O Portal escrita por Star


Capítulo 8
Capítulo 8 - O Portal


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o capítulo que faz jus ao título da história! Hehe



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"Agora, vamos te levar de volta pra casa"


Marcela bate as mãos, decidida. O seu rosto tem metade da maquiagem de quando entramos na floresta pela primeira vez, os olhos menos destacados agora que a sombra preta se foi, mas ainda felinos e vorazes como sempre.

— Ok, Yasmin precisa do Dia das Bruxas para voltar pra casa então temos somente até a meia-noite. Alguém tem ideia de que horas são?

— Onze e cinquenta e oito — Vini diz, olhando pra lua.

— Você consegue calcular a hora pela posição da lua? — Eduardo comenta. — Que legal!

— Valeu, começa meio que com um instinto de lobo, mas eu fui treinando. Só é meio difícil quando tem o sol, saca, por causa da luz, mas aí eu coloco um óculos escuros e fica show.

— Tico e teco podem fofocar depois — Marcela bronqueia. — Temos dois minutos. Eu conheço bastante sobre rituais e precisamos fazer umas mudanças no ambiente se queremos mesmo abrir um portal. Peguem todos os espelhos largados por aí e coloquem sobre o tabuleiro. Yasmin, precisamos de um pouco do seu DNA. Tudo bem se eu te cortar um pouco? — pergunta, enquanto tira do cabelo uma presilha preta que, com um clique, vira um canivete.

— Acho que não é boa ideia... — Yasmin torce o nariz. — Meu sangue tem uma base ácida maior do que a de vocês e toda vez que encosto ele em alguém as pessoas ficam gritando “socorro, socorro isso queima”.

— Você passa seu sangue nas pessoas? — pergunto, enquanto corro de um lado pro outro com Eduardo e Vini, trazendo os espelhos para o meio do tabuleiro.

— Claro que não! Eu faço experimentos.

— E você guarda uma faca no cabelo?

— Você não faz ideia de quantos rituais precisam de sangue pra funcionar. Vini, por favor.

Marcela estala os dedos, autoritária. Vinicius se aproxima por trás de Yasmin e corta um chumaço do cabelo preto alienígena com seu canino afiado.

— Ah! Era o meu pedaço favorito! — ela choraminga, vendo o cabelo ir embora.

Marcela organiza os espelhos em um critério que, novamente, apenas ela conhece. Espalha sobre eles os cabelos escuros cortados. Ela segura a minha mão e a de Yasmin e levo alguns instantes para entender que é para fazer o mesmo. Busco a mão de Eduardo e ficamos sem círculo de mãos dadas em volta do tabuleiro ouija.

— Vamos repetir “spiritus apertio” juntos, cinco vezes. Uma para cada pessoa presente. Entenderam? Nenhuma vez a mais, nenhuma a menos, ou isso não vai funcionar.

— Não precisamos de sal pra fazer uma barreira de proteção? — Eduardo pergunta.

— Se tivermos sorte não vamos precisar — Marcela diz, apressada, e antes que eu possa perguntar “e se não tivermos?” ela respira fundo, fecha os olhos e começa o mantra. Eu me apresso para acompanhar.

Fecho os olhos.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Esperamos. E esperamos mais. E mais. Arrisco abrir um olho pra espiar se alguma coisa bizarra em modo silencioso está acontecendo, mas não. Não tem absolutamente nada de diferente dentro do círculo. Ou o serviço de abertura de portais é mais lento do que internet banda larga ou alguma coisa deu errado. Procuro um sinal de “carregando” escondido em algum lugar. Será que é que nem vídeo no youtube e eles vão ter que carregar uma propaganda primeiro?

— Por que não funciona? — Yasmin é a primeira a perguntar, chateada.

Todos finalmente abrem os olhos e olham para o centro, esperando alguma faísca de magia acontecer – exceto por mim, que provavelmente sou a única esperando aparecer o rosto do Luciano Hulk anunciando marca de margarina -, mas apenas nossos reflexos tortos nos encaram de volta. Tomo fôlego para dizer que talvez tenha sido culpa minha, mas Marcela fala antes, decidida como sempre:

— Temos pouca superfície — ela pondera, olhando para o arranjo do chão. — Precisamos de mais espelhos.

— Ah! — Yasmin solta, de repente. Ela sai do círculo e corre para a bolsa de dente. Vejo-a pegar um estojo de maquiagem cor-de-rosa e tirar um saquinho, que um dia foi uma redinha pra cabelo, com um conteúdo brilhante. Parecem bolinhas de gude e fazem barulho quando ela corre de volta. — Será que isso serve, Marcela?

Yasmin vira o saco no meio das mãos da Marcela e milhares de pedrinhas pequenas e brilhantes rolam em cascata de dentro. Os olhos de Marcela se arregalam tanto que quase saem do rosto e ela gagueja:

— I-isso são...

— São pedrinhas brilhantes! — Yasmin comenta, empolgada. — Bonitas, né? Eu peguei um monte no caminho pra Terra. Acho que são do planeta Jumbo. Estavam por toda a parte.

São diamantes. São diamantes à beça. Tem diamantes o suficiente pra substituir todos os meus dentes e ainda sobrariam. Tem diamantes o suficiente pra substituir a arcada dentária da minha família inteira!

— Jumbo? — Eduardo franze a testa.

— É, cara. Tem o planeta pequeno, saca? Daí vem o médio, o grande e o Jumbo — Vini explica, com toda a sua sabedoria, um conhecimento que soa tão errado que chega a parecer certo.

— Você trouxe diamantes da chuva de diamantes de Júpiter? — Eduardo pergunta, depois de um curto raciocínio, no qual seus neurônios provavelmente foram correndo de óculos na mão para o setor de conhecimentos gerais.

— É Júpiter mesmo o nome? Eu achei que tinha lido errado. Jumbo combinava muito mais com o lugar. Vou dar uma palavrinha com o gerente. De qualquer forma, eu ia dar as pedrinhas de presente de despedida pra vocês, mas acabei esquecendo! Vocês vão adorar, são ótimas pra moer e passar no rosto, fica lindo!

Yasmin, muito alegre, revela seu segredo de beleza: purpurina feita de diamantes. Então é por isso que ela brilha o tempo todo! Será que não pinica?

— Você consegue moer diamantes? — O assombro cresce nos olhos de Eduardo, muito mais do que quando estávamos batalhando almas penadas na floresta negra, ao perceber a capacidade extraordinária de Yasmin de, bem, ser uma alienígena.

— Sim! Com as mãos! É só apertar um pouquinho e...

— Com as mãos?!

— Você vai ficar perguntando tudo o que eu disser? Isso é um jogo? — Yasmin pergunta, animada.

— Isso vai funcionar, Marcela? — Eu pergunto. Marcela parece não me ouvir, o seu olhar permanece fixo sobre os diamantes e acredito que em algum lugar dentro da sua cabeça a Marcela interior usando um vestido longo com véu feito de diamantes dá piruetas pra cima e pra baixo. — Marcela?! Nós estamos perdendo tempo!

— Ah, sim, claro. Nós podemos tentar — ela diz, quando estala de volta. Joga todos os diamantes no centro do espelho sobre o tabuleiro.

Mais uma vez, nós damos as mãos e repetimos o mantra, e não consigo parar de me sentir como uma criança da quarta série que fica até depois das aulas para tentar conjurar a Mulher de Preto com uma folha de papel e um compasso.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus apertio.

Spiritus aperti...

Um zumbido alto faz meus ouvidos vibrarem. Parece o som de uma corrente elétrica sendo ligada. Sinto os pêlos do meu braço e alguns fios de cabelo se arrepiarem e quando abro os olhos, há um portal flutuante no centro do tabuleiro. Eu digo portal porque é a única coisa que esperamos que apareça, mas a coisa é apenas um círculo branco malfeito. Parece uma lâmpada fluorescente ligada, exceto pela parte da lâmpada. Ele emana tanta luz que meus olhos ardem. É como olhar para o próprio sol.

— Funcionou! — Yasmin pula, do outro lado, emocionada. — Minha nossa, funcionou!

— Baby, você precisa ir rápido — Vinicius grita, por cima do zumbido que o portal faz. — Falta menos de um minuto para a meia noite.

— Pessoal, eu... Eu... Eu deveria ter me despedido antes, não sei o que dizer! — Os olhos escuros de Yasmin brilham de lágrimas enquanto ela chora e ri da própria frustração, eufórica.

— Vou sentir a sua falta, amiga — Marcela fala, também com lágrimas nos olhos.

— Venha nos ver de novo — Eduardo diz, e se apressa para acrescentar — Mas não demore dois mil anos pra aparecer dessa vez!

— Eu... Eu tinha muitas coisas bonitas pra dizer, eu juro que tinha! — Yasmin soluça alto e passa as mãos no rosto. — Ia ser tão bonito! Vocês iam chorar à beça!

— Yasmin, baby, vou sentir a sua falta, mas você precisa ir! — Vinícius grita. — Agora!

— Obrigada por tudo! — Com meu coração batendo forte dentro do peito, eu berro uma promessa: — Se você... Se você voltar, eu vou usar a fantasia da próxima vez! Eu prometo!

Yasmin sorri para todos nós. Ela se encaminha para dentro do portal. Seu corpo desaparece aos poucos, absorvido pela luz ofuscante e sobrenatural. Primeiro a única asa da sua roupa de Fada dos Dentes, então a blusa e a saia de frufrus, até só podermos ver um braço e metade da sua cabeça.

— Adeus, pessoal! Eu vou...

Não consigo ouvir o fim da sua frase porque a forma branca gigantesca e dinâmica como uma ameba do portal a engole e por fim parece engolir a si mesma, desaparecendo em um vórtice. No instante seguinte, nada está mais lá além de Marcela, Eduardo, Vini e eu.

É a última vez que vejo Yasmin.

Olho para o céu em cima das nossas cabeças. A lua minguante permanece, com sua cor de osso, em meio à um mar infinito roxo e azul escuro. Milhares de estrelas brilham como se fossem pequenos furos por onde a luz atravessa. Tento imaginar se alguma delas é o planeta para onde Yasmin vai. Se o brilho de alguma delas significa algum sinal de despedida.

Passada a adrenalina dos feitos sobrenaturais, meu coração pesa com a certeza de que eu nunca mais vou ver a garota super feliz e animada outra vez. Eu vou voltar para a escola e a sua cadeira vai estar vazia. Eu vou voltar a ter que andar sozinha até em casa e nunca mais vou ter ninguém pra brigar comigo pelo controle remoto, porque precisa muito assistir o novo documentário tchecoslovaco do Discovery Chanel. Eu estou tentando segurar o choro – eu já chorei o bastante por hoje! Vamos, voltem, lágrimas! Desse jeito vou desidratar! – quando Eduardo fala ao meu lado:

— Espero que ela consiga chegar onde queria.

O garoto hakuna matata também olha para o céu. Seus olhos verdes parecem cintilantes pela água contida, do choro que não desce.

Levo um tempo pra perceber que apenas nós dois continuamos no mesmo lugar, e, mais ainda, de mãos dadas. O toque caloroso dele me envolve, como quando estávamos na floresta, e sinto a tentação momentânea de me entregar ao título de Pessoa Mais Sentimental da Terra e chorar abraçada com ele, remoendo todas as memórias que temos de Yasmin. O pensamento passa tão rápido quanto veio, Eduardo finalmente percebe que ainda segura a minha mão e nós nos soltamos, meio sem graça. Ouço um fungar engasgado interrompendo o momento de constrangimento e vejo Vini, um pouco distante, se desmanchando em lágrimas.

— Ela era uma garota tão boazinha, cara! — Vini chora, com a cara enfiada dentro do braço musculoso. — Eu fiquei só apressando... Eu devia ter dito que gostava dela! Você acha que ela sabia que a gente gostava dela, Marcela?

— Claro que sabia, Vini — Marcela esfrega o ombro do namorado, em consolo.

— Ela tava usando uma roupa tão bonitinha... Ah, cara, eu devia ter dito que ela estava muito bonitinha! Por que eu não disse quando podia? Por que? — ele chora mais.

— Calma, Vini, sssh, passou, passou.

— Yasmin vai fazer bastante falta — Eduardo pondera.

— É — digo. — Foi legal ter uma amiga de novo por algum tempo.

Droga. Eu não queria soar tão amargurada assim, mas escapuliu. Eduardo balança a cabeça pra mim.

— Você provavelmente não vai ter que se preocupar mais em ficar sozinha.

— Tá vendo alguma coisa acontecendo no meu futuro? — Pergunto, meio de brincadeira, meio séria. Eu não tenho muita certeza do que ele é capaz de fazer. Além do mais, eu não tenho certeza nem do quanto ele sabe sobre mim.

— Não — ele sorri. — Tô vendo alguma coisa acontecer agora.

Eu não tenho tempo o bastante pra tentar entender o que ele quis dizer porque Marcela nos chama, enquanto vem na nossa direção.

— Ei. Oi. Eu e Vini vamos voltar pra festa da Raíssa. A minha fantasia tá uma desgraça, mas ainda é Dia das Bruxas, ainda é meia-noite e eu preciso beber muito. Vocês não querem vir com a gente?

— Eu acho melhor não, obrigada.

Eu sei, eu sei. Que garota ingrata, não? Finalmente minha ex melhor amiga oferece uma trégua e age como uma pessoa legal comigo, e eu recuso. Mas a verdade é que essa noite me deixou só o farrapo. Ir para a casa de uma garota que eu não conheço e ter que lidar com dezenas de adolescentes fantasiados de piratas e vampiros sexys enfiando as línguas uns nas bocas dos outros enquanto uma música de batida repetida que já toca todo dia no rádio toca alto o suficiente pra fritar meu cérebro parece ser o exato oposto de algo bom pra se fazer nesse momento.

— Eu só quero voltar logo pra casa e dormir um bocado.

— Eu também vou ter que recusar — Eduardo diz. — Tenho que levar o tabuleiro de volta pra casa logo. Se meu avô descobrir que peguei sem pedir ele vai ficar uma fera.

Veja bem, dizer “ficar uma fera” ao invés de “ficar puto” é o tipo de coisa que faz Eduardo merecer seu título Garoto Hakuna Matata. O fato de ter sido ele quem emprestou o tabuleiro dos espíritos pra Yasmin também não me surpreende nem um pouco. Na verdade, é o tipo de coisa que eu já esperava.

— A gente pode pelo menos dar uma carona. Vini tá de carro. — Ela indica com a cabeça o namorado que chora abraçado com uma árvore a alguns metros de distância. — Daqui a pouco ele se acalma e volta ao normal.

— Seria ótimo. — Eu consigo sorrir pra expressar gratidão e Marcela sorri também e ficamos presa nessa atmosfera de “de volta ao passado”. Ela ainda é tão parecida com a sua versão criança. Tirando o dente de leite da frente que cresceu. — Vocês podem ir andando na frente, eu preciso só de mais um minuto aqui pra... Sabe...

Muita coisa aconteceu hoje e eu sinto que preciso de pelo menos fungar profundamente para conseguir assimilar tudo. Mas não é algo que eu vou conseguir fazer com companhia. Sabe, isso tudo de não gostar de me expor e também essa coisa de já ter me exposto um bocado e ter discutido relação com minha ex melhor amiga e contado o maior segredo da minha vida pra quatro pessoas que, na real, eu nem conhecia direito. Como pedir pra ficar um instante sozinha sem parecer que eu sou um ser humano chato e resmungão e estou enxotando a pessoa, eis a questão.

— Tudo bem, saquei — Marcela pisca um olho e se afasta, olhando pra mim e pro Eduardo e indo em direção ao namorado, provavelmente me entendendo muito, muito errado. — Não demorem muito, vamos sair em cinco minutos.

Não, não! Eu só quero um minuto sozinha! Minhas bochechas ardem. Quando ela se afasta eu me viro pra Eduardo e o encontro abaixado no chão, recolhendo nossos itens ritualísticos.

— Parece que todo mundo se esqueceu disso, não é? — Ele diz e se levanta segurando o tabuleiro ouija debaixo do braço e um punhado de diamantes na mão. O bolso do seu casaco verde parece pesado e pontiagudo com o restante que ele guardou.

— Eduardo, será que você também podia me dar um minut...

— Vou indo na frente para entregar a parte dos diamantes da Marcela e do Vinicius. Entrego a sua depois. Você não tem bolsos, certo? — ele diz, como sempre, sabendo exatamente e com uma precisão sobrenatural e assustadora o que eu preciso.

Prefiro acreditar que ele saiba da coisa dos bolsos por causa da sua mediunidade e não por ter espiado meu traseiro dentro da calça jeans por tempo o bastante pra perceber que os bolsos são só de enfeite. Inclusive, qual é a desses bolsos falsos em calças femininas? Vocês acham que mulheres não tem coisas pra carregar? Como vocês esperam que uma dama leve seus diamantes pra casa?

— Se precisar de alguma coisa, é só gritar.

Eduardo se afasta e eu finalmente fico sozinha na clareira. Eu me volto na direção da antiga casa do meu tio, da floresta escura que espreita por trás, em repouso, como uma criatura viva, esperando que alguém seja descuidado o bastante para se aproximar. Se eu fechar os olhos posso ver como tudo estava no dia em que A Coisa Terrível aconteceu. Posso ver o milho verde crescendo por toda a parte, ao invés das cascas cinzas e secas que o vento forte carrega. Vejo a velha casa recém-pintada, em vermelho vivo. A cantoria dentro da floresta. Vejo os corpos pintados de vermelho dançando como minhocas naquele ritmo perturbador. Eu não queria, mas os vejo, e uma vez que começa é difícil parar. É como um filme que não sei desligar.

Ouço Eduardo me chamar e finalmente abro os olhos, fazendo as imagens desaparecerem. Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto mais uma vez e o vento frio da noite gelar minhas orelhas.

Eduardo me espera, perto da mata que nos trouxe aqui. Marcela e Vinicius desapareceram. Devem estar chegando perto do carro estacionado agora.

— Você não precisa se preocupar — ele diz, quando viro nos calcanhares na sua direção. — Ninguém desconfia do seu segredo.

A verdade cai entre nós. O que eu senti a noite inteira. Eduardo sabe muito sobre mim. Ele soube provavelmente durante todo esse tempo.

Não me sinto assustada ou ameaçada. Nos seus olhos eu vejo uma promessa de cumplicidade, e eu sorrio, com toda a gratidão que posso ter. Eu poderia tentar soar forte e corajosa e dizer que aguentaria tudo sem precisar de ajuda, mas a verdade é que quase choro de alívio porque, dessa vez, eu não vou ter que passar por tudo sozinha.

Nós andamos juntos para longe desse lugar. Não falamos mais sobre o assunto. Não conversamos mais pelo resto da noite.

Marcela e Vini – agora mais calmo e fungando ocasionalmente de um jeito completamente másculo, viril e controlado – nos esperam encostados no carro prateado que, provavelmente, pertence aos pais do Vini. Eduardo e eu nos sentamos no banco traseiro e todos nós, finalmente, vamos embora.

Deixamos para trás a fazenda abandonada do meu tio, a plantação seca de milho, o lugar onde Yasmin partiu e a floresta negra, onde, em algum lugar, a árvore com o espantalho enforcado marca o local onde o meu corpo foi deixado para apodrecer. Naquela noite, há seis anos atrás, o sangue em que as pessoas se banharam não foi o de um animal. Foi o meu.

Eu ainda não sei porque continuo aqui, mas agora que sei que estou morta eu vou fazer tudo o que eu posso para descobrir.

Fim


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Notas finais do capítulo

Gente. Eu ainda tô meio abismada que uma história que eu fiz pra ser uma oneshot acabou tendo oito capítulos e levando dois anos pra ser concluído.

Chegamos ao final! Qual foi seu personagem favorito? Yasmin, a alienígena super animada, Marcela, a bruxa raivosa, Vinícius, o lobisomem gostoso, Eduardo, o médium fofo ou Júlia, a fantasminha camarada (que aliás é bem resmungona)? Pegou raiva de alguém? Acha que a Marcela é muito má ou que o Vinicius anda lerdo demais?
Vocês esperavam esse desfecho? Eu, como sempre, deixei várias dicas em outros capítulos sobre o segredo da Júlia. Por exemplo, quando ela diz que ela é a garota dos boatos, lembrem-se que no início Vinicius conta que o boato era que a garota tinha sido abusada e morta. Sem contar as suas lembranças confusas quando Vinicius entrou na floresta! Hehe. Vocês conseguiram adivinhar ou foi surpresa total?
Ah, minha primeira intenção com essa história também era só deixar essa surpresa, mas depois me veio a ideia da última frase e deixar a ameaça de uma continuação no ar, mas agora fiquei ainda mais empolgada e comecei a levar a sério a ideia de fazer um volume 2 pr'O Portal. Quem sabe Yasmin volta? Ou outros seres sobrenaturais surgem? Quais seres místicos vocês gostariam de ver na história? Podem dar opiniões sem dó! Hahaha.

É isso pessoal, muito obrigada a todos que me acompanharam até aqui. É a segunda longfic original que consigo concluir e foi muito gostoso escrevê-la e ler os comentários de vocês conforme a história se passava. Até a próxima!