Ninguém está pronto para a vida escrita por Kori Hime


Capítulo 20
Ninguém está pronto para: Abrir o coração


Notas iniciais do capítulo

Quem sabe é mais fácil abrir o coração com uma chave inglesa



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Leo não era a pessoa mais organizada do mundo. Recentemente sua oficina recebeu uma repaginada graças aos talentos (e TOC) de um filho de Atena. Gavetas de todos os tipos foram criadas. Gavetas para parafusos com porcas, sem porcas, parafusos para parede ocas, para madeira, parafuso de rosca soberba, parafuso de rosca soberba de cabeça redonda, parafuso sextavado, parafusos franceses. Enfim. Tudo meticulosamente organizado pelas mãos mágicas de Alexander, o primoroso e gostoso, digo, o filho de Atena.

Estou contando isso, querido leitor, para você entender um pouco mais sobre essas crianças incríveis que Atena gerou. Eles não são apenas sabidinhos e bonitinhos. São um cérebro pulsante, prontos para qualquer coisa. E agora Leo tem certeza de que eles são doentes também.

A prateleira de mapas do chalé de Atena era incrível. Leo imaginava aquelas crianças brincando de organizar todos os mapas por ordem de data, tamanho, espessura, ou seja, como faziam, Alex sabia exatamente onde por a mão e achar o que queria.

— Se as coordenadas forem desse mapa de Nova Iorque, elas dão direto nos esgotos da Clinton Street. — Alex usava óculos de leitura que Leo ainda não teve o prazer de ser apresentado, por isso estava olhando para ele, sem se dar ao trabalho de ser discreto. Alex parou de falar e o olhou sério. — O que foi?

— Nada. — Leo balançou a cabeça. — Você fica todo sério com esses óculos. Parece mais velho.

— Bem, eu sou mais velho que você.

— Um ano, apenas. — Leo ressaltou. Alex ergueu a sobrancelha, mas não deu continuidade aquela discussão boba. Ele apontou o dedo no mapa, mostrando a localidade que as coordenadas seguiam. De repente Leo desistiu de fazer uma piada que estava na ponta da língua. — O mesmo esgoto em que estávamos. Será que eles tem alguma coisa a ver com aquelas harpias malucas?

— Quem sabe. Jason falou alguma coisa sobre a missão?

— Na verdade não. — Leo afastou-se um pouco da mesa, enfiando uma das mãos no bolso da jaqueta, mexendo em um parafuso esquecido. — Ele falou com Quíron e Percy. Talvez eles tenham mais informações.

— Sei. — Alex soltou um ruído, fazendo Leo estreitar os olhos.

— O que é?

— Nada. — Ele guardou os mapas que não usaria. — Só acho estranho esse cara vir aqui, falar com Percy e o Quíron sobre algo sério e sequer te colocar a par da situação.

— Está insinuando o que?

— Não estou insinuando. — Alex cruzou os braços. — Estou afirmando.

— Não tivemos tempo para conversar sobre a missão. — Leo respondeu, mas no segundo seguinte estava com seu rosto ardendo em chamas, não literalmente, mas de vergonha.

— Então o que ficaram fazendo todo aquele tempo? — Percebendo o rubor e suor no rosto de Leo, o filho de Atena deu as costas.

— Não aconteceu o que você acha que aconteceu.

— Eu não me importo. Você não tem que me dar explicações do que faz com seu namorado. — Alex continuava de costas para Leo.

— Ótimo, eu não queria falar mesmo. — Leo ouviu um barulho, era Dominica, a menina ficou parada olhando para os dois.

— Vocês vão ficar tagarelando a noite toda? — Ela perguntou e Alex imediatamente levou-a para a cama. Em seguida os dois deixaram o chalé e foram em busca de Quíron, porque, muito provavelmente, o chalé de Poseidon e Hades estavam fechados para visitas. E ninguém ali é empata foda de ninguém.

Já passava das duas horas da madrugada, Alex e Leo entraram na casa sem fazer barulho, em busca de Quíron. Eles não sabiam se estariam incomodando-o, talvez o centauro estaria dormindo. Mas como a luz do escritório estava acesa e um burburinho vinha de lá, os dois pararam de andar como se estivessem pisando em ovos.

A voz de Drew era inconfundível e a de Dante também. Leo e Alex não estavam surpresos em ouvi-los. Muito menos Quíron, que parecia cansado daquela situação.

Eles falavam sobre o livro das Harpias, quando Leo entrou no escritório.

— Espero que não tenham destruído outra coisa no acampamento. — Ele falou com uma risadinha, levando um cutucão de Alex.

— O que fazem aqui essa hora? — Quíron os questionou, Dante e Drew nem se deram ao trabalho de olhar para os rapazes. — Já é tarde.

— Precisamos falar com você. É importante. — Alex ressaltou.

— O que é tão importante que não poderia esperar amanhã de manhã?

Leo tirou do bolso o bilhete de Jason, explicando para Quíron. Depois, Alex mostrou o mapa e onde as coordenadas levavam. Aquilo tomou a atenção de Quíron. Ele havia conversado com Jason, mas o rapaz não mostrou nenhum mapa ou coordenadas de onde buscava os ladrões.

— Essa missão pode ser perigosa. Estivemos nos esgotos e lá não é bem o lugar mais agradável da cidade. — Leo esperou que Alex se pronunciasse também, olhou para trás.

— É, não é uma boa ideia ir lá sozinho. — Alex completou.

Quíron mexeu na barba, tomando uma decisão.

— Pois muito bem, eu permitirei que vocês se encontrem com Jason, mas nesse caso, precisam de mais um voluntário. — Quíron decidiu.

— Eu vou. — Drew e Dante falaram ao mesmo tempo. Eles se olharam em fúria. — Eu vou.

Repetiram novamente juntos.

— Não me leva a mal, Drew. — Leo falou. — Mas Dante dominou a Hydra. Acho que ele seria o mais indicado em ir. — Assim que terminou de falar, Leo agradeceu que Drew estava sem seus poderes. — Mas não sou eu quem decido. Eu acho.

— Concordo com ele. Não seria muito adequado você ir. — Quíron tentou, com uma abordagem mais sensata. — Está sem seus poderes e vulnerável.

Drew se levantou aborrecida.

— E por acaso precisei de poderes para derrubar o teto na cabeça dele? — Ela apontou para Dante, que estava em silêncio até então, logo, resolveu dar o ar de sua graça.

— Foi uma situação diferente. — Dante cruzou os braços.

— Diferente porque eu estava ganhando? — Ela se virou, empurrando Alex e Leo para sair da sala, mas antes de ir embora, ainda olhou para todos. — Vocês são uns tolos. E Quíron, lembre-se que se não fosse pelos meus conselhos, aquela ninfa nem ia olhar na sua cara.

Drew saiu do escritório batendo a sola de sua sandália no chão

— Ok! Ela me dá medo. — Leo falou com a mão no coração. — Mas voltando ao assunto em questão. Vamos partir imediatamente?

***

Percy esticou o braço em busca de Nico, mas encontrou o lado direito da cama vazio. Ele sentou e esfregou os olhos. O chalé de Poseidon era iluminado apenas pela luz azulada que irradiava da fonte. O lugar estava vazio e por um momento Percy achou que Nico havia ido embora sem se despedir. Mas o barulho vindo do chuveiro aliviou a sensação de abandono.

Não era nada legal acordar sozinho. E pensar nisso deixou Percy animado para saber como seria morar com Nico. Não que fosse algo ruim viver na casa da mãe, mas seria um passo importante para a vida dos dois.

Mesmo que não tenham tido tempo para conversar sobre o assunto, ainda assim, a ideia estava de pé. Percy passou as mãos nos cabelos, um banho seria uma boa ideia.

Quando abriu a porta do banheiro, o vapor da água quente escapou. Nico gostava de banhos quentes, enquanto Percy preferia água fria. Mas naquele momento a temperatura da água era a última coisa que ele estava interessado. Juntou-se à Nico, compartilhando a mesma ducha de um banheiro grande com ladrilhos azuis. Definitivamente ele não estava reclamando de ser filho único naquele momento.

— Está ouvindo isso? — Nico perguntou, enxaguando a espuma do rosto.

— A única coisa que consigo ouvir é a água em ebulição. Podemos diminuir um pouco a temperatura? Ou vou sair daqui como uma lagosta cozida. — Percy mexeu no registro.

— É sério. — Nico pediu para que o namorado ficasse quieto. — Tem alguém batendo na porta.

— Deve ser o vento. — Percy o beijou no pescoço, pressionando as mãos na cintura de Nico. — Agora, onde nós estávamos mesmo?

— Tem alguém chamando. Eu tenho certeza. — Nico fechou o registro e pegou a toalha que havia levado com ele para o banho.

— Dá para trazer uma toalha para mim? — Percy tombou a cabeça para o lado, encostando a cabeça na parede de azulejos. — Trás também o clima que você estragou.

Nico enrolou a toalha em volta da cintura e caminhou até a porta. Ele tinha certeza de que estava ouvindo um barulho, e estava certo. Mas não imaginou que o barulho fosse do salto da sandália de alguém batendo na porta.

— Drew? O que você está fazendo? — Nico esticou a cabeça para fora do chalé, olhando para os dois lados, certificando-se de que ela estava sozinha. — Entra logo.

O rapaz puxou a filha de Afrodite pelo braço, fazendo ela tropeçar nos próprios pés e quase cair no chão. Ele ascendeu as luzes do chalé e analisou Drew que estava completamente embriagada, segurando uma garrafa vazia. Nico ajudou-a sentar em uma cadeira solitária perto da parede. Ele ajoelhou no chão e tirou os fios de cabelo do rosto dela.

Percy saiu do banheiro nesse momento, sem saber que tinham visitas, não havia se dado ao trabalho de pegar uma toalha.

— Percy! — Nico o repreendeu. — Vai vestir alguma coisa.

— Ah! Meu bem, não é como se eu não tivesse visto isso antes. — Drew riu, apontando para Percy, depois puxou Nico com a mão em seu pescoço. — Você tem muita sorte de ter esse semideus. Saiba que poucos tem a chance de encontrar seu verdadeiro amor. E muito menos viver a tal felicidade eterna. Ela não existe. Mas não conta para ninguém...

— Do que ela está falando? — Percy perguntou confuso, vestindo uma calça jeans. Fechou o zíper e aproximou-se de Drew. — Você bebeu Dedee?

— Se eu bebi? Isso não é um problema seu Senhor 'Tenho um abdome perfeito'. Afinal de contas, quando é que você ficou tão gostoso?

Percy sentou no chão e já que a noite não seria como planejado, queria saber o que aconteceu. Drew começou a falar sobre coisas sem sentido. Como, quando ela ganhou um cavalo de presente de aniversário e a primeira vez que sua mãe lhe abençoou.

— Vocês deviam estar lá. Eu parecia uma princesa. — Ela falou lamuriosa.

— Mas você parece uma princesa. Uma Princesa psicopata andando por aí com uma adaga na cintura. — Percy gargalhou, levando um tapa de Nico. — Onde está Dante? O que aconteceu depois que ele foi atrás de você?

Drew fez um bico, suas pálpebras estavam levemente caídas e os olhos marejados. As maçãs do rosto bem vermelhas devido a bebida e a voz embargada.

— Dante... ele não é lindo? — Ela perguntou. — Ele sempre foi lindo e forte. Fazia aquela cara de malvado, mas no fundo sempre foi a pessoa mais gentil e amorosa deste acampamento.

Percy estreitou os olhos e virou-se para Nico num sussurro: — Dante gentil?

— O que aconteceu? — Nico balançou a mão, mandando Percy calar a boca.

— Aconteceu o que sempre acontece quando a gente se encontra. Brigamos.

— Ok! Eu não quero ser grosseiro, mas não preciso ouvir os detalhes. — Percy se levantou. — Vou buscar um café bem forte. Você precisa de um banho também. Seus irmãos podem cuidar disso.

— Não! Eu não quero ir para meu chalé. Me deixa ficar aqui? — Drew segurou os braços de Nico. — Eu jurei que nunca mais me encontraria com ele. Não posso chegar lá assim. O que vão pensar de mim?

Percy balançou a cabeça, já estava um pouco farto dessa história.

— Foda-se o que eles vão pensar. — Ele vestiu a camiseta e olhou para Drew. — Todos os dias quando eu ponho o pé para fora desse chalé e alguém me olha torto, acha que isso me incomoda? Bem, sim. Mas foda-se. Você tem que parar de fazer essas promessas ridículas.

— Percy, não brigue com ela. — Nico tentou mediar a conversa, mas não era muito bom.

— A culpa não é minha, foi ele quem me deu um fora. — Drew também se levantou, cambaleante. Apontou o dedo na cara de Percy. — Ele que teve a ideia da poção. Ele queria me esquecer. Ele que ateou fogo na estúpida briga entre nossos chalés. — As lágrimas de Drew escorriam pelo seu rosto, borrando a maquiagem. — Mas a culpa recaiu sobre meus ombros.

— E porque você não diz a verdade? — Percy gritou.

— Perseu Jackson. Como eu nunca pensei em falar a verdade? Talvez porque ninguém acreditasse nela. — Drew cambaleou até a porta do chalé, mas Nico a impediu de sair naquele estado. — É muito mais fácil culpar a filha de Afrodite. Eu sou tudo o que as pessoas não querem ser.

Percy calou-se. Nico levou Drew até a cama, obrigando ela deitar. Tirou suas sandálias e sentou-se na cama, segurando a mão dela, enquanto desatava a chorar.

— Vá buscar algo para ela beber, por favor. — Nico pediu. Percy não falou nada enquanto deixava o chalé. Ele também não demorou. Retornou com uma bandeja. Café, suco de ambrósia e até mesmo um remédio para dormir, se fosse necessário. Nessas horas, era bom ter amigos na enfermaria.

Drew sentou-se na cama e bebeu o suco na marra, ela não achava necessário. Pior foi beber o café amargo. Restava o remédio, mas Percy guardou no bolso. Depois de uma hora, quando já aparentava melhor, Drew tentou ir para seu chalé, mas quem a impediu dessa vez foi Percy.

— Me perdoe por gritar com você. — Ele falou, parado ao lado da cama. — Mas as vezes você é tão irritante.

Drew não o amaldiçoou, porque era verdade, ela era irritante.

— Você também é irritante — respondeu.

Percy puxou a cadeira, apesar do clima ter esfriado, a conversa não havia terminado.

— Adivinha só. Butch é seu novo padrasto.

— O que? — Drew olhou para Nico, que negou com a cabeça.

— É, sua mãe ficou toda empolgada com os músculos dele. — Percy cruzou os braços, recordando-se da cena. — Precisava ver como Annabeth rangia os dentes. Sou capaz de jurar que estava com ciúmes.

— Você é tão observador — Drew falou irônica. — Provavelmente mamãe vai remover algumas lembranças da mente de vocês e essa noite não vai passar de um simples sonho distante.

— Quer dizer, tudo, tudo? Porque tem umas coisas que aconteceram essa noite que eu não quero me esquecer. — Percy mandou um beijo para Nico, que apenas o ignorou. — Já que isso tudo não vai passar de um sonho a gente poderia aproveitar a noite.

Drew empurrou Percy.

— Eu estava bêbada e fora de mim quando falei aquilo. — Percy gargalhou, afagando os cabelos negros da amiga. Drew moveu os lábios em um meio sorriso. Drew deitou a cabeça no travesseiro. Ela suspirou e segurou a mão de Percy, fechou os olhos e Nico a cobriu com um cobertor quando ela dormiu.

— Pelo visto vamos esquecer essa noite.

— Não se eu anotar em um papel. — Percy procurou por um caderno.

— Você não pode enganar um deus. Ela vai apagar nossa memória e rasgar o caderno, na melhor das hipóteses, faz você comer ele. — Nico cruzou os braços, admirando a insistência de Percy em achar o caderno.

— Está certo, então nada melhor do que contar isso para alguém que não vai esquecer. — Percy tirou uma moeda de ouro do bolso. — Que tal chamar sua madrasta? Ela vai adorar saber uma fofoca da rival.


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Notas finais do capítulo

Eu ando muito atarefada, mas felizmente adiantei a história e a agendei em dias aleatórios, vai ser surpresa a postagem agora hueuhehu

Eu sempre acho que alguém está perdido na história, se estiver me pergunte. Caso não esteja perdido, também pode comentar o que achou, alguns comentários acabam sendo muito úteis e eu edito alguma coisa que escrevi :D

Essa parte da história é difícil porque acontecem muitas coisas ao mesmo tempo e eu preciso narrar cada uma delas em capítulos separados ou vira uma salada mista, pessoalmente não gosto de histórias com 10 mil palavras em um capítulo pq não tenho lá muito tempo para ficar no pc lendo fic, quem dirá escrevendo.


É isso, obrigada pela atenção.
Beijos