Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 7
Imã de carne e osso


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem do capítulo :D



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"De todos aqueles que consideramos felizes, não há um que o seja." Anaxágoras de Clazômenas

Barbie não sabia o que era a pior sensação: de ser sufocada ou ter lâminas afiadas perfurando sua pele.

Estava em uma sala enorme com paredes de vidro e nenhuma janela, me encontrava submersa em um universo de armas distintas, desde uma faca com cabo com inúmeras pedras preciosas até um simples machado utilizado normalmente para cortar troncos de árvores. Os mortais objetos furavam minha pele e me encharcavam de sangue quente e abundante e, para piorar bastante - se é que era possível-, pessoas transitavam, olhavam para dentro do cômodo, ignoravam e voltavam a andar. Era desgastante o tanto que eu já havia gritado, implorado por ajuda, e nada, era como se nem ao menos pudessem me ouvir.

– Encontre a saída - Uma voz feminina doce e amarga, que sussurrava na minha mente, mas não havia ninguém no local.

– É impossível sair daqui, me ajude, por favor - digo.

– De que adianta eu te ajudar em um mero sonho, criança? No final, será só entre você e essas facas. - A voz soltou uma risada irônica, mas pude perceber certa dor nela, como se não quisesse que fosse assim ao final, ou era o que eu esperava que a voz demonstrasse, dor, compaixão.

Minha atenção se voltou para as armas, elas só aumentavam e aumentavam em número, extenso, infinito. Tinha que haver uma saída, tem que haver uma saída.

Acordei ilesa, depende do ponto de vista.

Dia dois.

Annabeth e eu tínhamos problemas, quer dizer, não um monstro ou dois, nós realmente tínhamos com o que nos preocupar, porque parecia que a cada quilômetro que avançávamos em busca de um ponto de ônibus que levasse a Manhattan, um monstro se aproximava, atacava, morria. Repetitivo e cansativo.

– Tudo bem, da próxima missão que você participar eu não irei atrás. Credo, você é um imã de monstros - Disse uma Annabeth furiosa enquanto decepava um minotauro.

– É mesmo? Tudo bem me lembrarei disso. - digo irritada, ela só estava aqui porque quis.

– Quanto tempo até o ponto de ônibus? - disse Annabeth se recompondo.

– Mais ou menos um quilômetro e meio, expectativa de mais dois monstros. - E assim a conversa acabou, porque não era brincadeira, e nós realmente encontramos somente mais dois repugnantes monstros até chegarmos ao ponto.

Assentamos numas cadeiras e esperamos, esperamos e esperamos. Annabeth escrevia alguma coisa em um pedaço de papel e eu fiquei olhando a pequena vendinha que tinha no lugar. Uma das bancas era uma casa de costura. Três idosas, muito acabadas tricotavam uma meia enorme, parecia destinada a um gigante tão grande era. Gigante. Eu ia virar, eu ia chamar Annabeth, mas era tarde demais. A idosa da ponta da direita pegou uma tesoura muito afiada e cortou um pedaço da linha, não que isso fosse grande coisa, mas eu sabia o que significava. Parcas. Senti aquela tesoura enorme penetrando em cada centímetro do meu corpo, senti morte, senti aflição, senti como se tivesse mergulhada em armas novamente, talvez tivesse uma tesoura naquela sala, afinal.

– Annab… Anna… ANNABETH. - Era difícil me recompor, é como se eu de repente tivesse perdido a vontade de viver.

– O que foi garota? - Era obvio que o que ela estava escrevendo era importante, mas eu não tinha tempo para isso.

– Parcas. - Os olhos dela se inundaram em pavor. Verdadeiro, mais do que isso preocupação.

– Você viu? - ela não precisou explicar, estava falando do fio.

– Vi. As vi cortando o fio. - Significava mal agouro, morte, todos que vissem uma parca cortando o fio da vida, bem, morreria de forma horrível; Há, mas o que são parcas? Elas são três idosas que cortam os fios da vida, sim aquele rolo de lá representa a vida de todos nós, quando uma delas cortou um pedaço do fio, é como se eu tivesse visto alguém morrer.

– Mas você tem noção do que isso significa? - ela me analisa como se esperasse, que uma parte de mim não estivesse mais lá.

– É claro que eu sei o que significa. - minha voz sai aguda devido ao desespero.

E assim a conversa encerrou, ela não sugeriu que déssemos um fim as parcas, acho que nem seríamos capazes, então ambas ficamos em silêncio, olhando a estrada, fingindo que eu nunca as tinha visto. O problema é que eu as vira e cada vez que elas cortavam mais um pedaço de fio eu sentia um arrepio cortando toda a minha pele, todos os meus ossos e órgãos.

O ônibus chegou somente à noite, então nos acomodamos nos bancos e trocamos de guarda, hora eu dormia e Annabeth ficava de vigia, hora eu ficava acordada. O que era estranho é que quando embarcamos, eu jurei ouvir uma risada. A primeira a ficar acordada fui eu, então saquei minha espada e fiquei pensando enquanto olhava para a lâmina prateada.

Spes? Não sei se consegue me ouvir, não sei se quer me ouvir, mas saiba que eu me lembro de você, sim eu me lembro, obrigada por cuidar de mim e do meu irmão - já tentei, mas definitivamente não me recordava do nome dele -, sou muito grata, espero que saiba. - Fiz meu agradecimento, silencioso a deusa que se portou como uma mãe, para mim.

O que me restou depois disso? Lembranças. Eram como flashbacks, passavam rápido como uma brisa que transitava entre as flores em minha memória. Eu via duas crianças, uma brincava de bonecas o outro de carrinho de corrida. Eles sorriam, cantavam, brincavam, eram felizes.

O que tudo isso significava? Eu tinha medo da resposta, eu queria encontrar meu irmão, eu queria encontrar meus irmãos, porque por mais que eu quisesse encontrar Percy, eu também queria encontrar Peter. Peter. O nome veio tão naturalmente, como se fosse obvio, mas no momento que pronunciei silenciosamente senti como uma bomba no estômago. Peter, meu irmão chamava Peter, eu me lembrava dele ainda criança, lembro-me que quanto mais crescíamos, meus cabelos escureciam, os dele clareavam. Eu não crescia muito em questão estatura, já ele parecia que espichava mais a cada dia. Lembro-me que no final nos tornamos muito diferentes exceto pelos olhos azuis extremamente claros, a ponto de dar agonia caso fosse mantido contato visual por muito tempo - será que os dele também se tornaram azul piscina?–, e pele branca como leite com bastante sardas - será que as dele também adquiriram um aspecto bronzeado momentaneamente?–. Foi quando senti um aperto no peito, as únicas coisas que me lembravam que me caracterizava como irmã de Peter haviam desaparecido a pouco, será que se ele me visse me reconheceria? Céu, inferno e água separados, ou isso era extremamente bom, ou extremamente ruim, é claro que tudo depende do ponto de vista, como tudo nessa vida.


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Notas finais do capítulo

Desculpem ter ficado um tempo sem postar, estava muito sem tempo e foi dificil arranjar um dia para escrever esse capítulo! Sei que hoje é quinta, mas levando em consideração que fiquei muito tempo sem postar acho que quinta feira é um dia bom neh? haha.
Espero que gostem, e não esqueçam de deixar seu comentário, seja ele positivo ou negativo, o importante é deixar sua opinião!!
XoXo,
Sarah ♡