Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 6
A esperança no fim do poço, literalmente


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem do capítulo :D



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"Não se pode não ter medo quando se inspira o medo." Epicuro de Samos

Quanto mais sono eu sentia, menor era a vontade de dormir.

Isso porque a cada noite meus sonhos se tornavam piores.

Eu via três crianças, um menino e duas meninas, os três eram exatamente idênticos, tinham os mesmos cabelos pretos, pele pálida e olhos azuis muito claros. Os três vestiam macacões, o menino um azul claro e ambas as meninas usavam um igual, porém um rosa e outro lilás.

Todos os três tinham um colar com um pingente de cristal e brincavam em roda passando uma pequena bola cristalina de mão em mão de forma que cada vez que o objeto encostava-se à mão de um dos trigêmeos o colar em seu pescoço se iluminava. A ação se repetia e repetia sem nunca ter um fim.

Ao longe uma mulher gritou, pediu e implorou “corram meus filhos”, mas eles continuaram a passar a bola de mão em mão em sentido horário. Afinal, o que aquilo significava? De repente, um gigante apareceu, terminava de estraçalhar um corpo humano enquanto andava. Sussurrava diversas ofensas, hora em grego antigo, hora em uma língua desconhecida, julguei ser latim.

Foi quando aconteceu, o monstro pegou uma das meninas na mão – a que segurava a bola-, que em resposta começou a chorar agoniada. As lágrimas não tinham fim, era doloroso presenciar. Quanto mais ela chorava, seu corpo adquiria um aspecto azulado, foi quando aconteceu. Durante um de seus gritos sufocados, o monstro simplesmente se transformou em um pó acinzentado sem vida e foi levado pelo vento. Então, sem mais nem menos a garotinha começou a cair, despencar no meio do nada, contudo enquanto caia ia se dissolvendo aos poucos. Estava se tornando água. Quando finalmente se chocou contra o chão, não era mais nada que uma grande poça.

Os irmãos – com um gesto de compaixão e carinho enormes–, simplesmente reorganizaram suas posições ao redor da água e começaram a repassar a bola repetida e repetidas vezes, então sem mais nem menos a poça adquiriu um tom avermelhado. Vermelho como sangue. Como se já não estivesse estranho o suficiente, ambos beberam do líquido até não restar mais nada no chão, gota a gota. Talvez por resultado de um efeito colateral ou algo do gênero, eles começaram a se debater e contorcer no chão seus olhos começaram a lacrimejar, mas não era água que saia deles, era sangue. Em um gesto estranho, as crianças simplesmente pararam de se torturar e com a mesma voz que Rachel assumiu quando se tornou o Oráculo, ambos recitaram como um coral bem treinado.

A espada para que o Tártaro consuma o primeiro,

O cristal para que Tânatos jamais abra passagem para o segundo

E finalmente o sangue para que além de mortais,

As ações dos três se concretizam no eterno.

E que a maldição dos três enfim finalize, no alento final.

E, finalmente como se o sonho – pesadelo -, já não tivesse sido demais, as crianças simplesmente pararam de falar e brincar. Olhavam fixamente nos olhos uma da outra quando uma mulher os acolheu, não qualquer uma, ela tinha uma áurea dourada, como uma deusa. Vestia um manto branco estilo grego com uma coroa de ramos na cabeça. Tinha a pele muito pálida e olhos pretos brilhantes que refletiam o olhar das crianças e quando ela finalmente pegou a menina no colo, eu soube, eu me lembrei, como um rosto vago, uma memória fraca, é claro que eu conhecia essa deusa.

E eu me vi caindo no meio da escuridão, do vazio, estava caindo em um poço sem fim. Minhas vistas eram dificultadas por um líquido quente e ardente que caia de meus olhos, que conforme descia para minha boca tive certeza, era sangue. E não estava só nos meu rosto, mas meus braços e pernas estavam pegajosos pela abundância do líquido vermelho. Estava desistindo de chegar ao fundo quando vi: O chão feito inteiramente de cacos de vidros, eu não sobreviveria ao impacto, mas não via outra saída, devido ao sangue eu não via nada. Quando me choquei no chão senti apenas cada centímetro da minha pele sendo perfurado. Acordei completamente arranhada e assustada, não estava naquele lugar horroroso, mas sim no chão de um bosque com árvores altas e cheiro de pássaros. Não, era um cheiro diferente, cheiro de monstro.

Dia um.

– SE ABAIXA! – Uma Annabeth pulou na minha frente e com sua adaga começou a lutar com uma fúria. Se ela não estivesse ali eu não teria tido nenhuma chance. Os golpes eram rápidos, porém não certeiros, a fúria era muito rápida, Annabeth iria perder.

Sem pensar direito, sem calcular os movimentos pensei no mais obvio, Fúrias eram servos de Hades, certo? Porque então estaria atacando uma filha do deus? Não importa, se ela viera do mundo inferior eu obviamente iria a mandar para o lugar de onde veio.

Foi quando aconteceu, uma cratera se abriu no chão no lugar onde o monstro estava uma cratera se abriu, ela conseguia voar, mas eu canalizei toda minha força mandando-a para baixo. ”Volte para o lugar de onde veio” foi minha ordem antes de ela cair e o chão se fechar logo depois, como se nunca tivesse acontecido.

– Como você fez isso? - os olhos de Annabeth demonstravam um sentimento, que infelizmente eu vinha tendo que conviver muito nos últimos tempos, medo.

– Eu não sei - digo sincera -. Eu nunca sei como faço nada - dou de ombros e fixo meu olhar no chão.

– Você é um alvo muito fácil, sozinha –. Annabeth simplesmente assentou ao meu lado e começou a beber água. Afinal o que ela estava fazendo aqui?

– E você é um tanto quanto intrometida, achei que tinha sido clara quando disse que ia fazer essa missão sozinha, isso não tem questionamento - vou para longe daquela cabeleira loira. Eu tinha de admitir, que ela era bem insistente.

– Se não fosse por mim você estaria morta agora - enfatiza.

– Sei me virar muito bem sozinha obrigada. – Apontei para o lugar onde eu havia aberto uma cratera. Agora era apenas um monte de terra.

– Só porque era uma fúria - soa engasgado, acho que ela não esperava que eu fosse tão teimosa -. Você não teria toda essa sorte com outro monstro. Vou te acompanhar, isso não é uma opção.

– Que se dane - sento novamente, dessa vez de frente para ela.

– E então, você acordou extremamente assustada, com o que sonhou? – Eu estava com ódio por ela ter me seguido, mas já que não iria conseguir afastá-la, o melhor era que ela soubesse de tudo, sendo uma filha de Atena talvez Annabeth tivesse uma ideia.

– Então... – Comecei a história e relatei tudo, sem esconder nenhum detalhe, não fazia sentido ocultar nada.

– A espada para que o Tártaro consuma o primeiro, o cristal para que Tânatos jamais abra passagem para o segundo, e finalmente o sangue para que além de mortais, as ações dos três se concretizam no eterno. E que a maldição dos três enfim finalize, no alento final. Você sabe o que isso tudo significa? Você não é a única filha dos três grandes, se a terceira morreu mesmo, o segundo ainda está por aí, alento final? Sete meio-sangues responderão ao chamado, em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado. Um juramento a manter com um alento final, e inimigos com armas às Portas da Morte afinal. Um juramento a manter com um alento final faz parte da grande profecia.

– O que fazemos, então? - pergunto anciosa, talvez ela tivesse algum plano.

– Só podemos seguir o plano original, encontramos a Imortalitites e assim uma parte da profecia já estará concluída - ela cruza os braços contra o peito e olha para o chão, pensativa.

– Imor... O que? - ergo as sobrancelhas confusa.

– O nome da espada é Imortalitites, a tradução acho que seria A mortal imortal, ou algo assim, não é relevante - ela pega sua própria adaga como se quisesse se certificar, que pelo menos uma de nós tinha uma arma que preste.

– Então estamos juntas nessa? – Só para confirmar, ia ser ótimo se ela desistisse.

– Juntas, tem certeza que não quer um sátiro? - Já não bastava se enfiar no meio da minha, repito, minha missão, ela ainda queria me convencer a levar um sátiro? Sério?

– Tenho – Grover era trauma o suficiente para mim, não aguentaria outro sátiro me atormentando.

– Então, boa noite, eu fico de vigia você dorme - ela se acomoda em uma árvore e começa a mastigar uma maçã.

– Acha mesmo que eu vou conseguir dormir? Boa noite pode dormir, eu tenho muito que pensar, só não aguento mais pesadelos - me apoio na mochila e olho para as estrelas do céu. Apesar de tudo, eu tinha de admitir, que estava uma bela noite.

Ela me entendia, é claro, todos os semideuses dividiam essa aflição eterna de sonhos, então ela foi dormir e eu fiquei olhando a escuridão, esperando mais um longo dia que viria pela frente. Foi quando lembrei a deusa, que acolhera os bebês, eu sabia quem era, não teria como esquecer, mas ainda estava tentando processar a informação.

Spes – A deusa da esperança – salvou minha vida dezesseis anos atrás.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, e não esqueçam de deixar seu comentário, seja ele positivo ou negativo, o importante é deixar sua opinião!! :D
XoXo,
Sarah ♡