Olhos de Sangue, série Bombas de Sangue escrita por scpereira


Capítulo 13
Treze


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que hoje é terça, me desculpem por postar só hoje!
Espero que gostem do capítulo ♡



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"Seja tratado como um animal burro por muito tempo, e é isso que você vira.” C.S.Lewis.

Barbie parou de reclamar da vida no momento que viu a verdadeira Nova Orleans.

Eu estava paralisada, ainda de joelhos no chão em meio a uma pilha de pó com mau cheiro. Meu rosto havia secado, mas eu o sentia quente e melado devido a todo aquele sangue. Eu enxergava tudo vermelho não importa o quanto eu piscasse parecia que uma crosta vermelha havia se formado á frente dos meus olhos. Eu estava apavorada. O que foi que eu fiz? Como eu fiz? Seria obvio se a alegria enchesse meu coração, mas eu não sentia isso, eu não queria isso. E se eu nunca conseguir me controlar? E se eu tiver que viver isolada de tudo e todos pelo resto da minha vida?

Annabeth estava ao meu lado, ela me sacudia, tentava me levantar, me gritava, mas eu não reagia, eu não conseguia. Ao lado dela o garoto que acabei salvando no final das contas olhava preocupado, até que por fim ele levantou e me ergueu junto a si e começou a andar com Annabeth logo atrás. Queria poder sentir alguma coisa, queria poder falar, queria poder andar como uma pessoa decente, mas eu não conseguia, na verdade eu não sentia nem mesmo sentir o toque do garoto que andava em passos ritmados enquanto me carregava. Eu não ia dormir, eu não ia desmaiar, eu ia ser forte, eu ia superar, eu ia…

Dia Onze.

Acordei em uma cama de um quarto desconhecido de paredes brancas e carpete azul. Branco. Azul. Eu estava enxergando.

– Oh deuses, muito obrigada. - deixei escapar. Eu estava bem, eu estava viva. Coloquei a mão no rosto e comecei a chorar, soluçar de forma histérica. Enquanto as lágrimas caiam eu senti tudo, alivio, alegria, ódio, tristeza, medo… Tudo de uma vez só. Devo ter ficado assim mais ou menos uma hora e quando finalmente me acalmei e me dei conta de que eu não sabia onde estava comecei a me desesperar. Olhei para todos os lados, mas não vi ninguém. O quarto tinha um tamanho bom, não muito grande nem muito pequeno. As paredes eram inteiramente brancas, o teto e o carpete eram de um azul vívido e intenso que doía os olhos. A cama de casal na qual eu estava deitada tinha uma cabeceira trabalhada em madeira assim como a cômoda. Não era perfeito, mas era aconchegante.

Me deitei esperando Annabeth aparecer, tinha que ser ela uma vez que eu consumi com todos os monstros da cidade. Soltei uma risada nervosa. Eu consumi com todos os monstros da cidade.

– Acordou finalmente? - levantei depressa e vi um garoto na porta, é claro, o garoto que estava sendo torturado. Ele devia ter minha idade, tinha cabelos loiros pouco encaracolados; olhos tom de mel; típico nariz grego, longo, reto e forte; lábios em forma de coração e pele bronzeada, um tanto parecida com a minha.

– Parece que sim - digo terminando de avaliar o rapaz. - E você é?

– Lucas, filho de Apolo.- explicava a pele bronzeada.- E embora eu já saiba, você é? - diz ele sorrindo o que revelou duas covinhas no canto da bochecha, que sorriso lindo.

– Barbie, filha de Zeus, Poseison e Hades. - fecho a cara quando ele começa a rir. - o que foi?

– Desculpa, é que pensar que seu nome é Barbie e você é filha dos três grandes… Tem noção de quão irônico isso é? - diz ele rindo ainda.

– Claro que sorte a minha ser a ironia em pessoa. - dou de ombros. Decidi que não gosto de Lucas. - Onde eu estou afinal, e onde está a Annabeth?

– Você está no templo de Zeus e sua amiga está em um dos andares mandando uma mensagem de Íris para Quíron.

– Nós conseguimos? - digo esperançosa, iríamos sair dessa cidade logo.

– Quase nos ainda temos um pequeno problema. - diz ele me avaliando.

– Como assim um problema? Eu acabei com todos os monstros dessa cidade que espécie de problema pode existir? - percebi que estava gritando. Percebi que falar em voz alta o que eu fiz era mais difícil do que eu achei que seria.

– Os problemas não são monstros, na verdade eu gostaria que fosse - seu olhar brincalhão assumiu um tom triste e cansado, me preocupei. O que era agora?

– Pode ser mais específico? - digo irritada.

– É meio divicil de explicar, você precisa ver na verdade.

Acenei com a cabeça e me deixei ser levada por Lucas até um lance de escadarias onde descemos até um salão plano com paredes inteiramente de vidro, o hall do hotel. O lugar seria maravilhoso tinha pilastras com detalhes gregos espalhados, chão de mármore azul stellar e teto com uma pintura artesanal de Zeus segurando o raio mestre no Monte Olimpo, era para ser lindo, eu deveria estar maravilhada, mas não estava, pois só conseguia reparar no lado de fora dos vidros onde uma multidão de homens e mulheres de todas as idades olhavam com um olhar furioso. Em seus olhos eu via apenas vazio, suas roupas estavam esfarrapadas e imundas, alguns estavam nus, a pele era tão suja e repleta de sangue seco de machucados que me senti náuseas.

– Quem são eles? - eu não queria saber, mas tinha que perguntar.

– Semi-deuses. - diz Lucas com a voz sem emoção alguma. Ele aponta para uma garotinha que aparentava não mais de treze anos - Aquela ali é filha de Apolo, a conheci no Acampamento e ela era como uma irmã para mim. - diz ele cansado.

– O que aconteceu com eles? - digo quase como um sussurro como se de repente todas as forças tivessem abandonado meu corpo, eu só conseguia olhar para a garotinha - Por que eles não conseguem entrar?

– Foram aprisionados por muito tempo, torturados por muito tempo. Foram tratados da mesma forma que se trata um animal, bem eles acabaram se tornando verdadeiros animais. Não falam, não nos reconhecem, não sabem de quem são filhos… - diz ele calma e pausadamente como se cada palavra custasse uma vida - Eles não passam porque seu coração não é mais humano, ou seja, não é mais puro. Para entrar e se abrigar no templo de Zeus é proibido ter más intenções no coração.

– Isso é horrendo - coloco a mão no rosto tentando me esconder do mundo, e se isso fosse acontecer comigo e com Annabeth, e se fosse acontecer com Lucas caso eu não tivesse enlouquecido? - Podemos voltar para o quarto, por favor?

– Podemos. - diz ele e andamos em silêncio pelas escadas até o quarto, quando finalmente chegamos o intervalo de silencio continuou por um bom tempo.

Eu estava sentada na breada da cama com Lucas ao lado mantendo uma direção segura. Os olhos sem vida da garotinha me assombravam e eu tinha certeza de que uma hora ou outra eu teria pesadelos com isso.

– Era isso que estavam fazendo quando chegamos? Quer dizer, estavam te transformando naquilo? - digo por fim.

– Era. - Lucas mantinha contato visual firme comigo de forma a me deixar um pouco incomodada, mas não desviei o olhar.

– Por quanto tempo você ficou aqui?

– Mais ou menos dois anos, mas eu resisti por mais tempo que a maioria, eu sabia que minha hora ia chegar, que eu conseguiria sair daquele inferno, então me forcei a ser paciente e esperei, suportei tudo a que eles me submeteram. - Ele me lançou um sorriso torto como se agradecesse por ser eu a libertá-lo, entretanto não comentamos sobre meu surto, e fiquei imensamente agradecida por isso.

Me ajeitei na cama de forma a ficar numa posição confortável e desfocalizar daqueles olhos mel por um instante. Quando acabei Lucas ainda me observava, eu não ia perguntar, eu não ia perguntar, não aguentei.

– E como você veio parar aqui? - Pergunto curiosa.

– Você realmente quer saber? - Deixo que o silencio tome conta do quarto por uns instantes.

– Sim, eu quero. - digo firmemente.

– Lembra daquela menina que eu te mostrei la no hall? - aceno que sim com a cabeça -, como eu te disse ela era como uma irmã mais nova para mim e eu a amava muito, mas um dia nosso belo pai entregou uma missão para ela, e ela tinha que concluí-la ou não poderia voltar para o Acampamento, ordens do próprio Apolo. - Lembrei daquela criança à minha frente, ela era tão nova…- Na época eu fiquei horrorizado porque ela só tinha dez anos e ninguém com dez anos deveria fazer uma missão, eu inclusive propus para Quíron que fosse eu a realizar a missão, mas meu pedido não foi atendido.

– Que lindo seu gesto Lucas. - digo com uma ponta de pena na voz.

– Não importa, porque ela acabou indo na missão, mas ela nunca voltou. Se passou um mês e como a missão dela era apenas de dez dias eu comecei a desesperar. Tentava mandar mensagens de Íris, mas ela não atendia. Eu estava ficando louco - ele solta um riso irônico. - Por fim eu não aguentei, fugi sozinho do Acampamento e fui procurá-la. Quando cheguei em Nova Orleans… - a voz dele falha. - Bem, você viu o que aconteceu e não foi só com ela, mas com a amiga dela que a estava acompanhando e o sátiro também, todos viraram isso, seja lá o que for.

– Corações impuros - me arrependo no momento que eu deixo as palavras escaparem, pois o olhar de Lucas encheu de dor e angústia, ele não estava chorando, mas o peso de seu olhar era muito pior do que qualquer lágrima. Segurei sua mão firmemente esperando que ele percebe que não estava mais sozinho, tínhamos achado ele. - Mas não se preocupe, sempre que as coisas estiverem horríveis se lembre que você conheceu Barbie Simpson, então você por si só não passou pelo pior ainda. - Digo da forma mais animadora que consigo, mas não funciona e minhas palavras saem com um gosto amargo da boca.

– E qual é a sua história Barbie Simpson?

– Você ficaria surpreso se eu dissesse que também só estou aqui por problemas familiares? Eu tenho um irmão, Percy Jackson e um dia ele desapareceu, ninguém viu rastro dele, foi como se tivesse virado fumaça… - Contei tudo relacionado a missão tentando deixar as coisas mais animadoras possíveis, embora tudo contribuísse para uma atmosfera depressiva.

Quando acabei percebi que Lucas estava tentando formular uma frase para descrever tudo isso, então soltei uma risada involuntária, era estranho, mas era bom rir da própria desgraça, como quando dizem “rir para não chorar”. No final eu mudei de opinião, eu gostava do Lucas, afinal.


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Notas finais do capítulo

Sim, treze não tem nada a ver com o capítulo, mas para mim tem porque o número treze me lembra ovelhas negras e como os semideuses se desvirtuaram completamente eu, não sei, acho que combinou KK

Espero que gostem, e não esqueçam de deixar seu comentário, seja ele positivo ou negativo, o importante é deixar sua opinião!! :D