Clínica de Reabilitação para Super-Vilões escrita por The Mother


Capítulo 4
Terapia em Grupo: Parte I


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou tão, mas TÃO grande que eu tive que dividir ele em DOIS! Sério, eu não costumo me empolgar tanto, sei lá o que me deu. E eu também não ia cansar vocês com 4 ou 5 mil palavras direto, né? Então aqui vai a primeira parte.



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Enquanto Lisa andava em direção à clínica, Hannibal dava partida em seu carro. Pensava preocupada no prêmio do dia... Será que Loki iria ganhar de novo? Se as coisas continuassem assim, ela teria que arranjar outro tipo de jogo, porque Loki não podia ganhar todas as vezes.

Veja bem, Loki era um digno tagarela. Não que isso fosse de se surpreender; tinha a língua tão afiada quanto a mente e podia mentir quase tão rápido quanto a velocidade da luz. Coisa que Lisa acreditava ser resultado de uma incrível imaginação e um raciocínio rápido − além de muita astúcia e cara de pau.

Ela admirava muito essas qualidades, admirava mesmo, mas essas qualidades se tornavam um problema durante as reuniões. Principalmente quando Loki as tumultuava com comentários indevidos, jogando uns contra os outros e eventualmente transformando a sala de reuniões num campo de batalha. Nesses momentos Lisa agiria e colocaria cada um (à força) em seus devidos lugares, além de tapar a boca de Loki com uma fita adesiva e o colocar de castigo num dos cantos da sala. Mesmo assim, isso não o impedia de fazer exclamações no meio das conversas, apenas para indicar que estava ali e que causaria problemas se conseguisse.

Lisa riu consigo mesma. Tinha que rir, o garoto era muito esperto.

O Coringa também. Ele era o único que não cedia às provocações de Loki. Muito pelo contrário, incentivava. Assistir o caos era às vezes mais divertido do que estar nele.

Uma vez, quando haviam recém começado a dar início às terapias em grupo, Loki e Coringa planejaram colocar fogo na sala de reuniões para que a sessão fosse dispensada. Isso não funcionou muito bem uma vez que Lisa havia previsto seus planos – usando alguns de seus poderes – e conseguiu os pegar no ato.

Isso aborreceu profundamente Loki, mas pareceu incentivar ainda mais Coringa. Apenas alguns dias depois, conseguiu colocar fogo em toda a clínica.

Agora, você esperaria que Lisa retirasse-o imediatamente de sua clínica e de perto de seus pacientes, certo? É o que você faria? Porque se fizesse você estaria completamente ferrado. Nunca tente afastar o Coringa de você. Ele é o tipo de pessoa que quanto mais você empurra mais perto ele fica. Se quer mesmo que o Coringa lhe deixe em paz, deixe que ele vá sozinho, caso contrário, você só vai se dar mal. Ah, ele não vai embora? Então, prepare-se, querido, porque ou você se acostuma ou terá que matá-lo.

Lisa não gosta de matar pessoas, por isso aprendeu a se acostumar. Afinal, se ela podia se acostumar com Dexter, ela podia muito bem se acostumar com o Coringa.

O assunto apenas se complicava mesmo quando se tratava de Lex.

Lex era o alvo preferido de Loki e Coringa como era de se esperar; já que Lex era um homem muito sério e fechado e isso é tudo que uma pessoa tagarela ou brincalhona não gosta. Ele não gostava de se abrir durante as reuniões, mal falava de sua vida, se desentendia com outros pacientes e frequentemente faltava. Quando faltava, Lisa percebia que Loki ficava mais quieto, não o suficiente para não atrapalhar a reunião, mas o suficiente para que Lisa notasse que ele gostava da presença de Lex.

Isso porque, diferente de Coringa, – que gostava de incomodar a todos – Loki apenas incomodava as pessoas de quem mais gostava, e isso colocava Lex na lista.

O problema era que quanto mais o incomodavam, mais Lex se afastava. Ele gostava de atenção, mas apenas se isso lhe desse poder sobre alguma coisa. Atenções desnecessárias, principalmente as implicantes, eram aversivas para ele. Eram como os boatos mesquinhos das revistas de fofocas e Lex detestava revistas de fofocas. Nunca falavam bem dele. Mas também não era como se ele detestasse Loki, pra falar a verdade, Lisa achava que eles tinham muito em comum.

Quando Lisa abriu a porta da clínica, a primeira coisa que viu foi Loki. Ele era sempre o primeiro a chegar, mesmo que fosse uma hora antes da sessão.

Porém, hoje ele tinha aparecido muito antes da hora da sessão, que era às 19h, e nem era 14h ainda! Perguntou-se o que teria acontecido.

− Oi, querido. Como está? – perguntou ela docemente.

Ele estava encolhido num dos bancos da recepção, lendo uma revista de fofocas.

Loki a olhou de canto de olho. Sorriu rapidamente e voltou-se de novo para a revista.

− Ótimo. – disse friamente – Melhor impossível.

Lisa estranhou. Loki usava sarcasmo como segunda língua, mas simplesmente, parecia haver algo errado ali. Talvez fosse o jeito com que Loki estava encolhido em cima do banco ou o modo como não queria olhá-la nos olhos.

Fosse o que fosse, deixou para que ele comentasse o que quer que tenha acontecido durante a reunião. Se isso não acontecesse, ela o abordaria depois.

Enquanto os outros pacientes não chegavam, Lisa sentou-se ao lado dele e pegou seus papéis para dar uma analisada sobre as últimas terapias. Entre esses papéis, estava a lista de diagnósticos, rabiscada por ela:

“Lex Luthor: Sociopatia, misantropia e esquizofrenia paranóide (controlada).

Loki: Complexo de inferioridade.

Coringa: Indefinido.

Kat Bennet: Sociopatia.” E a lista continuava.

Mas o que mais se destacava entre os vilões era o complexo de inferioridade. Todos os seus pacientes possuíam um certo nível dele e metade deles poderia ser considerado misantropo. Ou seja, tinham uma louca necessidade por atenção, mas ao mesmo tempo um ódio pela humanidade. Era certamente contraditório, mas dá pra se dizer que a falta de sucesso no primeiro alimentava o segundo.

Afinal, com todos os heróis sendo idolatrados, os vilões ficavam sempre como pano de fundo, ansiando por toda aquela atenção. Todos exceto por Lex.

Não que ele não ansiasse ser idolatrado. O que Lex achava era que simplesmente toda a humanidade era burra e incompetente e que se deixavam serem controlados por um alienígena em vez de confiarem em sua própria espécie.

“Mas se todos são burros e incompetentes, por que confiar em sua própria espécie?” Eu perguntava. “Porque se eles escolherem sua própria espécie, não serão mais burros.” Respondia ele.

Lisa não conseguia discordar. Apesar da pergunta ser contraditória a sua resposta era lógica.

***

Lex Luthor chegou à clínica às 19h em ponto. Podia ver através das portas duplas de vidro que já havia tumulto na recepção. Porém, reparou que não havia tantas pessoas como normalmente.

Entrou na sala da recepção e primeira coisa que ouviu foi Loki. Ele parecia vir de todos os lados.

Lex! Olá, Lex! Como andam as coisas? E a empresa? E o Superman? Estive lendo umas revistas esta tarde, é verdade que está namorando uma criminosa? – ele o puxou pela gravata com olhos acusadores e disse entre os dentes – Quem é ela?!— então mudou de pose – Nossa é tão bom te ver! – deu um abraço apertado nele.

Lex olhou confuso e um pouco desesperado para Lisa.

Lisa chegou perto dele por entre os bancos caídos no chão, parecia que um furacão tinha passado pelo lugar. Isso tinha acontecido porque Loki havia encenado uma das batalhas em qual lutara.

− O Coringa deu um pote enorme de café para ele dizendo que era chocolate em pó. Ele comeu. – Lisa deu de ombros. Às vezes, Loki podia ser tão inocente quanto Thor.

Oh, meu deus, pensou Lex, um pouco aflito. Loki não parava de falar com ele e o apertar e mostrar um ciúme sem sentido pela tal da criminosa da revista. Coringa e Kat passaram por eles rindo.

Lisa suspirou e os seguiu para a sala de reuniões. Estava pensando em como iria lidar com a euforia e tagarelice de Loki sendo que hoje só havia quatro pacientes.

Devido a uma grande batalha que havia ocorrido na cidade há apenas uma semana, muitos dos seus pacientes acabaram feridos ou viraram prisioneiros. Deixando sua clínica um tanto vazia e melancólica. Claro que ainda havia os pacientes de seus colegas que apareciam durante o dia, mas Lisa estava se sentindo particularmente sozinha.

Uma luz artificial forte emanava da Sala 23. A luz era forte o suficiente para se assemelhar à luz do dia, e isso porque depois do incêndio e das eventuais brigas, Lisa havia revestido e blindado praticamente todos os cantos da sala, não deixando espaço pra a luz de fora entrar. Era ainda um belo aposento, com papéis de parede que pareciam mesmo parede (e não metal), alguns armários, cortinas e até mesmo uma cafeteira.

Haviam onze cadeiras postas em círculo no meio da sala. Lisa olhou para elas tristemente e aprontou-se a retirá-las com a ajuda dos outros quatro, até que sobrassem somente cinco. Sentou-se numa delas, olhando novamente para as cadeiras vazias amontoadas num canto.

Lex percebeu sua tristeza, decidindo consolá-la.

− Não se preocupe, Lisa. – disse com voz suave, mas ao mesmo tempo profissional – Logo a sala estará cheia de novo.

− Não sei não, o estrago foi grande! – resmungou Loki, cruzando os braços e recebendo um olhar reprovador de Lex.

− É verdade... – disse Kat, lentamente, cruzando as pernas no seu jeito felino – Dizem que não sabem exatamente como a batalha começou... Uma discussão tornou-se uma briga, que se transformou em uma batalha. Parecia planejado. Foi um caos.— olhou com suspeita de Loki para Coringa.

Loki recebeu a indireta.

− Ei! Eu não fiz nada, eu juro! – levantou as mãos em defesa. – Eu estava em Asgard nesse dia treinando alguns feitiços num livro da biblioteca de Odin que deveria estar fechada, mas eu abri e o roubei e não havia ninguém no castelo, então... – ele começou a falar e gesticular freneticamente.

− Certo, Loki! A gente entendeu! – Kat interrompeu antes que ele contasse cada detalhe daquele dia. Talvez a ideia da cafeína não tenha sido tão engraçada, afinal de contas.

Todos olharam para Coringa. Menos Lisa, que anotava em seu caderninho.

− Ei, eu estava lá, mas não fui eu que comecei. – disse rindo. Depois ficou sério. – Além do mais, eu estava em outro lugar quando começou.

− Onde? – Loki quis saber.

− Não é da sua conta. – ele respondeu, ríspido, dando um sorrisinho malicioso quando Loki grunhiu para ele. Loki se preparava para xingá-lo por seu desrespeito quando Lisa interrompeu:

− Tudo bem, meninos. Deixemos esse assunto para depois. – tirou os olhos do caderninho e olhou cuidadosamente para cada um deles – Quem gostaria de começar?

Ninguém respondeu.

Lisa já tinha previsto que pela falta de pacientes, seria ainda mais difícil encontrar algum voluntário. Nos outros dias, Lisa poderia torturá-los com 30 segundos de silêncio que normalmente faziam com que alguém falasse, mas neste caso, nem ela aguentaria.

Lembrou-se então de como Loki estava estranho hoje à tarde e se aproveitou um pouco de sua condição frenética para fazê-lo falar.

− Loki. – chamou Lisa, atraindo sua atenção – Há algo que tenha acontecido recentemente que você gostaria de falar a respeito? Alguma novidade?

Loki a encarou por um longo momento.

− Ahn... Não. Está tudo ótimo. Perfeitamente ótimo. – respondeu, com a voz trêmula pela cafeína e mexendo distraidamente com a ponta da gravata.

Coringa sorriu com maldade.

−Ah, eu sei o que aconteceu. Ele me contou depois de ter devorado o pote de café. – ele riu. Loki o olhou ameaçadoramente – O papaizinho dele o deserdou...— revelou Coringa. Lisa levantou novamente a cabeça em sinal de alerta – Oh, mas espere um pouco – disse ele de um jeito dramático – ele nem mesmo é seu pai, não é verdade? Você foi abandonado.

Cale a boca, seu palhaço imundo! – gritou Loki.

Coringa começou a rir, rapidamente trazendo tensão à sala.

— Vem calar, menino de gelo! - disse entre risos e provocações.

Loki rosnou, levantando-se com um salto e avançando sobre Coringa. Uma adaga apareceu rapidamente em sua mão e ele encostou sua lâmina no pescoço do palhaço.

Lisa levantou-se abruptamente da cadeira – LOKI!

Com um movimento das mãos de Lisa, Loki voou de cima de Coringa de volta para sua cadeira; a adaga sumindo de sua mão como fumaça.

Depois, ela caminhou até estar de frente com Coringa. Seus olhos dourados se tornaram negros e possuíam uma expressão parecida com a de seu pai, Sylar. O silêncio tomou conta da sala.

Se havia algo que deixava Lisa irada, era ver alguém cutucando as feridas de seus pacientes. Mesmo que o ataque fosse de outro paciente.

Será que isso foi realmente necessário ‒ segurou Coringa pelo queixo –, Harrison? – perguntou entre dentes, antes que pudesse evitar. Sua voz era dócil e ameaçadora.

Coringa parou de rir no mesmo momento. Levantou-se devagar, os dentes rangendo de fúria.

Do que foi que você me-

− SENTA! – Lisa berrou, sobressaltando a todos, e uma força invisível o puxou violentamente de volta para a cadeira. Hoje ela não estava com paciência.

Um gesto com as mãos e uma mordaça se materializou na boca do palhaço.

Mais outro gesto e a cadeira se arrastou sozinha para um dos cantos da sala.

− Converso com você mais tarde. – disse, arrancando olhares indignados de Coringa.

Os outros três se entreolharam. Não apenas pelo que acabaram de presenciar com Coringa, mas porque, em momentos como esse, era difícil para eles não lembrarem-se com quem estavam lidando. Afinal... Lisa fora criada por serial killers.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim, foi divertido escrever >