Sonhando Acordada escrita por Eduarda Louise


Capítulo 10
Capítulo 10 - Lembranças




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Corri sem rumo pela chuva, sem parar para respirar ou pensar. Corri pela minha rua, pelas ruas do bairro vizinho, pela rua onde fica a casa do Christian, pela rua onde eu vi meu pai com sua amante, Ellen, quando eu era criança, pela rua onde fica a sorveteria favorita de Jasmine, lugar onde Nancon a pediu em namoro também.

Mas nada fazia sentido. Eu lembrava de ter ido tomar sorvete com os dois a pouco tempo, na verdade, parecia ter sido algumas horas atrás. E meu pai nunca teve uma amante, ele havia casado com essa mulher um pouco depois da morte de minha mãe, eu tenho certeza. Não tenho? 

E Christian era só algo que eu criei, porque me sentia sozinha, porque tudo era uma bagunça e ele poderia organizar tudo. Ele não existia naquele mundo, só nos meus sonhos!

Tudo estava uma bagunça agora, então onde ele estava? Ele deveria estar aqui, ele não deveria ter me deixado na rua aquele dia, eu deveria ter ido falar com ele antes de irmos viajar, então teríamos perdido tempo e o caminhão não estaria lá quando passássemos por aquela estrada.

Não, era tudo culpa do meu pai. Se ele não tivesse traído minha mãe, se ele não tivesse engravidado aquela maldita mulher, nossa família nunca teria se quebrado, e mamãe nunca teria inventado aquela viagem em família, para tentar fingir que estava tudo bem. Por que você fez isso, papai? Por que você fez isso, mamãe? Por que eu fiz isso, Chris? 

Mas espera, no que eu estou pensando? Isso não faz sentido! NÃO FAZ SENTIDO! Parei de correr, tampei os ouvidos novamente e comecei a gritar. Gritei com todas as forças que eu tinha, tentando vencer a chuva, que parecia não ter fim. 

Caí de joelhos e olhei ao redor. Eu estava cansada, minha cabeça doía, nada fazia sentido e eu estava sozinha. Observei as árvores que ficavam do lado da estrada onde eu estava, com seus galhos dançando no ritmo da chuva, suas folhas agarrando-se com força aos galhos, tentando não perder para a força do vento.

De repente a chuva ficou estranha. Parecia que as gotas estavam voltando para o céu, como se eu estivesse voltando no tempo. As nuvens voltaram para onde vieram, o céu se abriu e o sol nasceu no lado em que costuma se pôr, e sumiu no lado em que costuma nascer. Várias e várias vezes. Até que tudo ficou nublado novamente, o sol parou de refazer seu ciclo invertidamente e escondeu-se atrás das nuvens.

O lugar também mudou, eu estava na frente da casa do Christian. Mas ele só existe nos meus sonhos, como ele poderia estar ali? Literalmente, ele estava ali. Estava subindo a rua, prestes a passar pelo pequeno portão que levava ao quintal de sua casa.

Estava prestes a chamá-lo quando fui interrompida pela minha própria voz, que chamava pelo seu nome. Ele parou e virou de costas, para a rua que acabara de subir. E lá estava eu. Digo, não eu, neste momento, mas uma outra eu, como um clone. Estava com as mesmas roupas, mas com os cabelos compridos e sem nenhum machucado pelo rosto ou corpo.

— Por que está bravo? Não foi minha culpa, você quem estava escondendo aquilo de mim! — Minha outra eu dizia. 

— Mas você nem sabia o que estava acontecendo, ou por qual motivo eu voltei a falar com ela! — Ele gritou de volta. Nunca havia visto Christian irritado, ou qualquer emoção perto disso. Nunca havia notado o fato de ele nunca se exaltar comigo também. — Ela perdeu os pais, Lory, ela não está tentando me seduzir! Ela está sozinha e precisa de alguém do lado dela agora! 

— Ah, e esse alguém precisa ser você, né! Pois vocês entendem-se muito bem! — Falei, sarcasticamente. Christian levou as mãos ao rosto e deu um suspiro profundo. Olhou para a minha outra eu e disse:

— Você não tinha o direito de ficar bisbilhotando as conversas dos outros, Lory. Você não pode dizer que entende o que Lara está sentindo também, porque você tem uma família completa e sem problemas. Tem amigos que estão sempre do seu lado e um namorado que te ama, mesmo você fazendo esse tipo de coisa. Só porque ela é minha ex, não quer dizer que ainda tenhamos algo entre nós.

Eu sentia a raiva que minha outra eu sentia. Como ele podia falar tais coisas? Ele sabe que eu não tenho uma família sem problemas. Quer dizer que eu preciso perder meus pais para poder falar que ele não pode se aproximar da ex-namorada? 

A outra Lory virou as costas, vermelha de raiva e com lágrimas nos olhos, e saiu correndo. Christian tentou segurá-la, mas não conseguiu. Novamente ele colocou as mãos no rosto e deu um grito, muito irritado. Virou-se para sua casa e entrou. 

De repente, tudo mudou de novo. Eu estava de volta para a estrada, com as nuvens que ameaçavam cair em forma de gotas a qualquer momento. Foi quando aconteceu. Vi o carro de meus pais se aproximando, com minha mãe lendo sua revista e meu pai dirigindo calmamente. Olhei para o outro lado e vi o caminhão desgovernado vindo no sentido oposto. 

Tentei gritar. Gritei com todas as minhas forças. Gritei para o meu pai parar o carro, para minha mãe puxar a direção para o sentido oposto, para eu mesma avisá-los. Mas eles nunca iriam me ouvir, pois aquilo já havia acontecido. O caminhão já tinha nos pegado, e meus pais já haviam morrido. Aquilo tudo era só uma lembrança. 


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