Diálogos escrita por Bia Lobato


Capítulo 6
Capítulo 6 - Do vinho para a água


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoal! Eu demoro às vezes, mas eu volto. E, como eu disse, vou escrever essa história até o final! A narrativa continua naquele momento em que PJ está foragido após a morte de RJ e Lisbon está em seu novo emprego. Me digam o que estão achando! Beijos e divirtam-se!



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Vida nova. Trabalho novo. Tudo diferente. Quanta tranquilidade! Lisbon não acreditava que sua vida tinha se tornado aquele marasmo. Em outro momento, até teria desejado toda essa tranquilidade, mas não agora. Começava a sentir falta da vida agitada, das poucas horas de sono. Seu instinto de investigadora estava forçadamente adormecido e isso a incomodava. Gostava de sentir que fazia a diferença, que contribuía para a punição de criminosos, mas, em sua atual situação, apenas prendia autores de pequenos furtos e coisas parecidas. Ela se sentia frustrada. Por outro lado, também não podia negar a falta que sentia de Jane, e também de todas a confusões causadas por ele. Como era difícil estar distante dele depois de cerca de uma década juntos... se vendo praticamente todos os dias.

Saudade. Era o que ela sentia. Mas não sabia se devia ter esperanças de voltar a ver seu parceiro. Ele poderia não voltar, aliás, ele deveria não voltar, para seu próprio bem. Ele já havia se livrado da prisão algumas vezes, mas dessa vez, na mira do FBI, isso seria quase impossível. Era melhor que ele permanecesse foragido. Mas como ela sentia sua falta!

Jane não era o tipo de pessoa que se apegava, ela pensava. Ele jamais demonstrava afeto por alguém, a não ser que fosse para obter algo ou alguma informação de que necessitava. Não tinha amigos. Não falava da família. Enfim, no fundo, ela sabia que sua família era o time da CBI... que havia se acabado. Ela passava horas imaginando onde ele estaria, o que estaria fazendo, com quem estaria convivendo e que tipo de confusões estaria causando. Quando se percebia perdida nesses pensamentos, ela se recriminava e tentava esquecê-los. Poderia Patrick Jane ter sido apenas um componente de uma fase distante de sua vida? Ela sempre se perguntava isso e seu subconsciente respondia dizendo que eles precisavam se encontrar novamente.

Quando começaram a trabalhar juntos, ela não o suportava. Mas não demorou muito para suas sensações mudarem de água para vinho. Ela o amava, sabia disso, mas tentava se convencer de que se tratava de uma paixão por um colega de trabalho em virtude de sua escassa vida social. Pensava que, se tivesse a oportunidade de conhecer outras pessoas interessantes, rapidamente Jane sumiria de seus pensamentos. Mas os anos se passaram e isso não aconteceu. Ele lia pessoas e, certamente, sabia sobre os sentimentos dela. Muitas vezes lhe lançava olhares desafiadores e insinuações que a deixavam totalmente desconcertada. Ela chegava a pensar que ele, com todos os seus dotes sedutores, a havia manipulado, para que ela se apaixonasse e aceitasse todas as suas trapaças, métodos ilegais e, principalmente, o apoiasse na busca por Red John. Quando ela pensava nisso, sentia raiva e tentava esquecê-lo. Ela pensou nisso quando ele a abandonou à beira da estrada para capturar Red John sozinho e a seu modo. Por mais que tivesse sentido a sinceridade nas palavras dele quando disse que ela não sabia o quanto significava para ele, ainda pensava que ele a manipulava. Contudo, o telefonema dele após a morte de Red John, apenas para dizer que tudo havia sido resolvido e que ele estava bem a fazia pensar que ele realmente se importava com ela, e nutria algum sentimento, alguma afeição.

E, desde então, ela não deixou de pensar nisso. Se sentava em seu sofá com uma taça de vinho. Muitas vezes ligava a TV ou tentava ler um livro, mas sempre acabava deixando seus pensamentos sobre Jane ocuparem todo o seu tempo livre.

De repente, a campainha é tocada, fazendo-a despertar de um quase cochilo. Ela se levanta, coloca a taça sobre a mesa de centro e caminha até a porta. Quando a abre, encontra os olhos brilhantes e o sorriso travesso de que tanto sentia falta.

– Oi Teresa!

– Jane?

– Está tarde? Sinto muito, mas eu precisava te ver.

– O que você está fazendo aqui? Você é um foragido e eu demorei para convencer o FBI de que eu não tive nada a ver com sua fuga... E... Sou uma policial e minha obrigação seria te dar voz de prisão agora...

– Sério? Vamos pular a parte das obrigações, das aparências, ok? Eu também senti sua falta. Não vai me convidar para entrar?

Ela apenas abre passagem para que ele entre e, depois, fecha a porta atrás de si sem saber o que dizer. Jane observa a seu redor, vê a lareira acesa e a taça de vinho. Rapidamente analisa a nova casa de Lisbon, como faz em todos os ambientes aos quais chega. Vendo que ela não pretende interromper o silêncio, tenta continuar o assunto:

– Bela casa, muito aconchegante. Percebo que você quer se estabelecer por aqui...

– Eu já me estabeleci e não foi para fazer uma leitura fria da minha casa que você veio até aqui. O que te fez voltar, Jane? Sabe que dessa vez eu não tenho como te ajudar a se livrar da prisão. Você está na mira do FBI.

Ele a observa longamente e, vendo que ela não desistirá de obter uma resposta, num impulso a abraça.

– Eu voltei por sua causa, Teresa. - Ele diz sem soltá-la. - E eu não me importo com a prisão, desde que você vá sempre me visitar... E... desde que eu possa tomar meu chá diariamente, claro. - Ele diz tentando, de alguma forma, interromper o silêncio dela. Ela continua calada, desfrutando daquele abraço, que é bem mais aconchegante que o sofá onde estava sentada há pouco. E assim eles permanecem por mais alguns segundos. Ao se soltarem, ambos não sabem o que dizer. Jane começa a olhar à sua volta, como se buscasse na casa alguma informação sobre a nova vida de Lisbon, para que pudesse fazer algum comentário surpreendente e quebrar o silêncio. Mas ela não lhe dá tempo:

– Então, você pretende se entregar ao FBI?

– Se for essa a sua vontade... - Ele diz reticente e desafiador ao mesmo tempo.

– Ah, agora você resolveu fazer as minhas vontades?

– Bom, acho que sim...

– Dá para me explicar o que está havendo?

– Senti sua falta... É... Apenas isso...

– Eu também senti sua falta... - Ela deixa de lado o tom desconfiado - mas... seria melhor para você permanecer foragido.

– Teresa, eu cumpri minha meta e... e achava que o que viesse depois não importaria. Estar na prisão não é um problema para mim... E, se eu me entregar, nem acho que ficarei lá por muito tempo.

– Ah sim! Com certeza você convencerá o FBI de que é inocente. - Ela diz em tom debochado.

– Talvez. Isso não é problema.

– E qual é o problema? O que te levou a tocar minha campainha a uma hora dessas? O que... - Ele a interrompe:

– Saudade. - Segue-se um breve silêncio - Foi isso que me levou a tocar a sua campainha a uma hora dessas... Sabe, Teresa, eu acabei de chegar de uma viagem bem longa e a primeira coisa que fiz foi vir te procurar. Isso não significa nada?

– Talvez signifique que eu vou ter que abrigar um foragido e vou prejudicar a minha carreira mais uma vez.

– Talvez... Nós formamos uma boa equipe e... eu realmente me acostumei com isso. E.. Eu... Eu não estava bem no lugar onde eu estava. Eu não sou autossuficiente, Teresa, por mais que eu tenha me esforçado para demonstrar isso para todos...

Lisbon fica comovida. Sabe que está diante de um homem que já não sabe como demonstrar afeto. Ela sabe que ele está sendo sincero e conclui que ele parece tão confuso e tão reticente exatamente devido à falta de prática em demonstrar seus sentimentos.

– Ok, Jane. Mas nosso time acabou quando a CBI foi fechada. Eu também me sentia como se estivesse em família, mas acabou. Agora estamos por conta própria...

– Nossa parceria não acabou. - Ele diz se aproximando dela.

– Foi uma fase boa, Jane. Eu fingia não te suportar, mas gostava de ter que lidar com você, seu ego enorme e sua inteligência. Eu tinha problemas, mas os casos eram resolvidos. Mas agora, não tem como recuperarmos isso... Infelizmente.

– Bom, eu me sinto lisonjeado sabendo que você "gostava de ter que lidar comigo, o meu ego enorme e a minha inteligência", mas eu preferiria que você dissesse apenas que gostava da minha companhia... da minha presença. Soaria mais simples e mais sincero.

– Jane... Tudo bem. - Ela diz se afastando e se direcionando à cozinha, quando percebe que eles estão muito próximos - Você fica aqui essa noite e amanhã conversamos para saber para onde eu vou te mandar... Se te mando para fora do país ou se te envio para o FBI. - Ela afirma tentando ser engraçada, mas, ao perceber que ele a olha fixamente e diretamente nos olhos, desvia o olhar e começa a mexer nos armários da cozinha. - Eu vou fazer um chá para você e você pode dormir no meu confortável sofá, ok? Você vai gostar dele. - Ela diz enquanto coloca a água para ferver em uma chaleira. - Depois eu trago travesseiro e cobertor...

Enquanto ela fala, Jane se reaproxima, de modo a não permitir que ela se afaste novamente.

– Teresa... Eu sou um homem muito focado. Você sabe disso como ninguém. Você testemunhou minha busca incessante pelo psicopata que matou minha família... Durante mais de uma década eu o cacei. Não fiz outra coisa além disso... Praticamente não pensei em outra coisa além disso... Na verdade, eu até pensei, mas logo retomava o meu foco. Sempre. Gastei todo o meu tempo e toda a minha energia nisso. - Ele vai dizendo, cada vez com mais firmeza nas palavras e cada vez se tornando mais próximo de Lisbon, que fica paralisada - Eu, muitas vezes, abri mão de coisas que eu queria muito. - Ele leva uma das mãos ao queixo de Lisbon, forçando-a a levantar a cabeça, e a enfrentar seus olhos, cada vez mais penetrantes - Mas eu atingi meu objetivo. - Ele continua - E isso agora já passou. E, como você sabe, eu sempre achei que nada mais me importaria depois disso. Que eu apenas passaria o resto de minha vida desfrutando do doce sabor da vingança, fosse na prisão ou não.

– E... E... Não foi isso que aconteceu?

Ele faz um sinal com os dedos na boca, para que ela fique em silêncio e o escute.

– Como eu disse, Teresa, eu sou um homem focado. Desfrutei da minha vingança. Tentei me convencer de que estava tudo bem. Mas descobri que tenho um novo objetivo... Bem mais leve, que o outro, porém. Mas bem mais desafiador... assustador... para mim. Bom, e ele não surgiu agora, depois da minha fuga. Ele já existia, mas eu costumo me focar em uma coisa de cada vez. Infelizmente, ou felizmente, só agora parei para pensar em meu novo objetivo.

– É... Interessante... - Diz Lisbon tentando aparentar naturalidade, mas a grande proximidade entre os dois denuncia que a conversa se tornou íntima demais para dois ex-colegas de trabalho - Mas, você poderia me deixar passar por aqui e preparar um belo chá para servir ao meu convidado, afinal, eu sou muito educada com minhas visitas...

– Teresa... - Ela o interrompe:

– Vamos falar sobre esse novo objetivo tomando o chá... A... A água está fervendo... Você reconhece esse barulho? Água fervendo! - Ela diz tentando sorrir e se esforçando para sair da posição em que se encontra, entre ele e uma das paredes de sua cozinha.

– Teresa, eu não vou sair daqui sem fazer o que eu vim decidido a fazer, ok? Você sabe que eu não desisto do que quero... nunca...

– Jane, você está me prendendo...

– O chá pode esperar, Teresa. - Ele diz, já puxando-a para si, com uma das mãos em suas costas. Os olhares brilhantes se encontram novamente. Lisbon já não tem como fugir. E, na verdade, não quer fugir do que está prestes a acontecer.

Mas, no momento em que seus lábios se encontram, Lisbon acorda num sobressalto, se levanta do sofá e derrama, em sua blusa branca, boa parte do vinho tinto da taça que ainda está em suas mãos.

– Oh, droga! - Ela diz a si mesma, não pelo vinho derramado, mas sim porque percebe que a situação que estava vivendo há poucos segundos é apenas mais um sonho. Ela olha para a porta, com a esperança de que a campainha toque e a conversa com Jane se repita como no sonho. Mas isso não acontece. Insatisfeita, ela decide trocar sua roupa e tentar dominar seus pensamentos. Mas, em seguida, já está pensando novamente em Jane. Onde ele está? Como está sendo sua vida?


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Notas finais do capítulo

E então, minha gente? O que acharam? Quero muito ler opiniões...



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