Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 24
Ninguém está pronto para: Fifth Avenue


Notas iniciais do capítulo

Ninguém está pronto para pagar um aluguel :v



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A viagem de volta para Nova Iorque foi silenciosa. Butch dirigia concentrado, com fones de ouvido. Nico dormiu durante quase todo o trajeto com a cabeça no colo de Percy. Ambos nos últimos bancos. Na frente deles estavam Alex e Dante, cada um olhando para um lado da janela em silêncio. Depois Leo e Jason. Apesar de Leo ter passado metade da viagem tentando puxar assunto com o namorado, acabou desistindo e deitando a cabeça sobre o peito de Jason, recebendo um carinho do namorado, pensando bem aquilo era melhor que conversar.

Chegaram em Nova Iorque de noite.

— Muito bem, chegamos em minha casa-garagem-escritório e centro de lazer — Leo comemorou. Mesmo que gostasse do Acampamento e a oportunidade de viver com seus vários irmãos, ele tinha muito trabalho a fazer em casa. Além do mais, ele estaria na companhia de Jason.

Jason saiu do carro, jogando a mochila nas costas, enquanto Leo se despedia, mas para a surpresa do filho de Zeus/Júpiter, Alex também saiu do carro.

Eles trocaram um olhar ríspido.

Round 1 – Fight

— A moto de Alex ficou aqui em casa — Leo explicou. Ele estava feliz, pudera, coisas boas aconteciam. Quer dizer, toda aquela história no acampamento era triste, mas finalmente sua vida pessoal estava… bem, agora Leo Valdez possuía uma vida pessoal.

Percy despediu-se dos amigos, desejando boa sorte para Leo. Porque ele precisaria.

— Ainda está cedo, que tal a gente ir comer uma pizza? Eu estou morrendo de fome. — Leo tirou as chaves do bolso e abriu o portão de metal. Ele olhou para Alex e depois para Jason. — O que acham?

— Tô dentro. — Um sorriso atrevido delineou os lábios de Alex. — Em casa não deve ter nada para comer mesmo. Vai ser legal, vamos levar o Jason naquela pizzaria da Parker Avenue.

— Boa ideia. — Leo tocou a mão de Jason. — Você vai gostar. É um lugar bem legal, aqui pertinho. A última vez que estivemos lá, eu tive de abrir o botão da calça de tanto que comi.

Assim que entraram, Leo fechou a porta, pedindo para eles ficarem a vontade, pois tomaria um banho rápido. Alex aproveitou para ouvir as mensagens na secretária eletrônica e anotar as ligações mais importantes. Até porque ele ainda trabalhava para Leo, lembrem-se disso.

Logo que a porta do banheiro se fechou, Jason encarou Alex.

Round 2 – Fight

— O que você está fazendo? — Jason o enfrentou. Os dois rapazes compartilhavam a mesma altura.

— Estou trabalhando. — Alex apontou para o bloco de notas, enquanto ouvia a mensagem da Senhora Dollores, uma cliente de Leo, que estava modernizando o sistema de segurança de seu salão de beleza para monstros.

— Você não me engana, filho de Atena. É melhor não ficar no meu caminho.

— Por quê? O filho de Júpiter não se garante?

Os olhares de ódio cessaram quando Leo saiu do banheiro, com uma toalha amarrada na cintura e os cabelos cheios de espuma.

— A água acabou. — Leo passou a mão nos cabelos, deixando a espuma cair no chão.

Alex e Jason se olharam novamente.

***

— Vocês tem certeza de que não querem entrar? — Percy perguntou para Butch e Dante, assim que saiu da van. — Minha mãe deve ter cozinhado um monte de coisas. Eu sei que você gosta de doce, Butch.

Dante negou com a cabeça e Butch agradeceu o convite, mas também recusou. Percy acenou para os dois, logo depois que o carro virou a avenida, ele subiu as escadas da entrada. Olhou para trás e Nico não estava seguindo-o.

— Acho melhor eu ir para… você sabe. Casa. — Nico ainda estava em pé na calçada, feito um poste.

— Eu tenho uma ideia melhor. — Percy desceu os degraus e abraçou o namorado. A aproximação era agradável e o toque de seus lábios na pele dele causou um arrepio bom na espinha. Percy beijou-o por toda a extensão do pescoço, enfiando as mãos dentro da jaqueta do rapaz. — Você sobe comigo, a gente conta a novidade para minha mãe e amanhã começamos a procurar um lugar para morar.

— Não desistiu da ideia? — Nico perguntou, levando suas mãos para os ombros de Percy.

— Pensei nisso todos os dias. — Percy o beijou mais uma vez.

Eles subiram as escadas e entraram no elevador. Assim que Percy abriu a porta, sua mãe pulou em seus braços. Ela agradeceu aos deuses por trazê-lo de volta para casa. Nico também recebeu um abraço de Sally.

Havia muito o que conversar, por isso Sally levou-os para a cozinha, assim poderia cortar uma fatia de bolo para cada um. Ela começou falando sobre a Cafeteria e como estavam indo bem com alguns novos funcionários, já que outros precisaram se ausentar.

Depois Sally falou com emoção sobre a gravidez e Paul chegou nesse momento. Percy adorou ver como os dois estavam felizes e aproveitou para dar a notícia de que procuraria um lugar para morar com Nico.

— O que? — Sally abriu a boca, atônita. — Vocês vão se casar?

— O que? — Agora Percy quem ficou aturdido. — Não! Digo... — Ele olhou para Nico, como se pedisse uma ajuda.

Paul puxou a cadeira para Sally se sentar e tentou amenizar a situação.

— É normal quererem passar mais tempo juntos, quando a gente se sente apaixonado. — Ele falou, tranquilizando Sally. — Querida, os meninos, quero dizer, os rapazes já têm idade para ter um lugar só para eles. Um casal precisa de intimidade. Você sabe.

Percy queria abraçar Paul por ser tão compreensivo e falar as coisas da melhor maneira possível.

Nico segurou a mão de Percy, olhando-o nos olhos.

— Eu quero que saiba que vou cuidar de Percy com todo o amor que ele merece.

Percy sorriu, apertando os dedos em volta da mão de Nico. As lágrimas de Sally eram de felicidade, mesmo que no fundo ela ainda quisesse que o filho permanecesse em sua casa para sempre. Passaram ainda duas horas na cozinha, olhando os classificados no jornal, em busca de um lugar próximo, o que deixou Sally mais contente.

Assim que os pais foram dormir, Percy levou Nico para seu quarto. Fechou a porta com o pé e tirou a camiseta, depois os tênis. Ele sentou na cama, observando o aquário com peixinhos fantasmagóricos que Nico lhe dera.

A ideia de sua mãe sobre o casamento ficou em sua cabeça por um tempo. Ele não pensava em casamentos desde a cidade de Nova Roma. Na verdade não pensou no casamento em si, com igreja e festa. Pensou mais em um lugar tranquilo para cuidar da vida e ter um tempo para pensar nisso. Agora a ideia de casar-se com Annabeth causava-lhe risos amigáveis. Já Nico, ele não sabia o que Nico pensava sobre isso.

— Estou cansado. — Nico havia trocado de roupa e vestia apenas uma das camisetas de Percy. Ele se deitou na cama, enfiando-se embaixo do lençol.

— Eu estava pensando em uma coisa. — Percy também se deitou na cama e acomodou a cabeça de Nico em seu peito. — Vamos fazer uma festa quando nos mudarmos? Chamar uns amigos e comemorar.

— Você não acha um pouco inconveniente uma festa nesse clima tenso?

— Não é como se a gente fosse parar de viver nossas vidas toda vez que alguém decide dominar o mundo. — Percy beijou a cabeleira de Nico, apertando-o mais contra seus braços. — E eu quero que a gente comece com o pé direito. Uma festinha vai animar as coisas.

Nico girou o corpo para o outro lado e Percy fez o mesmo movimento, sem deixar de abraçá-lo. — Estou ansioso.

— Eu também. — Percy acariciou os cabelos até que Nico adormeceu.

***

Uma coisa era certa: Nico não imaginou que escolher uma casa seria tão difícil.

Durante o tempo que passou no acampamento, Nico conseguiu uns contatos com Rachel, mas ainda era cedo para comemorar. Trabalhar com fotografia não o faria rico da noite para o dia. Então eles não podiam pagar por algo muito caro. Até porque, Nico não iria permitir que Percy arcasse com todas as contas. E vocês sabem o valor do metro quadrado em Manhattan? É caro demais para dois jovens iniciando uma vida juntos.

— Eu gostei daqui. — Percy dirigiu-se até a janela e tentou abrir, mas estava enferrujada. Além de ter grades em todos os cantos. — A gente dá um jeito. Somos filhos de deuses, quem seria louco em nos roubar?

— A pia não cabe nem um copo. Aliás, eu acho que o encanamento está comprometido. Além desse mofo aqui embaixo. — Nico olhou embaixo do armário e encontrou algumas ratoeiras. — Talvez Hermes nos empreste Martha e George para comer alguns ratos.

— Depois de uma limpeza o lugar vai ficar bom. — Percy abriu o armário no outro cômodo e uma cama caiu sobre ele. — Eu não acredito que ainda fazem camas dentro de armários.

— Vamos ver outro apartamento, antes que eu pegue tétano aqui. — Mas Nico não teve melhores experiências em outras visitas. Foram oito apartamentos e todos possuíam problemas impossíveis de se ignorar.

Cansados, ambos caíram sentados no banco de uma praça. Percy havia comprado dois cachorros-quentes e um refrigerante para dividirem. Estava na hora de economizar, não?

— Podemos tentar amanhã, quem sabe no Brooklyn? — Percy sugeriu, enquanto terminava de comer seu cachorro-quente.

— Vai ficar mais longe do seu trabalho.

— Você pode me levar todos os dias. Sabe, através das sombras. — Percy ergueu as mãos fazendo um olhar macabro.

Nico riu e ganhou um beijo em seguida.

Percy precisava ir trabalhar, ele prometeu para a mãe que estaria na cafeteria na parte da tarde, assim Paul e ela poderiam ir juntos ao médico. Nico garantiu que estava tudo bem, prometendo que ele retornaria para a casa dele e pesquisar outros apartamentos.

Nico não gostava de mentir para Percy, mas em alguns casos ele achava que era a melhor solução. Se contasse que iria ao mundo inferior, provavelmente seria impedido de todas as formas.

Retornar para casa era um pouco assustador. Primeiro porque Nico se sentia completamente à vontade naquele lugar, mas a outra metade gritava pelo retorno à superfície. E assim que seu corpo acostumou-se ao clima do local, Nico Di Ângelo sentiu-se diferente, como se a sua alma expandisse dentro do corpo. Aquela sensação o levou ao chão.

Quando Nico despertou, ele estava em sua cama, na companhia de Perséfone. A deusa o despertou com uma essência especial.

— O que aconteceu? — ele perguntou, sentindo uma leve tontura.

— Você caiu desacordado no meu jardim, querido. O trouxemos para seu quarto. — Ela acariciou o rosto do rapaz, gentilmente.

— Eu senti como se minha alma quisesse sair do meu corpo. — Nico olhou-a, atordoado. — O que isso quer dizer?

Perséfone se levantou, ela não teve chance de responder aquela pergunta, pois Hades entrou no quarto, pedindo para ficar sozinho com o filho.

Após caminhar pelo quarto, dando uma boa olhada ao seu redor, o deus do mundo inferior parou em frente a cama, analisando a expressão confusa de Nico.

— Soube que está procurando uma casa para morar. — Hades dobrou a manga da camisa, enquanto Nico abria a boca. — Estava pensando em me contar isso quando comemorassem as bodas?

— Eu… nós não vamos nos casar. Espere, como sabe disso?

— Você acha que corretores de imóveis sobrevivem as custas de quem? — Hades se sentou ao pé da cama, olhando na direção do porta-retratos de Maria e os dois filhos. — Você vai dar continuidade nessa loucura?

— Quer dizer morar com a pessoa que eu amo? É eu vou sim. — Nico ainda sentia tontura, mas não queria se mostrar enfraquecido na presença do pai. — Nada que você me diga fará eu mudar de ideia.

— Sim, você é mesmo meu filho e de sua mãe. — Hades moveu os lábios num sorriso discreto, quase imperceptível. — Anos atrás, quando sua mãe era viva, ela tinha o sonho de estrelar na Broadway. Se mudar para Nova Iorque e ser uma estrela do teatro. É claro que depois do nascimento de sua irmã, ela desistiu do sonho para se dedicar a maternidade, mas eu nunca acreditei de verdade nisso. Maria era uma mulher de sonhos reais.

Nico mal conseguia esconder a grandiosa alegria que era ouvir algo sobre sua mãe. Hades costumava manter guardado as lembranças do passado, mas em momentos como aquele, ele se pegava falando mais do que achava que devia.

— Quando você nasceu, eu decidi presentear sua mãe com uma nova casa onde ela estaria mais próxima de seu sonho. Mas Maria me disse que os sonhos poderiam tomar novos rumos, e o dela havia sido realizado. — O olhar de Hades era vago, o que fazia crer que ele havia embarcado em uma lembrança do passado. Em segundos seu rosto tomou o formato habitual. — Anos atrás a casa foi demolida para a construção de um prédio. Sendo essa sua única herança de família por parte de mãe, acho justo que aceite como meu presente de... sabe. O presente.

— Um apartamento? É sério?

— Por que eu falaria algo se não fosse sério? Francamente, não compreendo a juventude.

— Eu que tenho algumas perguntas a fazer aqui. — Nico conseguiu sair da cama, estava descalço, mas o chão possuía uma temperatura agradável. — A troco de que está me dando esse apartamento?

— Por eu ser um ótimo pai.

— Não, você não é não. — Nico aproximou-se de Hades, esperando que ele dissesse a verdade.

— A ingenuidade é um prato amargo. Se você come ele no almoço, talvez não sobreviva até o jantar. O apartamento está na Quinta avenida. — Hades tirou as chaves do bolso, entregando para o filho.

— Quinta avenida? Eu não sei se devo.

— Não está em condições de dizer não. É isso, ou morar em um daqueles apartamentos que mais parecem cenas de um crime.

Nico olhou para a chave de bronze em sua mão. Um pedacinho da casa que fora de sua mãe. Embora ela não tivesse morado lá, ainda assim, era um pedaço do amor que seu pai sentia por sua mãe.


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Notas finais do capítulo

Eu tinha muita coisa para falar, mas acho melhor ir tirando as dúvidas de vocês nos comentários, não tenham vergonha pode perguntar, geralmente dou cada Spoiler nas respostas
:v uhuheuheuh

Beijocas e obrigada a todos que acompanham a fic ^_^