cabeça. — Quero dizer, não que eu acho esse um trabalho muito ruim, afinal de contas, eu gostei da forma que aqueles juízes aceitaram nosso pedido, podemos fazer algo bom com isso. E a sua mãe está aqui.

— Sua irmã tem razão. — Pela primeira vez Maria falou diretamente para o filho. Mas Nico apenas revirou os olhos. — Tem todo o direito de não querer falar comigo, mas daqui em diante, iremos nos ver com frequência.

— Agora você quer me ver? — Nico bateu as mãos na mesa, fazendo a xícara cair no chão. — Eu passei anos procurando por você e por Bianca, nenhuma palavra, nenhum aviso, nada. E agora você é uma deusa? Quando isso aconteceu?

Maria aproximou-se, mas deixou um certo espaço entre os dois para não o afugentar.

— Logo depois de minha morte, seu pai intercedeu em meu julgamento, declarando guerra a Zeus. Para manter apaziguado os dois mundos, além do tratado sobre as crianças dos três grandes deuses, ascendi ao Olimpo, tornaram-me uma das protetoras no Ante-inferno.

Nico virou as costas.

— Parece muita bondade de Zeus. — Hazel falou surpresa. — Digo, eu ficaria muito honrada se a minha mãe tivesse tido essa oportunidade. — Ela encarou Nico, movendo a cabeça, fazendo sinal para ele conversar com a mãe. — Vou deixá-los a sós para conversarem.

Hazel levantou-se, saindo da cozinha, mas permaneceu no corredor, encostada na parede, Nico podia senti-la.

— Zeus não foi misericordioso, se é o que está querendo saber. — Maria diminuiu alguns passos a distância com o filho. — Eu imagino que ele deve rir de toda essa tragédia. Seu pai padecendo aos poucos, seus poderes enflorescendo com a sua irmã. Eu, proibida de proteger meus próprios filhos. Vendo harpias trazerem almas perdidas para serem levadas ao seu lugar de descanso eterno. E as harpias só me aceitaram como sua deusa, pois eu as conhecia muito antes de você nascer. Caso contrário, eu não teria tido muito sucesso no meu trabalho.

Nico suspirou, virando-se para a mãe.

— E então por que você apareceu naquele tribunal? Qual o propósito de aparecer agora, e não antes?

— Não entende? — Maria sorriu, o olhar carregado de sentimentos. — O trato com seu pai e Zeus está liberado desde que vocês assumiram sua posição. Hades não tem mais o mesmo poder de antes, não para declarar guerra ao irmão. Esse sempre foi o desejo de Zeus.

Agora quem estava confuso era Nico. Ele tentou organizar os pensamentos e a única solução para toda aquela história era apenas se o seu pai estivesse por trás daquele plano durante todos esses anos.

— Como ele sabia que isso daria certo? — Nico ainda não mostrava seguro.

— Ele não sabia, querido. — Maria recuou alguns passos. — Foram mais de setenta anos aguardando, o que nós tínhamos a perder?

— Se eu não tivesse aceitado ficar, se eu tivesse ido embora, então você não teria aparecido, não é? — Nico encarou a mãe, assimilando toda aquela história.

— Possivelmente não. Eu sei que tudo isso é confuso, mas esse mundo possui muitas regras e você quebrou diversas delas, assim como seus amigos. Se eu também quebrasse as regras, poderia acontecer algo pior, eu não sei.

— Se eu soubesse disso antes, já teria feito alguma coisa. — Aquela mistura de sentimentos que apertava contra seu peito tornava-se uma grande culpa. — Thanatos sabia de tudo, não é?

— Como eu disse, não sabíamos se algum dia seria possível um herdeiro assumir o trono. Mas vocês dois tem controle sobre esse poder. É um grande “e se” que temos em mãos.

Não havia muito o que falar naquele instante. Embora Nico tivesse muitas perguntas sem respostas, a única coisa que ele desejou fazer naquele momento foi abraçar a mãe. Os braços de Maria envolveram o corpo de Nico e ele sentiu uma paz sem precedentes acolher todo o seu ser.


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Notas finais do capítulo

Oi gente :D
Eu amo a Maria e vou protegê-la nas fanfics para sempre ♥ demorou mas ela finalmente apareceu. Espero que fiquem animados.
Beijos.



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