Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 3
A filha dos três grandes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem do capítulo :D



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"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê." Platão

Acordei um mês depois ainda abalada.

O que foi que eu fiz? Por que o fiz? Eu não tinha coragem de machucar nem uma mosca, o que dirá quase matar uma dúzia de pessoas, e Grover. Eu quase matei Grover. A verdade veio como uma bomba, enjoo, náusea, culpa tudo veio à tona e senti como se não fosse aguentar novamente, mas respirei fundo e me censurei, se eu desmaiasse a cada vez que algo de ruim me acontecesse jamais viveria. Durante meu sono eterno, os sonhos se alternaram, ora Nêmesis me convocando para uma vingança, hora os deuses em situação deplorável no Tártaro, ora eles falando comigo...

– Não importa quem você é, o que você vá a fazer, lembre-se sempre que eu estou do seu lado, e sou seu pai, mas tome muito cuidado, poder é poder e a loucura é pura consequência do excesso desse. – Poseidon disse à mim quando o encontrei em sua casa no oceano.

– Escolhas, tudo depende de escolhas. – Foi uma frase simples e objetiva, sem muita expressão de sentimentos, dita a mim por Hades em sua casa no inferno.

– Só lembre-se que você terá que ser leal a um lado. – Como assim a um lado? O que Zeus quis dizer quando me disse essa frase no Monte Olimpo? Do lado de um dos três deuses? Eu não sei, mas a questão é o que mais me perturba.

Eu ficara exatamente um mês apagada e ao que parece tudo ocorreu perfeitamente sem a mutante do acampamento. Pelo que ouvi vindo de outros campistas que frequentaram a ala hospitalar, Percy e Annabeth tinham assumido um relacionamento sério, e ele foi extremamente fofo ao pedi-la em namoro. Estavam tentando desvendar alguns pontos da nova profecia, até agora sem sucesso e Grover foi procurar outros semideuses, embora eu ache que ele realmente quisesse ficar longe de mim. Todos os chalés que não existiam tiveram suas construções finalizadas e eu não podia negar, estava um tanto quanto curiosa para ver o de Hades.

A meu respeito os comentários não eram muito positivos e variavam entre “assassina” e “aberração”, ás vezes até flagrava um ou outro campista olhando com olhar de reprovação para mim. Eu só queria sumir.

Eu me sentia em um hospício, todos me olhavam como se eu fosse louca, e tive que aguentar mais uma semana acordada na cama enquanto todos me censuravam, sem nenhuma visita de Quírion – um centauro que era o diretor de atividades do acampamento - ou qualquer outro. Para a minha sorte encontrei um espelho entre os corredores, não permitiram que eu mantivesse nada perto da minha cama, então estava desesperada para ver meu reflexo, precisava ter certeza de que eu não era louca, olhar para mim mesma, descobrir quem sou.

A figura em frente ao espelho não podia ser eu, era outra pessoa. Sempre tive pele clara um tanto quanto pálida, mas agora ela se tornara dourada, não como bronzeado artificial, mais como a pele de um surfista. Meus olhos sempre foram azuis muito claros, de dar nos nervos só de olhar, mas agora eles tinham adquirido o tom de azul piscina. Meu cabelo preto com cachos definidos nas pontas estava lisos, o que me deprimiu um pouco, adorava brincar com meus cachos. Minha tiara ainda estava em minha cabeça, mas agora conseguia removê-la, um presente de Hades, acho. E com o tempo percebi que minha pele dava choques nas pessoas, não que elas quisessem encostar-se a mim, mas você acaba esbarrando em um e outro enquanto anda. Como se eu já não tivesse adquirido dons suficientes, dependendo do movimento que fizesse com minha mão ela se enchia de água, como se jorrasse a água que absorvi do tridente de Poseidon na noite que fui reconhecida.

Depois de ser usada de cobaia, para testes, exames e tudo mais, finalmente ganhei alta, tinha permissão para ir para o meu chalé. A questão era: Para onde eu iria? Será que poderia escolher, ou já teriam escolhido por mim? Sem uma alternativa visível, tive que enfrentar um dos meus maiores medos: Procurar por Quíron.

A casa grande era um lugar desconhecido pra mim, nunca tive grandes necessidades de frequentar o local, mas devido a todos os recentes acontecimentos, quando parei perante a porta senti como se o lugar me puxasse para dentro, o que não foi preciso, uma vez que Quíron apareceu junto ao senhor D. – o deus Dionísio, diretor do acampamento – que bebia uma lata de coca Diet e emanava tranquilidade, enquanto o centauro ficava trocando o peso do corpo entre as patas da frente. Não demorou muito é claro para eles perceberem minha presença.

– Então você é o problema? – O desagradável e sincero Dionísio sempre mostrando sua compaixão e compreensão.

– Barbie, precisamos conversar. – Um arrepio percorreu minha espinha. Eu seria expulsa, seria jogada para fora dos portões para ser atacada por monstros, provavelmente me deixariam sem arma alguma e eu teria que simplesmente torcer para que eu morresse de forma rápida e indolor.

O senhor D. entrou na casa praguejando em grego antigo e Quíron se dirigiu até onde eu estava. Embora fosse de uma aparência já mais velha, sua estrutura física e rigidez no olhar transmitiam-me medo, raiva, tristeza... Tudo ao mesmo tempo.

– Não sabemos o que fazer com você. – Ergo as sobrancelhas em sinal de surpresa. Claro aposto que eles não sabem a que monstro vão me dar de presente.

– Vou arrumar minhas coisas. – Eu poderia debater, falar mal, falar tudo o que eu pensava que eu não tinha culpa de nada, mas me destruíram, eu não conseguia falar mais nada, então abaixei o olhar me preparando para me retirar.

– Nós não vamos te expulsar Barbie. Você é uma raridade, na verdade não existem relatos de um semideus como você, mas você ficará aqui, treinará, aprenderá tudo o que puder, para quando for a uma missão, o que provavelmente ocorrerá, estar preparada.

– Obrigada, muito obrigada. – Queria dizer mil coisas, mas não consegui, ficaram engasgadas, pelo menos não chorei. – Mas para onde eu vou?

– Você tem direito a casa de Hades, Poseidon e Zeus, escolha a que bem entender. – Eu tinha esse poder? De escolha? Confesso que foi uma novidade, porque sempre fui forçada a tomar atitudes devido ao que o momento me obrigou, nunca tive escolha, a ideia me agradou e deixei Quíron com um sorriso torto nos lábios.

Fui para o chalé de Hermes buscar o pouco que tinha. Não havia ninguém para se despedir de mim ou coisa do gênero, não que eu esperasse isso, mas depois de todos os anos que passei nesse lugar senti um aperto no peito ao pensar que ninguém ali se importava comigo. O que aconteceu? Por que nunca fiz um amigo? Todos do acampamento em tese já passaram por aqui, eu poderia conhecer todo mundo, mas não conheço. Aposto que quando meus pais me reconheceram muitos campistas pensaram coisas como "nem sabia que ela morava aqui".

Não importa, agora tudo será diferente, vida nova, escolhas novas não que as coisas vão melhorar, mas pelo menos posso evitar que os dias de chuva caiam sobre mim, literalmente. Então fiz o que me restava, juntei minha única mala e andei em direção a porta, não que eu tivesse noção de para onde iria, é claro.


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Notas finais do capítulo

Desculpem pela demora para postar, mas só descobri hoje que o Nyah voltou a funcionar! Obrigada a quem está lendo, continuem comentando, o importante é deixar sua opinião!!
XoXo,
Sarah ♡



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