Sonhando Acordada escrita por Eduarda Louise


Capítulo 9
Capítulo 9 - Uma bagunça




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Sentei-me, assustada. Onde eu estava? No meu quarto? Mas eu não me lembrava de ter entrado em casa, ou trocado de roupa, sequer de ter ido dormir. Mas eu não sonhei com o Christian, sonhei? 

Eu não conseguia pensar direito, tudo estava uma bagunça. E por falar em bagunça, meu quarto era algo para se comentar. Tudo estava revirado. Eu sempre fui uma pessoa chata, daquelas que não para de arrumar o lençol na cama até ficar sem nenhuma dobra. Eu nunca teria feito aquilo no meu quarto.

O espelho de chão, que eu sempre deixava reto e no canto do quarto estava agora virado e jogado no chão, na base da cama. Alguns cacos estavam espalhados por perto. A penteadeira, antes completamente organizada, com os perfumes e maquiagens completamente em ordem, estavam agora completamente bagunçados, com um perfume quebrado e muitas maquiagens abertas e vazias. O resto do quarto estava coberto de roupas, por todo o chão. Algumas estavam rasgadas e manchadas. Quem poderia ter feito aquilo?

Levantei lenta e cautelosamente, e comecei a andar pelo meio da bagunça, tentando raciocinar. Parei em frente ao meu guarda roupa, onde uma muda de roupas estava separada. Na verdade eram as únicas peças que não foram parar no chão. Não precisei olhar muito para reconhecer. Eram as roupas que eu usei na nossa última viagem em família. Com "nossa", eu quero dizer minha, do meu pai e da minha mãe.

Mas o que aquelas roupas estavam fazendo ali? Eu era muito mais nova quando as usei pela última vez, não era? Minha mãe havia morrido há 5 anos, não? Mas como ela morreu? Ah, eu nunca soube, não é? Mas eu estava lá, não estava?

Por que, de repente, haviam tantas perguntas que eu nunca havia feito antes em minha mente? Fui andando até o espelho que jazia no chão enquanto pensava nisso. Agachei-me para levantá-lo e notei minhas pernas. Estavam cheias de pequenos cortes. Mas onde eu havia me machucado daquele jeito? 

Quando levantei o espelho, olhei para o pedaço que não havia se quebrado e encarei meu reflexo. Meu cabelo, antes comprido, estava cortado perto da nuca, e um pequeno pedaço do lado direito havia sido raspado. Nesse pedaço, havia uma cicatriz do que parecia ser um corte bem profundo. 

Passei a mão ali, para ver se era mesmo verdade, se eu não estava sonhando. Fui descendo os dedos até a minha sobrancelha, que também continha uma cicatriz que eu não recordava ter.

Levantei-me abruptamente e coloquei as roupas que eu havia achado no guarda-roupa. Pareciam ter sido ajustadas para me servir. Não, com certeza haviam sido ajustadas. A última vez em que as usei eu era só uma criança, certo? Minha mãe ainda estava viva quando eu as usei pela última vez, certo? Nós estávamos viajando de carro, eu me lembro. 

Lembro-me de estar com a cara na janela, olhando as nuvens escuras, enquanto falava algo com minha mãe, que estava folheando uma revista enquanto meu pai dirigia e cantava junto com o rádio. Lembro-me também do caminhão que veio em seguida. Espera, caminhão? Carro?

— Fique calma, está tudo bem. Eu estou aqui! — Ouvi a voz de Christian quando abri a porta do quarto. Parei e olhei envolta. Não havia ninguém no meu quarto além de mim. Aliás, eu parecia ser a única pessoa na casa. O que estava acontecendo? 

— Pai? — Chamei, sem resposta. — Mãe? — Não sei o porquê de ter chamado por ela, mas apenas sentia que devia. De repente, senti uma vontade de chorar muito grande. Sentia-me sozinha. Mas por quê?

A casa estava toda escura, com tons de cinza. As janelas estavam fechadas e as portas dos cômodos estavam todas escancaradas. Eu conseguia ouvir o barulho da chuva lá fora, batendo contra as persianas. Mas eu sabia que ela não poderia entrar, eu sentia que eu estava protegida.

Mesmo assim, desci as escadas e fui até a porta da frente. Quando estava prestes a sair, ouvi um barulho na garagem. Fui correndo até lá. Estava tudo muito escuro, mas não como se estivesse faltando luz. Era como se meus olhos estivessem turvos, como se eu estivesse acordando de um desmaio. Fiquei parada, esperando aquela sensação passar.

Foi quando eu vi o nosso carro antigo, o que tínhamos quando minha mãe era viva ainda. Era um Nissan March vermelho. Estava completamente destruído. O lado do passageiro estava destroçado, como se tivesse sido atingido por um... um caminhão? 

Estava apavorada, minha cabeça doía e minha mente zunia com perguntas por todos os lados. Senti que precisava sair dali, que precisava correr. 

— Está tudo bem, eu estou aqui! — A voz do Christian novamente invadia meus ouvidos. Tampei-os e me ajoelhei, tentando pensar, tentando me acalmar inutilmente. 

— NÃO ESTÁ TUDO BEM! NÃO ESTÁ! — Gritei com todas as minhas forças, para logo em seguida sentir lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Finalmente levantei, abri o portão da garagem e saí correndo pela chuva incessante. Eu precisava correr, precisava sair dali. Mas ir para onde? Eu estava sozinha, não estava? Estava dormindo e não conseguia acordar.


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