P.O.V: Louis.

Ando meio preocupado com a Rose... Ok, muito preocupado. Crescemos juntos, todos nós, então é claro que temos uma ligação forte. Mas eu e Rose sempre fomos muito próximos, não como primos e sim como irmãos. Eventualmente nos afastamos, principalmente depois que descobri meus sentimentos por Lorcan. Me conhecendo como ela conhecia, eu tinha certeza de que uma hora ela iria descobrir, e apesar de confiar a minha vida a ela, ainda não estava pronto para que ela soubesse. Eu não conseguia prever a sua reação e isso me incomodava de uma maneira extrema, então acabei me afastando mesmo sem querer realmente.

Sempre me arrependi dessa atitude. Apesar de Lorcan ter sido tudo o que precisei, eu via ela e Lily andando juntas pelos corredores e não podia deixar de pensar em como era bom antes. Pensei várias vezes em me aproximar das duas novamente, mas quando comentei com Lorcan ele disse que seria perigoso, que elas iriam acabar descobrindo e que eu iria estragar tudo. Ele me deu gelo por quase uma semana por causa disso, mas parece que Lysander conseguiu enfiar algo em sua cabeça dura.

E pensando em Lorcan... Já não sei mais o que fazer. O fato de eu me preocupar com Rose e falar dela parece criar nele um ciúme absurdo. Eu não entendo o motivo, desde que ela não é bem o meu tipo. Ele diz que eu falo dela como se ela fosse algo a mais para mim, que talvez eu tenha confundido os meus sentimentos quando aceitei namorar com ele, que talvez eu não seja gay, só tenha pensado que era. Discutimos feio por causa disso. A verdade é que eu já não tenho mais tanta certeza do que sinto. A verdade é que eu já não sinto a mesma coisa de antes por ele. Ele mudou, eu mudei, foi isso. E agora, bem... agora eu preciso ser honesto e falar com ele que eu tomei uma decisão. Não dá mais.

Mandei um bilhete para Lorcan através de Lysander, pedindo para que ele me encontrasse no campo perto da Floresta Proibida após as aulas. Eu estava nervoso, sabia que seria difícil para nós dois, mas não dava mais. Eu não tentaria empurrar, não quero forçar um sentimento que já deixou de existir.

Respirei fundo enquanto o esperava. Está um frio do caramba aqui fora, o clima está fechado... Parece perfeito para a ocasião.

O vi chegando de longe, encolhido nas vestes quentes. Ele é sensível ao frio. Realmente sensível. Talvez eu devesse ter marcado o encontro em outro lugar. Uma pontada de culpa me atingiu, mas a empurrei para longe.

— Hey... — falei quando ele já estava perto.

— Louis, vá direto ao ponto. — sua voz não soou rude, apenas machucada. Ele já sabia o que eu iria dizer, claro que sabia, ele me conhecia bem demais, era inteligente demais. Ele já previa isso há bastante tempo. Eu deveria saber.

— Acho que você já sabe qual é o ponto, Lorcan. — falei meio baixo.

Minha voz se nega a colaborar comigo no momento.

Ele respirou fundo, escondendo uma parte do rosto no cachecol grosso.

— Apenas diga logo o que acha, estou cansado de criar hipóteses na minha cabeça. — ele pediu.

Me aproximei um pouco e olhei em seus olhos. Precisava olhar, ele precisava saber que a partir daí não teria mais volta, que a minha decisão estava sendo séria e definitiva.

Ele estremeceu levemente, como se estivesse se preparando.

— Lorcan, eu quero terminar. — soltei de vez.

Ele fechou os olhos, como se tivesse sido atingido pelas palavras.

Meu coração se apertou ao notar absolutamente tudo o que construímos em tanto tempo ser destruído com apenas quatro palavras.

A ponta do nariz dele começou a ficar vermelha e não era de frio. Porém, ao abrir os olhos novamente, eu sabia que ele estava fazendo de tudo para ser forte. Eu não conseguia ser forte assim. Não quando se tratava dele.

Senti meus olhos marejarem e engoli em seco, meu coração estava sendo esmagado. Talvez o sentimento não fosse mais o mesmo entre nós, mas tudo o que vivemos, tudo o que sentimos juntos... essa dor se deve a isso.
Ele forçou um sorriso, mesmo que não muito forte.

— Então acho que é isso. Acabou de verdade. — ele falou se esforçando para controlar sua voz.

— Nós podemos... — comecei, mas ele me interrompeu.

— Não podemos ser amigos, Lou. Sinto muito, mas eu não posso lidar com isso. Obrigado por ter feito isso logo, o feriado vai ser bom para nós dois. — ele já não olhava mais nos meus olhos, e isso doía como nunca nada doeu.

Assenti em silêncio, sabendo que havia perdido uma enorme parte da minha vida... De mim mesmo.

Ele se aproximou de mim e me deu um selinho. De início eu senti aquele antigo arrepio, então me toquei, o que me fez olhar em volta meio perplexo. Não havia ninguém. Ele suspirou e eu entendi o porquê daquilo. Era um adeus.

— Tchau, Lou. — ele disse com a voz fraca. — Espero que seja feliz. — ele sorriu levemente e se virou, apenas andando para longe de mim.

— Espero o mesmo para você. — falei e me sentei ali no chão, de costas para ele.

Senti as lágrimas virem e não me importei se alguém me veria ou não, eu já não tinha nada mais a esconder. Enquanto Lorcan andava para longe, ele levava consigo todo o peso do nosso segredo, tudo o que vivemos e tudo de bom. Só sobrou a dor agora, para nós dois.

Eu sabia que isso não duraria para sempre, o tempo curaria ambos, o amor dói, mas não mata.

Então apenas fiquei ali, chorando e sentindo todas as consequências do adeus a melhor parte da minha vida.

***

P.O.V: James.

Jade não está falando comigo e é um inferno.

Por quê? Ela acha que me viu flertando com Vanessa Williams, da Grifinória. Mas, qual é, a Vanessa não chega nem aos pés dela, por que diabos eu iria fincar os olhos logo nela? Ela sinceramente é esquelética demais e tem os olhos arregalados, até quando ela sorri é meio assustador. Além do mais, eu estava longe de estar flertando com ela, era ela que estava flertando comigo! Eu não tenho culpa de ser extremamente atraente para o sexo oposto e até, sabe, alguns do meu próprio sexo.

Eu sou lindo, fazer o quê?

Então eu até passei parte do dia correndo atrás dela, mas depois de tantas patadas, sinceramente ela que venha até mim. Eu já disse a verdade, não foi minha culpa! Quando, por Merlin, ela vai começar a confiar em mim? Droga, eu estou apaixonado por ela, não pelas outras.

— Você está um lixo. — o comentário veio de uma voz conhecida, mas uma porém que eu não sou tão acostumado a ouvir: Scorpius Malfoy.

Ergui uma sobrancelha para ele.

Eu não prezo ódio pelo Malfoy. Quer dizer, o pai dele foi um babaca, ele já foi um babaca, mas eu tenho a experiência para saber que uma garota pode mesmo acabar mudando a gente. Ele não seria o cara que eu indicaria para a Rose, mas...

— Me diz o que eu não sei. — me apoiei na parede. — Está esperando a Rose? — notei que ele não usava as vestes da escola, provavelmente iria levar ela para Hogsmead.

— Estou. Ela anda demorando mais do que o normal para se arrumar. — ele fez uma careta.

Eu ri levemente me lembrando de que foi exatamente assim quando eu e Jade começamos a namorar. De repente ela se produzia toda para sair comigo, e a cada vez eu perdia o ar ao vê-la.

— Normal, deve acontecer com todas, Jade também é assim.

Scorpius se apoiou na parede ao meu lado.

— Ouvi que estão brigados. — bufei frustrado pensando que se ele já sabe, a essa altura toda Hogwarts deve saber dos meus problemas amorosos. — Relaxa, Rose me contou.

Suspirei aliviado, mas não tão aliviado assim ao saber que Rose deveria saber muito sobre mim através de Jade. Lily também. Bem, Lily é o de menos, há poucas coisas que eu mesmo não contei a ela, mas ainda assim...

— Jade vê coisa onde não tem. — bufei.

— Sabe que estamos na desvantagem, não sabe? É uma regra básica aqui. Nós dois somos populares com as garotas, não é algo que dá para evitar logo de cara e elas sempre vão achar que uma hora vamos ser infiéis. A Rose confia em mim, eu sou o primeiro namorado pelo o que estou sabendo e já recebo uns puxões de orelha; a Jade já teve o babaca do Dylan antes, então o seu esforço tem que dobrar.

Ótimo, estou recebendo conselhos amorosos de Scorpius Malfoy. Me sinto um lixo agora.

Mas ele tem razão, eu não cheguei a pensar no ponto do Dylan. Ele a traiu com a melhor amiga dela, uma bela traição dupla. Eu imagino o quão desconfiada ela deve ser agora... Ela estava sendo compreensiva comigo, mas não é como se eu desse mole para todas as garotas de Hogwarts. Uma vez ou duas eu acabei cometendo o erro de sorrir para uma garota que estava flertando comigo ou então ativando o “modo garanhão” e ela perdoou. Ainda assim, isso foi mesmo exagero da parte dela. Será que eu passei dos limites e não sei? Merda, isso está ferrando a minha cabeça.

— Mulheres. — soltei um som frustrado. — Nunca vou entender elas.

— Então somos dois. — Alvo se juntou a nós.

Ele estava um lixo ainda maior do que eu. Olheiras e cabelos despenteados.
Fiz uma careta ao vê-lo.

Você está um lixo. — eu e Scorpius falamos juntos.

Ele olhou para nós com uma cara de poucos amigos, resmungando algum palavrão antes de dizer:

— Viraram um coral agora ou o quê?

Dei de ombros e Scorpius fez o mesmo.

A loira amiga de Alvo, acho que seu nome é Katherine... Bem, ela passou na nossa frente toda sorrisos com Sebastian Smith, goleiro da Lufa-Lufa. Ela sequer olhou para nós, mas Alvo a engoliu com os olhos até ela sumir de vista, e não foi um olhar bom. Ele está caidinho por ela.

— E quanto a Alice? — Scorpius perguntou. — Pensei que gostasse dela.

— Ela terminou comigo. — ele disse e suspirou. — Disse um monte.

E agora ele ainda tem que observar enquanto a loira desfila por ai com o Smith. Contei a ele brevemente sobre minha discussão com Jade e ele bufou alto.

— Estamos na merda. — comentou. — Eu preciso de uma bebida. — ele se desencostou da parede e olhou para mim. — Vai vir também?

Cruzei os braços encarando meu irmão.

— Onde pretende arrumar bebida? — eu sabia bem que ele não iria sair tentando tomar suco de abóbora.

— Eu dou o meu jeito. — ele prometeu e depois olhou para Scorpius. — Se quiser ir também.

Scorpius ia abrir a boca para dizer algo, quando ouvimos um grito alto de frustração vindo de dentro do salão comunal da Grifinória. E era o grito de Rose. A ruiva tem uma voz inconfundível. Ela parecia bem puta da vida.
Lily logo apareceu ali.

— Scorpius, ela não vai poder ir. — ela disse tentando segurar a risada.

— JADE, EU VOU TE MATAR! — ouvimos Rose berrar e ergui uma sobrancelha para a minha irmã.

Scorpius cruzou os braços olhando para Lily, ele parecia até mesmo meio preocupado.

— O que houve?

— Problemas com o... hm... visual... — ela não aguentou e riu um pouco.

Jade passou correndo pela porta rapidamente com os olhos arregalados, e Rose corria atrás dela... Com o cabelo rosa e a varinha apontada.

Eu e Alvo começamos a gargalhar imediatamente. Estava HILÁRIO! Rose com o cabelo rosa deve ser a coisa mais engraçada que eu já vi na vida! Isso porque além de rosa seu cabelo estava todo para cima, não havia um fio sequer para baixo.

Scorpius tentava segurar a risada, mas estava difícil e ele começava a ficar vermelho.

Minha prima corou arduamente e voltou correndo para dentro.

— Rosie! Desculpa! Eu não queria rir! — ele tentou, mas quando começou a falar, a risada escapou junto.

— Tudo bem, está mesmo horrível. — ouvimos ela dizer com a voz triste.

Alvo estava meio curvado, segurando a barriga de tanto rir. Quando paramos um pouco com o ataque de risos, Lily nos explicou o que aconteceu.

Jade ia lançar um feitiço para deixar o cabelo da Rose mais longo e ondulado, mas acabou errando algumas palavras e virou aquela... Coisa.

Alvo trouxe de volta o assunto de sairmos para beber e Scorpius disse que não iria para ficar com Rose, mas ela acabou o liberando para ir desde que não fizesse nenhuma besteira.

Eu e Alvo trocamos de roupa e nós saímos então.

— Onde vai conseguir bebida? — Scorpius perguntou curioso.

Meu irmão deu um sorriso travesso, provavelmente o que o levou a estar na Sonserina. Nesse momento eu soube que estávamos muito ferrados.

— Relaxem.

Depois disso, é melhor até deixar baixo o que aconteceu nessa noite. Digamos que recebemos detenção pelo resto dos dias de aula até o feriado, que a McGonagall enviou cartas nada felizes para nossos pais, e que eu e Scorpius corremos um sério risco de ficarmos solteiros.

O pior de tudo é que foi extremamente divertido. Eu simplesmente adorei a noite e não me importaria de mais algumas detenções por mais dessas.

Eu nunca fui de muitos amigos, mas quer saber? Eu até que estou gostando da experiência.

***

P.O.V: Jade.

James está me tirando do sério ultimamente. Já não basta ele ter flertado com a Vanessa, ainda por cima caiu na bebedeira com Scorpius e Alvo! Sinceramente, eu esperava de tudo, menos que esses três de repente iriam virar coleguinhas.

Me sinto irritada na verdade. Eu pretendia conversar com James quando ele saiu daquele jeito, agora eu não é pretendo é mais nada. Pensei que esse James idiota que bebe para esquecer as coisas tivesse ido embora, mas claramente ele só estava ali guardado.

Estou frustrada, não quero ficar perto dele e as meninas insistem que eu passe o feriado com elas.

A coisa é que Scorpius vai passar o feriado com Rose, então eu não quero ir para atrapalhar nada. Então ou eu passo com Lily, ou fico em Hogwarts, sozinha.
Se eu passar com Lily, serei obrigada a vê-lo todos os dias. Apesar de que eu já sei que toda a família Potter-Weasley se reúne nos feriados importantes como o Natal, então ao menos eu teria alguma distração e diversão.

— Vamos Jade! — Lily insistiu e Rose penteava os cabelos ruivos, aliviada que eu tenha conseguido concertá-los.

Fiz uma careta.

— Não sei...

— Para de bobeira! Eu preciso que vá, vou tentar convencer a minha mãe para passarmos o feriado com os meus tios! É bom que o foco não fica todo no fato de eu estar namorando agora. — Rose disse. — Vamos! Por favorzinho. — ela bateu os cílios numa expressão de cachorrinho. — Eu preciso de você lá. Até porque agora que Scorpius está amigo de James e Alvo, eu acho que vou vê-lo menos. Preciso das duas lá, ou os meus vão me levar a loucura!

Suspirei e considerei.

Rose está certa, vai ser difícil para ela ficar lá sozinha. Talvez não vá doer tanto assim. James talvez fique mesmo com os meninos, vai ser bom para que eu me distraia.

Assenti.

— Ok, eu vou.

Elas começaram a pular animadas e Rose jogou a escova para o alto, a qual bateu na cabeça de Lily.

Gargalhamos brevemente com a cara de dor de Lily e depois elas se sentaram em minha cama comigo, sorrindo.

— Estou animada! — Lily disse e Rose fez uma careta, mas ela a cutucou. — Hey, relaxa, vai dar tudo certo.

Rose apenas assentiu, não muito otimista.

Eu apenas esperava que Lily tivesse razão, mas alguma parte de mim apenas me dizia e gritava: “é bom se preparar, há muito por vir...”