Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 6
A Genética dos Deuses


Notas iniciais do capítulo

GENTE! eu recebi uma recomendação aqui, e como eu sou sentimental demais pro meu próprio gosto eu vou ter que comentar! Letícia Graham, meu amor, minha flor de maracujá, obrigada pela sua recomendação linda e perfeita e por entender a Lisa tão perfeitamente T.T (e pode me chamar de Jully a qualquer momento, baby, eu achei uma fofura)



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Elisabeth Gray era muito mais velha do que parecia.

Seu corpo e rosto, que aparentavam aproximadamente 25 anos, não eram capazes de contar todas as coisas que ela já viu. Todos os nomes que já teve.

Para quem a visse, Lisa era uma adorável garota de cabelos negros e escuros, ondulados até o queixo; olhos cor de mel, sobrancelhas agressivas como as do pai. Roupas rendadas.

Mas se perguntasse a sua idade, Lisa o olharia com aflição. Se atrapalharia nas palavras e terminaria pedindo para perguntar ao seu pai. Isso deixava muitas pessoas confusas e as faziam pensar se Lisa não tinha algum retardamento mental.

O problema é que Lisa por vários milhares de anos, nunca havia comemorado um aniversário, tinha adotado esse costume apenas recentemente, depois de brigar outra vez com seu avô e ir morar com o pai. E, bom, seu pai sabia de suas idades, mas apenas porque Nigel, um cientista amigo da família, havia tido a curiosidade de calcular.

Seu tio Dexter achava bem mais simples dizer que tinha 42 anos, mesmo que isso não fosse verdade, o mesmo ocorrendo para seu pai, que dizia ter 38; isso não era muito esperto da parte deles (com que idade tiveram seus filhos?!), mas a vaidade dos deuses sempre fala mais alto. Lisa poderia fazer o mesmo, mas como já foi dito antes: ela era uma terrível adepta da sinceridade. E isso lhe causava problemas frequentemente.

Agora, difícil mesmo, seria calcular a idade do seu avô.

Seu avô não tinha um nome. Tinha vários nomes. Pra falar a verdade, não seria nem mesmo certo lhe chamar de avô, pois ele podia muito bem ser avó. Não tinha gênero. Não tinha forma certa para descrevê-lo. A forma que ele adotara durante os mais recentes milhões de anos, era uma forma a qual ele havia criado e por ela se afeiçoado. Baseou todos os seres que ele criou num planeta de acordo com essa forma. Seu poder não tinha limites.

E nem os de Lisa.

Lisa era sua herdeira legítima, quando nasceu, parte da alma do seu avô passou para ela e foi assim decido que ela seria a próxima Divindade Suprema.

Quando ela lembrava-se disso, eventualmente sofria de despersonalização e ataques de pânico. Porém, deixava rapidamente a questão de lado e continuava fazendo aquilo que mais adorava: viver no meio dos seres, dos planetas; do Universo.

Não precisava se preocupar com isso agora. Seu avô ainda estava no poder.

O funcionamento da administração do Universo era mais do que complexo. Era impossível. Ainda sim, a Divindade Suprema podia controlá-lo.

O segredo consistia em espalhar diversos pedaços de sua alma em todos os cantos do Universo. Esses pedaços estariam sempre conectados a sua forma central, e ela poderia configurá-las do jeito que desejasse para assim funcionarem individualmente, sem necessidade de estar sempre concentrado nelas. Esse sistema era chamado de onisciência. Era como o Universo se equilibrava.

Todas as informações eram enviadas para um lugar isolado do “cérebro” da forma central, o qual ela acessa apenas uma vez ao dia, para verificar se estava tudo ok, ou quando queria.

Nesse caso, dava tempo de sobra para descontrair.

‒ Eu nunca disse isso! – reclamou o ser.

Ele estava segurando um livro grosso e pesado, com os pés descalços pendurados no encosto de um sofá absurdamente branco.

‒ Richard – chamou uma linda mulher de cabelos ruivos, cheios e cacheados pelo nome que a forma adotara como sua – você está lendo a Bíblia de novo?

Eles se encontravam numa salinha de estar completamente branca com exceção de alguns detalhes dourados e da mesa de mármore rosa clara em que Afrodite bebia chá. Richard estreitou os olhos pra ela.

‒ Estou – disse Richard, meio emburrado, voltando a ler o livro – eles escreveram para mim.

‒ Sobre você.

‒ Não, não, eu não sou assim! – exclamou infantilmente. Teria batido o pé no chão se estivesse sentado direito.

‒ Também não acho que esse seja o modo correto de se sentar.

‒ Você acha muitas coisas pro meu gosto.

Afrodite franziu para atitude infantil do pai. Era uma característica que nada se encaixava na sua aparência: cabelos brancos acinzentados, rosto levemente enrugado, terno branco. Dele você esperaria atitudes maduras e profissionais, mas isso raramente acontecia.

Ela acreditava que seu pai agisse assim de propósito e provavelmente tinha razão. Richard vivia rodeado de seriedade e compromissos, algo que detestava. Por isso, decidia ser ele mesmo sua própria fonte de diversão.

Outra coisa incomum era a onisciência e o não uso dela. Richard detestava saber de tudo. Por esse motivo, se contentava apenas em saber se estava tudo bem com Universo e o resto ele mesmo descobria.

“Oh, os humanos descobriram o fogo? Que maravilhoso!” Nada dessas surpresas teriam graça se ele as tivesse diretamente planejado.

Essa era apenas uma das coisas que ele tinha em comum com Elisabeth, que eram várias. Honestamente, se você colocasse os dois numa mesma forma, não os saberia diferenciar. Exceto pelo fato de Richard ser um pouco mais poderoso que Lisa, possuindo poderes que eram apenas dirigidos a Divindade Suprema. Fora isso eram duas crianças fascinadas com tudo e todos, tendo eventuais birras, mas um coração enorme. Eram adoráveis até que você os contrariasse.

Não muito diferente de outros deuses, pra falar a verdade.

A diferença é que eles geralmente estavam certos. E geralmente, porque, sem a onisciência, às vezes era preciso revisar os fatos.

Richard pareceu se dar conta de algo.

‒ Ei, o que você está fazendo aqui mesmo? – perguntou.

Afrodite suspirou e tomou um gole de chá.

‒ Pensei que nunca fosse perguntar... Parece que seu pupilo andou agitando as coisas em Asgard.

Richard sentou-se corretamente no sofá, alarmado.

‒ O que foi que ela fez?

‒ Ameaçou Asgard. Thor descobriu quem ela é e agora Odin, você sabe, está todo nervosinho. – disse ela, com descaso. Odin adorava um bom motivo para ficar ranzinza. Às vezes nem precisava de um. – Acha que ela representa um perigo para Asgard e quer que você faça algo a respeito.

‒ Fazer algo a respeito?! – Richard bufou. Não havia muito o que fazer com alguém como Lisa, o máximo que poderia fazer era dar-lhe um sermão sobre diplomacia.

‒ Foi o que ele disse. – ela deu de ombros.

Richard olhou para ela. Não parecia que estivesse aqui apenas para avisá-lo sobre isso, não era algo comum para Afrodite ser mensageira. Também não precisou de poderes para adivinhar qual era o outro motivo, mas perguntou assim mesmo por educação.

‒ Então... É só isso? – perguntou.

Afrodite pousou a xícara. Suspirou e brincou com a pequena colher dourada antes de responder. Sabia que isso não daria em nada, mas tinha que tentar.

‒ Eu quero vê-los, Richard. – disse com a voz falha, mas determinada– Eu quero ver meus filhos.

Richard balançou a cabeça lentamente e voltou o olhar para o chão. Lá vamos nós!, pensou. Odiava ter que fazer isso, mas Afrodite era uma deusa muito insistente.

‒ Você sabe que não pode, Afrodite. Se fosse qualquer um de seus outros filhos eu deixaria, mas eles não.

‒ Por favor, Richard! – olhou para ele com os olhos úmidos. Era terrível ver sua filha tão triste. Desviou o olhar de seu rosto.

‒ Eles são perigosos! – levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, nervoso – A condição de Lex é rara! E Brandon? Ah, Brandon! O estrago que esse menino causaria se Ares colocasse as mãos nele, você sabe muito bem!

Afrodite levantou-se também, aproximando-se de Richard.

‒ Não peço para que ele vá junto. Apenas me deixe falar com eles. – implorou.

‒ Não. Quem não me garante quais são suas intenções, Afrodite? Todos esses anos ao lado de Ares e você espera que eu acredite em suas boas intenções? Você foi muito influenciada, querida. – disse num tom de tristeza – Não sei se posso confiar em você.

Afrodite pareceu genuinamente magoada por um momento, fazendo Richard arrepender-se do que disse.

‒ Eu sei que errei. – confessou ela, apertando os lábios – Mas prometo que Lex não causará mais problemas de novo!

‒ Tem certeza? – Richard virou-se para ela – Porque eu tenho certeza que ele estava tentando dominar o mundo a pouco tempo, do mesmo jeito que estava tentando a mil e trezentos anos atrás em Macedônia!

Richard andava impaciente de um lado para o outro outra vez.

Odiava ter essas conversas, seja com quem quer que fosse. Os deuses reclamavam muito o tempo todo e não entendiam que Richard gostava de seguir certas regras. Algumas dessas regras envolvendo não discutir com ele porque o deixava sentimental demais.

Tudo o que queria era pegar na mão de Afrodite e conduzi-la gentilmente até a porta lhe dizendo um “Continuaremos essa conversa mais tarde!”, o que seria nunca, fechar a porta e voltar a ler seu livro. Só que isso seria muito mal educado e Richard detestava ser rude.

Pra falar a verdade, Richard andava muito estressado ultimamente, querendo ficar sempre isolado. Isso preocupava muito os outros seres divinos que precisavam de sua liderança.

Afrodite era a mais insistente, principalmente depois que Atena começara a incitá-la a ser mais independente e se impor. Atena andava preocupada com os humanos e com o modo com que estavam se matando e se odiando, deixando o amor de lado. Era quase como... como se Ares estivesse controlando Afrodite, como se o ódio estivesse se sobrepondo ao amor. Isso fazia com que Richard pensasse mesmo em deixá-la ver seus filhos para, quem sabe, amolecer seu coração e entendia perfeitamente os motivos maternais dela, mas ainda sim, ficava com um pé atrás. Tudo por causa daquele incidente.

Há muitos anos atrás, quando a Terra estava começando a dar seus passos rumo à civilização moderna, Afrodite e Ares tiveram um filho. Na época, Afrodite estava no mundo dos humanos como muitos deuses costumam fazer e estava casada com um rei. Seu plano, junto com Ares, era o de gerar um filho que pudesse tomar o trono desse rei e a partir daí, levá-lo rumo a conquista de toda a Terra.

Era um sonho muito ambicioso, mas em parte funcionou. O nome do menino era Alexander Magno... você já deve ter ouvido falar dele. Pois é, em parte funcionou.

O problema foi quando Richard, tendo sido avisado sobre o plano, tratou de intrometer-se no plano do casal, causando vários imprevistos na vida do rapaz. O que ele só não esperava é que o rapaz tivesse aliados tão poderosos do lado dele.

Elisabeth, disfarçada de feiticeira e Loki, em forma humana, tendo tomado o lugar de melhor amigo de Alexander, estavam auxiliando no plano de Afrodite e Ares. Isso porque prometeram a Loki parte da Terra para governar... E para Lisa? Ah, ela apenas tinha se simpatizado com o rapaz e decidira que queria ajudá-lo.

Esse tipo de atitude enfurecia Richard.

Enfureceu tanto que, certo dia, ele decidiu simplesmente que a única solução seria matar o tal Alexander.

Ah, mas o caos foi total.

Afrodite e Ares quase desencadearam uma guerra no Olimpo, Lisa nunca se conformou de ter perdido o seu humano preferido e parou de dirigir a palavra ao avô, Loki nunca se conformou por ter acidentalmente se apaixonado e foi quem provocou Ares e Afrodite para quase desencadearem uma guerra no Olimpo e Richard nunca mais se conformou de ter feito tamanha besteira.

De fato, seu arrependimento foi tão grande, que guardou a alma do menino para que em algum futuro distante, na época exata, ele pudesse libertá-lo sem correr muito risco do garoto querer dominar o mundo outra vez.

Quando a oportunidade surgiu, Richard lançou a alma do menino à Terra, para o ventre de uma adorável mulher que lhe lembrava muito Afrodite e para um pai que era muito próximo de um Ares. Porém, o DNA seria sempre dos deuses, a genética não mudaria (não faria tal coisa com Afrodite). Tudo o que seus pais terrestres fizeram era dar a luz a eles.

Eles porque houve um pequeno acidente durante a gestação, em que parte da essência da alma do menino acabou dividindo-se e gerando outro bebê. Assim nasceram Lex e Brandon. Um herdou a personalidade charmosa da mãe, o outro, o descontrole do pai.

Agora se não bastasse isso, Lex nasceu com uma peculiaridade extraordinária. Algo raro até mesmo no próprio universo. Estatísticas mostram que apenas um ser em cada cem trilhões de galáxias possui essa raridade. Ela é chamada de Campo da Improbabilidade Infinita, e o ser que nascesse dentro dela teria, para sempre, infinitos eventos muito improváveis na sua vida.

Isso explicaria várias coisas na vida de Lex.

Afrodite ainda se encontrava na sala. Não havia desaparecido milagrosamente como Richard esperou quando fechou e abriu os olhos de novo. Ela o olhava com olhos suplicantes e cheios de tristeza que ele não conseguia decidir se eram sinceros ou não. Eles discutiram mais um pouco, até que Richard desistiu.

Fechou os punhos, respirou fundo.

‒ Certo. Eu vou pensar no assunto. – disse por fim.

Afrodite vibrou de felicidade e correu para abraçá-lo. Seus olhos enchiam-se de lágrimas e felicidade.

‒ Oh, obrigada, Richard! Eu sabia que não faria isso comigo! – sorria e beijava o rosto do pai.

‒ Ei, eu disse que ia pensar, ok? – sorriu de volta. Ele adorava fazer as pessoas felizes, e especialmente de receber abraços felizes, ainda mais de seus filhos. Pensou até mesmo em dizer sim de uma vez, mas depois pensou melhor. Talvez essa fosse a intenção dos abraços, suspeitou.

A deusa saiu dançando graciosamente feliz pela porta, deixando Richard finalmente a sós. Enquanto voltava para seu sofá, ele pensava em como Lisa receberia a notícia.

Ele não a havia lhe contado sobre Lex. Apesar de perceber as suspeitas da neta, não teria nem pensado em contar se Afrodite não tivesse descoberto – mas isso era claro, já que ela era mãe, e uma mãe obviamente sente quando seu filho ou filhos nascem. A partir de então, tinha conseguido lidar com ela e Ares, e os feito prometer não contar a ninguém.

Pois seu medo maior, era que Lisa se rebelasse mais uma vez.

No leito de morte de Alexander, ela o prometeu que na próxima vida ela não o deixaria falhar em sua missão, e lutaria para que o mundo fosse dele. Ela tinha ficado extremamente furiosa quando Richard lhe disse que tinha jogado sua alma em um canto qualquer do Universo para que nunca mais fosse achada, impossibilitando-a de revivê-lo. Porém, Lisa nunca se esqueceu de sua promessa, convencendo-se de que um dia ela o encontraria, e juntos de seu aliado Loki, finalmente terminariam sua missão.

‒ Isso realmente – disse a si mesmo – não vai acabar bem.

Richard esfregou os olhos, exasperado, e atirou-se no sofá, olhando para o teto como se ele tivesse feito algo muito decepcionante. O assunto não lhe largava da cabeça.

Esse assunto vai acabar mal. Principalmente pra você, Richard. Ouvia seu inconsciente dizer.

‒ Cale a boca, Universo! – encolheu-se no sofá, tentando afastar curtos flashs sobre o futuro que estavam invadindo sua mente – Eu não quero saber! – gritava – Eu não quero! Pare!

Richard agarrou o livro e começou a ler desesperado, tentando distrair a mente. Aos poucos o fuzz na sua cabeça começou a diminuir e os dados do Universo voltaram para seu devido lugar; no baú do porão de seu cérebro. Odiava quando sua mente saia do controle. Além do mais, o Universo estava exagerando. As possibilidades eram infinitas, talvez Lisa nem ficasse zangada.

Suspirou, confiante, e voltou a ler seu livro.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Cupiditas. Lisa se aventura no laboratório de Lex.



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