Diálogos escrita por Bia Lobato


Capítulo 7
Capítulo 7 - O retorno à realidade


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! :) Esse capítulo se passa no momento em que Jane decide deixar a ilha e voltar aos Estados Unidos, com o único objetivo de rever Lisbon. Isso acontece após uma conversa com seu subconsciente. Enfim, espero que vocês gostem e, por favor, comentem! Podem criticar também, se acharem necessário, ok? Beijos, beijos, beijos!



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Dois anos. Já tinha se passado dois anos desde a concretização definitiva da vingança de Patrick Jane. Sua vida continuava como que suspensa, como um capítulo à parte de uma história confusa sem partes definidas ou planejadas. Levava uma vida mais que tranquila naquela ilha. Gostava de olhar o mar e passava horas fazendo isso. Vivia em uma casa simples, onde podia descansar e tomar seu indispensável chá diariamente. De modo geral, conseguia se dar bem com os habitantes locais. Seu carisma e sua simpatia eram indiscutíveis, apesar de não dominar tão bem o idioma espanhol. O plano era permanecer ali por um tempo, para ter tranquilidade e pensar em qual seria o próximo passo de sua vida. Mas seu esgotamento mental era tamanho que acabava vendo os dias passarem sem tomar nenhuma grande decisão. Sua vida estava num daqueles momentos de paralisação ou reflexão, sem previsão para tomar um rumo definitivo.

Não havia uma rotina ali, não havia obrigações. Ele simplesmente deixava as coisas acontecerem e os dias passarem. Contudo, uma coisa havia se tornado constante: os pensamentos e sonhos cada vez mais reveladores no que diz respeito à sua relação com Teresa Lisbon. Assim que eles começaram a se tornar uma rotina, havia alguns meses, ele não havia conseguido se conter e começou a enviar cartas a ela. Não se atreveria a descrever por escrito o conteúdo de seus sonhos, nem os diálogos que tinha com sua fiel parceira em pensamento. O sábio consultor que, com uma curta observação, podia revelar os pensamentos e sentimentos da maioria das pessoas, estava cada vez mais surpreso com seus próprios sentimentos. Não que ele já não nutrisse uma afeição e um interesse enormes por Lisbon. Desde que a conheceu, ele soube que ela teria um importante papel em sua vida. A admiração pela liderança, pela honestidade, pela retidão da agente mais "brava" da Califórnia era evidente. Mas tinha algo mais: ela era simplesmente uma mulher incrível. Ele sempre se sentiu atraído, tinha que admitir isso, e o pior - ele pensava - era saber que era correspondido. Muitas vezes pensou que com ela, e somente com ela, ele poderia seguir os numerosos conselhos das pessoas ao seu redor, que sempre diziam que ele deveria retomar sua vida e desistir de sua vingança. Muitas vezes, durante o tempo em que trabalhou na CBI, se pegava pensando nessa possibilidade. Todavia, só se dava este prazer em pensamentos. Acreditava que os pensamentos podiam ser livres e que, em pensamento, se podia cometer loucuras, pois os pensamentos não eram nada se não fossem transformados em ações ou, pelo menos, em palavras. E isso não aconteceria. Pelo menos ele nunca se imaginava trazendo seus pensamentos em relação a Lisbon para a vida real. Faria qualquer coisa para garantir a integridade e a felicidade dela, mas, mesmo após a morte de seu grande inimigo e à sensação de missão cumprida, ele não se julgava merecedor de uma nova vida ao lado de quem quer que fosse. E eram esses os pensamentos que lhe vinham cada vez mais frequentemente à cabeça enquanto estava na ilha: tinha tido sua chance de ser um bom pai de família e a desperdiçara. Tinha passado por um grande trauma e a ideia de se envolver verdadeiramente com uma mulher novamente o assustava. Sempre temeria pela vida dela. Ficaria paranoico com isso. Mas era inevitável desejar a presença de Lisbon, a quem ele, em seus sonhos, já não chamava pelo sobrenome. Começou a pensar na possibilidade de voltar aos Estados Unidos, simplesmente para revê-la. Mas sabia que as coisas não eram tão simples: ele dificilmente voltaria a ser seu consultor. Sabia que ela agora não mais investigava crimes e estava em um trabalho no qual as habilidades dele não seriam muito úteis. Além disso, estava sendo procurado pelo FBI. Chegou à conclusão de que era melhor deixar os encontros com Teresa acontecerem apenas em seus pensamentos, afinal, os pensamentos não têm efeito nenhum se não forem transformados em ações ou palavras.

– Oi Patrick...

Ele abriu os olhos e se surpreendeu ao ver uma atrevida Teresa Lisbon se debruçando sobre ele em sua cama.

– Teresa... - Ele sorriu - Nossa! Como você está bonita... Escandalosamente linda! - Ele disse ao constatar que ela usava uma camisola preta cheia de transparências.

– Se Maomé não vai à montanha... - Ela disse em um tom crítico.

– Já sei, estou sonhando de novo. A poderosa agente Lisbon que eu conheço não se vestiria assim, não me chamaria assim e não estaria aqui. Ah, e certamente seu rosto estaria bem vermelho diante de um elogio meu.

– Bom, dizem que os sonhos são a fala do subconsciente.

– É... eles são sim. - Ele sussurrou.

– Então? O que eu faço aqui?

– Talvez eu queira a sua presença... Talvez a única forma de não me sentir tão sozinho por aqui seja invocar subconscientemente uma boa companhia...

– Ou talvez esse seja um sonho aleatório com situações absurdamente irreais e impossíveis.

– Talvez, mas eu prefiro pensar que eu sou responsável por isso.

– Tão controlador que quer dominar até os próprios sonhos.

– Bom, dado o contexto da situação, não acho que você esteja aqui para analisar meu comportamento psicológico.

– Bom, dado o contexto da situação, eu diria que estou aqui porque quero você - ela foi direta.

– Uau! - Ele disse surpreso - E eu diria que eu adoraria se isso fosse mesmo verdade.

– Qual é? - Ela se levantou, sentando-se na cama - Você sempre soube dos meus sentimentos, não se faça de desentendido!

– Bom... eu sei que sou complicado demais... Achei que você não levaria isso a diante.

– Como eu disse: "Se a montanha não vai a Maomé..."

– É assim?

– Somente em sonho.

– Se estivéssemos frente a frente de verdade agora, você não seria tão direta a respeito de seus sentimentos?

– É claro que não!

– Hum.. E por qual razão?

– Seu ego já é grande o bastante, não acha? E a verdadeira Teresa Lisbon é uma mulher bem tradicionalista.

Ele riu.

– Ok, mulher tradicionalista. Se você não é a verdadeira Teresa... E se você é parte do meus subconsciente... Na verdade, você representa apenas o que eu realmente quero. E se são os meus desejos reprimidos que estão em questão aqui, acho que podemos dar um jeito nisso. - Ele disse em tom sedutor.

– Eu diria que, se eu sou o seu subconsciente e se nós estamos em um sonho seu, quem manda aqui sou eu!

– Oh, eu adoro quando você é autoritária... - Ele disse mais sedutor ainda.

– Eu tenho que ser, pois se depender de você, este seu belo sonho acaba e nós ainda estaremos travando um diálogo sobre consciente e inconsciente.

– Ah, é? E o que você quer que eu faça?

– Eu quero que você diga em alto e bom som que você me ama. Vamos, Patrick Jane, eu quero que você diga que me ama!

Num sobressalto, Jane se levantou de sua cama e percebeu que o sonho havia acabado e que estava novamente sozinho. Se entristeceu por um instante, porque realmente queria levar aquele diálogo com seu "subconsciente" até o fim. "Da próxima vez, Teresa, a conversa será bem mais curta. Você vai ver", ele pensou, antes de se sentar para escrever mais uma carta para Lisbon. Ele sabia que haveria uma próxima vez, pois seus sonhos com a ex-parceira eram cada vez mais constantes. Chegara a sonhar que eles estavam de volta à Califórnia investigando homicídios juntos, mas também que finalmente tinham elevado seu relacionamento de um simples contato entre colegas de trabalho a uma madura e sincera relação entre um homem e uma mulher. Aliás, isso estava cada vez mais presente em seu sonhos e pensamentos. Ele chegava a pensar que a solidão da ilha o fazia exagerar em seus desejos relacionados à Lisbon e que simplesmente revê-la ou ter notícias dela já seria o suficiente. Mas não era isso que seu subconsciente insistia em lhe dizer.

"Eu quero que você diga que me ama!". Essas palavras e a voz de Lisbon não saíam de sua cabeça e sua reação variava: ia de um sorriso apaixonado à revolta. "Que droga de subconsciente é essa? Quem controla a minha vida sou eu! Não me deixo levar por emoções primárias", ele pensava, tentando disfarçar para si mesmo, com uma máscara de intelecto, seu pavor diante da possibilidade de refazer sua vida ao lado da mulher que amava.

As cartas para Lisbon eram inevitáveis. Ele precisava escrevê-las. Precisa ter a certeza de que Lisbon não o considerava um insensível que apenas usara a boa fé e a amizade dela para facilitar sua busca por Red John. Ele precisava demonstrar que se importava com ela... Sempre se importaria. Na verdade, ele precisava convencer-se de que mantinha contato com Lisbon. A ideia de abandoná-la em um passado distante de sua vida o perturbava. Não podia quebrar seu elo com ela. Jamais poderia se desvincular. E as cartas lhe proporcionavam a sensação de segurança em relação a isso.

"Querida Lisbon, espero que você esteja bem. Tudo está bem por aqui. Eu tenho minhas rotinas. O tempo finalmente mudou. Está um pouco mais fresco, longe de estar frio. Mas o oceano ainda está morno. E com as correntes mornas no oceano vem uma abundância de vida marinha. Ontem mesmo, vi um grupo de golfinhos brincando tão perto da costa que eu quase podia tocá-los. É o tipo de coisa que acho que você gostaria."

Este foi o início de mais uma de suas cartas. Costumava escrever sobre sua rotina, a beleza do lugar em que estava e outros assuntos triviais, apenas porque se sentia muito só e não tinha com quem "jogar conversa fora" em seu dia a dia. Por outro lado, também falava, nas cartas para Lisbon, sobre assuntos que julgava importantes para os dois. Coisas que tinha certeza de que precisava dizer a ela e que não sabia se teria uma oportunidade de dizer pessoalmente. Isso ocorreu, por exemplo, quando pediu desculpas por tê-la enganado e a deixado sozinha à beira da estrada sem carro e sem celular no dia da reunião com os suspeitos de serem Red John em Malibu. As cartas o ajudavam a sentir que tinha uma companhia. Ficava imaginando como Lisbon responderia a suas correspondências e, assim, muitos diálogos imaginários eram travados.

Quando conheceu Kim Fisher, estava tão desarmado emocionalmente que, em um primeiro momento, não se deu conta de que ela era uma policial. Seus diálogos com a agente do FBI foram muito espontâneos e ele realmente se interessou pelos dilemas dela quando ela disse que estava na ilha para "pensar nas coisas":

– Sobre o que você está pensando?

– Ofereceram-me uma promoção no serviço, mas não sei se quero.

– Por quê?

– É mais trabalho. Mais dor de cabeça. Mais dinheiro, mas será que vale à pena?

– Parece que você está fazendo as perguntas certas.

– Deve ser estranho viver aqui. É tão bonito. Eu acho que se eu estivesse aqui todo o tempo, eu me sentiria vivendo em algum tipo de sonho, sabe?

– Às vezes é assim mesmo. Não há nada de errado com o mundo dos sonhos, certo? - Ele disse lembrando-se automaticamente dos constantes sonhos com Lisbon.

– Você está aqui para ficar?

– Talvez.

– Homem misterioso.

– Sério? Eu não quis soar misterioso. Minha esposa morreu. Algumas coisas aconteceram, eu fiz algumas escolhas e... eu ainda não sei como falar sobre isso. Acho que é por isso que continuo usando a aliança. Apenas... não estou pronto.

– Acho que entendo.

– De qualquer maneira, é por isso que estou aqui.

– Não é um lugar ruim para estar.

– Certo, é lindo!

– É um paraíso.

– Exatamente.

E ele pensou que poderia ser uma boa ideia passar algum tempo com Kim, já que achava que enlouqueceria vivendo sozinho em um paraíso com seu subconsciente, materializado na figura de Lisbon, presente em tantos sonhos que o faziam se sentir totalmente fora de um mundo palpável. Na noite em que foi jantar com Kim, chegou a retirar sua aliança, como uma simbologia ou compromisso de que iria seguir em frente. Na conversa com sua nova amiga, concluiu que realmente precisava de companhia. Realmente, ser compreendido era um prazer subestimado.

O tempo que passou com Kim o fez sentir ainda mias falta de Lisbon e aumentou seu desejo de voltar a seu país. Não conseguia se esquecer da proposta de Abbott, que o convidara para voltar a ser um consultor, dessa vez trabalhando para o FBI. Também não esquecia que o severo agente afirmara que o tinha encontrado porque ele mandou "cartas para a namorada". Então entendeu duas coisas: a primeira era que seus sentimentos por Lisbon estavam ficando visíveis, perceptíveis, temia não poder mais disfarçar. A segunda se referia ao seu descuido com o objetivo de não ser encontrado, pois sabia que, para evitar que o FBI chegasse até ele, não poderia manter contato com pessoas do passado e mesmo assim não pensava duas vezes antes de escrever para Lisbon. Entendeu que estava bastante desarmado psicologicamente, se tornara bem menos estrategista e estava se deixando levar por seus desejos. Por outro lado, talvez seu subconsciente quisesse que ele fosse encontrado e retornasse aos Estados Unidos, pois, mesmo que ficasse na prisão, tinha certeza de que reveria Lisbon.

Enfim, admitiu que queria voltar. Mas percebeu que, diante do irredutível Abbott, deveria tomar alguns cuidados. Então redigiu seus termos. Sabia da possibilidade de o FBI não acatá-los ou, ainda, do agente em questão dizer que concordava com tudo, mas depois, em solo norte-americano, voltar atrás. Mas isso tudo não importava. Sua autoconfiança havia ressurgido e ele poderia usar de seus muitos métodos para conseguir tudo o que queria do FBI. Só precisava de tempo.

Durante a viagem de volta, viu-se ansioso. Não via a hora de rever Lisbon. Não sabia o que diria, mas só precisava vê-la e, se possível, abraçá-la por um longo tempo. Ficou feliz em rever Cho, apesar de ter estranhado seu comportamento. Mais tarde, chegaria à conclusão de que estava muito carente, afinal, aquele era o Cho de sempre, sério e monossilábico. Mas isso era só um detalhe naquele momento, pois, enfim, encontrou quem tanto desejava:

– Oi - ele disse um pouco inseguro.

– Olá - ela disse sorrindo - Bela barba.

– Obrigado.

– Obrigada pelas cartas.

– Eu senti sua falta - Ele disse ao abraçá-la.

– Eu senti sua falta também.

Ao se soltarem, eles se sentaram e Lisbon começou a questioná-lo:

– O que está acontecendo? Por que estou aqui?

– Você vai ver. Vai ser ótimo.

– O que?

– Confie em mim - ele disse diante de uma Lisbon desconfiada.

Quando Abbott chegou e começou a falar, Jane ainda não conseguia prestar atenção, pois ainda se encontrava extasiado por rever Lisbon. Só se deu conta do que estava acontecendo ao rever Kim e perceber como estava desarmado emocionalmente na ilha, pois não desconfiou de que ela fosse uma agente do FBI. Percebeu que, como pensava, Abbott não estava disposto a aceitar seus termos. Então, declarou que não iria colaborar e que preferia ficar preso. Disse, tranquilo, que não tinha importância desde que pudesse fazer seu chá. Ao ser questionado novamente por Lisbon, apenas afirmou que estava tudo sob controle. Em seu íntimo, sabia que realmente estava tudo ótimo, pois, acontecesse o que quer que fosse, continuaria vendo sua eterna parceira com frequência.


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Notas finais do capítulo

E então? Me digam o que acharam, please!



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