Era uma bonita manhã comum, quando Emilly chegou ao IGE, àquele seu deserto prédio abandonado, que fora usado antigamente para as faculdades do Instituto.

Desde muito tempo ela subia para seu andar de aula, através do elevador daquele prédio, por ser mais vazio. E depois andava pelos seus corredores calmos, até chegar a ligação daquele prédio antigo com o prédio novo, o qual tinha as classes do ensino médio.

Então pegou o elevador e ele estava mesmo vazio. Bem mais vazio do que o do prédio principal estaria a esse horário...

Só havia junto com ela subindo, um "conhecido" velho professor. No entanto, quando a porta do elevador estava fechando, alguém gritou para segurar e correu, esticando o braço o bastante para que impedisse a porta de se fechar.

Para seu azar, era quem ela menos esperava ou queria ver.

Bento estava ali, na sua frente agora, segurando a porta com uma mão, enquanto mascava chiclete e usava seus grandes fones de ouvidos ao redor da cabeça.

Ele entrou sorrindo para ela e para o professor, que não se esforçaram nem um pouco em ajuda-lo a pegar esse elevador. Bento os cumprimentou inutilmente também, já que não se preocuparam em ao menos lhe responder.

Logo que a porta se fechou, Emilly viu Bento se controlando para não rir, parecendo travar sua risada na garganta ao olhar para o conhecido velhinho de olhar vago, que era aquele professor.

A menina se virou para Bento, louca para recrimina-lo e manda-lo parar com aquela sua “quase risada” muito desrespeitosa. Deu-lhe um olhar raivoso que ele percebeu dando de ombros, ainda com seu riso abafado.

O professor permanecia parado concentrado no nada, completamente alheio ao que os dois faziam ali. Logo alguns andares acima, o elevador parou e o velho saiu.

Emilly disse imediatamente depois:

– Isso não tem a menor graça...

– Eu não sabia que essa figura ainda pegava esse elevador. Admita vai. Ele continua muito engraçado, você ainda quer rir que eu sei... – Ele apontou para os lábios dela.

A menina realmente parecia lutar com uma risada em sua boca, nem tanto pela situação ter sido engraçada, hoje, como era sempre ao ver aquele velho professor, agindo esquisito nesse elevador esquecido.

Mas porque tudo isso a lembrava dos olhares sigilosos e companheiros que dividia com Bento sobre esses assuntos, durante o muito tempo que eles passavam andando por esse mesmo elevador e prédio abandonado. Antigamente.

Então ela percebeu que já estava rindo e ele rindo junto com ela, naquele cubículo deles.

Imediatamente se recompôs e pôs-se mais séria dizendo:

– Não. Você não deveria mais pegar esse elevador. Eu posso ter mudado, mas ninguém mudou mais do que você...

Ao lhe acusar assim, a porta do elevador se abriu, ao chegarem no andar que queriam. O andar que ligava ao outro prédio.

Ela se dirigiu rapidamente para sair daquele lugar, quando ele se apressou em passar um braço na sua frente, para que antes de deixa-la ir pudesse dizer:

– Não sei de onde você tirou isso. - Bento falou puxando o fio do fone de ouvido de seu celular e então uma música extremamente conhecida e nostálgica começou a tocar naquele pequeno local.

Emilly se balançou por um instante às lembranças que aquela Baladinha-Rock a trazia. Mas então desviou do braço dele enquanto Bento cantava seu pedaço favorito. Ou melhor, o pedaço favorito dos dois:

"Life makes love look hard..."

Foi a última coisa que ela ouviu, antes de sair dali andando muito mais rápido do que ele se atreveu a andar.