P.O.V. Mellany

Eu não queria ter demonstrado tanto meu desconforto e ter saído quase correndo, mas não pude evitar. Eu sabia que poderia os encontrar aqui, sabia que poderia encontrar ele aqui, mais não que seria tão rápido, nem que estaria quase virando amiga dele. Essa sempre foi meu ponto fraco, meu passado. Passei por muitas coisas na minha vida, muitas mesmo, e todas eu enfrentei com a cabeça erguida, nunca tive medo. Enfrentei monstros, matei muitos monstros. Aprendi a lutar com cinco anos, e com seis matei meu primeiro monstro. Fui a muitas missões diferentes, passei por muitos sufocos, lutei contra o tempo. Minha vida sempre foi dura por eu ser uma bruxa semideusa. Com quatro anos fiz um juramento para mim mesma que tentaria excluir a parte mágica que tinha dentro de mim, e olha a onde estou! Só de lembrar daquela mulher que me deu a luz, sinto o ódio crescendo em mim, sinto meu sangue fervendo. Gostaria de poder esquecer o meu passado, esquecer o tipo de sangue que corre em minhas veias junto com o sangue dos deuses. Para, eu não posso pensar nisso. Agora eu sou uma Mayler, nada mais. Eu tinha repetido essa frase para mim mil vezes, mais não consegui me convencer disso, simplesmente minha mente era teimosa demais.

Há um mês, quando Quíron falou a minha nova missão e o que eu teria que fazer, eu dei risada. Eu achava, ou pelo menos tinha esperança, de Quíron estar brincando. Eu não consegui acreditar que ele estava me mandando para o último lugar que eu gostaria de ir, e veja que foi ele que me falou o que aconteceu no meu passado para eu ter que ser criada desde meus primeiros dias de vida no Acampamento Meio-Sangue. Tinha sido ele que me criou e viu o ódio que eu acumulava a cada dia sobre aquelas pessoas, e agora ele estava me pedindo para ir para um lugar que eu iria me lembrar de meu passado a todo segundo. Deu muito trabalho para me convencer a aceitar a missão, afinal eu era a única que poderia fazê-la. Logan, meu meio irmão que eu mais gosto, ficou horas conversando comigo. Até mesmo a minha pequena Jhessyca teve que falar comigo. Depois de quatro dias eu resolvi aceitar a missão, afinal o acampamento precisava de mim e eu tinha me convencido que seria legal aprender a fazer magia. Eu tinha feito um favor para Hecate há dois anos, então eu resolvi cobrar a dívida. Como eu iria para o sexto ano sem saber nem o básico de magia, eu pedi para ela me dar o conhecimento que preciso, e acho que ela gosta de mim porque me deu até mais do que eu diria que era necessário. Até que esta parte eu gostei porque eu consegui me transformar em uma animaga, acho que é assim que os bruxos chamam as pessoas que podem virar animais. Hecate também me falou do mundo bruxo e do Ministério da Magia (que inclusive deveriam saber que sou uma animaga, mais pra que? Prefiro ser uma animaga ilegal, é mais divertido) e também me deu uma varinha. Minha forma animaga é uma loba branquíssima de olhos azuis penetrantes, tenho que admitir que adorei. Mais eu estou fugindo dos meus pensamentos, voltando. Eu aceitei a missão e Quíron deixou a coruja com a carta de Hogwarts entrar na barreira do acampamento, que deveria ter chegado há seis anos atrás. Quando respondi que estaria indo para Hogwarts e entreguei para a coruja, Dumbledore o diretor (acho que esse é o nome dele, estranho não acham?) mandou outra carta perguntando o porquê de todos os convites para ir para a escola de magia voltavam assim que ele me mandava. É claro que eu me fiz de desentendida e falei que não sabia o motivo, que a carta só tinha chagado agora.

Eu acho que ele não acreditou muito não, mais mesmo assim me deixou entrar para o colégio no sexto ano. Eu acabei dando a desculpa que aprendia magia em casa com um bruxo que e inventei o nome. Mas você deve estar se perguntando, o que era minha missão?

Na verdade ela seria bem simples se não fosse pelo meu passado. Eu tenho que vir para Hogwarts e passar algum tempo aqui, até eu achar os bruxos certos para poderem renovar os feitiços de proteção do acampamento e também não revelar nossa existência para o resto do mundo. Mas me diz uma coisa. Como que eu vou saber quem são essas pessoas?

Eu fiquei falando isso para Quíron muitas vezes, mais ele fala alguma coisa para me ajudar? Não.

Bem e agora eu estou aqui no banheiro feminino tendo uma briga com a minha consciência para decidir se Sirius pode ou não pode ser ele. Eu tento me convencer que pode ser uma coincidência, mais a minha bendita consciência diz que com certeza é ele. O que eu faço agora? Será que eu consigo voltar pra cabine e tentar esconder que Sirius pode ser a pessoa que eu sempre tive receio de conhecer?

Acho que eu não tenho outra escolha a não ser voltar para lá e tentar descobrir se Sirius é mesmo a pessoa que acho que é, e se ele é igual ou não aquela mulher.

Lavo meu rosto com cuidado para não borrar o lápis, o rímel e o delineador preto. Eu não sou muito de maquiagem como as filhas de Afrodite, mas adoro o meu lápis preto, acho que é quase uma marca minha para as pessoas que me conhecem.

Saio do banheiro e com um pouco de esforço consigo colocar aquele sorriso que estava na minha face a alguns minutos. Paro em frente a porta e vejo que as duas meninas, Lily e Marlene, estão conversando animadamente com os meninos. Dou um suspiro e entro na cabine.

- Hey, pessoal – eu falo e me sento no banco do lado do de Remo.

Eu vejo que eles param de falar e ficam olhando pra mim. Sei que eles acharam estranho eu ter saído daquele jeito da cabine depois de perguntar se Sirius era um Black, mais resolvi fingir que nada demais tinha acontecido.

- Merlin gente, tem alguma coisa no meu rosto pra vocês estarem me olhando assim? – eu pergunto. Hecate tinha me ensinado a falar essa expressão do ‘Merlin’ e vamos dizer que eu achei interessante.

Remo é o primeiro que fala.

- Mel, porque você saiu daquele jeito da cabine? – ele pergunta.

Eu rapidamente penso em uma desculpa para dar, eu só ótima em fazer isso.

- Como eu disse, eu não estava muito bem. Não gosto muito de andar de trem, sabe? Acho que isso foi porque uma vez quando eu tinha uns três anos uma menina idiota bateu na minha cabeça com um trem de brinquedo. Claro que a menina saiu com metade do cabelo cortado, mais o galo ficou. – eu falo fazendo todo mundo dar risada. Vamos dizer que eu tenho uma mente muito fértil para inventar histórias para desculpas.

Com a minha explicação ninguém mais perguntou nada, mais acho que não os convenci totalmente. Ficamos conversando, dando risada, eu e as meninas revirando os olhos para as piadas idiotas dos garotos, e por ai foi até que eu avistei o enorme castelo na escuridão da noite. E tenho que admitir, eu nunca tinha visto uma coisa como aquela. E olha que eu já fui ao Olimpo.

Olhei para o castelo e percebi que muita coisa ainda me esperava.

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