Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 21
Ninguém está pronto para: Resgatar ursinhos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/433728/chapter/21

Jason não estava muito satisfeito com a ideia de entrar naquele esgoto. E a cada passo, tinha certeza de que fora uma péssima ideia ir ali. Ele chegou em uma cabine com porta de ferro e decidiu aguarda alguns minutos para ouvir a movimentação lá de dentro, mas após cinco minutos, nada aconteceu. Girou uma engrenagem na porta e a abriu. O cheiro lá de dentro era insuportável.

Jason puxou a gola da camisa que vestia para tampar o nariz. Na outra mão, carregava uma lanterna. Ele entrou cautelosamente lá dentro e apontou a luz da lanterna na direção das paredes. Não havia nada além de uma camada de sujeira de graxa. Jason continuou andando, o chão estava molhado, havia poças de água negra. O coturno de Jason estava melado dessa gosma negra.

— Perfeito. — Ele sacudiu o pé, mas não adiantou. Desistiu de limpar o coturno e continuou andando. Mais pra frente, não acreditava no que havia encontrado. Todos os ursos roubados de Octavian estavam enfileirados em cima de uma placa de madeira no chão. No escuro, com uma lanterna, encontrar aqueles bichinhos de pelúcia não era lá muito agradável. Alguns estavam com suas barrigas costuradas, outros cortadas e a espuma saindo.

Octavian insistia em tê-los de volta, Jason não sabia para que, mas achou um saco de plástico preto e enfiou todos os ursinhos ali dentro. Ele deu uma última olhada, para ver se encontrava alguns dos livros roubados, mas não havia nada mais ali.

Sua intuição dizia que os ursos já não eram mais necessários para quem os roubou.

Duncan e Jorge. Esses eram os nomes dos campistas romanos que fugiram. Eles já estavam dando trabalho para Reyna há algum tempo, mas ninguém esperava que fossem traidores. E Jason precisava descobrir para quem trabalhavam, porque não parecia ser um serviço de dois rapazes que jamais saíram da cidade.

Jason estava nos canos de esgoto, o local mais parecia um labirinto. A sensação de estar perdido o irritou um pouco. Fez o mesmo caminho ao qual entrara, como é que estaria perdido?

Ele ouviu umas risadas esganiçadas. A princípio era somente um eco longínquo. Mas conforme ele caminhava, as risadas iam aumentando até que Jason se viu diante da cena mais bizarra que presenciou. Harpias que cantavam e dançavam. Jason escondeu-se atrás de uma mesa de madeira com pilhas de livros. Aquela música era familiar, lembrava-se de ouvir quando esteve no Acampamento Grego, no Chalé de Afrodite. Embora na época, Piper não curtisse muito ouvir música com os irmãos. Como chamava mesmo? Gago, gaga. Lady alguma coisa.

Jason desejou fones de ouvido naquele instante, pois as gralhas não era lá boas cantoras. No final da música, a porta foi aberta e Jason reconheceu a voz de Jorge. Ele segurou o impulso de socar o ex-colega de acampamento. Mas reprimiu essa vontade para ouvir os planos deles.

— Onde está Duncan? — Pelo esguichado na voz, deduziu ser uma Harpia. — Duncan gosta de mim, Duncan compra chocolate.

— Duncan está cuidando de umas coisas. Assim que puder, ele compra mais chocolate. Agora você e suas amigas não vão lá para cima e tentem recuperar o livro de poções. Sem ele não poderemos invocar aquela pessoa especial.

Jason ouviu o farfalhar das asas das Harpias cada vez mais distantes. Assim ele pode se levantar. O lugar mais parecia um muquifo de péssima qualidade. Alguns colchões no canto da parede, uma televisão e vários DVDs com temas da Disney.

Ele chegou à conclusão de que Duncan e Jorge deviam ter prometido algo para as Harpias, ou elas não estariam ajudando. E quem seria essa pessoa especial que seria invocada?

Ficar ali, fazendo suposições, não resolveria o mistério. Decidiu deixar o local e pedir reforço. Ele não iria bancar o herói e fazer todo o serviço sozinho. Afinal, confiava em Leo, tinha certeza de que ele iria entender as coordenadas e o encontraria em breve.

Jason seguiu pelos túneis do esgoto, ouvindo o eco de gargalhadas esganiçadas. Ele já estava reconhecendo a tubulação pela qual entrou no metrô, quando uma grande besta de três cabeças despertou diante dele.

— Ok, bichinho, vamos com calma. — ele analisou a situação: Uma Hydra de alguns metros de altura e três cabeças dentro de um encanamento de esgoto.

Ele não poderia usar seus poderes, ou causaria danos graves ao metrô. Jason respirou fundo. Rezar também não era uma solução, estava sozinho nessa, aliás, acompanhado com um saco de ursos de pelúcia.

A Hydra despertou e uma de suas cabeças movia-se lentamente, ela não possuía olhos muito atentos, por isso Jason imaginou que exclusivamente aquela se movimentava a partir de ondas sonoras. A outra cabeça deveria ter uma visão excelente, e a terceira, como Jason presenciou agora, possuía uma boa carga na voz, pois berrou longamente. Ele deu um passo para trás, tentado fazer o menor ruído possível, mas os coturnos em choque com a água lamacenta do esgoto criava um barulhinho ínfimo, porém notável.

Ele se viu correndo pelas tubulações enquanto era perseguido por três cabeças. Jason esticou a mão para trás e soltou uma carga de vento razoável, fazendo a Hydra recuar alguns metros, mas não foi força o suficiente para pará-la.

Observou uma possível saída, ele não esperava encontrar a ajuda logo ali.

— Precisando de uma mãozinha? — Era Leo, com um sorriso nos lábios e as mãos estendidas para ajudá-lo a subir.

— Na verdade eu não preciso de ajuda, mas já que está aqui. — Ele sorriu de volta e segurou uma das mãos de Leo, que o puxou para cima. A animação de Jason acabou quando ele encontrou Alex atrás de Leo, logo em seguida estava Dante. — Veio todo mundo para a festa?

— Somente nós três. — Alex falou, dando uma piscadinha para Jason que o ignorou.

— A Hydra está protegendo o esgoto para as Harpias. Precisamos tirá-la daí. — Jason falou, ainda segurando o saco preto com os ursinhos.

— Tem um lugar. — Dante se mexeu, descendo por onde Jason veio. — Posso guiá-la até o Rio, onde os tubos do esgoto terminam. Depois disso estará livre.

— Uma ideia suicida. Não? — Jason esperou que todos concordassem, mas pelo visto, Dante possuía uma afinidade com a Hydra. — Muito bem, nós poderemos nos encontrar lá em cima, no porto.

Dante não respondeu, ele pulou e após um rugido grave da Hydra, o esgoto ficou em silêncio.

— Não se preocupe, ele é bom em domar feras — Leo comentou, depois olhou para o saco preto e perguntou o que era.

— São os ursos de Octavian. Mas acho que já foram utilizados em um tipo de sacrifício.

Eles saíram do esgoto, mas dessa vez não entraram em um Banco. Os três caminhavam em silêncio pela calçava, uma hora ou outra ouviam um rugido alto e o chão tremia, mas os mortais não viam ou ouviam as mesmas coisas que eles.

Leo tentou uma aproximação, mas Jason estava sério demais. Alex fez um comentário sobre o acampamento romano, mas Jason não estava a fim de conversar. No porto, algumas horas depois, Dante retornou. Jason contou tudo o que ouviu das Harpias. Como estavam sem pistas. O melhor a fazer era retornar para o acampamento e coletar mais informações.

No carro, Dante ia dirigindo a van e Alex estava sentado no banco do passageiro ao seu lado. Jason e Leo no banco de trás, junto com os ursinhos. Leo pegou um cachorro com orelhas cor de rosa e balançou na frente de Jason.

— Esse deve ser o favorito do Octavian. — ao menos ele arrancou um sorriso de Jason. — Está tudo bem?

— Valeu por vir. Como conseguiu me encontrar?

— Na verdade, o Alex que te encontrou com os mapas da cidade.

— Sei. — Jason olhou pela janela, o sol nascia, clareando o céu gradativamente. Ele encostou a cabeça no banco do carro e fechou os olhos, finalizando a conversa.

***

Percy girou o corpo na cama e sua mão encontrou alguém. Ele abraçou o corpo rapidamente imaginando que fosse Nico, embora a anatomia estivesse revelando seios e curvas ao qual não combinava com o corpo masculino e magro de Nico.

Ele abriu os olhos e levantou as mãos rapidamente.

— Pelos deuses, Perseu. — Drew o empurrou para o outro lado, fazendo ele cair da cama. — O que pensa que está fazendo?

— Eu que te pergunto, o que faz na minha cama? — Percy certificou-se de que estava tudo no lugar, principalmente as roupas. Não conseguia se lembrar de muita coisa, sua cabeça estava confusa. — Por acaso a gente...

— Não! — Ela pareceu ofendida, mas logo anuiu. — Você não se lembra de nada porque bebeu muito ontem à noite. Eu ajudei Nico te trazer para o chalé. Só isso.

— Certo. — Percy aceitou a resposta, mas no fundo sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo ali. — Onde está ele?

Drew afivelava as sandálias, jogando seus longos cabelos para o lado.

— Ele saiu tem alguns minutos, foi receber os garotos que chegaram da missão.

— Missão? — ele vestiu a camiseta do acampamento e enfiou os dedos nos fios de cabelo para arrumar. E o que era mesmo aquele barulho irritante em sua cabeça? Como se alguém estivesse martelando um prego.

Enquanto deixavam o chalé, Drew contou o que aconteceu na noite passada. Mas havia um grande buraco na memória de Percy. Encontraram Annabeth e Rachel, ambas sentiam a mesma sensação de vazio na mente. Todos olharam para Drew, pois era a única que não reclamava.

— Você são fracos para bebida. — Ela deu por finalizada a discussão, entrando na casa principal.

Leo e Jason estavam em pé no lado direito da mesa. Alex sentado em uma cadeira e Dante ao lado da parede. A mesa de Quíron estava repleta de ursinhos de pelúcia com as barrigas rasgadas e a espuma para fora. Do outro lado da mesa estava uma imagem holográfica de Octavian que amaldiçoava, em latim, quem quer que tivesse feito aquilo com seus ursos.

— Precisamos investigar com mais cuidado. — Quíron tentou falar com a voz sobressaindo as lamúrias de Octavian. — Seria prudente Jason vigiá-los. Se os prendermos agora, poderemos nunca saber o que eles pretendem fazer.

Percy analisou os ursos sobre a mesa.

— Quem e por que faria algo estúpido assim?

Octavian estava ofendido no holograma.

— Precisavam de um sacrifício. Eles querem contato com alguém que não está em nosso plano, nem no plano dos deuses. É alguém morto ou banido.

— Algum palpite de quem possa ser? — Percy perguntou, olhando diretamente para Nico.

— Não conheço todos os mortos do mundo inferior.

Todo mundo estava ofendido, pensou Percy. Menos Leo. Ele estava sorrindo.

— Então você vai precisar ficar em Nova Iorque para poder investigar esses caras? Legal.

Jason olhou para Leo sem entender por que aquilo era bom.

— Legal?

— Sim, quero dizer, não. — Leo coçou a cabeça. — Se precisar de um lugar para ficar, posso arrumar um canto para você lá em casa. — comentou um pouco sem graça porque todos estavam olhando, ou melhor, quase todos, Alex estava admirando uma parede.

— Pode ser. — Jason respondeu indiferente, o que deixou Leo visivelmente triste.

— Antes que eu me esqueça. — Quíron abriu uma das gavetas da mesa e tirou de lá o livro das Harpias. — Quero que fique com isso, Drew.

Ela estendeu as mãos para pegar o livro, por um minuto ficou confusa, mas acabou aceitando.

— Eles vão atrás do livro. — Dante interferiu, o que era uma novidade, porque ele nunca abria a boca.

— Eles podem tentar, mas não vão conseguir pegá-lo. — Drew respondeu.

— Você não vai conseguir proteger o livro sem seus poderes. — ele insistiu.

— E por que está preocupado com isso?

— Não estou. Não com você. — Dante cruzou os braços, fazendo os músculos dos bíceps salientarem embaixo da camiseta do acampamento. — Quíron...

— Pensando nisso. — Quíron interveio na conversa e Drew bufou, jogando o livro sobre a mesa. — Já que está tão preocupado com a segurança do livro, pode fazer a segurança do mesmo. Alguma objeção senhorita Tanaka?

— Eu não preciso de um segurança particular.

— Não faria sua segurança. — Dante estreitou os olhos e Drew não cedeu. — O livro que é importante.

— Eu fico com a Drew. — Annabeth levantou a mão e depois Rachel também ergueu a mão. — Assim protegeremos o livro.

Dante não fez objeções e como mais ninguém tinha o que falar, Quíron mandou eles saírem e se prepararem mentalmente para os Jogos que Dionísio estava organizando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Milk Cullen, baby, obrigada pelas palavras bonitas na recomendação que me enviou.

Leitores, agradeço os comentários, sempre dou boas risadas e alguns me ajudam a lembrar de coisas que esqueci :x ops.

O próximo capítulo é engraçado, só fiz por motivos de "Preciso por Dionísio trollando esse povo"

Beijos